quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

SER FELIZ PRECISA-SE

Resido actualmente numa aldeia e quando está bom tempo vejo ou via,espero voltar a ver, magotes de mulheres à noite a fazerem caminhadas de Kms. Todas contentes lá vão estrada acima (nas aldeias nunca há ruas). Um dia perguntei-lhes onde iam ao que me responderam que estavam a trabalhar contra o colesterol, a diabetes, os enfartes de miocárdio e por aí fora. Iam felizes, aquele "trabalho" agradava-lhes.
Vem isto a propósito do que eu considero ser hoje um enorme problema, um dos maiores, a juntar a todo aquele rosário com que os telejornais sadomasoquistas nos brindam todos os dias, que é a AUSÊNCIA DE FELICIDADE.
E penso que a maioria de nós acredita que não se pode ser feliz no meio de tantos acidentes, de tantas maldades, de tantos factores bloqueadores à felicidade, mas pode. É mais difícil, muito mais difícil, mas pode.
Vimos gente feliz mesmo em tempo de guerra, muito menos gente claro, muito menos feliz, claro, mas temos que continuar a lutar. Precisamos tanto de Felicidade como de pão para a boca, e muito mais de felicidade do que de  anti-depressivos, como mecanismo de "fé" no dia de amanhã. Os amigos comunistas dão-nos belos exemplos disso.
É preciso investir em actividades profissionais ligadas à felicidade, na cultura que ninguém fala, nem Ministério lhe deram; na luta organizada e mais intensa (não é preciso arremessar pedras, mas é urgente a força, a força das atitudes, das palavras e da não desistência. O grito em uníssono cria uma enorme felicidade. Já experimentaram? Pois experimentem.
A participação activa e cívica, dá-nos prazer, o sentido de utilidade em construir o amanhã dá-nos felicidade.
Estamos na vida transitoriamente, todos sabemos disso e adiamos o mais importanete da vida, porquê?
O país está em crise, a Europa está em crise, o Mundo está em crise, as vanguardas estão em crise. Pois sim, mas se essas crises todas só se resolverem quando nós morrermos, como é? Vamos abandonar a aspiração primeira e última da vida que é ser Feliz, nem que seja  por momentos, porque a Felicidade são momentos como todos nós sabemos.
Esta sociedade em que vivemos é criminosa e tem um cheiro suicida, temos que afastar-nos dela ou melhor afastá-la de nós. Por isso temos que ser felizes e fazer com que os outros o sejam também.
Ser afáveis, educados, cívicos, pensar em nós, mas pensar nos outros também.
Por exemplo, uma coisa que me incomoda, que me entristece, que me torna infeliz é ver gente a fazer queimadas (nas aldeias, todos os dias se fazem) e por descuido deixarem que o fogo consuma a floresta. Não falo de fogos postos que isso é outra coisa, falo dos eternos descuidos, da estupidez, esta estupidez insulta-me, torna-me infeliz. Portanto cada um de nós deve cuidar do seu quintal, não fazendo infeliz o outro, cuidadando não só da sua felicidade mas da do outro também, é disto que falo.
É desta felicidade dos pequenos gestos, das atitudes que estão ao nosso alcance que invoco hoje aqui.
Não, não pertenço a nenhuma religião nem estou a encomendar Felicidade, nem este meu escrito é alguma espécie de cosmogonia, que em regra não tem princípio nem fim, penso no entanto que se sexo já não é palavra tabú, nem dinheiro, nem crise nem economia, então esta também o não deve ser.
Andamos todos tresmalhados. Não podemos todos os dias ser massacrados, temos que conseguir não entregar a alma ao demo, mesmo nesta lixeira quase cósmica em que o Mundo se tornou. Entregamos aos vampiros tudo, mas não a alma, não a Felicidade.
Pagamos uma crise sem fim à vista, que não criamos, apenas fomos aproveitados como os soldados na guerra para as classes dominantes dos novos oportunistas, dos netos dos outros e ainda filhos também, dos Filhos que a gente conhece
desenvolverem os seus negócios e reforçar a sua dominação.
Não lhes entreguemos a nossa Felicidade, pelo menos de mão beijada, entregamos o corpo, não lhes ofereçamos o espírito, salvemo-lo.
À luta pois vos exorto e se formos muitos e unidos, mais ganhámos a guerra, pelos  menos ganhamos em saúde mental e poupamos em depressões e suicídios.
Vamos como as mulheres da minha aldeia e aldeias vizinhas matar-lhes a alegria de nos verem infelizes e sobreviver a estes criminosos que matam tudo que veêm, até a felicidade de ser FELIZ de vez em quando.
Tal como na cantiga, a Felicidade é uma arma.

1 comentário:

Helena disse...

Já te falei das minhas estratégias. Mas gosto dessa exortação. E da "simplicidade" da luta contra o colesterol, estrada fora.