domingo, 15 de abril de 2012

O QUE É A ESPERANÇA

A ESPERANÇA, título que a Manuela Martins fez o favor de sugerir para o escrito de hoje.

A esperança diria eu se estivesse a ser entrevistada, é sobretudo ter confiança em mim, na minha forma de encarar o mundo.
Bem sei, que hoje em dia a esperança nossa é assim como o gotejar de uma torneira sem conserto, graças à qual alguns encontram uma solução transitória para as suas calamidades materiais.
Esperança é pensar que um dia a justiça vai funcionar e não ver bandidos, transformados em respeitáveis políticos e homens de negócios colocados no epicentro de grandes projectos nacionais.
Esperança é acordar e ver um país com governantes a sério e a bater o pé a todos os invasores, a respeitarem-se a si e ao povo.
Esperança é ver um país menos desigual, menos triste.
Esperança é pertencer a um povo que em vez de procurar as companhia ruidosas e ser espectador de toda a gente seja capaz de passar uma hora sozinho e de meditar sobre um livro ou sobre o que quer que seja.
Um povo em quem se possa confiar.
Um povo livre sem esperar nada de ninguém.
Um povo ambicioso.
Um povo seguro, impossível de alvejar, defendido de predadores.
Um povo que não faça de conta para quase tudo e que não se torna soldado de algumas hostes.
Um povo que não se deixe enganar, que conheça a sua força, e que não ache qualquer graça a ser enganado.
Um povo orgulhoso não por saber mendigar e desenrascar-se, mas por possuir uma armadura brilhante, por decidir por si próprio.
Um povo que não goste de discursos descabelados.
Um povo em que abandone a principal arma que tem utilizado até agora - a dissimulação.
Um povo que não justifique a sua cobardia, mas antes avance nos seus desejos.
A esperança em que todos os medíocres cheios de "sentimento" não cheguem ao poder, ainda para mais eleitos.
Um povo que distinga o que é inofensivo do que é verdadeiramente mau, que distinga o útil do inútil.
Um povo que não tenha medo, porque confia em si e confiar em si é confiar no futuro.
Um povo honrado, não para pagar dívidas, mas para não as contrair e a isso chama-se inteligência.
Um povo que saiba o que é um tratado de comércio e que a mentira é de fogo.
Um povo vivo e que não mumificasse antes de morto.
Um povo que não seja fantasma de si mesmo.
Um povo que saia da adolescência onde estabilizou por pavor de encarar uma consciência adulta.
Um povo que não sinta este monumental complexo de inferioridade, em que deixe de ensinar os outros a serem bons por ser mais fácil e mais nobre do que se tornar bom por si próprio, como dizia por outras palavras Mark Twain.
Um povo que não se venda ao desbarato, que não esqueça tão facilmente, que não se sente a um canto a ver passar a vida, os litígios sem nunca tomar partido.
Ter esperança é imaginar que um dia não vou encontrar em lado nenhum, uma frase começada por: "Os portugueses são... , mas ver antes como são de facto, porque entretanto estão ocupados em ser mesmo.
Ter esperança é pensar que um dia os boatos deixam de ser punidos para passarem a ser punidos os crimes.
Ter esperança é pensar que vou viver num país, o meu, com contornos reais e não desdenhando as realidades todos nós as enfrentamos e somos lúcidos para as ir resolvendo sem recusar ter opiniões e deixar apenas que os outros as tenham.
Ter esperança em fazer parte dum povo que apenda a (des)saber e que se lembre que não tem que deixar de testemunhar para "não se meter em coisas dessas porque não pode", um povo em que não decapitasse todas as esperanças.
A verdade é abstracta,não se vê.
A esperança é concreta e pode apalpar-se.

4 comentários:

lua vagabunda disse...

... afinal é tudo tão difícil, se atentarmos bem em todos os itens que corretamente aqui deixaste.

Mas, tb se pode aprender, saber aprender e fazer todos os esforços para isso.

Só assim somos. Plenamente.

Senão, atrevo-me a escrever, não vale mesmo a pena termos existido...

Obrigada. Beijo grande

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Concordo em absoluto contigo e olha que hoje treinei e consubstanciei o que disse porque tive que fazer tudo de novo, já que o texto escrito foi literalmente "ao ar". Bj Manela e manda sempre

Helena disse...

É sempre complicado o mais simples...
Digo eu, que vivo entre asperplexidades das simplicidades complexas.
Beijo grande.
Gostei muito, coisa que se vem tornando um hábito. Bom!

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Dá um tema para amanhã Homónima. V. Exªs são da casa. Bj. Fico a aguardar.