segunda-feira, 26 de março de 2012

AS CONVERSAS

Há pouca gente a conversar.
Quando conversamos, concordamos e discordamos com o que está a ser dito.
Há aqueles que dão conta do que concordam e do que não concordam e há os que preferem calar-se e guardar a sua opinião.
Convicta estou que os primeiros são bem  mais generosos que os segundos.
Todos nós somos labirínticos, contraditórios, difíceis de conhecer, mas é-nos bem mais prático, reduzir aqueles com que contactamos diariamente, a cabides de simplicidades.
Claro, que este facilitismo vem-se a tornar complicado quando encaramos com outra realidade.
Quando conhecemos os defeitos a as virtudes do outro, as máscaras caem e a luz incide,  tornando-se mais concreta assim a imagem para que olhamos.
É maravilhoso entregarmo-nos à volúpia duma conversa, dum diálogo, mas na maior parte das vezes, o que existe é um monólogo. Um fala e o outro ouve e isto porquê?
Porque:
1º há aqueles que gostam mais de ouvir do que falar.
2º- porque há os que não sabem ouvir, não gostam e só falam.
É difícil o encontro.
Conheço pessoas, todos nós conhecemos, que despejam palavras, umas atrás das outras, como se estivessem a fazer sempre limpeza de Páscoa às cordas vocais e se não falam ficam inquietas e, mesmo quando nos parece que estão a escutar-nos, apenas ouvem as últimas palavras da frase proferida por nós, preparando o próximo "round" nas suas cabeças.
E quem se junta a elas, ouve pacificamente, aguardando a vez que nunca chega.
Há uma espécie de bebedeira nas relações.
Queremos sempre o primeiro lugar ou nenhum. Assim, não conversamos, iludimos o diálogo, uns abanam a cabeça, outros sorriem, mas fazemos de tudo, para não tropeçar nas opiniões dos outros.
Os diálogos estão em falência e entre gerações nota-se mais ainda.
Há uma tendência, um desígnio subversivo em cada interlucotor quando se dispõe a conversar. Há uma diligente vontade de cada um, investigar quem tem razão e quem não tem, em vez de se ficarem pela paisagem dos argumentos, pelo apuro das mais valias.
Parece que a ferrugem se apoderou dos diálogos, das conversas saborosas.
Parece que toda a gente evita ficar de ressaca e por isso nem ergue a taça.
Aquela tensão sadia que se conseguia ao conversar, concordando ou discordando do que o outr(os) dizia(m) era uma emoção.
Hoje escolhe-se  muito mais dar uso às palavras numa perspectiva de fora para dentro, em conferências, em citações várias, enfim... na uniformidade. A uniformidade impõe-se.
Eu prefiro a disformidade onde me é possível encontrar anões e gigantes, como diria Miguel Torga.
Gosto duma boa conversa, de diálogos acesos, será uma última ilusão dos que vivem ainda?

4 comentários:

Helena disse...

Olá Homónima!
Se queres saber, apesar de sempre ter conhecido quem só goste de se ouvir, acho que esse desvio relacional está a tornar-se mais grave. E não propriamente só nas relações intergeracionais.
E eu, que até não sou muito (ou nada...) de diabolizar os novos meios de comunicação, começo a colocar-me a seguinte questão: as redes socias, com a vertigem do posta e 'lika' e posta novamente, e saltita, e vai ali e volta aqui, e roda e vira e gira, não estão a favorecer essa espécie de 'autismo'?
Ora, porque não sei a resposta, começo a fugir-lhes. Nomeadamente ao Facebook, que cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém...
Não vou sair do Fb, nem nada que se pareça, mas relego-o para um lugar secundário de meio de informação, entre tantos outros e tenho usado das partilhas com alguma parcimónia.
Já deves ter-te dado conta. Primeiro foi a dificuldade de acesso pelo telemóvel, depois... foi mesmo decisão. Sou muito intuitiva e é intuitivamente que encaro o mundo e a minha intuição diz-me que preciso de não me deixar levar pela volúpia de estar sempre acompanhada, sempre a ser lida.
Ná!
EU GOSTO DE CONVERSAR!

Beijo

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

A tua posição é da maioria das pessoas, penso eu.
O que eu penso já escrevi, quer no facebook quer aqui, já conheces a minha posição sobre isso.
Obrigada por me leres. Um beijo para ti e conversa muito

lua vagabunda disse...

olá Helenas lindas.

Subscrevo ambos os textos.
Aqui (na Holanda) pouco converso dado não saber a língua e os portugueses que conheço não são do tipo de terem "coisas interessantes" para partilharem...
Estão demasiado preocupados em ganhar dinheiro para filosofarem...
Sinto falta. Falta de uma amena cavaqueira (o que me custa escrever esta palavra... hehehehe) e, tb por isso, frequento o facebook.
Se sou lida aqui ou não, sinceramente nem é o mais importante. O que eu pretendo mesmo é saber o que se passa no mundo e nas cabecinhas das pessoas.
Não quero muitos "amigos" no facebook. Mas gosto muito das minhas pesquisas e de vos ler.

Jinhossssssss

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Tu porque estás na emigração e não falas o neerlandês convenientemente, eu porque estou aposentada e resolvi vir viver para a aldeia (motivos semelhantes)
ainda condescendemos com o Facebook. A minha homónima é a maior felizarda, está na capital e tem os amigos ali à mão. Ab