sexta-feira, 27 de abril de 2012

C'EST VRAI ET C'EST PAS VRAI

Como se o espectáculo da vida se passasse  em dois planos distintos. Tudo existe desgarrado deles.
A vida parece uma co-produção entre Deus e o Diabo, a nossa, financiada pelo FMI e outras altas montanhas.
Vivemos momentos terríveis. Já vivemos momentos semelhantes na nossa História e dizíamos que era o fascismo.
É terrível não ter trabalho, achar inútil o tempo. Muitos portugueses vão ficar seres estranhos, com os anti-depressivos que os médicos prescrevem para ajudar a obviar a crise, a desaprender aquilo que aprenderam, a confundirem inactividade com férias.
Ouve-se cada vez mais as pessoas a falarem em doenças. A doença tornou-se uma saída para cada crise individual.
É muito mais difícil passar por estes tempos velhos feitos novos, quando já se teve casa e se viveu a felicidade. Viver a infelicidade, a dúvida, a  amargura é o que acontece a muita gente neste país.
Os pais e mesmo avós, em época de gozo das suas reformas,como seria o normal, aproveitando o tempo que lhes resta, descansados de uma vida de trabalho, servem de segurança social dos filhos e netos, amparando-os nas suas angustias e mais infelizes se somam aos infelizes.
A vida está fora das molduras, os desejos desencontrados.
Ao fim de alguns anos estes jovens abandonam o idealismo, pela força das circunstâncias e dão lugar a homens e a mulheres abrasados na tortura duma existência sem paz, sem planura, sem horizontes nem recolhimento interior.
Ao capital e seus acólitos com todos que nos roubam/desgovernam à cabeça, não lhes interessa estes grandes dramas dos pequenos.
Rapam o tacho já rapado, porque apenas conhecem essa receita, dizendo que o fazem em nome da crise, que a colocam com epicentros longínquos, mas nós sabemos que a crise está bem perto, está neles. Este nós não é real, é ficção, parece que sabemos se conversarmos com cada português individualmente, mas depois é o que se vê, vão às urnas e elegem sempre os mesmos, de cor-de-rosa ou laranja vestidos, porque não sabem mais o que fazer? A falta de educação e de instrução são as maiores responsáveis.
Estes eleitos chamam-nos piegas, sem preparação para a vida, que depois de ter revolvido os lodos, desencadeamos uma loucura de grandezas, nós o povo português.
Afastam o crime dos verdadeiros criminosos, de quem não mexeu na lei das rendas, de quem abriu bancos como se arregimentam quadrilhas, de quem pediu dinheiro à C.E.E., de quem se governou para todo o sempre, não pagando impostos e colocando dinheiro em offshores, de quem foi premiado e se alcandorou a Presidente da Republica, por um dia ter colocado o povo a viver acima das suas possibilidades, criando-lhe ilusões caríssimas.
Gente desperdiçada em conflitos de meia tigela, partidecos de oportunistas, lacaios de capitais sem fronteiras. Gente que se impacienta, pacientando-se, que prefere a ira doméstica à manifestação pública.
Gente mobilada com "modéstia", assobiando para o lado.
Gente que faz um país castrado, com vidas de molho.
IL Y A LONGTEMPS QU'ILS BOUFFENT.

2 comentários:

lua vagabunda disse...

"...Ao fim de alguns anos estes jovens abandonam o idealismo, pela força das circunstâncias e dão lugar a homens e a mulheres abrasados na tortura duma existência sem paz, sem planura, sem horizontes nem recolhimento interior...."

este é mesmo um gravíssimo problema que vejo crescer dia-a-dia. Já não há lugar para o sonho e a esperança em dias melhores...

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Há Manela, mas como é evidente, primeiro está a barriga. A pirâmide de Maslow explica isto. Foram sempre as vanguardas que levaram o Mundo para a frente, mas o sonho, o sonho colectivo, a esperança deste povo tem que regressar rapidamente.