segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ZARZUELA






Este país transformou-se numa zarzuela. Há figuras que se destacam nesta ópera cómica, pontificam até. Têm vozes insinuantes, veja-se a do Presidente da República. Mas há outras figuras, igualmente com amplos créditos firmados na opereta e na comédia, como é o caso do Primeiro-Ministro que poderia ser considerado como um manual de suficiência de modos, qual CONDE DANILO na opereta de Franz Léhar da Viúva Alegre, de que tanto Adolf Hitler gostava. Há ainda a considerar os pífios. Há uma máxima grega que diz: "Gnôthi séauton nosce te ipsum" que quer dizer: Conhece-te a ti mesmo. É bom que o país, todos nós, saibamos o que somos, onde estamos, para onde vamos. Eu penso que estamos entre o FADO E A ZARZUELA. Somos um país de opereta, com partes faladas e outras cantadas. Não há dúvida que pertencemos e somos Ibéria e neste preciso momento, estamos mais do lado da ZARZUELA.

domingo, 29 de novembro de 2009

O PENSAMENTO POSITIVO




O pensamento positivo está na moda.
Circulam camiões e camiões nas nossas estradas deste produto.
Descarregam-no nas livrarias (Dan Brown, José Rodrigues dos Santos, Miguel Sousa Tavares, Margarida Toda Cor-de-Rosa, etc.)
As farmácias também comercializam pensamento positivo.
As caixas de correio electrónicas estão a abarrotar destes panfletos.
A tristeza merece castigo. Quem está triste devia ir para a cadeia, não merece viver.
Não é um ser normal.
Toda a gente prescreve mezinhas para o pensamento positivo e, não são só os brasileiros, campeões desta fórmula para a indústria.
Mas não se pense que o pensamento positivo só oferece desvantagens, como tudo na vida,há também o outro lado. Assim, quem tenha comprado pensamento positivo em livros, pode dizer aos amigos que lê muito, que não é nenhum (iliterato) que possui uma biblioteca carregada de Paulos Coelhos de todos os países, que regrediu à adolescência eterna, que são iguais a toda a gente, que pertencem a um grupo (ao grupo que fornece as estatísticas para a iliteracia, que já não lêem só UM livro por ano que lêem todos os Códigos Da Vinci que forem editados).
Mas tudo é bom quando acaba bem. A escola portuguesa através dos seus actores principais, os professores, considera que o importante é ler, ler nem que seja mau.
Os oftalmologistas devem ter comissão nesta recomendação porque ao fim duns anos de hábitos de má leitura, os olhos estão cansados, logo mais óculos se vendem para ver se ainda se chega a tempo de ler bons livros.

sábado, 28 de novembro de 2009

A DESENHAR



Se fosse possível ver as nossas vidas de longe como vemos a das biografias, tudo era contínuo, em linha recta.
Mas a vida que nos pertence, é por nós vista como um traço descontínuo.
Vamos desenhando a nossa vida, apondo mais pinceladas, mas como não é duma tela que se trata, não nos podemos distanciar para poder desenhar e pintar com maior precisão e beleza, traço a traço, as impressões que queremos que figurem na tela.
Estamos dentro da vida, por isso não vemos bem o quadro. Estamos demasiado perto, não distinguimos as imagens, apenas um conjunto de traços.
Vivemos em trânsito.
É do fundo de nós que construímos ou desconstruímos conforme as necessidades.
Não podemos recriar a vida como se recria um texto, apagando episódios, retirando parágrafos, colocando vírgulas, como se faz quando se escreve ao computador, mas podemos reordenar o texto, trabalhar na síntese.

No meu caso, vou dedicar-me, na tela da vida, ao cantinho da memória.
Agora queixo-me da falta de memória, mas se recuar nos tempos, ela nunca laborou com afinco, mas se a comparar com a de alguns dos meus contemporâneos jovens que a têm em tão mau estado que chegam ao ponto de pensar que o mundo é da mesma idade deles, então posso considerar-me uma privilegiada.
Como a nossa vida está sempre em recurso, podemos e devemos acrescentar-lhe mais alguns pontinhos . Estou a lembrar-me do desenho impressionista de A. Durer.

Hoje, sugiro que o façamos através da memória, que nos agarremos à memória viva.
A memória mantém-nos vivos e tem entre muitas outras virtudes, a de suscitar questões e respostas que suscitam outras questões e fazer com que as palavras dos homens nunca consigam esgotar os infinitos sentidos da outras palavras, das dos tempos, das que vivemos, vimos e observamos.
A nossa vida é uma obra inacabada e a memória também.
Precisamos da memória para prosseguir no diálogo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

YouTube - Relaxing Musica Relax Sonidos del Bosque Monasterio de Piedra

YouTube - Relaxing Musica Relax Sonidos del Bosque Monasterio de Piedra

O PARADOXO

Quando saímos é difícil encontrarmo-nos com os grandes.
Estamos quase sempre entre pequenos.
Tal verifica-se nos restaurantes, nos cafés, nos transportes públicos, nos cinemas, centros comerciais, enfim...por todo o lado.
O barulho está sempre presente. Um barulho desagradável, de lavagem e arremesso de pratos e chávenas,de televisões permanentemente ligadas,de motores de aparelhos em ronco constante,de pessoas que falam altíssimo, de telemóveis com ruídos esquisitos. Tudo isto e mais, nos entulha de banalidades estridentes.
No centro e lado destes encontros, há pessoas que dizem estar sempre bem, em nome da sua prodigiosa capacidade de adaptação, de abstracção.
Para este batalhão de adaptados, de normais, de abstraídos que banalizam o barulho, o ruído, a qualidade de vida eclipsou-se, a exigência com ambientes de qualidade desfez-se, a reivindicação da qualidade não os visita.
Neste mundo de vulgaridade crescente, os acomodados, agora auto-intitulados de adaptados, tudo é para aceitar, não há direito a lamentações. Só o fazem os passadistas, os nostálgicos de outros tempos.
Sucumbem ao ordinário, mergulham diariamente em declínios vários.Eles sim mumificaram, mas insistem em apelidar os outros, de dasadaptados, de buscadores de lembranças perdidas.
Estamos condenados ao mau gosto, ao trivial, à superficialidade. Em todos os domínios impera a mediocridade, a baixa qualidade.
Toda a gente quer ser "politicamente correcta", mesmo que seja na rua, na cidade, nos estabelecimentos comerciais. Toda a gente quer ser "normal", sendo que ser NORMAL É HOJE ACEITAR A ANORMALIDADE. Eis o paradoxo!
Alguém que aprecie o silêncio e que goste do enlevamento intelectual ou espiritual é considerado(a) pessoa desadaptada, a caminho da depressão. Os médicos e outros "especialistas",em todas as esquinas eles existem, até ao telefone, diagnosticam de imediato: rua, encontros com a MEDIOCRIDADE.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

DINHEIRO A MAIS




O meu país tem dinheiro a rodos.Bruxelas continua a emprestar. É péssimo!
Se não viesse dinheiro em pacotes, estou convencida que era diferente. Talvez os dirigentes, fossem eles quais fossem (todos têm duas caras a do governo e da oposição), pensassem uma vez que fosse, no que mais o país precisa e por onde começar.
Não há dinheiro para a Educação, para a Cultura, para o Saneamento Básico, não há estradas secundárias aceitáveis, mas vêm pacotes e pacotes para aquilo que convencionaram chamar de INVESTIMENTO (auto-estradas; aeroportos; TGV, etc.)

Há dias tive conhecimento dum homem que já não tinha orçamento para fazer face à prestação do carro e o que fez?
Vendeu o que tinha e comprou um melhor, mais caro, mas que tinha uma menor prestação mensal.
Conheço igualmente casos de casais que se dirigem ao banco para contrair um crédito bancário para aquisição de habitação e saem de lá com casa e carro e quando não com férias marcadas em qualquer país exótico.

Os bancos portugueses (os que me interessam neste momento) têm feito o mesmo que os Fundos Sociais Europeus e o que lhes acontece? Cada vez obtêm maiores lucros. E o que acontece a quem contraíu créditos? Cada vez fica mais pobre, vive uma vida faz de conta, parece rico mas é pobre porque deve quase tudo.
Quem vai ficar mais rico? Quem empresta. Com os juros altos que cobra, porque se não os conseguir cobrar, penhora os bens para pagamento da dívida.

Estamos a penhorar o país.
E mais do que isso, estamos a dar um péssimo exemplo aos vindouros. A cultura do gasta agora e paga depois, a cultura do endividamento, a cultura do faz de conta.

Centenas, senão milhares de professores, vivem metade do mês com cartão de crédito.
Poucos gastam em função das suas possibilidades e das suas necessidades.

As crianças têm brinquedos a mais, os adultos casas a mais, carros a mais, roupa a mais, telemóveis a mais, créditos a mais, preocupações a mais, mas felicidade a menos, paz a menos, fruição do que têm a menos.
E o mais preocupante ainda é que como toda a gente ou quase, vive de faz de conta, também passam a ser pessoas faz de conta.
Assim, se vê como o capitalismo com o seu filho mais dilecto o consumismo, perverte a mente das pessoas, lhes atinge a personalidade e até o carácter.

Toda a gente sabe disto, toda a gente ou quase, teoriza sobre o tema, mas quase toda a gente ou muita, muita gente, continua a incorrer e a correr para esta loucura.

Quem começou primeiro? Os bancos? Claro! Para conseguirem obter no final do ano esses lucros obscenos, mas o povo, o povo, é verdadeiramente culpado. Ninguém pára para pensar, ninguém reflecte ou só o fazem em hora de aperto grande e, mesmo assim, não voltam atrás, pelo contrário, fazem fugas para a frente, endividam-se mais e mais e mais. É a loucura total!
O país continua numa roda de loucos, rodam, rodam.
Já se sentem todos tontos mas não param.
Alguns, poucos que estão de fora gritam: "Parem, parem. Vão cair! É preciso parar para descansar".
Mas as "crianças" continuam num rodopio sem fim, riem-se, riem-se e exclamam: "Isto é bom, é boa esta sensação, não queremos parar".
Esta história chama-se SISTEMA CAPITALISTA.
A roda tem como apelido DESENFREADA.

P.S. Quero fazer aqui uma declaração de princípios: não sou contra o crédito,antes pelo contrário, acho que quem pode contrair dívidas, oferece capital de confiança e oferece segurança a quem empresta. Portanto, trabalhemos, amealhemos para termos sempre capital de confiança e não o contrário.

A MINHA SOMBRA E EU




A minha sombra persegue-me
Para onde eu vá, ela vai atrás.
Para quê fazer de conta?
Se ela vai sempre comigo.

Nunca se desfaz
Aquilo que nós somos e fizemos
Nunca se desfaz
Nem que seja só aos nossos olhos.

Não posso confundir
Aquilo que me dizem que sou
Com o que sou.
Porque confundo a minha sombra comigo?
Mas ela não se desfaz.

A minha sombra não é uma "second life".
Mas a minha sósia
O meu frisson metafísico.

Às vezes dá-me um calafrio
Da identidade dúplice, a minha sombra.
A vertigem do labirinto dos espelhos.

Estará a minha sombra apostada
Em causar-me alguns percalços?

É que há pessoas que se colocam
No ponto de vista do sol e da lua
Ou de outro foco de luz

E vêem a sombra
como o reflexo do ser
E me dão uma vida segunda.

Tudo começa quando me encontram
E dizem: "És uma radical", "És mesmo...
Fico a saber que não sou eu
Que sou a outra.

Palpita-me que a minha sombra
Me prega partidas
Que tem uma vida
Aventurosa e divertida umas vezes,
E outras não me deixa em paz.

Se algum dia encontrar a minha sombra
Ainda troco de lugar com ela
Para saber se é um reflexo de mim
Ou eu sou um reflexo dela.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

TODO O MUNDO É COMPOSTO DE MUDANÇA

Como dizia Camões,"todo o mundo é composto de mudança". As pessoas hoje estão bem, amanhã estão mal, seja a nível da saúde ou mesmo financeiramente.
Todos nós nos julgamos imortais. Fazemos casas que vão perdurar por muitos mais anos do que aqueles que as construiram, guerreamos e odiamos como se não houvesse amanhã, fazemos juras eternas e alguns de nós combatem, ferozmente, os seus concidadãos, os seus irmãos, pagando-lhes mal, explorando-os em todas as vertentes e até torturando e matando. Há até civilizações que desapareceram, por força dos seus vícios e actos corruptivos.
O que hoje está vivo, amanhã está morto e este amanhã é bem cedo, é mesmo amanhã.
Mas que todo o mundo é composto de mudança, lá isso é: -descobriram-se, em 10 anos de investigação nas profundezas do mar,17.000 novas espécies de seres vivos. É fabuloso!

sábado, 21 de novembro de 2009

SÃO RATOS SENHOR, SÃO RATOS!




Como ratos têm medo dos gatos.
Como ratos não falam.
Como ratos procuram o queijo.
Como ratos não militam na cidadania.
Como ratos acham que não devem aborrecer-se
Que não vale a pena
Que é melhor fugir.
Como ratos olham e ficam estarrecidos ao ver o gato,
Mas como ratos se esgueiram e fazem fintas.
Como ratos acham que são os mais finos.
Como ratos vivem e como ratos morrem.
Estes ratos têm nome,
São portugueses e são muitos.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

GESTOS

Sento-me ao computador.
Ligo para o Cabide.
Quero falar de simplicidades.
Então começam a aparecer, de imediato, as primeiras letras no quadrado branco.
Primeiro o título, a seguir os porquês, os comos nas curvas das letras.
Nunca há novidade no que lá vou colocando, porque nos meus escritos há uma batota de base. Há sempre uma pergunta respondida, logo não há novidade.
No final, sinto: cumpriu-se.
Agora que visualizo o que escrevi, verifico que estava previsto o que agora vejo, apenas actualizei um gesto antigo desde há muito.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

VER O MAR





Éramos uma multidão, embora não fôssemos juntos, íamos.

Queríamos ver o mar e para lá nos dirigíamos.

Houve um que disse: " Só temos o mar. O mar é lindo!"

E logo a essa expressão se foi juntando gente para o seguir, para se dirigir em direcção ao mar.

Pelo caminho mais gente se lhe juntava. Perguntavam: "Onde vão? Porque vão?"

A resposta era sempre a mesma:"Não temos outro sítio, sentimo-nos encurralados".

E continuava a marcha. Alguns ainda pegavam nas coisas mais queridas, algumas fotografias de família, outros achavam que não valia a pena, não sabiam se ficariam por ali ou se um dia regressariam.

Enquanto caminhavam, íam-se ouvindo alguns comentários: - "o meu país abandonou-me; os monstros perseguem-me; são muitos eles; têm muitas armas; eles estão por todo o lado; já não há sítios altos para onde possamos ir; usam uma grande rede e muito apertada; estão a tomar conta de tudo".

Alguém gritou, desesperado: "SÃO VAMPIROS, ELES COMEM TUDO E NÃO DEIXAM NADA".

Nessa altura a multidão começou primeiro a acelerar o passo para depois correr mesmo.

QUEREMOS RESPIRAR, QUEREMOS RESPIRAR, diziam.

Somos pessoas honestas, trabalhadoras, pagamos os nossos impostos, tivemos os nossos filhos, somos cumpridoras, porquê viver assim, sem ar, com medo, não queremos os vampiros!

Ouve-se uma voz lancinante no meio da turba: "Corre! Alguns de nós estão a transformar-se em vampiros".

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

HÁ ATRASO NAS CIDADES



No mundo rural(?), convencionou-se chamar assim, em oposição ao mundo urbanita, há menos "rodriguinhos" no que diz respeito à atribuição do famigerado dr. antecedendo o nome da pessoa.

As pessoas destas bandas não atribuem esses títulos, chamam mesmo pelo nome quando não, o você, que lhes é mais familiar e sai muito melhor.

Os jovens e até os menos jovens tratam-se por tu, mesmo não se conhecendo e é assim que as relações e o tratamento entre as pessoas se desenvove.

Nas cidades, pelo contrário, o dr.vem à frente, o tratamento não é por tu a não ser para interlocutores com mais confiança ou relações de escola e/ou trabalho.

Verifica-se pois, menos abertura no relacionamento e um maior atraso no tratamento verbal entre uns e outros.

Talvez estes aspectos de trato sejam apenas uma forma compensatória de tantos outros atrasos entre o mundo rural e citadino, em que este fica com a maior fatia em relação àquele.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

SER RESPEITADO/RESPEITAR

Esta questão tem muito que se lhe diga.
E porquê?
Todas as pessoas que respeitam são respeitadas?
O que é preciso para ser respeitado?
Só sabemos ou sabemos melhor, o que é necessário para respeitar, mas será que saberemos qual a fórmula para sermos respeitados?
Convicta estou que para ser respeitado, necessário se torna escolher, seleccionar, pessoas que tenham a capacidade de respeitar.
E o que é respeitar?
Diz o dicionário, entre outras coisas, que é tratar com urbanidade; ter em consideração e também dar-se ao respeito, etc., etc.
Mas basta querermos definir o que é tratar com urbanidade, para logo percebermos que estamos perante algo de muito difícil de ser cumprido.
O que é ter urbanidade? E onde se encontra urbanidade?
Volta assim tudo ao princípio, podemos ser respeitadores e não terem respeito por nós.
E o que é terem consideração por nós. Reside em nós essa capacidade do outro? Diz o dicionário da Porto Editora que sim, porque temos que nos dar ao respeito.
Claro que nos temos que dar ao respeito, mas será que com isso somos respeitados?
Tudo se torna mais fácil quando estamos atentos às diversas formas como podemos ser respeitados, e a mais eficaz actualmente, é a que nos informa que ser respeitado é quem tem dinheiro, estatuto social. É respeitado quem é "chico-esperto", quem consegue ter muitas casas, carros de milhares e for capaz de se fazer subtrair aos impostos. Esse(a) sim, são admiráveis! Conseguiram chegar LÁ, ao que é desejado pelos outros e passam a ser respeitados.
Em Esmoriz querem erigir uma estátua ao Sr. Manuel José Godinho,o homem que foi preso por ser corrupto,no âmbito da operação "Face Oculta". É um homem admirável- dizem conterrâneos seus: "Ele apenas faz bem feito aquilo que todos os portugueses fazem". E pronto! Prontos como dizem os deputados.
A nova definição de respeito no dicionário da Porto Editora deve incluir esta vertente, caso contrário, tratar-se-á dum dicionário não actualizado.
Para se ser respeitado e respeitar é preciso ter a capacidade de ser corrupto/ser corrompido.
É também verdade que os banqueiros corruptos que estiveram na A.R foram tratados com urbanidade e respeito, essa parte da definição pode continuar a fazer parte da definição do dicionário.

domingo, 15 de novembro de 2009

NOVO MUNDO



Revisitei hoje nos meus livros de pintura Pieter Brueghel e a sua tela "O Combate Entre o Carnaval e a Quaresma", de 1569.


Quando tomei contacto com este quadro pela primeira vez, exposto, permaneci não sei quanto tempo a decifrá-lo e sabia que nunca mais o iria esquecer.

Será preciso recordar que sou uma amante de sátira e da pintura flamenga.

Hoje, ao olhar de novo a fotografia, veio-me à ideia o mundo em que vivo e o meu mundo português, que é semelhante ao francês, ao espanhol, ao italiano e a tantos outros.

Pieter Brueghel era satírico, expunha as fraquezas e loucuras humanas, fazia realçar o absurdo na vulgaridade. Neste quadro há uma liberdade geral de costumes.

No passado o Carnaval ocorria após o ano novo, marcando o fim do ano velho, dos velhos tempos e este quadro fez-me lembrar que os velhos tempos, da honra, da honestidade, da palavra dada, da integridade, já se foram e o futuro é debochado.

O novo mundo hoje parece-se com um mundo carnavalesco.

A natureza é paradoxal. A nossa natureza faz com que nós sejamos simultâneamente "isto e "aquilo" e, no entanto, não sejamos nem"isto" nem "aquilo".

Sampaio Bruno que acabei de ler há pouco, numa edição reeditada, dizia que as verdades estão acima da razão e eu estou de acordo.

A nossa verdade, a verdade de ser português hoje é: Oeiras votar um autarca que a justiça já tinha condenado, ter um PM sempre referenciado em tudo que é menos claro, em matérias de tráfico de influências, ter banqueiros, administradores públicos, desonestos e corruptos, parecermos um Itália à nossa escala, mas é, fundamentalmente, o povo permanecer em pleno Carnaval, ser ALEIJADO ( são vários os deficientes que por ali andam na festança ) como se vê no quadro de Pieter Brueghel.

O novo mundo chegou embora não seja um MUNDO NOVO.

sábado, 14 de novembro de 2009

O TEMPO






Este Senhor de barbas tão glosado.

O tempo e eu sempre tivemos uma relação muito íntima, mas ao mesmo tempo muito cerimoniosa.

Se, por vezes, dou comigo a pensar que as coisas passadas aconteceram mesmo ontem, há bocadinho, também me acontece que me vêm à memória lembranças que se fossem datadas eram demasiado antigas, doutras épocas, quase sem direito a tempo porque tempo são.
Ambos gostamos de jogar o jogo da sedução e acabamos , na maior parte das vezes, seduzidos.

O tempo é cronológico, claro!
Mas é fundamentalmente psicológico. Cada pessoa tem o seu tempo e o tempo seu.
Há tempos que não nos pertencem e outros que são só nossos e que não dão nem para partilhar.

O tempo mede-se de maneiras várias, todos o sabemos.
Os médicos medem-no em sintomas que vão aparecendo nos seus pacientes.
Os psicólogos privilegiam a análise da memória nas suas diversas fases.
As esteticistas nos produtos que vão ter de utilizar com os seus clientes.
O mercado nos nichos de ofertas apelativas (hotéis, viagens seniores, seguros, produtos bancários, soluções medicamentosas, etc.,etc.).

Hoje falei do tempo talvez porque ontem passei uma parte da tarde a observar mulheres com mais de 65 anos a passear no Centro Comercial e concluí que há mulheres nesta faixa etária que não tratam o tempo por tu, mas por você, lhe mentem e brincam com ele ao jogo do esconde-esconde. Vi mulheres que vestem e se apresentam como se na flor da juventude se encontrassem com calças justas, blusas desabotoadas até ao 4º botão, posturas rijas de ginásticas moldadas, mulheres que fazem do corpo o seu cartão de visita, da sua aparência um jogo de adivinhação. Tudo isto eu vi e pensei: Como as coisas mudaram!
Claro, que desconheço se para melhor se para pior, mas o certo é que estas mulheres se sentem de bem consigo próprias, estão despertas para a vida, militam em estéticas várias e despertam muito mais os olhos e os neurónios que para si olham. Consideram que o futuro é já ali e que o passado só lhes trouxe vantagens.

Nós também somos aquilo que parecemos ser.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

HOMENAGEM A ARNALDO GAMA







PROVA DE VIDA


Quando eu morrer,
ficará tudo como está.

Nem mulheres e homens se suicidarão,
Nem a lua nascerá em vez do sol,
Nem haverá novos planetas a anunciar.

Quando eu morrer,
Tudo ficará como dantes,
Senão eu que já cá não estarei.

Os animais não se espantarão,
Nem enlouquecerá ninguém...

Será um dia diferente,
Sim
Mas só para quem me quer bem.


Helena Soares

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

QUANDO A MINHA FILHA FOI PROCURAR UM BANCO PARA LÁ METER O SEU DINHEIRITO





Esta cena passou-se talvez há 23/24 anos.
A minha filha e eu fomos procurar um banco para ela guardar o dinheiro que lhe davam.
Podia-se começar esta história de outra maneira, então comecemos.
Ía a Mariana na sua infância e um dia eu disse-lhe : "queres escolher um banco para guardares o teu dinheiro?"
Ficou muito contente e fomos para a Av. dos Aliados, palco onde se encontravam os edifícios dos bancos à época, escolher o cofre com casa.
A Mariana, com cerca de 8/9 anos observou os edifícios e depois de muito matutar nas vantagens/desvantagens das diversas hipóteses que se lhe colocavam à vista desarmada e estando eu inclinada para o Montepio, banco com referências na família, devido às suas características mutualistas, a minha filha afirmou: "Mãe quero pôr o dinheiro aqui".
Este AQUI era no Banco de Portugal.
Perguntei-lhe porque tinha escolhido aquele e a resposta foi: "Porque este é todo de pedra, é forte e vai guardar melhor o meu dinheiro".

Tenho-me lembrado deste episódio quando na televisão se ouve e vê adultos que colocam o seu dinheiro em qualquer "edifício", sem nenhum critério de escolha e que depois se queixam muito, muito.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

QUANDO A MINHA FILHA TOMOU CONTACTO COM A MORTE

Tinha cerca de seis anos.
Íamos a passear pela Av. dos Aliados e ela viu uma pomba morta.
Ficou muito impressionada. Fez muitas perguntas sobre a pomba morta. Como tinha morrido, porque a tinham matado, porque estava ali morta?
Seguiram-se os lamentos: que a pomba não devia ter morrido; que tinha muita pena dela; que era muito bonita e por aí fora.
Foi dramático! Uma cena irremediável.
Não se pôde evitar. Tinha-se passado por ali naquele momento e não por qualquer outro sítio.
A morte assim ali. E nós tivemos que a enfrentar.
Soubemos uma e outra que a partir daí nada era igual.

domingo, 8 de novembro de 2009

ÓRFÃ DO MEU PAÍS



Estou orfã de país. Há muitos anos que o meu país estava gravemente doente, com doença prolongada. Agora morreu, defuntou-se.
Ele é: a corrupção com níveis italianos. Ele é: a iletracia dos deputados ( apenas são letrados para desdobrarem bilhetes de avião e usar em proveito próprio as milhas percorridas em missão oficial).Ele é: a promiscuidade entre serviços públicos e privados.Ele é: o endividamento ciclópico dum pequeno país que não sabe poupar. Ele é: a surdez crónica dos diversos governantes quando o povo ou os seus representantes dizem da sua justiça. Ele é: uma justiça que quando funciona só atende os ricos, uma justiça parcial que leva os ricos e corruptos a afirmarem à cabeça que acreditam na justiça.
Ele é: um PM oriundo duma família com nome feito em negócios, ditos de família. Ele é: os políticos, a começar por deputados e governantes a servir-se do Estado e não a servir o Estado. Eles só vão para os partidos para arranjarem uma carteira de clientes e de contactos para melhor manobrarem na empresas privadas. Privadas também começa a ser apelido, já que elas vivem quase todas, em especial, as grandes, à custa do estado e é preciso não esquecer que o ESTADO SOMOS TODOS NÓS.
Mas o facto pelo qual me sinto órfã é, essencialmente, por haver pessoas que dão supremacia ao resultado final em detrimento dos princípios e dos valores (como no caso das elevadas percentagens com que ganharam autarcas corruptos), e altos gestores e governantes deste país virem afirmar com cara de sérios que as atitudes de alguns dos seus pares visados em não quererem largar os tachos e resistirem o mais que podem, para só depois de obrigados pelas pressões, largarem o osso, são atitudes muito dignas (temos o exemplo do presidente da Caixa Geral de Depósitos em relação a Armando Vara, mas poder-se-ía falar de muitos outros casos que infelizmente vão caíndo no esquecimento popular com tanto adormecimento ministrado pelos anestésicos vários, em especial, telenovelas e futebol).

Estou ÓRFÃ DO MEU PAÍS e se calhar nem dinheiro consigo para lhe fazer, pelo menos, um funeral digno.

sábado, 7 de novembro de 2009

TELEJORNAIS





Em primeiro lugar fazem intervalo todos ao mesmo tempo. Em primeiro lugar ainda, dão todos as mesmas notícias e em primeiríssimo lugar, que é um bocadinho mais que em primeiro lugar, todos os canais contratam repórteres mal pagos (só pode!), que além de não saberem falar, também não sabem noticiar, nem tão pouco estar.
Quanto às notícias a que se referem, são só desgraças e mais DESGRAÇAS.
Iniciam telejornais com notícias de futebol o que indicia bem o que consideram notícias relevantes.
Os comentadores das notícias são os próprios jornalistas da estação televisiva, por exemplo, na SIC, temos o Ricardo Costa, o patrãozinho, a emitir sempre opiniões e mais opiniões, que eles apelidam e promovem a análises.
Fazem do telejornal uma página de "casos do dia", que antigamente havia numa secção dum jornal. Quem é que matou, como matou aquele e aqueloutro e etc. Notícias de "faca e alguidar" que consideram ser as que mais puxam pelo cliente, neste caso o telespectador.
Quando querem aligeirar, então falam da QUICA que namora com o QUICO que já engravidou do LICO mas que tem muita esperança e projecta um grande futuro com a TEQUINHA.
E mais grave que isto tudo é que se chama a isto Informação.
Por isso proponho, sem querer plagiar a Manuela Ferreira Leite, qual animal feroz da nossa Praça, suspenda-se a audição e visão dos telejornais, por estas razões e também porque passam a horas impróprias para adultos, normalmente, às horas das refeições, não se conseguindo distinguir, por vezes, se se mete à boca um bocado de bife ou a perna de algum morto, nos cenários de guerra (chamam-lhe cenários talvez porque achem que isto é um espectáculo a que devemos assistir), com a chancela da América ou de Israel ou de algum outro imitador destes realizadores laureados.
Vamos manter as televisões fechadas durante os telejornais e verão que a tristeza nacional cairá uns pontos.
MÃOS À OBRA!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O MOVIMENTO DO GEOFÍSICO

Quando desemboco na minha terra, vejo o que está a mais e o que está a menos. As lojas que abriram e as que fecharam. As ruas que se rasgaram de novo e os jardins/parques que se fizeram ou não fizeram.
A minha terra tem sítios em que apetece dizer: Como isto era lindo e como está agora?
Em alguns casos foi a destruição total. Noutros, apenas a mudança, através do cimento e na maioria o esquecimento, o desleixo alterou-os irremediavelmente.
Dizia-me uma amiga no outro dia, aquando das eleições autárquicas: "O que eu queria mesmo é que eles (= autarcas) não fizessem nada durante uns anos, porque quando mexem é mesmo para estragar".
Achei-lhe piada ao desabafo, mas estou em crer que é só quase isso que devemos desejar, chegado ao ponto em que algumas cidades e não só, chegaram, como é o caso do Porto, cidade que me viu nascer.
A minha cidade hoje reflecte a decadência, quer de costumes quer de riqueza.
Andamos pela sua "Baixa" e o que vemos é confrangedor. Todo o ambiente é de "bas-fond". Parece que a Rua Escura toda desaguou na cidade. A freguesia de Stº Ildefonso, a maior da Baixa, está irreconhecível. Tornou-se um retrato da cidade.
Cheira a miséria por todos os lados, casas de chineses pululam. Até o Hotel Infante Sagres, um esteio dos bons velhos tempos, de alguma aristrocracia, se alterou, "adaptou-se" à nova cidade.
Encontramos a rua de Sta. Catarina, num dos seus quarteirões, o do Café Magestic com vida, tudo o resto está morto, descaracterizado, feio, doente, atingido de doença terminal.
Os portuenses tomaram a atitude de sair, aqueles que amam a cidade sofrem com ela, assinam abaixo-assinados, mas quase nada resolvem.
A ganância, o primado da economia sobre a ecologia a estética e o social, tem-lhe infligido duros golpes, feriu-a de morte.
O que se passa no Porto é uma tragédia.
E o pior de tudo, o pior mesmo é que as pessoas também mudaram e se mudaram.
Mas como em todas as tragédias, há sempre alguma coisa, mesmo que seja pequenina que reluz, que ficou que faz com reconheçamos onde estamos e porque estamos. No caso do Porto, no Outono, são as castanhas, o fumo das castanhas e os vendores de castanhas a darem aquela ambiência. Só isso salvou a minha ida última ao Porto e me fez estar em família.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

MEMÓRIAS DUM PASSADO DISTANTE




Ontem fui à minha infância e adolescência.

Segui, inconscientemente, o caminho que me levou à casa da Murra na freguesia de Bitarães de que a minha avó tanto me falava.
A casa da Murra ainda continua de pé, encerrando em si todas as memórias de um passado distante.
Homenageio a minha avó em dia de defuntos e lá vou eu, como detective, entrar pelo passado adentro.
Encontro um velho, bonito e fazendo versos, a sussurrar-me as suas "malandrices" com a mulher que o levou a ter 11 filhos e penso que esta casa teve um passado feliz. Este velho era o caseiro que me fala dum passado cheio de riqueza, delapidada por um filho da casa que vendeu a quinta a retalho para investir em jogo.

Como não possuo lentes anti qualquer coisa que me preparem de antemão para recusar o que quer que seja, vem-me à cabeça, a história antiga desta família, que é sempre a mesma. Era rica e tornou-se pobre, à custa de muito gastar em vícios. Foi uma família que conseguiu colocar quase todos os seus antigos criados com os bens que antes possuíam, que conseguiu tornar realidade os seus antigos sonhos, ficarem com tudo quanto era dos donos. Nesse aspecto a nossa família contribuiu grandemente para a felicidade do povo.

Ontem, cumpri o meu dever cívico e, como o meu corpo raramente entra em automatismo, infelizmente, cumpri uma função.
Fui à casa da família da minha avó,(tios direitos, por parte de seu pai, dos Soares), ao bosque como lhe chamam actualmente.
Senti que acendi uma vela à minha avó e que pertinho se encontrava o meu pai, bem pertinho, com uma lamparina na mão que também se acendeu e ele sorriu.

Senti que eu era também aquilo que fazia naquele momento.

domingo, 1 de novembro de 2009

SEMPRE A MESMA CONVERSA

Dizia-me uma amiga: "tu és uma radical!"
Vinha tal asserção a propósito de eu não ter votado nas últimas eleições.
E continuava: "Tens que viver em depressão. Afinal quem é que tu querias ver lá? (lá ,quer dizer, no poder)". "Se eu estivesse aí ( leia-se contigo, perto de ti), havias de ver" ( isto quer dizer que me havia de mudar, influenciar no bom sentido, segundo ela).
Em primeiro lugar, acho sempre comovente haver pessoas que consideram que com a sua acção, faz com que terceiros mudem de opinião e em segundo lugar, não é a primeira vez que me chamam radical nem vai ser a última.
Há pessoas que continuam a pensar aos 65 anos como eu pensava aos 20 anos, isto é, a ter a veleidade que vão mudar alguém. Chamo a isto um fenómeno de fé.
Ser radical é não estar de acordo com o que os políticos fazem e como fazem. Das estratégias e tácticas que utilizam. Ser radical é estar desencantada e não escolher do mal o menos. Ser radical é ter conhecimento do que nos rodeia e fazer a previsão possível do futuro próximo.
A outra questão igualmente interessante, é o facto das pessoas ( muitas pessoas) continuarem a pensar que vêem melhor que todos os outros e a manterem a tendência da intolerância com as minorias. São estas pessoas que se dizem muito tolerantes , os outros são OS RADICAIS.
São as mesmas que dizem cobras e lagartos do José Saramago, que por acaso é escritor, mas que não o sendo poderia e tinha o direito de proclamar aquilo que entende da sua leitura sobre a Bíblia. Vê-se LOGO , TODA A GENTE SABE que a Bíblia...(dizem eles porque são católicos e a igreja que frequentam lhes diz isso) é uma enorme METÁFORA.

É sempre a mesma conversa! Os TOLERANTES de todos os matizes, consideram os que não são iguais a si,( tolerantes pois então!) são uns RADICAIS abomináveis.
E viva a tolerância! VIVA!
Faz sempre falta e fica sempre bem!

TRAGÉDIAS

Ficar desempregado.

É HORRÍVEL!

Só mesmo quem passa por tal situação pode compreender.
Será mais desesperante ainda ficarem ambos os membros do casal desempregados.
Ficar desempregado um casal que tenha filhos será um autêntico desespero.
Um casal que não tenha dinheiro para dar comida aos filhos como se sente?
Inimaginável, não é?
Se para uma pessoa só, é verdadeiramente deprimente e trágico que será para uma família inteira? Pois é neste mundo sem esperança e de desespero que vivem muitos dos nossos conterrâneos. É este o momento português e não só!

É ainda mais trágico do que um homem presidente ou vice-presidente duma instituição bancária ser ambicioso duma forma desmedida. Sim. Porque esta realidade também é uma tragédia humana e igualmente grande, embora duma outra espécie.