segunda-feira, 29 de março de 2010

PASSOS COELHO VAI TOMAR CONTA DO PAÍS DAQUI A DOIS ANOS?






Como agora se fazem Primeiros-Ministros: fazem-se à semelhança de jogadores de futebol.
Há as escolinhas e um dia o menino quer ser jogador de futebol e os paizinhos com muito amor pelo filhinho e sonhando que possa ter o seu e deles, futuro garantido, metem o menino na escolinha, para um dia mais tarde, quiça, vir a ser um Ronaldinho. No caso das escolinhas de políticas jotas, há secções para políticos, deputados, chefes de partido, gestores públicos, governantes na pior das hipóteses. Os jotinhas vão em pequeninos aprender as artes da malandragem para depois quando forem crescidos e chegar o dia, serem chefes de partido e primeiros-ministros de um paízinho pequenino, coitadinho e assim terem o problema do emprego resolvido para si e para os seus, porque nesse país pequenino há muito desemprego e uma pessoa tem que se prevenir.
Ao princípio, os jotitas são pequeninos e engraçados, alegres, com cor e bandeiras que agitam ao vento conjuntamente com cervejas super-bock. Depois, quando grandes, vestem bem e parecem manequins.
Casam, têm rebentos da mesma cor e fazem os ninhos com mil cuidados os ex-jotinhas.
Olho para o Pedrocas, o Pedro Passos Coelho e não sei porquê, lembro-me do Afonso Lopes Vieira "os passarinhos tão engraçados", é muito apresentável, digamos que até é um passarinho a caminho de passarão e como vaticinou o poeta Afonso L.Vieira "nos bicos trazem coisas pequenas, e os ninhos fazem de musgo e penas (PPC quer diminuir o papel do Estado e aumentar a participação dos "privados" na saúde, na educação e na segurança social, estas são apenas algumas das penitas com que o passarinho está a fazer o ninho, mas os ninhos ficam todos iguais, como sabem, ou muito parecidos).
"Depois lá têm/os seus meninos/ tão pequeninos/ao pé da mãe".
São muitos os filhotes, há-os para todos os gostos, com mais ou menos penas, com mais ou menos graça. E lembrando Marco António (autarca de Gaia) que se não citava Afonso Lopes Vieira na noite da vitória de Pedro Passos Coelho, tinha-o na mente, "nunca se faça/mal a um ninho/ à linda graça/ de um passarinho!" e ía lembrando que aqueles votos todos, senão metade muitos mesmo, se deviam a ele, Marquito, e à sua campanha pelo candidato agora eleito.
"Que nos lembremos/sempre também/ do pai que temos/ da nossa mãe" e mais uma vez A. Lopes Vieira na pessoa da Paula Teixeira da Cruz, militante do PSD e desenhadora do programa de candidatura do PPC, vinha lembrar que um governo sombra seria muito interessante...
Mas porque será que estou a confundir este passarinho que faz o ninho com mil cuidados, com todos os passarões conhecidos, velhos e novos.
O Pedrinho bonito já entrou na conjuntura penso, e vai ser solenemente igual a todos os outros, (até fazer cara triste no dia de eleição), ao Sócrates que também é transmontano e elegante e veste Armani, ao Cavaco que comia alcagoitas e com uma alcagoita se parece.
Porque será que perante um exemplar tão jeitoso eu só me salte aos olhos e ao pensamento, os vícios e as manhas dos transmomtanos? E porque será também que agora me esteja a recordar daquela modinha que diz assim: "Ora agora viro eu, ora agora viras tu, mas nunca ora tu mais eu".
E neste eu, estou eu, tu e mais eles, que somos povo, portugueses e que nos vemos virados à força e forçosamente, mesmo que nunca nos viremos.

domingo, 28 de março de 2010

AMOLGADELAS NOS DIAS

Nem sempre temos muitos instrumentos para interpretar aquilo que vemos, aquilo que nos acontece.
Há irracionalidades que não entendemos.
Há pessoas que ao absterem-se de tomar atitudes são indecorosas, actuam pela surdina.
Há pessoas que se parecem com animais perdidos à sombra do que podia ser e não será. Nunca sabem onde mora o pecado.
Há pessoas que suspendem a vida ou a razão dela, arredondam a voz, ocupam-se de nos adoecer, são violentas porque não falam, têm intuitos deliberados, vêem a água arder e nada fazem.
Não gosto de resignados, de asténicos morais.
Há pessoas que cujas ambições os destacam dos demais e que por isso mesmo não são de leitura fácil. Apresentam-se pacientes sem idade. Perturbam-me. Parecem irreais.
Não sei até se se assemelham a artistas em que falar ou não falar acaba por ser tudo arte.
Há pessoas que têm a arte e a distinta lata de serem os ausentes sempre presentes e costumam pôr ordem na desordem das vidas que os rodeiam.
Falta-me saber se confundem fantasia com realidade. Para mim, actuam como uma espécie de bailarinos, com exercícios de equilíbrio, em cima das camas, das mesas que por sua vez estão pejadas de objectos que enchem tudo e me obnibulam o pensamento.
Os encontros com estas personagens limitam-me, fazem-me parecer um livro em branco, embora saiba que para elas o efeito é o contrário, é desta forma que ilustram a sua história.

(tal como) ALEXANDRE HERCULANO





Ele escolheu o retiro de Vale de Lobos, eu Entre-os-Rios, trata-se duma imagem recorrente dos desiludidos da política e da governação dos homens, incluindo autarcas.
Alexandre Herculano nasceu há 200 anos (28/3/1810) faz hoje.
O meu pai chamava-se Eurico, devido ao título da sua obra mais conhecida "Eurico o Presbítero".
Herculano passava férias em Penafiel, na quinta duns amigos e eu gosto muito desta terra, do meu pai e da minha avó, em que os meus antepassados se cruzaram com o escritor.
Mudamos muito enquanto nação desde essa época?
Se calhar não.
Cá estamos a repetir falhanços e falsas esperanças de há dois séculos, a nossa tragédia mantém-se. O país continua um altar de gula e cobiça.
Alexandre Herculano era um pensador e historiador importante.
D. Pedro IV nomeou-o bibliotecário da Biblioteca do Porto.
Foi sócio da Academia das Ciências de Lisboa (1852).
Recusou honrarias e condecorações, recusou fazer parte do primeiro Governo da Regeneração, chefiado pelo duque de Saldanha.
Numa carta a Almeida Garrett confessou ser seu desejo ver-se entre quatro serras, dispondo de algumas leiras , umas botas grosseiras e um chapéu de Braga.
Homem frágil e de carácter inquebrantável, dizia: "isto dá vontade de morrer", decepcionado pelo espectáculo da vida pública portuguesa.
Lembro-o hoje aqui como sua grande admiradora. Herança que herdei de minha família paterna que também o admirava.

quinta-feira, 25 de março de 2010

EXCEPÇÃO PRECISA-SE





Desobriguem-nos do comum, do vulgar.
Precisamos todos de uma sabática.
Fintas da História já chegam.
Conhecemos todas as combinações de todas as modelações de todas as hipóteses de governação, legitimadas por eleições. É absolutamente verdade.
Vemos demasiadas pessoas sem nada que fazer ou perder. Demasiadas pessoas sem sonhos, sem esperanças e vemos os predadores profissionais.
Somos muitos e encontramo-nos mutilados de crenças e descrenças com cansaços históricos, com gritos de angústia e fome de excepções.
Assistimos à entronização dos novos bandidos. Bandidos transformados em respeitáveis políticos, outros menos respeitáveis, banqueiros e gestores públicos, esta nova profissão de liquidatários, colocados no epicentro de todos os projectos.
Assistimos durante todos estes anos a estes cínicos todos, jurarem uma coisa e a acreditarem noutra, o último foi o Ministro das Finanças acerca dos impostos. Não aumentava impostos e o que fez?
Afinal por mais de 1,5 milhões de reformados, dos quais 900 mil de titulares de pensões mínimas haverá "actualizações anuais".
Afinal os aumentos no IRS afectarão 4,6 milhões de contribuintes e não só 1,1 milhões de portugueses.
Estão sempre a ver onde podem roubar aqueles que não podem furtar-se ao roubo. Ameaçam, inventam mentiras novas, colocam a culpa na crise mundial, em Bruxelas e nos "ratings".
Pagamos muito caro, muito caro pela liberdade de expressão. A liberdade tem o custo da guerra.
Os nossos ideais esboroam-se.
Queremos excepções, pelo menos uma, uma excepçãozinha por favor.
Que carentes estamos de excepções!

domingo, 21 de março de 2010

TODOS OS BURACOS

É exactamente isso o que estás a pensar.

Há mais buracos neste país, refiro-me aos diversos desaparecimentos de processos que se verificam, por exemplo, aquele em que falava da isenção do IVA do prédio em que Sócrates comprou o andar, o desaparecimento das fotografias dos violadores de casapianos, o desaparecimento da carta da família pedindo à Direcção da escola em que aquele professor que se atirou da ponte 25 de Abril por não poder suportar os maus tratos de que era sistematicamente e impunemente vítima, trabalhava. Vem isto a propósito duma crónica do jornalista Manuel Pina no JN em que diz que já ninguém reage a mais uma notícia que anuncie estranhos desaparecimentos de documentos.
Políticos, figuras públicas, banqueiros, autarcas, políticos e todos os seus acólitos desfiguram a realidade, munem-se de uma sensibilidade nervosa.
Vivemos anos de delinquência.
Os documentos, as provas são sugados. Há como que uma espécie de assalto à nossa memória futura que ruma ao arquivo morto. Se um dia for descoberta será maior que a Torre do Tombo e muito falará do povo que somos. Há uma espécie de palco em que todos reconhecem no outro uma necessidade que complementa a sua.
Há interesses mútuos nestes silêncios que são garantias para o estabelecimento duradouro destes desaparecimentos.
Todos dependem uns dos outros, hoje silencio eu, amanhã silencias tu, temos que ser uns para os outros.
Afinal, verificamos atónitos que o segredo não é desprezado, em certos casos, aqueles e tão só que convenha calar.
A lista de dependências e de dependentes alastra e mesmo aqueles que gritam de protesto, apenas fazem que gritam. Gritam sem protestar.
A arte do fingimento e da subtiliza campeia, claro que tudo isto leva à aspiração de viver no mundo, e ao mesmo tempo, não viver nele, e desapegar- mo-nos totalmente, como forma de encontrar técnicas de sobrevivência.
Quase todos são parecidos com quase todos.

sábado, 20 de março de 2010

PORQUE HOJE É DIA DO PAI

Querido paizinho,

Como estás?
Quero-te oferecer um livro que comprei para ti. É um novo, descobri-o agora, é pequeno e tem as letras grandes.
Vais gostar, vais ver, só espero que a Paula não compre o mesmo.
E depois, depois podes lê-lo na cama e também não pesa muito. Tem tudo o que é necessário.
Estás a rir-te?
Pois claro! Mas aí onde estás também te apetece ler, não é verdade?
Não podes estar sempre a ouvir música celestial, que diacho!
Também te envio um CD da Mafalda Arnaut porque tu gostas.
Olha, vê lá se vamos dar um passeio qualquer dia, pira-te daí, ao menos por um dia paizinho, é que o tempo vai melhorar e podíamos ir atè à Foz ao domingo de manhã ou outro dia qualquer. Agora temos todo o tempo do mundo e eu apetece-me falar contigo, tenho muitas coisas para te contar. Podemos discutir se quiseres também um bocadinho, não é? Claro, é sempre mais divertido.
Telefona-me a combinar.
Até logo, meu querido.

sexta-feira, 19 de março de 2010

LIBERTEMOS ENDORFINAS




Apetece-m rir,mas apetece-me também que riam comigo.
Rio agora mais do que antes, porque antes sorria mais do que ria.
O riso liberta e que bom é dar uma boa gargalhada. Não nos fiquemos pelo sorriso apenas.
Um riso puro, de criança ou de adulto que o imita é fantástico!
Rio-me de alegria e felicidade, de prazer e satisfação mas também me rio com vontade com o que vejo na televisão, ainda ontem me ri às gargalhadas com a má disposição e atitude duma parte da bancada do PS, fechando os computadores e do empenhamento do Sr. Presidente da A.R., Jaime Gama, ao ter mandado por três vezes um Secretário de Estado levantar-se e dirigir-se à A.R. e ao seu Presidente em termos formais, para falar.
É maravilhosa a comunicação através do riso, estabelece logo à partida, uma outra interacção e ainda por cima é contagioso.
Há sessões terapêuticas só centradas no riso, já para não falar dos diversos músculos faciais que movimentamos numa boa risada. Por isso, a minha sugestão de hoje é: riam-se, riam-se por tudo e por nada, porque rir faz bem e acumulem o riso à leitura das situações sociais e políticas do país. É também uma forma de sobrevivência.
Quando rimos para alguém, estamos a dizer-lhe que nos estamos a ligar a elas, ficamos felizes e fazê-mo-las felizes.
Quero rir, rir como quando o meu pai me colocava nos seus joelhos, quando eu era criança, me elevava e me fazia cócegas.
O nosso riso activa o sistema cardiovascular e não só, aumenta a pressão arterial, por exemplo.
A raiva e a frustração diminuem a imunidade do nosso sistema, aumentam o colesterol e a frequência dos ataques cardíacos. O riso, pelo contrário, pode promover mudanças hormonais benéficas e libertar transmissores neuroquímicos chamados endorfinas que reduzem a sensibilidade à dor a promovem sensações de prazer e de bem estar.
Mas o que eu gosto mesmo é que me digam que gostam muito de me ouvir rir, em especial, quando se trata de pessoas que eu também gosto muito de ouvir rir.

PEC OU FUTURO QUE AINDA NÃO É PASSADO


A imagem representa a Alegoria do Tempo Governado pela Prudência (Ticiano - 1565)
Passado, presente e futuro entrelaçados no tronco comum dos tempos, simbolizados pelo lobo, leão e o cão



Sinto-me no futuro governado pelo passado.
Os governantes de hoje, a soldo de Bruxelas, imprudentes, projectam-nos, duma forma catastrófica para um futuro que ainda não é passado, logo impossível (porque não tem memória) mas passível de ser analisado.
Governantes da FAST governação. Irresponsáveis do presente, seguidistas duma União Europeia dos ricos, amantes dos poderosos, enterram-nos o futuro num passado miserável.
A responsabilidade do presente ausentou-se. Fazem com que o presente aborte.Trabalham incessantemente, sem pensar, para a desagregação do estado. Desmantelam-no rapidamente (prevê-se privatizações a preços de saldo das principais empresas públicas e estatais (EDP, GALP,REN CTT e pior ainda as ÁGUAS de Portugal, entre 32 previstas) à custa de alguns milhões, prevê-se 6 milhões de euros, para segurarem más governações sucessivas, incluindo a actual.
Estes governantes e políticos só se interessam por eles e também por o louvor de Bruxelas que aplaude as medidas portuguesas do agora apresentado Programa de Estabelecimento e Crescimento- PEC.
Vivemos a liberdade sim, a única que nos distingue do fascismo, mas esta é sem objectivo e para nosso desamparo cada vez mais se parece uma outra forma de condenação.
Estamos todos presos e quando isso acontece cultiva-se a sensação de não estar em sítio nenhum como os fantasmas, o povo tornou-se especialista em silêncios, silêncios profundos, tão profundos que se encontram escondidos. Onde? à superfície.
Os governantes, estes e os anteriores e os futuros, quais predigitadores à maneira de Xerezade, que duma história è outra iludia o tempo, são imprudentes e encerram-nos no futuro que só será prudente quando já for passado.
Estamos desamparados, aqui, refiro-me à classe média, à qual pertenço, estamos encerrados pelo lado de fora.
Não vamos ter regresso, não conseguimos achar o modo do regresso ( e tantos modos há no modo de não haver regresso).
Somos matéria da memória, da memória activa, da futura quando passado formos.
Não temos a palavra, não no-la dão, só nos fazem falar para pagar impostos e aquando de eleições.
Os governantes exalam um cheiro suicida. Dizem adeus ao país pobre mas nosso e entregam-no à morte, dando-lhe apenas pouco tempo para viver.
Tenho medo de perder o meu país antes de o ter encontrado.
Estamos no fio da espada (somos um protectorado de Bruxelas para evitar falências), quem nos governa quer fazer deste país um género substituível. Pacificam e desconflituam os dias presentes, esforçam-se por libertar-se do que os oprime, a falência imediata e ficam contentes como animais.
Deixaram de imaginar. Deixaram-se reduzir e reduzem-nos.
Há uma deriva cartográfica do corpo nacional.
Contribuem duma forma acelerada para destruir "territórios" em tempos conquistados, com finalidades obviamente controversas.
Estes governantes para defender os interesses da minoria, a fracção dos políticos, gestores públicos e empresários com ou sem milhões nos off-shores, aproveitam para desenvolver uma guerra contra o povo em geral e a classe média em particular, aumentando-lhes os impostos, congelando salários, alterando as regras do jogo no final duma carreira contributiva, adiando as reformas, etc., etc.
Estão a atar Portugal, vamos ter que combater de novo, os novos que se preparem para virar o futuro e torná-lo um passado digno, somos o presente e este, tal como na Alegoria do Tempo, de Ticiano, deve ser governado pela Prudência.

domingo, 14 de março de 2010

PRIMAVERA



A minha proposta:



O Inverno quase nos faz desaparecer em vidas lamentosas e anódinas.
Deixemos todas aquelas coisas horríveis que se nos metem pelos olhos dentro e nos fazem mal, todas as formas que nos mostram e nos reafirmam impotentes para mudar o mundo.
Não nos acomodemos à banalidade do viver doméstico. Chegamos a esta fase, todos contaminados, quer o queiramos quer não.
Não continuemos de prevenção, escondendo os sentimentos.
Queimam-nos vivos, crucificam-nos, mas continuemos a saber bem para onde cair e como cair. Suportemos os elogios, não procuremos dissolver os seus efeitos.
Toquemos o tecto, nesta Primavera. A beleza da Natureza chegou em estado puro.
Azul esmeralda, com o universo paralelo da fantasia, da magia, da invenção dos dias.
A Primavera dispõe de todas as cores e usa todos os ingredientes.
Despreocupem-se do aplauso, desprezem completamente a galeria. Deixem governar a arte e como dizia Ramalho Ortigão nas Farpas Escolhidas "a galeria aplaude ou reprova, é o seu direito... mas não manda nada".
Ter tempo para viver devagar é um grande luxo.
Vamos até à Primavera, descansemos e escutêmo-la. Está a cantar! Ouçam a canção. A canção usa palavras como namorar e sonhar, beijar e flores, céu e azul, paixão e ilusão. Ouvi também beijos na alma.
Seremos sábios se nos contentarmos com o espectáculo que ela nos apresenta.
Deixemo-nos ficar. Sintamos o belo. Deixemos que a perfeição passe por nós, bem perto e por favor não a temamos.
Vejam como ela nos atira para a eternidade, por isso, vivamo-la.
Revivamos delicadamente o tempo que nos é oferecido pela Natureza.
Para o conseguir é muito simples, basta afinar os sentidos e depois...

... Amar, amar perdidamente
Amar só por amar, aqui ...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém...

....

como tão bem nos dizia Florbela Espanca

segunda-feira, 8 de março de 2010

HÁ ALTURAS EM QUE NÃO NOS APETECE DIZER NADA

O que me apetece mesmo é ficar em silêncio. Escutá-lo para memória futura.
Guardá-lo dentro duma caixinha para quando me fizer falta.
Há alturas em que vogamos pelos espaços siderais.
Momentos há que mesmo sem asas, voamos em céus azuis.
Hoje, decidi que quero permanecer em silêncio. As dores de cabeça são muitas.
Voar sem asas, para sul.

A TODAS AS MULHERES DO MUNDO

(ÀS MULHERES DE TODAS AS GERAÇÕES, DE TODOS OS CREDOS E DE TODAS AS RAÇAS)



Às mulheres, senhoras das suas vontades e humores.
A todas as que choram.
A todas as mães.
A todas as que consolam.
Às que têm bom coração para gatos e para cães.
Às que pecam.
Às que sofrem baixinho.
Às que se indignam
Às mulheres fracas e que são vítimas.
Às mulheres fortes.
Às mulheres loucas.
Às que se justificam e às que se explicam.
Às que compreendem.
Às que se perturbam.
Às que têm humor.
Às que trabalham para pagar as dívidas.
Às que não fazem dívidas.
Às que são livres.
Às que se camuflam.
Às que são sapientes e às que nem por isso.
Às que têm ideias e às que não têm.
Às que são medianas e têm deuses medianos.
Às que sonham e às que já não têm sonhos.
Às que têm rugas e pele seca.
Às que têm pernas altas e são elegantes.
Às que são fracas.
Às que se erguem, se levantam e vão em frente.
Às dóceis e às menos docéis.
Às domésticas e às que laboram para patrões.
Às rebeldes.
Às vencedoras mas também às vencidas.
Às que pintam o cabelo com henné e às que não pintam o cabelo.
Às que influenciam e às que são influenciadas.
Às bonitas e às feias.
Às medrosas e às charmosas.
Às normais (mitológicas) e às chanfradas.
Às que falam muito e às que sabem escutar.
Às independentes.
Às que apenas sobrevivem.
Às que protestam e gritam.

A todas eu lhes canto bem alto o hino da minha ternura e compreensão, lhes ergo a taça da SAÚDE E DA VITÓRIA.
A UM PRESENTE COM FUTURO!

sábado, 6 de março de 2010

SE FOSSE OUTRA COR... COMO EU GOSTAVA



Como gostava que os dias de Portugal fossem coloridos.
Como gostava que a sujidade dos dias do meu país fosse toda varrida.
Como gostava que o meu rectângulo amado fosse um simbolismo em vez de um realismo.
Como gostava que as elites do meu país estivessem munidas de uma bibliografia antes de entrarem numa biblioteca, porque quem não sabe escolher as leituras perderá muito tempo.
Como gostava que a palavra, que é de todos os símbolos, o mais verdadeiro, fosse usada com parcimónia e verdade, que através dela fosse possível a educação e a evolução da sociedade.
Como gostava que Portugal saísse do Hospital rapidamente, do sofrimento em que tem vivido e tivesse saúde.
Como eu gostava que Portugal se conhecesse a si mesmo, olhasse para dentro de si e que resolvesse os seus problemas em face de si próprio antes de procurar resolver o problema em face da Europa.
Como eu gostava que o meu país regressasse. Temos água, temos vento, temos velas e barcos. Regressa querido país, volta para ti, vem para dentro e depois voltas, mas antes aproxima-te de ti, já chegam tantos anos de ausência.
Como gostava que Portugal ouvisse o seu canto e não fizesse ruído para o ouvir. Não falo do canto do cisne, duma sociedade a dar o último estertor, a última convulsão.
Falo do canto do silêncio, do canto do olhar intenso do pensamento, do trabalho e do descanso merecido.
Como eu gostava que o meu querido país gostasse de si e não vivesse maritalmente com o rectângulo sem dele gostar.

Eu quero um Portugal mais silencioso, mais sólido, menos indiferente, falo daquela indiferença que cerra os ouvidos do povo; que erga a voz de forma clara contra o exterior dos "ratings" ou do que for, que se erga e se deixe de andar de cócoras e aos gritos contra tudo e contra todos, que se erga das brumas, que deixe de mentir.

Como eu gostava que o meu Portugal diga não e resista a todos os FMI deste mundo, que saísse do passo em que se encontra e que se deixasse de ser vinho adamado para ter outro sabor, outro corpo, outro aroma, numa palavra, outra condição.

Em nome da estética e de tudo o resto convém que Portugal, o meu país, regresse a si próprio, que abandone o estilo da barricada.

Como eu gostava que o meu país se especializasse em justiça económica, justiça política, equilíbrio social, ascensão à cultura, que abandonasse interesses e "offshores", que abandonasse o reino do Mal e construísse o reino do Bem.

SONHAR EU POSSO E IMAGINAR TAMBÉM.

sexta-feira, 5 de março de 2010

AS SOCIEDADES ESTÃO VIOLENTAS





Suicidou-se um rapazinho de 12 anos, em Mirandela, Trás-os-Montes, para fugir às agressões e humilhações dos colegas.

Os inquéritos vêm depois. A escola não deu por nada, mesmo tendo sido o menino hospitalizado há um ano por agressões que os colegas lhe tinham feito (mas fora do estabelecimento).
Inquéritos realizados a 3891 crianças revelaram que 11% das crianças do 1º ao 6º ano foram vítimas de agressão por parte dos colegas 3 ou mais vezes.
A escola nem luto decretou nem falou sobre o assunto, que raio de conceito de educação tem esta escola? Ignorou em absoluto o facto, procedeu no depois como no antes, não ajudou, não prestou cuidados, não educou.
A escola, neste caso a escola Luciano Cordeiro em Mirandela, não presta, tem culpa no suicídio dum aluno seu.
Este rapaz estava desamparado quer pela família quer pela escola.
Há violência social, não só na agressão física mas naquela que não presta cuidados, na que vira a cara para o lado fazendo de conta que está tudo bem para não ter problemas e continuar na carunchosa vidinha.
Para estes conselhos executivos o silêncio é a sua ideologia.
Coleccionam-se estes casos de violência, quer na escola quer na família.
As escolas engolem os discursos do poder. Não se passa nada, nunca se passa nada.
Os conselhos executivos e a população docente nada querem arriscar. Não arriscam sequer a pegar num facto e fazer dele um acto exemplar, para educar ou tentar, pelo menos, conversar com os alunos sobre o assunto e para perceber o que se passa naquela comunidade.
Abriu um inquérito e depois? Depois fecha o inquérito e vem dizer que o miúdo sofria de depressão infantil, ou então limita-se a constatar que o "bullying" como agora lhe chamam para dizer que é internacional, é um fenómeno social e actual.
Os agressores, mesquinhos e horríveis, porque o são? Seres insignificantes que fazem os outros aparecer a si mesmos insignificantes.
Escolas, alunos, pais tragados pela linha de montagem.
Esta escola tem de agir para deslocar o lugar do poder. O poder não pode estar nos agressores.
Esta escola, associação de pais e tudo o mais estão escleróticos.
Estes adolescentes fanfarrões, idiotas, querem tudo até maltratar até à morte colegas mais novos e frágeis. Esta realidade actual está a recrudesceder e torna-se preocupante.
Há falta de amor nas sociedades, falta de amor consigo próprios em primeiro lugar e depois com os outros. Muitos destes jovens adolescentes reproduzem comportamentos vistos e vividos em família. As famílias tornam-se cada vez mais violentas e muitas delas com os progenitores desempregados entram em desespero e este propicia muitas vezes a agressão.
Há uma enorme ausência de compaixão que se manifesta também nos mais pequenos.
Há muita indeferença e o pior de tudo é que cada vez mais há gente a apreciá-la.
A sociedade de espectáculo em que vivemos gera estas situações, dá lugar à solidão, à tristeza.
Estamos todos, porque todos fazemos parte da sociedade, a assassinar as almas, mais que não seja, através da indeferença. A indiferença mata.
A indeferença destes professores e se calhar destas famílias (refiro-me também à dos agressores), matou este aluno.
As lágrimas estão a secar e os portugueses também estão a fazer o culto e a concentrarem-se na indisponibilidade.
Sociedades hedonistas sim, já sabemos, mas não se pode cruzar os braços, virar a cara para o lado.
Estes agressores também estão a chamar as atenções sobre si, é preciso escutá-los. São fruto do que paira na sociedade, a falta de atenção sobre o outro.
É urgente falar sobre o conceito de felicidade/infelicidade.
Acabar com as atitudes do deixa andar que aqui, neste caso, se verificou e verifica na comunidade escolar, fechada a cadeado.
Há gente a estoirar de amargura.
Ninguém se interessa com o indivíduo, mas toda a gente, sem excepção sobe à boca de cena em casos de catástrofes, o resto, os indivíduos, as suas tristezas, mágoas e aflições, é com os especialistas.
Cada um de nós tornou-se semelhante à assistência pública interessa-se tanto a sério e nada de nada ao mesmo tempo.
O mundo, o nosso que é composto por nós, torna-se uma aberração.
As pessoas não querem estar frente a frente, acham duro demais e por isso ou não telefonam-se muito, prometem, ouvem ou não ouvem, flutuam, enviam mensagens e a coisa passa ou volta.

quarta-feira, 3 de março de 2010

HÁ PESSOAS QUE SOFREM PARA ALÉM DO QUE É DEVIDO





A dor chegada ao paroxismo.

Para esta gente que após um terremoto ou um maremoto ou as duas coisas se vê privada de tudo, comida, casa, bens, segurança, lutos que não podem fazer, tudo mesmo.
Esta gente que tem de sobreviver, mas nem comida tem, que nem tão pouco consegue chorar, a toda esta gente venho pedir perdão por ter momentos de queixume e venho agradecer por me darem lições de vida.
Tenho de me proibir de me contorcer, de falar de dores.
Venho pedir desculpa pelo meu país que desbarata o tempo em insignificâncias, fingindo dor onde não há realmente.
Dores a sério são estas que as pessoas sofrem com as catástrofes e tragédias, sentindo-se completamente impotentes.
Partilho em silêncio o seu sofrimento.
Para esta gente que tem que recorrer a todos os mecanismos de esquecimento em simultâneo e pô-los a funcionar em pleno e não tem o direito de se deixar amodorrar nem que seja numa cadeira, vai a minha homenagem e o meu reconhecido agradecimento.
Todos eles me situam, me relativizam.
No Chile o terremoto, mais manifesto na cidade de Concepción, não atingiu só os pobres, todos ficaram sem nada. Ouvimos pessoas que viviam bem, a procurar responder às perguntas jornalísticas, a solicitarem ajuda, comida, protecção, entregues completamente à luta pela sobrevivência, perdidas, ausentes de si e de tudo. Dói, dói muito. Há, inclusive, pessoas desesperadas que se tornam de delinquentes de ocasião e há aquelas que mesmo nestas alturas continuam intransigentes na sua decência. Todos eles deixaram de ter a sua reserva de segurança.
Claro que nenhuma pessoa é fundamentalmente oposta a outra pessoa, qualquer que sejam as aparências contrárias.
Como dormirá esta gente, deitada sobre a saudade de tudo o que perdeu para sempre?
Não há ninguém que lhes/nos possa responder, penso.
Tudo se subverteu.
A cidade morreu. Procuram um outro caminho o da salvação.
É evidente, que mais tarde, no moer dos dias, as recordações virão, ora em cachão, ora espaçadas e escondidas.

Que desespero, que solidão brutal!

No meu cérebro a ideia de fronteira, já tão apagada, deixou mesmo de existir. Este Inverno inclemente, deu-lhe a machadada final.