terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A LIBERDADE É UMA GUERRA


Vi aqueles e aquelas
Que ensaiam monólogos
E com linguagem de poder
Sobem ao palco
Cada um reconhecendo no outro
Uma necessidade que complementava a sua.
Observei gente de microfone na mão
Como se fosse um pratinho de pedinte
Que ensaiam para malaguetas e abóboras-meninas
Alguns são pepinos rabugentos
Outras beringelas mal humoradas.
Mas o coração ralhava-me.
Vi asas de chapins azuis
Vi noites de nevoeiro branco
Um dia vi que a história de cada um
Fazia parte da história dos outros todos.
Vi como todos nós achamos um dia que somos profetas
Vi gente a falar sozinha
Vi gente que aspirava a viver no mundo
E ao mesmo tempo não viver nele.
Vi gente vestida de persistência,
Com chapéus de altruísmo e
Calças de solidão.
E os pés, os joelhos, as ancas
Tudo gritava o seu protesto.
Observei gente que colecciona amigos
À espera de toques que são ouvidos
Como campanhias de telefone.
Vi-me a aumentar o número
Das minhas dependências
Observei-me a encontrar
Técnicas de sobrevivência.
Mas o coração ralhava-me.
Vi gente feliz
Lúcida como manhãs
E eu aplaudo-as sorridente
CLAP, CLAP, CLAP.
Vi jardins pejados de pássaros
Vi representações cénicas do sonho
E dou meia volta
E continuo na euforia do monólogo
Enquanto não me dissolvo.

2 comentários:

lua vagabunda disse...

A D O R E I
Que magnífica descrição. Entendi-te e subscrevo.
Grata.

Miabar disse...

A liberdade é uma guerra! Sim!
E gostei muito deste escrito!