terça-feira, 10 de maio de 2011

AS VITÍMAS NÃO ERAM TURISTAS NUM CRUZEIRO

No caminho para Lampedusa, um barco no mar há 18h, começou a perder combustível, levava 47 etíopes, sete nigerianos, sete eritreus, seis ganeses e 5 sudaneses. Havia 2o mulheres e 2 crianças pequenas.
Os migrantes contactaram o padre Zerai que alertou a guarda costeira italiana que afirmou ter dado o alarme e as autoridades estavam a par da situação.
Um porta-aviões da Nato Charles de Gaulle viu o barco e não prestou ajuda.
Trata-se dum crime, dum crime que não pode nem deve ficar impune.
Não sou católica praticante, mas se calhar alguns dos homens que iam naquele porta-aviões francês são-no.
Não conseguiram encontrar Deus quando viram aquelas pessoas pobres e negras há 16 dias à espera da morte.
Estes migrantes são abandonados por todas as nações do mundo.
Os jornalistas e as empresas onde trabalham noticiam mas não costumam fazer o alarido do costume à volta de crimes como este e porquê?
Porque é que as pessoas ficam apáticas perante estes crimes?
A vida é uma co-produção entre Deus e o Diabo financiada pelos países.
Toda a gente se descarta.
E a verdade é só uma, a INVENTADA.
As pessoas só vêem dum olho o que querem, no entanto somos todos seres transitórios. Mas muitas pessoas já se perderam de si próprias e não sabem.

domingo, 8 de maio de 2011

IDEIAS NOVAS PRECISAM-SE



Claro que ideias novas nem sempre surgem e depois obrigam muito a pensar e a dar luta e as pessoas não gostam muito disso, então os portugueses gostam de tudo menos de coisas complicadas, por isso é que complicam tanto a vida.
Vem esta introdução a propósito de quando vemos na imprensa escrita ou falada, na blogosfera já atingida, abordado um tema, logo 100 ou mil falam sobre a mesma coisa. É o efeito cachoeira, digo eu.
Ser pensador de ideias não é a mesma coisa que ser caixeiro de letras como diria a Agustina, mas ver quase todos a se copiarem "over and over again", até nas próprias palavras que utilizam, deixa-me triste.
Este show de mediocridade, esta ribaldaria atinge quase todos, ontem atingiu mesmo o Pacheco Pereira no programa que agora o amigo Balsemão lhe proporcionou e lá veio ele, ele que até gosta de pensar diferente, a falar dos gajos calimero, os tais que gostam de desempenhar o papel de vítima.
Portanto resta-nos a literatura e a poesia para nos salvarem desta mediocridade voluntária na educação.
Mas quem lê e o que lêem? O povo?
O povo, na sua grande maioria vê televisão até a almoçar e a dormir e o que ouve?
Deslizes e mais deslizes na língua portuguesa, chamemos-lhe assim eufemisticamente, exploração de sentimentos para os canais garantirem audiências com o mínimo de custos.
E todos se repetem, repetem até à exaustão, para nós, em coro, como quem estudava antigamente a tabuada, vomitarmos aquelas ladainhas, no café, nos transportes públicos ou na família e junto dos amigos, dando-nos ares de grandes pensadores.
Estamos cercados mas não temos medo, os escorpiões avançam e nós fechamos o cerco que fica cumprido.
Ninguém quer ficar de fora. Ninguém quer ser tonto.
Às vezes sinto-me exausta, venço o asco e escuto-os.

cabide de simplicidades: A NATUREZA e as naturezas

cabide de simplicidades: A NATUREZA e as naturezas

A NATUREZA e as naturezas



Cada vez mais a natureza é só para alguns, tornou-se apanágio de elites, de gente de bom gosto.
Os outros, a maioria, famílias inteiras vão para o Centro Comercial.
Os jardins costumam estar vazios, quando não ocupados por prostitutas ou mendigos.
Quem frequenta parques ou outros espaços verdes sabe que os encontra quase vazios e a taxa de ocupação é assinalada por aqueles que praticam desporto ou fazem manutenção.
É raro um jovem ou um menos jovem saber o nome duma árvore, duma flor, mesmo daquela que se encontra à porta de sua casa.
Os pais não se preocupam a ensinar isso aos seus filhos porque não acham importante nem sabem também. Acham até que se trata duma bizarria.
Nas tardes de domingo, principalmente, os centros comerciais enchem-se, as pessoas atropelam-se. Gente que foge da luz natural que procura montras como perfume para os olhos e para a alma. Não compram mas sentem-se ricas, fazem parte do grupo, não se desagregam, várias classes se misturam num pequeno espaço, debaixo do mesmo tecto, fundamentalmente debaixo do mesmo tecto. A chave de casa é a mesma, todos entram para o mesmo espaço de consumo, mesmo que alguns só o usufruam com o olhar.
No meio, mesmo no meio do shopping, num qualquer andar, lá está o mapa dos naufrágios, a desenhar os pequeníssimos territórios das marcas que o capitalismo nacional e internacional impõe a todas as raças e credos.
Tudo muito cenográfico, num exercício de prestidigitação e a música por vezes a incitar ao ênfase. As pessoas olham deslumbradas e olham de novo. Ninguém quer deixar de estar, de pertencer.
Também por isto pensam da mesma forma, vêem da mesma forma. Democratizou-se o consumo, toda a gente veste chinês, última moda e barato.
A propagação da estupidez quase não tem efeitos colaterais.
Vê-se pouquíssima gente a ler, a usufruir de espaços ao ar livre, a deixar que as suas crianças se sujem na terra.
Criam-se pessoas assépticas, anódinas, incolores.
Poucas são as que são cúmplices do vento, da chuva, dos perfumes da natureza porque regressam invariavelmente às mesmas coisas, aos centros comerciais como se não existissem ruas que se encontram vazias, jardins, parques cá fora.
Alguns mesmo sentem-se seres abandonados e esquisitos por passearem nestes espaços.
Para quando o regresso às coisas simples da vida e que nos dão prazer?
E porque quase tudo tem a ver com quase tudo e está interligado, estou em crer que muitas pessoas pedem encarecidamente a ajuda do FMI, porque não lhes parece que estejam em condições de garantir os seus compromissos financeiros no jantar de aniversário de sábado da Beta no restaurante do bairro, mesmo que o caderno de encargos os impeça de no domingo ir ao futebol.