quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ENTÃO COMO ESTÁS?


Bem obrigado respondi e silenciei.
"Já não nos víamos há tempos e pareces com bom aspecto", continuou.
Mas e, como se nada se tivesse passado entretanto, esclareci:

Revoltada, estou revoltada. Cheia dos bons costumes dos explorados, dos sacrificados, cheia de sermos este povo que só fala, fala, mas não actua.
Gostava de ver, ouvir e sentir apenas acção, acção nas ruas: Montras partidas sim, pneus queimados sim, bancos assaltados, conselhos de Ministros, embaixadas europeias e americana arrasadas, bem como sedes de partidos pois claro. Gostava que o governo caísse e não mais se levantasse, que o PSD perdesse as eleições, gostava que os partidos de esquerda se juntassem e governassem, gostava que os criminosos que nos assaltam - os bancos, os loucos e gananciosos capitalistas com os seus acólitos governantes - fossem presos, que os jovens gritassem bem alto: "ACABOU: OS FILHOS DOS BANQUEIROS QUE GANHEM 500 EUROS, NÓS QUEREMOS VIVER!"

Acabaste? É assim mesmo que te sentes? Retorquiu o interlocutor. Nas mesas ao lado, olhavam de soslaio para aquela criatura, Eu, que assim expunha o seu estado de alma, como se tivesse vindo do outro Mundo, dum mundo onde só o diabo pontificasse.
E naquelas mesas onde os burgueses se sentam e as senhoras para tomar chã com as amigas para esclarecem que os seus netos têm belos sorrisos e começaram com os primeiros dentinhos, tudo ficou na mesma, nada se alterou. Amanhã vão continuar a encontrar-se a dizer que a vida está má, que isto e que aquilo e mais aqueloutro e tudo, mas tudo continua ordeiro, bem apessoado, com muitas bolinhas de Natal, iluminações dos chineses e muitos olhares de cima para baixo e de baixo para cima como este e aquele e mais aquela se vestem bem, se penteiam, se arranjam afinal para que tudo, mas tudo se mantenha como está - colorido, em paz, bonitinho e quentinho sempre como nos Centros Comerciais onde nem pobres há a pedir, nem caixas de cartão, nem cobertores, nem crianças ranhosas ou cães que também caíram na mendicidade.
Lindo país o meu, cheio de sol, de mar, de gente boa que se une por uma causa, a de Timor e que acima de tudo até perdoa aos banqueiros que abrem falência porque roubam, aos políticos que nos roubam porque não obrigam os banqueiros a pagar os impostos que nós pagamos e porque governam mal, que deixam que o dinheiro fuja, que mendigam lá fora mais dinheiro para nós pagarmos e eles continuarem todos na sua vidinha de sempre, a fazer de conta que se insultam e que não dividem o bolo.
Viva os Centros Comerciais que nos aquecem!
Viva os capitalistas gananciosos que vestem bem, têm yates bonitos, casas de sonho e tudo de sonho e dentes brancos, branquinhos.
Viva os políticos que se esforçam por remediar tudo o que está mal, aumentando os impostos e não mexendo nos lucros dos banqueiros para que tudo, mas tudo continue em PAZ, EM ORDEM, COM SOL, COM MAR, COLORIDO. VIVA! VIVAM!
Bom Natal para todos os que deixam que tudo continue na mesma incluindo eu, pois então!

Da próxima vez que me perguntarem como estou, juro que vou dizer: MAIS OU MENOS; BEM OBRIGADA ou simplesmente MUITO BEM, É COMO VÊS! (assim já não me vejo obrigada a fazer este escrito).