sexta-feira, 30 de abril de 2010

ORIGINALIDADES





Fiquei a saber que o Sr. Nicolau Santos, o homem do lacinho, director-adjunto do J. Expresso, economista, teve uma ideia original, apresentou 5 medidas para solucionar a crise e numa delas apontou substituir o 13º mês dos funcionários públicos por títulos de tesouro não transaccionáveis antes de 3/5 anos.
Não há dúvida que o Sr. do laço deve gostar do Opus 131, já que a 6ª sinfonia de Beethoven ou mesmo a nona não serão as suas preferidas por certo, com essas se sentiria bem e nós também.
É verdade que estes senhores economistas caseiros, porque ainda proliferam cá dentro as vozes dos de fora, dos estrangeiros, que não são melhores, têm grande capacidade de improviso.
Assumem o papel de mensageiros vocacionados para uma missão, a de baralhar, confundir e deprimir o povo português.
São os Srs. fala de tudo, conseguem falar do que não sabem, também é verdade que se falassem do que sabem, nunca mais falariam.
Ouvem-se a eles próprios e chegam a ser orgásticos neste prazer.
Estes senhores precisavam de ficar sem "as cadernetas de senhas de abastecimento", que quer dizer, ficar sem os vetustos rendimentos que auferem aqui, ali e acolá, por mandarem estas bojardas para os jornais, canais televisivos ou outros, seria giro.
Chamar-lhe-ia a esta "solução" para calar estes economistas da nossa praça (sempre os mesmos, Silvas Lopes, Joões Salgueiros, Medinas Carreiras, etecetera. e agora este senhor do laço), medida para "controlar a saúde mercantil do negócio" (entenda-se por negócio, os vários ordenados e reformas que auferem em simultâneo).
Fazem-me lembrar, de certa maneira e não sei explicar porquê, o gotejar de uma torneira sem conserto, graças à qual alguns encontram uma solução transitória.
Estes senhores não têm receio do ridículo, não têm consciência das suas limitações, Projectam-se e figuram nos epicentros da grande comunicação e empresas, bancos e outros.
Porque será que chegam a lugares altamente cobiçados aqueles que juram uma coisa e fazem outra, por serem cínicos?
Estes economistas deprimentes que apenas granjearam nome à força de se encostarem a partidos políticos, que foram ministros e secretários de estado, jornalistas como é o caso ora em apreço, andam sempre a rasgar a goela em terríveis soluções para o país, apresentam-se ao país como salvadores da Pátria, fazendo crer que 10 milhões de portugueses excluindo as suas sábias pessoas são ignorantes, burras mesmo.
Possuidores dum grande desdém pelos seus concidadãos e, em especial, pelos funcionários públicos, estes pequenos imperadores da opinião, julgam-se os novos profetas das soluções.
Continuamos a consumir quantidades perigosas, possivelmente até letais deste veneno ministrado a conta-gotas, intitulado eufemisticamente soluções para a crise em que o país mergulhou.
Demos meia volta, já que pouco mais podemos fazer e avancemos para os não ouvirmos, os não lermos com vista a um futuro novo e mais confiante, alicerçado em todos nós, povo trabalhador e sem opinião muitas das vezes ou com fraca opinião outras tantas, mas que sabe aquilo que estas sumidades ainda não alcançaram, sabe uma coisa bem simples - "SEMPRE OS MESMOS A PAGAR A CRISE, ISSO NÃO"

segunda-feira, 26 de abril de 2010

KRISIS



Estão aí o sol, a Primavera, as cores da vida.
O sol nasce todos os dias, nós levantamo-nos todos os dias, se nada nos acontecer de mal. Então comemoremos a vida, a liberdade de cada dia do ano em cada gesto, o sentido de muitos dias do nosso existir.
Sejamos extravagantes e escolhamos este dia, amanhã é outro que temos de decidir, como perdulários, como se não houvesse mais, com esplendor.
Krisis em grego queria dizer escolha, decisão. Decidamos SER neste dia, ser para que tudo seja.
Distingamos este dia pois. Façamos dele algo que o caracterize, humanizemo-lo.
Sejamos generosos com os nossos dias e se mais nada pudermos fazer, caminhemos e ouçamos música.
Andamos a atravessar oceanos todos os dias. Cansa muito. Passamos o tempo dentro do barco a olhar, à espera que o tempo passe, a olhar a subida e a descida das ondas e a ver reflectida aí a imagem da nossa vida e a do nosso país.
Não esperemos por melhores dias, por melhores condições, limitemo-nos a viver o dia, este dia, de forma mais alegre e feliz do mundo.
Trata-se duma causa magnânime, viver cada dia como se fosse o último, da melhor forma.
Há uma frase, não sei agora de quem é, mas digo-a de memória que é: "Deseja tudo o que tens e terás tudo o que desejas". Esta frase que decorei quando estudei filosofia, suponho, sempre me remeteu para o divino, para o cósmico. Faz-me transcender na minha condição de humana.
Mas nós só desejamos o que não temos, por isso não podemos ser o que desejamos.
O papel da razão não pode ser subestimado, mas o contrário também é verdade.
A razão só nos deve servir para nos ajudar a pensar e nada mais.
Se assim não fosse onde ficava o Amor? O Amor é feito de razão?
vem isto a propósito de vivermos o nosso dia, duma forma única não apenas como uma coisa que se tem, mais um dia.
Temos um dia, transformemo-lo em algo que é e não só numa coisa que se tem, é este o meu pensamento e reflexão do dia.
Este dia é este e não outro que podia ser mas não é.

domingo, 25 de abril de 2010

ADMIRAÇÃO


A PROPÓSITO DO COMENTÁRIO DE UM AMIGO


Sempre admirei as pessoas que aos 70/80 anos, continuam com os ideais em alta.
Nunca percebi se era por sofrerem de optimismo crónico ou simplesmente por serem crentes e terem fé.
Se calhar revejo-me mais em Paul Celan por exemplo, um judeu que se mostrou inconformado com o destino de uma humanidade devastada.
Mas continuo a admirar as pessoas que têm a coragem de acreditar duma forma quase épica, no género humano, que depois de lhes (nos) ter sido ensinado o manual da cobardia continuam de alma escancarada, continuando com um maravilhoso senso restaurador.
Não cedem a qualquer tipo de falências emocionais, não relevam a infindável crosta de mentiras a que assistimos no intuito de continuarem a estabelecer algum vínculo com a esperança.
Continuam sempre na viagem que nunca terminam e da qual se não cansam, mantendo seus olhos e coração maravilhados.
Felizes destes que dispensam a presença de algumas realidades. Têm a dose certa do sonho e o sonho comanda a vida.
Para eles não se trata de traição, de trair os factos e os sentimentos.
A sua linha de rumo é resistente e orgulhosa também. Admiro-os e com eles gostava de me parecer.
Não deixo de pensar que a minha ignorância é de tal magnitude que me torna vulnerável e inoperante.
Nestas alturas em que presto tributo aos que não desistem do optimismo, penso também que não passo dum ser exposto em busca do sol e do jogo de sombras.

sábado, 24 de abril de 2010

25 DE ABRIL




Já é 25 de Abril. 36 anos volvidos.
Estamos todos contaminados, mas não esqueçamos, nascemos todos aqueles que a ele assistiram, 2 vezes que é como quem diz, só tarde tomamos consciência dum certo número de coisas.
Foi o dia das descobertas. Da descoberta primeira - afinal, éramos um povo feliz, solidário e também alegre.
Éramos todos belos e sábios porque a sabedoria consiste em contentarmo-nos e nós estávamos contentes pelo espectáculo do nosso mundo, do nosso Portugal.
Tínhamos os sentidos satisfeitos. Cumprimentávamo-nos todos como cidadãos.
Comprometíamo-nos.
Tinha-nos saído a sorte grande.
Antes fugiamos ao mundo.
....
Veio depois com o Cavaquismo a época das falsidades. Toda a gente passou a ter tudo. Dinheiro, casas, carros, viagens.
Todos adquiriam tudo com dinheiro emprestado, penhoravam anéis e dedos para a vida toda. Tudo adquiriam a preço de ouro.
Era feio dizer-se que não se vivia bem, viver remediadamente não era cool.
As coisas humildes não estavam na moda. Os portugueses tinham evolucionado para este estadio, viviam teatralmente.
Era um estranho mundo, o mundo do faz de conta.
Toda a gente se julgava superior.
Todos começaram a falar avulso. Éramos assalariados mas julgavamo-nos livres, eis o 1º erro.
As palavras não correspondiam às coisas.
...
Vieram as lojas de chineses, lojas do falsíssimo.
Todos éramos inocentes, puros, não sabíamos que o ser humano segrega o mal como as abelhas o mel e poucos de nós tinham lido o "Deus das Moscas", fábula de William Golding sobre a maldade intrínseca do homem.
Onde havia cravos vermelhos, instalaram-se mentiras.
Este mundo tornou-se Kafkiano, está para além do entendimento.
Todos, porém, colaboramos com o que nos indigna.
Faz-se o jogo repugnante dos ódios ou das amizades pessoais e não se hesita em denunciar os erros ou os desmandos da administração. Ninguém lê livros, mas todos escrevem àcerca deles.
Porém, muitas coisas foram repensadas e postas em questão, como o estatuto do saber intocável.
Todos sofrem de indiferentismo, embora não pareça.
Na frente ocidental nada de novo, como diria Miguel Torga.
O povo sem ninguém que lhe valha está mascarado, cumpre pena de vida, já que a pena de morte foi abolida há muito.
Voltamos ao tempo das invasões, com a substituição de bárbaros por corruptos de falas mansas e bem cheirosos.
Não toleremos tudo porque há tamanhos absolutos e tamanhos relativos.
Punhamos pé no presente e não nos escravizemos ao futuro.
Não tenhamos saudade do porvir que não sabemos se o vamos viver, revelemo-nos na forma como defendemos as nossas ideias.
Revelemo-nos pois. Comecemos a limpar o lodo que tudo cobre.
Celebremos o 25 de Abril AGORA.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A PROPÓSITO DUMA OBSERVAÇÃO DUM GRUPO DE ESTUDANTES EM VISITA DE ESTUDO A UMA BIBLIOTECA




Estava na esplanada da biblioteca Florbela Espanca em Matosinhos e observava o comportamento de estudantes do ensino secundário sem professores por perto, escrevi isto enquanto assistia a tudo aquilo, sempre com vontade de intervir, não saí da minha cadeira, irritada e a pensar que se dissesse alguma coisa talvez...


Estamos condenados de antemão ao fracasso.
Vivemos um larguíssimo período de fraqueza tolerante, também na educação das crianças e jovens.
O futuro está a ser penhorado. Inicialmente foi negociado com a "amizade/companheirismo" dos educadores (como se fosse possível atribui-se-lhes outros papéis que não os deles e para quê, a não ser baralhar?), agora estes, pais e família nuclear inclusive, desistiram de educar, de exercer a autoridade, quer através do exemplo, quer através do amor.
As nossas crianças não adquirem conhecimentos de civilidade, de bom trato, assim podemos abdicar da esperança no futuro.
Os adultos, mesmo autoridades, que passam num jardim, vêm crianças a destruir as flores e viram a cara para o lado, não se querem incomodar.
Os miúdos andam carregados de ira, não são humildes uns com os outros, muito menos com os mais velhos, não acatam qualquer tipo de conselhos. Estão agressivos porque vivem numa sociedade agressiva. Nas suas brincadeiras entre pares, não é raro vê-los a tentar vingar-se de alguma tragédia pessoal (qual? talvez a de falta de atenção dos progenitores seja a primeira). Os pais já só tocam os filhos por aquilo que lhes compram e o dinheiro que lhes dão. Sapatilhas e "jeans" de marca, todas as novas tecnologias que saltam para o mercado, meios de afirmação das novas identidades, ao fim e ao resto.
Não há desejos proibidos, todos são consentidos, não há interditos de qualquer espécie e assim, não raro, a depressão toma conta destas jovens vidas.
Que fazer para mudar de rumo?
Os Estados e quem os governa, ocupam a família em mais e mais horas, desprotegendo o espaço familiar, retirando o já de si enfraquecido sentido de família, há muito substituído pelo computador ou televisão pelos seus membros.
Cada um se isola no seu pequeno mundo, desconhecendo o que se passa na divisão ao lado. Horários diferentes que levam à impossibilidade do convívio e do diálogo.
Os espaços de comunicação são cada vez mais inexistentes, é o caos. As pessoas dentro da mesma casa, ligadas por laços de sangue, falam linguagens diferentes e desconhecem-se mutuamente.
Salvam-se apenas os primeiros anos da 1ª infância, quando os progenitores ou quem eles incumbem, têm ainda como obrigação levar os filhos à escola e ir buscá-los.
Hoje perdeu-se a ideia de quem é o chefe da família, porque seria uma ideia ultrapassada. Defender isso seria uma ideia "descabida", seria colocar de parte o jovem, a criança, supõe-se. Retomá-la não passaria dum anacronismo arrogante.
Já não há por hábito demonstrar o afecto que sentem uns pelos outros, a não ser através do dinheiro que é dado para comprar, comprar algo e comprar almas também.
Os filhos, os pais, todos os membros da família, quando se ausentam de casa já não se cumprimentam uns aos outros, momentos denunciadores de afecto e respeito.
A loucura/irracinalidade dos sistemas económicos selvagens, leva a uma maior despesa com a saúde mental e delinquência, perdendo-se assim todo o efeito das horas extras não remuneradas para mães e pais deste mundo.
A liberdade não é pêra doce. A liberdade é uma guerra e todos fazem a guerra para a ganhar, mas da pior maneira e com armas proibidas.
A distância é cada vez maior entre gerações, se bem que a aparência seja a contrária.
Os mais velhos querem imitar os mais novos, porque ser jovem é o que está a dar.
Ser velho não vende, ser maduro é estar a caminho de ser velho e isso é uma idade (25ª) que é desvalorizada, vilipendiada, injuriada.
Os velhos são humilhados, perdem todo o valor, são grotescos, por isso também se querem apresentar como novos.
Assiste-se à fealdade das atitudes, à tirania da juventude, à falta de confiança de quem a devia possuir, à retirada de valor a quem o tem por esta sociedade guilhotinadora.
Para ascender na hierarquia, mandam as regras vigentes, que cada um engrandeça desmedidamente o seu pequenino feito, que o mostre, que minta sobre ele, que o invente. São estas a moral e a ética actuais. Inexiste o policiamento interior.
As pessoas preferem ser símbolos em detrimento de ser pessoas.
As únicas causas que movem as sociedades actuais são os lucros desmedidos mas acima deles a burrice e a estupidez supremas.
Os poucos que insistem na abertura à racionalidade, que investem no amor são apenas aceites enquanto falhados, intrusos, corridos a adjectivos.
Voltamos à barbárie dos comportamentos, mas agora doutrinários e arrogantes, estridentemente ruidosos.
Para quando o entendimento, a aprendizagem de que o bem maior, a liberdade, é feita de simplicidades, amor e respeito pelos outros?
HOJE JÁ É TARDE. AMANHÃ MUITO MAIS AINDA.

sábado, 17 de abril de 2010

NOTÍCIAS QUE LI E ME CHAMARAM A ATENÇÃO HÁ DOIS DIAS







. "João Cotrim Figueiredo, antigo administrador da Privado Holding, proprietária do agora extinto Banco Privado Português, é o novo director-geral da TVI".



. "A Parpública, que representa o Estado no capital da EDP, votou contra a proposta de remunerações da comissão de vencimentos da empresa. O governo pretendia uma redução de 5% no salário-base dos membros do conselho de gestão, bem como o não pagamento de prémios, mas, por decisão dos accionistas maioritários, a proposta nem sequer vai ser discutida.
Afinal, a EDP é uma empresa privada em que o Estado detém uma quota de 20,49%.".


. "Presidente Václav Klaus disse na abertura do fórum económico que juntou empresários checos e portugueses "Fico muito surpreendido por Portugal não estar nervoso por ter um défice de 8% e para terminar Klaus disse: "e não serão os governos a fazer essa recuperação, mas sim vocês, dirigindo-se aos empresários."

e acerca do nosso Estalo laico:

. "Constituição portuguesa proclama a não confessionalidade do Estado (artº 41º, que trata da liberdade de religião e culto).
A Lei da Liberdade Religiosa diz que "O Estado não adopta qualquer religião", por isso as escolas vão fechar e o Estado decretou tolerância de ponto para os seus funcionários e a central sindical UGT pediu aos patrões privados para seguirem o exemplo do Estado."

. "Hoje os colonizadores elegem-se democraticamente" - frase retirada dum blog.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

VAMOS ARRENDAR O PAÍS POR 40 ANOS?





Lembrei-me de contribuir com ideias para o governo governar.
Esta questão veio-me à lembrança quando ouvi o Ministro das Obras Públicas admitir vir a alienar a posição maioritária da ANA - Aeroportos de Portugal, empresa que gere os aeroportos nacionais e ter afirmado que "todas as hipóteses estão em aberto", disse ainda que "neste momento não há nada definido relativamente ao modo como se vai proceder à privatização".
Já vimos isto acontecer noutros países como o Brasil e a Espanha, salvo erro, em 2008. Nesse ano tinha sido sugerida a entrada de capital privado na administração da infra-estrutura aeronáutica. Os aeroportos começaram a ser considerados como centros de negócios.
Ora, o país está endividadíssimo e com problemas de défice. Na U.E. começam a não confiar em nós e o Banco Europeu a não querer emprestar-nos mais dinheiro (mentira, eles só querem emprestar dinheiro, é dos juros altos que vivem), o que seria uma grande coisa para ver se endireitávamos as continhas.
Por isto tudo pensei em dar uma dica ao governo do nosso país para melhor fazer face às despesas correntes e urgentes e calar um pouco as agências internacionais, deputados, pseudo investigadores e outros que tais, ao serviço dos interesses deste Banco. Pensei então que o governo podia arrendar Portugal a um país que o quisesse para qualquer coisinha ou uma joint de países, sei lá, por um período de 40 anos, tal como com os aeroportos, só depois de ter tido esta brilhante ideia é que pensei:
"parece impossível como a Drª Manuela Ferreira Leite, uma mulher que enquanto Ministra das Finanças vendia tudo a retalho, até o edifício, lindíssimo aliás, da GNR, meu vizinho no Porto queria vender, como ainda não tivera esta ideia, ou mesmo o actual Primeiro Ministro, um homem com enorme produção ideativa, não lhe tenha ocorrido a ideia salvadora, como seria possível?
Ora se pensaram em alienar a ANA porque não arrendar o país inteiro? Dá muito mais dinheiro.
Não entendam estas palavras como uma espécie de rapsódia porque não são.
Não podemos nem devemos deixar o governo apenas à mercê dos líderes dos partidos da oposição numa situação de crise como estas. Governar é difícil e os nossos governantes andam esgotados, precisam de quem os ajude a pensar e essa tarefa espinhosa cabe a cada um de nós. Cada um tem a obrigação de dar um contributo. Não nos podemos dar ao luxo de nos sentar, encostar e não mexer uma palha.
A ideia é muito simples: se arrendássemos o país, receberíamos uma renda. Com essa renda poderíamos pagar os juros das dívidas e assim contraíamos mais empréstimos,estão a ver? Continuaríamos a fazer mais uns milhares de casas, já existem 40 milhões, parecem-me poucas, afinal somos 10 milhões. Construiríamos mais auto-estradas, dizem que estamos bem servidos com estas, mas há aldeias que ainda não possuem auto-estradas, se tiverem dúvidas, perguntem à Brisa.
Ao fim de 40 anos, poderíamos ter uma dívida maior, lá isso podíamos, mas até lá não nos tínhamos aborrecido com o problema dos juros e com Bruxelas e as suas exigências.
Porém, exigiríamos uma condição ao nosso futuro senhorio - a manutenção das aparências, nós Portugal continuaríamos a dizer ao mundo que éramos uma Nação soberana, mais ou menos como já agora fazemos. Também teríamos que acordar com o novo senhorio(s) a questão das eleições. Far-se-íam na mesma eleições, o povo ia às urnas, tudo a fazer de conta claro está, como se fôssemos um país livre, porque no final mesmo, o(s) gestor(es) seria(m) nomeado(s) pelo senhorio e mais nada, seria muito, muito, mas muito diferente de agora, em que os gestores, i.é, os governantes podem fazer o que querem porque estão no seu país endividado.
Seria tudo diferente, sim mesmo muito diferente, mas descansávamos, podíamos adormecer durante 40 anos e depois via-se. O que acham?
Portanto, à semelhança do que se está a passar com os aeroportos poder-se-ia, numa outra escala, passar com o país e, assim, toda a carga de amargura, daqueles insuspeitos fardos que os nossos governantes fecham a cadeado, toda essa carga era transferida para os governantes daqui a 40 anos, quando o contrato de arrendamento cessasse, mas nessa altura os novos governantes poderiam renovar o contrato.
Há sempre coisas para fazer na construção civil, até mesmo e porque não, fazerem um bombardeamento, uma espécie de ataque aéreo, uma guerra, eu sei lá (outra ideia para fornecer agora ao loby da construção civil, embora esteja certa que esses até já estão a trabalhar nisso conjuntamente com os bancos que os financiam) para destruírem milhares e milhares de casas devolutas e que se deterioram por esse país fora por falta de comprador e assim, poderiam construir de novo quiça.
Voltaríamos de novo à felicidade, se não conseguíssemos esse estadio, pelo menos à paz, ao deixa-andar em que gostamos de construir o quotidiano, sem agências de "rating" a anunciar-nos castátrofes ou a colarem-nos à Grécia e à sua falência.
E como diziam em 1914: "Quem tiver alguma coisa a dizer avance e fique calado".












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quinta-feira, 8 de abril de 2010

COMISSÕES DE INQUÉRITO NA A.R.

O que acham destas Comissões?
Há quem ache muito bem, eu sei.
Sabem o que eu acho?
Que dão muito trabalho, que são muito caras e que se tornaram uma moda muito moda.

REFORMAS ANTECIPADAS




Combinações de desejos mal saciados.
Voltam a surgir as imaginações e às vezes as ilusões. Há imaginações e impressões que ficam prontas a procriar nesta fase.
Preocupam-se, acima de tudo, com interrogações que relevam mais da ordem filosófica que do domínio propriamente político ou social.
As vidas das pessoas são profundas mentiras. Ninguém faz inteiramente o que quer, diz tudo o que pensa, ou pensa exactamente como procede.
"Em termos absolutos, todo o trabalho que não é feito para as nossas próprias necessidades, leve as voltas que levar, é uma servidão", dizia Miguel Torga.
O medo da originalidade matou toda a criação.
Agora procuram não sabem o quê, verdadeiramente.
Nalguns casos houve morte civil, por isso pode ser que a ilusão os salve a não cumprir os seus deveres habituais, assistir a milagres com olhos interiores para ver.
Há muita coisa que foi amontoada na consciência ao longo dos anos agora é o tempo de a pôr cá fora.
Vivemos emparedados, a liberdade interior é a última ilusão.
É a época da não resignação.
A vida a passar, a sumir-se irremediavelmente, é preciso pois aproveitar, aproveitar para agora desdobrar a alma.
Utilizemos agora o nosso duplo.
É tempo de recomeçarmos mil vezes. Embrutecemos à medida que os dias passam.
Chegamos a esta altura, quase desidratados do pensamento, exauridos, é pois necessário, recuperar.
Cortemos as amarras e guardemos as redes, naveguemos.

domingo, 4 de abril de 2010

SALVAR OS DIAS




Confiamos a salvação a escrita como Maurice Blanchot.
Com todo o tempo livre à nossa frente como ocupar o tempo?
Pensamos e lutamos para que o futuro não se transforme em passado antes de se tornar presente e sentimo-nos ricos mesmo assim - dispomos do tempo.
Lembramo-nos de sair pela janela, porém não nos esquecemos de colocar as asas previamente, agora visitamos países, terras e gente.
Aterramos onde há carne de palavras. Pertencemos ao género humano por isso temos dificuldade em suportar a realidade. Somos portugueses por isso contraditórios no nosso modo de ser.
Andamos sempre a dizer adeus aos sentimentos felizes, dispomo-nos a redimir do tudo e do nada e restituir ao real.
O confronto com a realidade quase sempre subtraída à quotidianeidade perturbadora da experiência humana sobretudo se nos reportarmos à nossa época, invadida pela vulgaridade.
Mesmo assim sendo, predispomo-nos a fazer da vida um género insubstituível e ainda somos capazes de nos questionar nas motivações, anseios, criação de ambientes, conquistas e frustrações a que a complexidade das relações humanas nos expõe.
E continuamos a dizer o nada que tudo diz umas vezes, a desmascarar outras, a romper outras tantas, renovando, aprofundando o sentido, aperfeiçoando as noções de completude e visão do mundo.
A responsabilidade de viver sem sermos cientistas, empresários ou escritores não pode ficar entregue ao desmazelo mental.
Para não praguejarmos, para não nos rirmos de ingenuidade, nem com as baterias do sarcasmo, para não estarmos à beira do stress, temos que inventar para tornarmos a vida menos aborrecida.

sábado, 3 de abril de 2010

SOBREVIVERMOS A NÓS PRÓPRIOS

Como travar a vertigem de desaparição sem desvirtuar a nossa autenticidade ou sequer submeter a focalização das partes a uma finalidade pré-concebida, dominada por uma sucessão temporal forçada dos acontecimentos.
Não nos podemos atar ao cadáver da juventude e ficarmos marcados por este estigma.
Nesta sociedade do detergente, como já alguém disse, capaz de abortar todos os dias, incapaz de sobreviver a si própria, cabe a cada um de nós, aprender a conviver com as vivências passadas, presentes e futuras.
Há que continuar a luta, estar vivo e como dizia a outra "estar vivo é o contrário de estar morto".
Recebemos muitas ondas de choque na vida e o envelhecimento, as partes de nós que já não se alinham como antes, fazem parte dessas ondas impactantes, acontece porém que ao mesmo tempo que isso sucede podemos também fazer um esforço de contemporaneidade e aproveitar o ecletismo, a nossa tendência natural para sermos livres, para mais livres sermos ainda nas nossas escolhas.
Deixarmo-nos de vidas concêntricas, tangenciais e aproveitarmos para lhes passar uma tinta invisível.
É difícil? Claro que é.
Viver a vida é difícil. Só a acham fácil os idiotas ou quem não a vive.
É não ter medo de ser piroso.
É achar que as nossas melhores qualidades são quase sempre os nossos piores defeitos.
É repudiar o discurso pedagógico.
É despertar a obrigação de viver.
É não nos desinteressarmos de nós e abandonarmos moralismos.
É sermos corteses com o coração.
É partir do princípio de que o costume é uma segunda natureza que destrói a primeira.
É tornarmo-nos passageiros efectivos da viagem que temos pela frente.
É lembrar Roland Barthes em "A Câmara Clara", "seja o que for que ela dê a ver e qualquer que seja o modo, uma foto é sempre invisível: não é ela que nós vemos".
É portanto desapropriarmo-nos de nós próprios e parecermo-nos com todas as pessoas, excepto no facto de nos parecermos com elas.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

COMO ME ENVERGONHO E RECONHEÇO

Frequento estações de comboio e comboios porque gosto muito deste meio de transporte, o meu preferido.
O que eu não gosto é ver nos bancos das estações, gente excluída e que se exclui, sinto-me envergonhada. Fico aflita e interrogada.
Custa-me aguentar a ideia que gente da minha terra, do meu mundo se precipite nos buracos do tempo, seja engolido por sociedades tão silenciosas e distraídas às vezes. Tenho a tendência quase impulsiva de entabular conversa com essa gente, como para dizer estou aqui, sou igual, podia ser eu, é tão fácil estar desse lado.
Por muito que se queira ignorar, não é possível ignorar em absoluto.
Penso na grande ideologia actual - o silêncio.
Os sinais são bem visíveis. Atravessam-nos, mas ninguém ou quase ninguém mexe uma palha é como que não compreendêssemos o que vemos.
O retrato está ali, a fotografia nossa impôe-se, não engana, mas parece que metemos entre parêntesis o que vemos, que fechamos à chave os nossos olhos, coração e cabeça.
Engolimos os discursos do poder e deixamos intermitente esta comunicação da vida, das comunidade onde vivemos.
Todos somos sobreviventes, todos tentamos esquecer.
Ficamos uns perante os outros. Uns com o desemprego, o filho drogado, a dívida da casa e do seu recheio, outros com o céu como tecto e a incerteza do amanhã, do minuto a seguir como companheira.
Olho em redor, vejo mais gente sentada, à espera do comboio, sou capaz de imaginar todos os pontos de vista de quem está ali sentado e de lhes atribuir papéis correspondentes.
Ponho-me à escuta, mesmo quando estão calados, eu os ouço, ouço-os mais perto do excesso, da insensatez, da insignificância, da murmuração, do pedido de perdão.
Fica difícil pensar, concatenar ideias.
Sinto que todos estamos abandonados no mesmo local, embora simulem alguns altivez outros, humildade.
Gente que se anula numa banalidade sem apetite.
Dou comigo a coleccionar pormenores, para evitar ser tragada pelos sentimentos, fixo-me na revista que aquela folheia, o jornal gratuito que aquele senhor tão empenhadamente lê, o teclar rápido do telemóvel daquele rapaz, os segredinhos que a adolescente diz a amiga, o debicar, o comer às migalhinhas do pão da mendiga que se encontra em frente a mim e o seu jeito de quem quer tudo no seu sítio, nos olhos e sapatilhas de marca e sujas do toxicodependente ao meu lado e por fim olho o relógio e vejo a hora do comboio e recordo a arte de fingir que cada um de nós carrega.
O fingir faz parte do tornar-se verdade sabem-no os educadores.
O erro e o horror -começa quando o movimento se bloqueia, já não fazem mais nada a não ser fingir, e não o sabem os pasmados, ou sabendo, insistem os cínicos. Ou então sabem, sofrem, matam-se ou procuram um psiquiatra os pacientes.
Acabo por pensar sempre o mesmo quando me confronto com estas realidades que me provocam esta tristeza profunda, é um pensamento antigo e recorrente e que julgo ser a única forma que vale a pena, é AGIR para deslocar o lugar do poder.
É urgente aproximar a autoridade da base.
Sinto uma espécie de dilatação cósmica à escala individual.