quarta-feira, 30 de maio de 2012

DESLUMBRAMENTOS

Falo dos deslumbramentos literários e um dos primeiros foi a Morgadinha de Júlio Dinis.
Não vivia na aldeia, sempre pertenci à cidade, fiquei a conhecer a aldeia e integrei-me como personagem no seu livro. Ainda hoje sempre que visito alguma aldeia pela primeira vez entro sempre em terras da Morgadinha.
Júlio Dinis casava sempre os pares no último capítulo, nas aldeias por onde passo, também os jovens se casam cedo. Os adolescentes nas aldeias continuam  só a pensar em casar.
Outro deslumbramento foi quando li, pela primeira vez Camilo Castelo Branco. Não recordo bem se o primeiro romance que li foi "A Queda dum Anjo", se "Amor de Salvação", se as "Vinte Horas de Liteira", sei que duma assentada li quase 20 romances de Camilo porque lá em casa havia muitos livros do autor,  já que a minha mãe o lia muito.
Passei tardes inteirinhas de domingo com Camilo e as suas personagens.
Excluirei aqui os deslumbramentos tidos nessa época, pelos estrangeiros Zola ou Balzac, apenas relembrarei os lusos.
O meu avô dizia  que a Leninha andava no mundo da lua e o meu pai anunciava que já era altura de entrar no realismo e entrei com Eça nesse mundo do realismo, pela mão do meu pai, mas nunca abandonei Camilo.
Mais tarde no Liceu, estudei as correntes literárias e recordo-me da professora, Drª Maria Antónia, saudosa e querida professora, que anos mais tarde percebi ser possuidora duma vasta e sólida cultura clássica, brincar com o romantismo e o realismo. A moda assentava no realismo e Eça era o seu expoente máximo. Camilo era considerado um contador de histórias de faca e alguidar e o meu coração que pendia para o lado de Camilo e a minha cabeça também. Teria 13/14 anos. Então decidi-me, fiquei com Camilo.
Aos 14 anos li o "Crime do Padre Amaro", porque sabendo meu pai desta questão sentimental que corria na aula da professora Maria Antónia e conhecendo as minhas inclinações, ia informando que eu não tinha idade para ler O "Crime do Padre Amaro" porque quando o lesse não teria dúvidas, nessa altura ficaria a saber quem era  Eça na realidade, meu pai era ateu, o que devia influenciar também.
Claro que me apressei a surripiar a famosa obra da biblioteca paterna.
Li  e o meu coração continuou a balancear e, quando a polémica estava ao rubro na sala de aula, resolvi anunciar a minha grande paixão por Camilo, não havia remédio. Nessa altura declarei que tinha lido até "o Crime do Padre Amaro" para melhor decidir. Grande escandaleira provoquei, talvez o  primeiro grande  escândalo da minha vida porque mais tarde tive outro com Nietzsche igualmente de enorme repercussões.
Naquela altura a professora Maria Antónia escreveu no quadro alguns títulos de obras de Eça para eu/nós lermos, se quiséssemos. Claro que as li e mais cliente fiquei de Camilo. Nessa altura acho que a máxima "não há amor como o primeiro"  se fazia sentir.
No fim do ano a  professora falou comigo e depois de me perguntar até à saciedade porque  gostava mais de Camilo do que de Eça, confessou-me que com ela também acontecia o mesmo. Foi uma alegria suprema, não me esqueço dessa altura, parece que tinha ganho uma batalha.
Mas seguiram-se novos deslumbramentos. Vieram os neo-realistas, li tudo o que me aparecia desta corrente. Na época achava que eram os que mais se identificavam com os meus sentires.
Li Urbano Tavares Rodrigues,  já não me recordo se foi "Bastardos do Sol", o primeiro romance que li do autor, porque mais uma vez foi de rajada, é o meu estilo, devo confessar, leio tudo quanto há para ler daquele autor, para ficar a perceber o melhor possível  da sua obra. Mas o escritor neo-realista que  mais gostei foi José Rodrigues Migueis, também não me recordo já se foi "A Escola do Paraíso" o  primeiro romance que li do autor, suponho que sim, porque na minha biblioteca consta mais que um livro com este título, por causa da capa, devo confessar que dava muito valor às capas nessa época e havia algumas que eram pinturas lindas, e também porque me recordo muito bem daquela infância do menino da cidade em que de certa maneira revivi a minha infância e me informava daquilo que eu já sabia é que o país esteve parado durante décadas. Nesse romance a acção descrita vinha do tempo de D. Carlos até ao ano de 1960 e o país não tinha mudado.
Do José Rodrigues Migueis li tudo, foi uma grande paixão, diga-se em abono da verdade.
Os meus deslumbramentos literários iam-se acumulando, nunca abandonei definitivamente os antigos amores, ainda há cerca de meia dúzia de anos ao visitar a casa de Camilo, comprei  uns livros e reacendeu de novo a velha chama e afirmo, sem sombra de dúvida, Camilo Castelo Branco foi um dos grandes, um dos maiores escritores do nosso país.
Descobri a Agustina Bessa-Luís. Nos 1º e 2º livros que li da autora tive alguma dificuldade em entrar no tipo de escrita. Não foi amor à primeira vista, de forma alguma, intrigava-me, era diferente do que até então tinha lido, mas aprendia, aprendia psicologia feminina e quando comecei a comprar todos os anos Agustina na Feira do Livro, percebi claramente o que estava a acontecer, já não passava sem ela.
Aprendo com a Agustina a ser provinciana e a gostar de o ser, para além de muitas outras coisas, aquelas manhas das mulheres que se pressentem, mas se desconhecem a causa, estava lá tudo explicado.
Não me proponho falar neste escrito de autores estrangeiros, senão teria que falar de Machado de Assis, de Nélida Piñon, de Salman Rushie, eu sei lá. Também não quis falar da poesia, porque não vivo sem ela, são livros de cabeceira, quase como a bíblia para os católicos. A poesia sempre me seduziu e seduz. A grande paixão, sem sombra de dúvida foi Camões e os Lusíadas, tenho que confessá-lo. Adorei.
Os meus deslumbramentos foram muitos e variados, mas aqueles que se entranharam em mim, foram os primeiros contadores de histórias que li.
Para mim, os livros sempre foram pequenos tratados de ilusões, mas de ilusões tão verdadeiras que tomo verdadeira consciência de mim, através deles.
Os livros sempre me levaram à rua. Conheci muita gente através das personagens dos livros.
Não consigo dizer se foi a literatura que contaminou a minha vida, se foi ao contrário.
Hoje em dia, posso afirmar que a literatura, a vida real e a poesia copulam entre si.
Sobra-nos real, por isso cortar com a realidade, é esse o contrato que fiz com a realidade e que renovo, sempre que necessário.
Aproveito a experiência da idade, aproveito as frestas, os interstícios, as pequenas rachas por onde a luz encontra um sopro de vida, e esse é sempre na literatura.
Há realidade maior que a literatura? Não conheço.

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA

PORTUGAL ESTÁ NO BOM CAMINHO, diz a Troika

O resultado do ponto de vista funcional para estas cabeças troikianas é perfeito, mas é perfeito apenas nas cabeças deles.
Recordo aqui uma outra realidade que se passou na década de 20 do século passado.
Henry Frugès, industrial francês, em Pessac, sul de França, resolveu encomendar a Le Corbusier um conjunto de habitações para os seus operários.
Le Corbusier respondeu à encomenda com habitações despojadas, janelas rectangulares; total ausência de "folclore decorativo", nas palavras do próprio.
Os operários passavam, quase 14 horas a trabalhar numa fábrica, quando regressavam a casa desejavam mais que função. Por isso, com o passar do tempo, rasgaram janelas onde havia cimento, plantavam jardins e acrescentaram portadas de madeira. Desfiguraram para horror do arquitecto, o sonho abstracto que o animara.
O que eu quero dizer é que todos nós também devemos fazer o que estes operários de Pessac fizeram, i.é, mandar às urtigas os bons exemplos da funcionalidade dos acordos com a troika e quem a apoia e fazer um goveno ao nosso jeito, à nossa dimensão.
Não podemos, não devemos continuar, impávidos e serenos, a assistir a paisagens lunares, a edifícios completamente mortos, sem vida, em todo o país, por força da austeridade da troika e da direcção da "União" Europeia.
Os sítios que habitamos devem expressar a nossa forma de viver. Podem não ser espaços perfeitos, nem têm que o ser. Podem não ser promessas de felicidade.
Podem ser espaços imperfeitos mas têm que ser os nossos, moldados ao nosso corpo e ao nosso querer.
Não podemos continuar empedrados por muito mais tempo.
Como dizia Agostinho da Silva "Devemos ter a arte de viver à bolina".
Queria dizer estarmos atentos e disponíveis para o que nos aparece.
Apareceu-nos este abcesso da troika e nós o que precisamos é de não nos desviarmos das nossas vidas, dos 3S, como dizia Agostinho- sustento, saber e saúde.
temos que transformar este horror em que vivemos em possibilidades de vida.
Não podemos, sob pena de morrermos antes de transformar os 365 dias dum ano, após 365 dias e mais outros, em dias de tristeza, em dias de não vida e de preocupações constantes que nos roubam os 3S da vida.

terça-feira, 29 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA


QUINTA DA AVELEDA -PENAFIEL

NÃO PODEMOS TER POLÍTICOS MELHORES SE NÃO FORMOS MELHORES

Nós somos a matéria prima  destes políticos.
Somos "chico-espertos" congenitamente.
Impostos para pagar? Devíamos deixar de os pagar.
O esperto é quem rouba sem ser apanhado. O mais valorizado é a esperteza.
Quem chega a horas é considerado uma pessoa que não tem palha na cama.
Quem lê, é considerado um pobre intelectual ou um coitado que precisa de se distrair com qualquer coisa.
Papéis para o chão? "Eles" que os limpem.
Água a correr? Nós pagamos.
Vemos televisão medíocre, nefasta, mas não a  desligamos, apenas lamentamos que não há nada mais para ver. "Eles" não dão outras coisas.
Falamos de coisas que não sabemos como se tivessemos certezas absolutas. É nosso costume dizer "aqui na nossa vizinha Espanha, não é assim"; "isto só em Portugal, se fosse num país civilizado...".
Esta desonestidade connosco vai evoluindo na escala, e acaba por casos escandalosos na política.
Aguardamos sempre um Messias, um novo ditador, em vez de darmos um passo à frente na mudança. Ninguém quer mudar, todos julgam estar bem.
Andamos sempre a procurar os responsáveis, nós nunca o somos, os responsáveis estão sempre fora de  nós. Exigimos aos outros, aquilo que não queremos que nos exijam.
Nunca, mas nunca nos olhamos no espelho à procura do responsável.
Como podemos exigir melhores governantes, sem exigir a nós mudanças, mudanças profundas. Claro que há pessoas mais responsáveis que outras, como não nos devemos esquecer que os governantes são povo como nós saído do mesmo caldo.
O que é certo é que há países que passam por civilizados aos nossos olhos, sem o serem, passam por viverem num estádio mais avançado e não vivem e tudo isto acontece por falta de conhecimento, por falta de leitura e busca da verdade.
Nós fizemos uma "revolução", fizemo-la, ou melhor, aderimos ao golpe de estado militar para acabar com um mecanismo de poder, mas ele logo reapareceu sob uma máscara nova.
É sempre assim. E voltou com os mesmos princípios autoritários e opressores.
Claro que não podemos viver fora disto, mas também não temos que estar condenados a esta situação, portanto temos que desviar o curso destes sentidos estereotipados. Temos que desfazer estas imposturas.
Os poderes estão espalhados por toda a parte, temos que buscar brechas nesses poderes instituídos, onde nos possamos constituir como intensidade.
Com a revolução soltamo-nos, até na linguagem a isso se assistiu, mas não ficamos livres.
As instituições, as categorias, os poderes, o saber e a ignorância epidêmicos continuam a mediatizar as relações entre as pessoas. Continua a impostura.
O poder nunca esteve nas mãos do povo propriamente dito, nunca saiu das mesmas mãos, embora tivesse fases mais alegres.
Há uma nostalgia infinita daquilo que quase nunca aconteceu.
A revolução é uma irmã nossa, mas morta.  Continuamos sob o olhar do Príncipe, dentro das velhas/novas relações do poder.
Hoje em dia, o poder é previsível, comunicável e controlável.
O nosso mundo é um simulacro do real, mas nós estamos dentro dele e não podemos romper este elo por muito que queiramos, a única coisa que podemos fazer é criar uma outra realidade, mas para isso é preciso de não ter medo de não nos reconhecermos dentro dela. Para isso teríamos que nos construir simultâneamente com esse novo mundo, só assim nos realizávamos.
Há quem queira fazer parte desse novo mundo, elementos soltos, à margem desta integração opressiva, que renegam todas as imposturas destes poderes.
É impossível mudarmos se quebrarmos esta unicidade desde sempre introduzida pela impostura.
É preciso sabermo-nos fazer em aprendizagem, pensarmo-nos de novo, enquanto povo, creio que só a verdade nos pode levar à diferença.
Se formos verdadeiros, se cada um de nós deixar de simular e ser o que é de facto, as relações de força, alteram-se.
A democracia seria outra, os estereótipos decompunham-se e seríamos múltiplos, diversos. Se fossemos verdadeiros não acreditávamos em verdades universais e descobriríamos, inventávamos novas possibilidades de vida.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA


NO MEU CANTO

Me transpolitizo como diria  Jean Baudrillard, com o facebook, com a NET, reflicto agora sem Marx, sem Nietzsche, mas também com eles.
Politizei-me com eles, a partir, fundamentalmente, do Maio de 1968 em França e com Marx, Freud e Nietzsche logo a seguir. A actualidade interessa-me obviamente, porque me afecta, mas continuo a sentir-me só, talvez numa dimensão mais metafísica.
Gosto de observar os acontecimentos através de diferentes interpretações possíveis e isso consegue-se razoavelmente bem na NET e não só, através da leitura dos diferentes jornais de referência, ensaios e blogues.
Não consigo, ou melhor, cada vez menos consigo analisar os acontecimentos na vertente apenas política. Falta-me a sociologia, mas não a sociologia tradicional, que essa já não me responde.
Antes, há 30 anos atrás, quando me sentia assim, i.é, em dificuldades, refugiava-me na fenomenologia e em Platão.
Sinto que as abordagens que percorro nas diversas leituras que faço ou ouço, não são satisfatórias. Não compreendo todo este tsunami europeu, mundial.
Os arquétipos mentais que possuo não chegam, não servem.
Sinto uma grande comichão por não entender e mais ainda porque os outros julgam entender.
Eu sou um pouco à parte, mas sempre fui, de certa maneira, não por me encontrar aqui no meu canto, situação que escolhi, mas mais por não me enquadrar em nenhum pensamento político existente, por não pertencer a esses meios e também por nunca querer ter pertencido, a não ser numa fase muito curta da minha vida.
Se eu fosse uma intelectual também não seria ouvida, portanto não faz muita diferença.
Sou uma espécie de gueto de mim mesma em matéria política e ideológica e como me dizem alguns não sou caracterizável porque característica, mas não estou no índex porque não sou conhecida nos meios intelectuais já que não lhes pertenço, eis a vantagem.
Contrariei muita gente, mas retirei sempre dessa situação alguma energia.
Sinto um vazio por vezes, mas não por isto mas pela desaparição física de gente com quem combatia ou apenas era cúmplice.
Portugal está muito atrasado, tudo o que se passa em termos teóricos, ideológicos, artísticos de interesse está fora de Portugal e nem sempre no mundo dito civilizado, antes pelo contrário. Os movimentos mais radicais têm ocorrido em países sem tradição cultural europeia ou de qualquer outro sítio dito civilizado.
Todos os pensamentos me parecem demasiado banais. Tudo se banalizou, até as ideologias.
As ideias implodiram com as novas tecnologias. As tecnologias tomaram, por assim dizer, o lugar das ideias.
Ontem falei sobre cultura, ideias, intelecto, pensamento, mas o que acho mesmo é que o nosso mundo das ideias está em vias de extinção.
Aqui do meu canto eu sinto, não sei explicar, mas observo que há ideias rasteiras nesta globalização que se abateu sobre nós, tudo se desenvolve duma maneira subreptícia.
Há novas realidades, daí ter de haver novos pensamentos. Sou uma estrangeira nestes domínios do conhecimento e de certa maneira, sinto-me cristalizada com os arquétipos mentais e estereótipos que possuo, mas o problema não é eu sentir-me, o problema a meu ver, é o mundo sentir-se assim, embora alguns, muitos não saibam.
É como na fotografia em que cada vez há menos imagens, começa a haver uma coisa a que chamam a realidade integral, uma espécie de cálculo integral do mundo.

domingo, 27 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA


PARA MEMÓRIA FUTURA

REFLECTINDO SOBRE LITERATURA E CULTURA

Hoje há pouca gente culta, no entanto há muitíssima gente a escrever livros e até romances, sendo que cultura não é prisioneira da literatura, tão só a inclui.
Há muita cultura-espectáculo, mas gente culta, gente que pensa, que lê, há muito pouca.
Há muita gente a escrever, a fazer citações, a dizer que conhece este e aquele, mas só alguns, pensam e sabem escrever. Muitos publicam e chamam-se de escritores, mas poucos há com espessura suficiente para o acto da escrita.
Para alguém ser escritor é preciso ter tenacidade, não desanimar, olhar e tornar a olhar, moer a paciência, não basta apontar  a objectiva e escolher enquadramento.
Hoje escreve-se como se se fotografe e quase nem retoque há na revelação da película na câmara escura, porque não há câmara escura na maioria das vezes.
Ser culto é ser um ser pensador, é passar por um longo processo de elaboração. É este processo de desenvolvimento que por sua vez abrange um processo dinâmico de transformação.
Tem que haver maturação e desenvolvimento interior. Procurar ser culto não é citando frases mais ou menos filosóficas, mais ou menos poéticas, é impregnarmo-nos delas.
A cultura é algo que tem que se desenvolver dentro de nós, tem uma fase de incubação de muitas décadas, ao longo das quais vai sendo interiormente elaborada.
Uma pessoa culta é uma pessoa que verifica, que revê, que coloca o intelecto a assumir papel de relevo.
O intelecto da pessoa culta corrige e modifica e não se importa de recolher opiniões alheias para mais culto ficar, isto é, no meu ponto de vista, mais belo e perfeito.
Preocupação em receber opiniões de amigos e pessoas abalizadas foi particularmente relevante no classicismo por exemplo, em Sá de Miranda, António Ferreira e outros.
Uma pessoa culta, um intelectual, é um eterno insatisfeito, porque nunca se fascina com o que sabe, porque sabe que sabe muito pouco como o filósofo já tinha dito e nunca se atribui méritos.
Ser culto e ser criativo é fruto dum percurso de amadurecimento e sobretudo de trabalho silencioso, individual, de modo a criar uma opinião, é ao fim e ao resto, um processo de criação, não é, de modo algum, ascender ao cegarrega do coro dos informados.
A cultura não está nem nunca estará ao alcance de todos, a informação sim.
Há sim muitos Fradiques Mendes, personagens viajadas e menos viajadas e muito sofisticadas que dizem que conhecem este e aquele. Personagens aparentemente sólidas, mas apenas isso, agora pessoas com uma verdadeira cultura, estável e firme, há muito poucas.

sábado, 26 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA


NO JARDIM DA CORDOARIA

ANTIGAMENTE

ao correr do pensamento...




Eram as crianças criadas como se fossem inteligentes o que as ia tornar ou depressivas ou intratáveis.
A vergonha e o respeitinho construiam um edifício de resistentes blocos morais que não éticos, à volta das pessoas, esperando que não entrassem em contacto com os desejos e apenas com as ansiedades.
Antigamente havia a angústia de todos os que, para poderem ganhar a vida, são obrigados a perdê-la nos meandros de uma profissão.
Antigamente ninguém falava português nem nas coisas portuguesas e, por essa exacta razão, elas persistiam.
Antigamente os desejos morriam na sombra, frutos maduros esborrachavam-se no chão.
Antigamente havia dores de classe.
Antigamente a vida era gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.
Sabia-se antigamente que não há observações ingénuas.
Antigamente a maioria dos criminosos sentiam-se culpados pelos crimes praticados.
Antigamente fingia-se concordar, simulava-se obediência para depois tratar de compensar a inibição com atitudes temeráveis e escandalosas até.
Antigamente sofria-se a realidade como um sistema de poder. Todos nos impunham o seu sistema de ser, mal educadamente.
Antigamente as relações com o poder eram só para alguns, agora são para quase todos.
Antigamente as pessoas eram desmamadas e na sua grande maioria, sabiam alimentar-se de outras coisas, além do "seio materno" enquanto esperavam, para suportar as ausências que eram muitas.
Antigamente só alguns acreditavam ou diziam acreditar em fenómenos paranormais.
Antigamente sabia-se que inépcias eram as qualidades dos ineptos, dos imbecis, sabia-se distinguir insanidade de sanidade.
Antigamente (1813) o Porto, a minha saudosa e amada terra, tinha uma Planta Redonda, uma imagem simbólica da cidade, realizada com fins militares quando o Porto se achava ocupado pelos ingleses, agora está ocupado por tropas neo-liberais.
Antigamente havia a gente com a idade indefinida dos que trabalham de mais, hoje começam no berço, reformados.
Antigamente havia a super-saturação da miséria.
Antigamente até os comboios chegavam rufantes e cansados.
Antigamente as crianças andavam com o minério às costas que pesava como a puberdade.
Antigamente íamos contentes, colados numa só força.
Antigamente víamos a Lua grávida, seduzida.
Antigamente a nossa vida era uma concha univalve.
Antigamente a maior força de erosão eram os namoros  prolongados que davam casamento.
Antigamente contavam-me rapidamente histórias que não lhes acontecia.
Antigamente eu era muito jovem para compreender os guizos da inteligência. 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA



A MINHA MÃE

PACIÊNCIA

Quando era jovem, ouvia dizer que a paciência se adquiria e que as classes mais baixas a tinham numa dose inferior do que as classes mais altas.
Estes dois conceitos evoluíram muito e eu também, não sei se ao mesmo ritmo ou a ritmos diferentes, mas sei que hoje a paciência está muito mais do lado das classes baixas do que das altas, isto no caso de haver classes altas e baixas.
Como estamos de classes hoje em dia? É coisa que se alguém sabe, eu não sei.
Há 30 anos ainda havia operariado, hoje já não há.
Os bancos criaram classes de pobres proprietários, com mentalidades de propriedade privada e alteraram a sociologia.
Os jornalistas chamam a tudo classe média, desde o vagabundo ao capitalista e resolveram em duas penadas a questão das classes. Os sociólogos não me parece que falem disso, talvez por não ser politicamente oportuno, digo eu, não sei.
E eu como cidadã contribuinte o que sei disso?
Continuo ainda a  observar a sociedade muito estratificada, se calhar não defino classe como antes o fazia ou ouvia fazer, mas para mim há e sempre houve muitas classes, embora diferentes de outrora e não só duas, como jornalisticamente nos fazem crer para arrumarem conceitos ou talvez não. Nunca se pode simplificar sem complexificar primeiro, é o meu lema.
Lembro-me duma varina de Buarcos dizer à Manuela Eanes, corria o ano de 1985, "só quem tem peso a mais tem medo da balança". Ora aqui está um belo exemplo de paciência pelas classes mais baixas, é uma leitura possível, entre muitas outras.
A paciência das classes trabalhadoras, das classes que sustentam as classes "altas", é infinitamente maior do que ao contrário.
Continuando com a designação de antanho, de classes baixas e classes altas, verifico hoje em dia que as classes "altas", altas à custa do roubo e de não possuírem qualquer tipo de escrúpulos, de se servirem dos partidos políticos para se alcandorarem no assalto à mão armada, desde banqueiros feitos à pressa, empresários de "sucesso" a políticos de meia tigela, são muito impacientes, demasiado. Dão diariamente lições de impaciência quer colectiva quer individual.
E recordo Camões e sempre Camões quando poetava "Mudam-se os tempos/mudam-se as vontades/ Muda-se o ser, muda-se a confiança/ Todo o mundo é composto de mudança/Tomando sempre novas qualidades/Continuamente vemos novidades/Diferentes em tudo da esperança/Do mal ficam as mágoas na lembrança/E do bem, se algum houve, as saudades"  É o que recordo, mas que é verdade tudo isto, é.
Nós os que assistimos ao antes do 25 de Abril e que estamos vivos ou sobrevivos, tal como os que nos precederam verificaram e os que se seguirão, irão experimentar, talvez sem tamanha violência espero, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades".
Quem nos dissesse a todos nós, aos que contribuíram para o 25 de Abril e o desejaram e viveram, os que atravessaram essas fronteiras inesquecíveis, que íamos passar por tempos destes, os que se vivem actualmente, esta esquizofrenia social e política, era mais inverosímil do que o homem ter ido à Lua no tempo dos nossos bisavós.
Se nos falassem de itinerários existenciais dilacerados, de conflitos do homem consigo mesmo e com as potências arbitrárias do destino, se nos falassem de personagens chicoteadas com uma solidão irremissível, na qual só se foge na fuga de si mesmo, de indivíduos em que vêem a sua fé vacilar... em tudo isto nós acreditávamos e muito mais, mas que íamos atravessar a Idade Média, que estávamos muito próximo duma Idade Média Futura, que iríamos fazer uma viagem à Irrealidade (obrigada Humberto Eco), que todos teríamos que passar de ignorantes e vulgares delineus a sábios, para conseguirmos reger a nossa conduta no quotidiano, isso era bem mais difícil de supor.
Nem Camões, esse visionário, conseguiu chegar lá. Se calhar só mesmo mais tarde, Fernando Pessoa, pelo semi heterónimo Bernardo Soares (aquele com que talvez mais me identifique) que dizia qualquer coisa parecida como isto "havia de existir uma psicologia das figuras artificiais". Dizia ele que a Psicologia das figuras pintadas exigiria químicos e as das estátuas, geólogos.
Acho que preciso de muitos químicos para perceber o que me rodeia nestes "colóquios cansados" comigo mesma.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

PORTUGAL ESQUIZÓIDE

As pessoas deixaram de ser pessoas para serem moedas e números.
Os governantes de circunstância têm cérebros de pardal uns e outros, são felizes por gerirem os nossos bens como se fossem deles, sem pecados, virgens de ideias.
Temos a presidir à República um velho economista liberal em passeio por terras longínquas com o seu séquito, à espera de chegar a casa para descansar e perguntar à mulher se gostou do passeio e do que gostou mais, a gozar as delícias de uma reforma repousada e farta.
Temos um governo incendiário.
Temos uma sociedade com carência de maturidade ética dos indivíduos.
Com todos estes ingredientes é o caos que se proclama vencedor. Nada ou quase nada é exacto e verdadeiro do que se lê e do que se ouve. As pessoas começaram a juntar as poucas palavras que conhecem, a maioria repetidas, como antigamente  preenchiam cadernetas com cromos.
Todos pugnam pela festa da harmonia precária.
Todos falam, mas falam sozinhos em imensos solilóquios.
Tudo me parecem metáforas. Não encontro respostas explícitas em nada do que leio, encontro sim metáforas várias: a de como o ser humano pode viver alienado da realidade, em tempos de pessimismo e desorientação, a metáfora de como a economia afecta as relações humanas ou a metáfora da hipocrisia política e social.
Parece que estamos todos a endoidecer nesta loucura europeia de que fazemos parte.
Todos prestam depoimentos, apenas para não depor.
Todos ou quase se desculpam com os outros, mas nada dão de si. A má-fé e a cobardia é o ar que se respira.
Portugal está numa tal debilidade física e psíquica que uma simples lufada de ar lhe pode determinar a morte por pneumonia, no entanto não passou pela fase de hipersensibilidade ao frio; passou directamente da fase ideal à conformista, de desejar tudo para acabar a não pedir nada, a se conformar com tudo.
Portugal está em chaga, largou a pele e metade parte contando sarar  sob outros céus e os restantes assistem a tudo como se estivessem a ver um filme  passar em qualquer sala de cinema, como se não fôssemos nós os actores e os realizadores.
Tudo se passa como se não fosse connosco; às vezes vertemos  lágrimas sentidas, que saem do fundo de nós próprios, compadecemo-nos com o que vemos, porque passa em todas as salas de cinema mais perto de nós, resistimos até ao fim e no final aflitivo, parece que desabafamos dizendo: "ainda bem que nada disto é connosco, é com os gregos,  esses ignorantes que apenas gostam de se divertir e pouco de trabalhar, com os espanhóis, com os italianos, com os franceses, com... com...
Quando saímos destes filmes, vendo a luz clara do dia ou  cintilantes da noite, pensamos pisar outros caminhos, inspiramos e expiramos, falando baixinho e consideramos haver uma mão cheia de possibilidades, por isso não partimos vidros ou estilhaçamos pouco a pouco.
Ao outro dia pensamos que estamos a pisar caminhos vedados e nenhuma estrada é  a real e  parece que estamos no filme de novo, dentro dele e forçamo-nos de novo, como uma criança que destrói um brinquedo a pensar sou eu que sou ignorante, que não estou a fazer uma análise correcta, esta não é a estrada que deve ser seguida, não sou escravo(a), ainda não, mas tão pouco mais livre que outrora e consideram que agora que não tem nada mais a sacrificar, nada mais lhes apetece escolher.
Naturezas pobres e bravias, agarrada a orgulhos desmedidos e grotescos e dizem de si para si, ninguém me esmaga, antes de me esmagarem, eu mordo-os, para de seguida, esses mesmos se esmagarem mais cedo do que tarde.
Não, não eram gregos e dobrados sobre a mesa sacudindo a espuma da cerveja, varrendo de vez  os seus horizontes interiores tão longínquos quanto apagados.







nota: como quase sempre os tempos dos verbos são conjugados em diferentes pessoas, dependendo quiçá, de maior ou menor identificação, preferindo a autora publicar sem qualquer emenda para servir de sua memória futura.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

CONVERSA NOCTÃMBULA

É imperioso e urgente ter ilusões, ilusões que afaguem e acalmem a alma, digo de mim para mim.
É preciso tornarmo-nos vencedores e começarmos a narrar na 1ª pessoa, não deixarmos que os vencedores contem as nossas histórias, recusarmo-lhes esse privilégio. E reparo que não consigo ter ainda um/dois pensamentos,  com o eu, acabo por voltar ao nós sem tão pouco dar por isso, eu que nem tenho qualquer vocação para política.
Nós que somos constituídos de espermas variados, entre os quais o dos Celtas, temos que ser capazes de arrancar definitivamente.
Não quero estar desavinda com o quotidiano. Não quero esta realidade que me rodeia.
Não quero ver as pessoas aflitas, a dizerem que não sabem se amanhã têm o que colocar ao lume no fogão. Não quero ver gente do meu país a correr para os médicos porque têm dores de tudo e essas dores são feitas na sua maioria de frustração, da frustração implacável que os vem mordendo há tempos sem qualquer piedade.
As pessoas estavam desprevenidas, mentiram-lhes, sentem-se oprimidas.  Estão revoltadas, mas passivas porque têm um enorme complexo de inferioridade diante dos senhores todos que para aí pululam por os julgarem inteligentes. Ainda ontem ao falar com uma vizinha aqui na aldeia, o conceito de vizinha introduz alguma distância, mais uma vez verifiquei isso. Danificaram  as famílias, muitas delas estão sem âncoras, algumas ajudam-se entre si, os mais velhos, com o pouco que têm, vão servindo de segurança social aos mais novos.
As suas lágrimas coincidem com as minhas.
Agora que a madeira da juventude já carbonizou para muitos de nós, ainda temos que acudir ao mundo que clama por socorro.
Agora que era tempo de gozar das vitórias, ainda continuamos expostos a derrotas.
Continuamos a ter que ouvir arrotos verbais, com os peitos inflados, posturas canónicas, assistir a ignorâncias de tal magnitude que nos tornam vulneráveis e inoperantes.
Os nossos estados de espírito alteram-se; têm que se alterar com a justiça emperrada como está, recolhemos os sorrisos e as arquitecturas mentais transformam-se.
Escrevo à medida que penso, mas o que sinto é mais profundo, é argamassado com silêncios que começam a ser antigos e que não me seduzem.
As palavras às vezes saem ferinas, preponderam essas, talvez porque os assuntos se tornam todos pendentes, sem solução.
O povo está a ficar imbecil à custa de tanta necessidade e ouço os passarinhos que mais uma vez são a minha plateia e eu a deles e me ensinam 34/42 regras para sonhar e me dizem que o meu país há-de voltar e que há-de mudar de sonhos, que vai ter sonhos lindos e maiores e novas ideias e que o tempo dos fraques e polainas já acabou e que os afilhados um dia se vão encerrar numa cápsula e que nem vão querer ser encontrados e que os filhos de pais que trabalharam honestamente para dar um curso a seus filhos e que vêem a sua vida a fugir-lhes, um dia vão registar que os filhos dos amigos dos políticos no poder, que no meio deste caos arranjaram tachos bem remunerados para os seus prolongamentos, vão deixar de os ter e que a intriga vai deixar de molhar as suas memórias.
Tudo na vida está sujeito a mudanças, dizem-me os passarinhos quando se apercebem e me vêem perturbada. Ainda agora o melro, aquele que tem grande intimidade comigo porque come os morangos antes de mim, o mesmo  que ontem me disse que eu e os morangos claro está, contribuíamos em grande medida para a sua felicidade e bom aspecto, me informou que todos aqueles que nos têm governado mal iriam sair como ratos dum queijo gigantesco e não demoraria muito  e que a cultura de imitação da própria Europa iria mudar. Disse-me que as coisas estavam a tardar um bocado e que havia horas que pareciam que tardavam mais um bocado mas que não desesperasse que nem tudo são celas e algemas e que se a vida é quase absolutamente impossível, não o é relativamente.

domingo, 20 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA



ASSIM ERA UMA FARMÁCIA ANTES DAS MULTINACIONAIS DO MEDICAMENTO, AGORA PASSARAM A MUSEUS

MEDO

As pessoas sentem medo, têm medo de serem abandonadas de vez. Há medo na sociedade portuguesa actualmente.
Às vezes o medo está associado à vergonha. A ditadura protege como uma mãe maníaca e punitiva, a democracia não.
A sopa dos pobres está cheia, os novos desempregados, engrossam as filas.
Ontem, ouvi  na rádio o Presidente da Caritas, que não é propriamente uma pessoa de esquerda, a dizer coisas que há pouco tempo atrás, só as pessoas de esquerda, assim consideradas pela direita diziam, sobre o desemprego e quem lhe chega para pedir ajuda,  que as pessoas não gostam de serem subsidiadas e o que pedem é um emprego.
Algumas pessoas, nestes tempos de agitação, com um governo de incompetentes, de inexperientes, de incapazes e com duas ou 3 ideias coladas com cuspo sobre o que é a governação, sem uma ideologia, seja ela qual for, sem espinha, sem amor à Pátria, no sentido que eu lho dou e que os gregos lhe dão: "fazemos isto pela Grécia" dizem eles, apenas paus-mandados  da alta-finança nacional e internacional, algumas pessoas dizia eu, nesta altura de drama, fazem anedotas.
O medo rodeia-se muitas vezes de mentiras e até de anedotas, traveste-se de várias coisas.
Atenuam-se as situações, ladeiam-se as dificuldades.
Há medo de confiar em alguém, se bem que haja muita gente boa ainda, porque já se confiou demasiado tempo em demasiadas pessoas em quem não se devia ter confiado.
Há medo como fuga às desilusões de si mesmos.
Não sei se todos integraram a crise, mas a maioria não a entende, mas de qualquer forma subsiste medo da sua cauda repressora.
Há igualmente muito descrédito.
Os seres humanos não precisam de dor e sofrimento para aprenderem e crescerem Sr. Primeiro Ministro, os seres humanos precisam de alegria, quanta mais melhor e de esperança.
O mundo que todos nós conhecemos desapareceu. Todos nós desconhecemos o novo mundo, o mundo que se vai formar, se há quem se considere fautor dessa mudança, outros há que aguardam, com medo, um futuro, um destino.
O medo tem sido a colheita destes últimos anos e vai continuar a ser.
Com este medo a grassar, as personalidades também se alteram. Vemos pessoas a abnegar das suas verdadeiras personalidades e por exemplo, a passarem de orgulhosas a falsas humildes, apenas por medo.
O medo faz com que as almas vão solapando aos poucos.
As pessoas, muitas, um milhão pelo menos, vêem-se vencidas, humilhadas, sem emprego e sem esperança.
Estamos com uma guerra civil declarada, embora só alguns vejam isso. O Presidente da República e os diversos governantes vão-nos convocando à obediência. Somos combatentes duma guerra não declarada formalmente.
Quem se governa compraz-se a mentir. Possui memórias adormentadas. Todos os governantes, sem excepção nesta altura, atingiram um nível superior de incapacidade governativa. Não têm energia, a não ser para as suas manigâncias. Vivem simplesmente noutro mundo.
Colaboram activamente e denodamente na supressão dos empregos e depois admiram-se com o número de desempregados, cortam nos subsídios de desemprego e vêm dizer  logo a seguir, que aquelas pessoas que recebem subsídio se estiverem em simultâneo, a trabalhar em certos trabalhos, que isso será até é uma coisa boa. Toda esta forma de "governar" não acrescenta só insegurança, mas dá medo, muito medo.
As pessoas sentem-se abandonadas, descobrem-se em ruína e têm medo de não se salvar entre todos estes escombros e entretanto como nos anos 30/40, os espertos nunca perdem e saem sempre mais ricos do que antes das crises, como dizia José Júlio Rodrigues em 1940  em "A Pedra do Demónio".
Como pode o medo desinstalar-se desta sociedade nossa se nem Justiça nem Segurança Social temos?

sexta-feira, 18 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA


A LUA DE DIA

CONSCIÊNCIAS BRANCAS

Desde 1850 que se verificou uma subida do nível do mar que é responsável pela fase erosiva actual, refiro-me às rochas da Foz do meu rio, o Douro.
As rochas da Foz têm milhões de anos, são anteriores à intrusão do granito no Porto, mas mesmo essas sofrem a erosão, evolucionaram para um estado intermédio, diria eu que nada percebo da matéria, mas há consciências que não sofreram tão pouco essa evolução, não saíram de espermatozóides, embora considerem que sim e até falam.
Sentem-se superiores porque reconhecem os medíocres.
São rasteiras,  julgando-se a si mesmas a justa razão de todas as vitórias pessoais. Se bebem cerveja são seres filosóficos.
Chalram sobre tudo. A sua existência coincide ponto por ponto com o mundo, não precisando de papel vegetal.
Julgam pertencer a uma casta, agitada por necessidades.
Todas as faces destas consciências reproduzem a mesma indiferença, as ideias têm todas o mesmo valor.
Possuem dois apetites - encher a bolsa e saciar a carne.
Não pensam demasiado, porque pensar é uma infracção às regras, uma heresia.
Não possuem itinerários espirituais, mas compram algumas crenças, as suficientes para se manterem brancas.
Não precisam de ser convencidas, por isso dispensam a lógica.
Nunca sonham com Césares ou Napoleões.
Não possuem inimigos da alma. Não são românticas.
As actuais consciências brancas podem ser de agradável nutrição ou não, importadoras são de certeza. Importam tudo, leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilos, indústrias e políticas.
Sabem sempre tudo e nunca deixaram de ser democratas.
Parecem sempre limpas, escaroladas, como se nunca tivessem existido.
Consideram-se fortes e decentes, a "boa" educação é o seu lema e unem-se em relações de superfície, fáceis e amáveis.
Os seus cérebros bem conservados são igualmente brancos, semelhantes a nuvens brancas, imaculadas pelos vazio do pensamento, parecem feitas de algodão-em-rama.
Não se zangam, acreditam apenas.
Nunca se encontram nas periferias, nem geográficas, nem outras.
Estas consciências concordam sempre, não têm dificuldade em lidar com arrebatamentos, simplesmente porque os não têm.
Podemos encontrá-las em reuniões líquidas ou recamadas de estrelas ou cervejando com os amigos.
Não têm declives, nem rostos amarelos de lua, são anteriores ao afundamento das florestas  e posteriores às que nasceram milénios depois.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA



UMA VISITANTE CÁ DE CASA

OS PIGMEUS

Somos um povo de pigmeus, mas somos responsáveis por isso e de mim me queixo.
Somos um labirinto de contradições no dia-a-dia, no entanto reduzimo-nos a um cabide de simplicidades.
Claro que depois vêm os protestos da realidade.
Às vezes pinto deuses como os gregos faziam, para ver se vejo gente.
Somos uns hipócritas, à espera de ver a carroça passar.
Vemos todo o tipo de imunidades passar, mas mesmo assim não raro, aplaudimos.
Os inocentes e os mentirosos andam de braço dado.
Muitos de nós entramos em comboios errados e no entanto deixámo-nos estar sentados, mesmo quando nos sabemos no sentido contrário ao destino, mesmo assim deixamo-nos estar.
No meu caso, continuo igual ao que sempre fui em matéria de ideais. Gostava que abandonássemos a parolice fingindo que somos civilizados, de nos ver agarrados ao nada com unhas e dentes.
As pessoas, muitas, demasiadas, admiram quem tem a coragem de actuar sem escrúpulos, como se fossem empresários de talento.
Não admiro essa gente e como eu muitos há, mas gente como nós perde-se na espuma das vagas encapeladas dos valores e dos princípios.
No meu caso, faço de tudo para manter a minha energia de raiva inteira e, não desisto das palavras, embora já não invista em acções só para provocar, já concentro a energia e começo a saber utilizá-la criteriosamente.
Não, não vou fazer escavações arqueológicas profundas na memória de mim nem na do povo a que pertenço nem na liturgia de salamaleques a que assistimos todos os dias, de qualquer modo vou deixando aqui algumas peças do puzzle dos meus sentires passados, presentes e futuros, dos meus diversos eus.
Temos todos medo do tempo, de o termos de atravessar nos seus retrocessos quotidianos, mas há dias em que trabalho com as emoções e não me emociono.
O meu diário não pode ser mais objectivo que uma  vida pessoal.
Quando não publicava aqui no blogue, não colocava títulos nos "textos" diários e portanto tudo era mais fluído e fácil, mas também é verdade que desta maneira aprendo mais a colocar os muros, porque o mundo é feito de muros que nos esperam.
Ainda não consigo soltar as minhas recordações, presentes, passadas e futuras, por isso me afasto delas muitas vezes para parte incerta. Quando se é escritor deve ser mais fácil, há sempre uma forma de dizer que por detrás entre as nuvens, fica o Castelo dos  Mouros, agora assim é bem mais difícil quando não há o génio a soltar-nos as palavras e por vezes ficam de novo lacradas.
Só consigo expôr-me por fragmentos.
Sou grande admiradora de diários, li os de Miguel Torga em dezasseis livros, os do João Chagas, não me recordo se li quatro dele, li Maria Gabriela Llansol e uma espécie de seu diário e alguns outros. Admiro pessoas que fazem a limpeza dos anos com o pano do diário, como a saldar a dívida com a vida.
Comecei por falar dos pigmeus que somos e acabei, como sempre, parece-me a fazer cortesias a Bach como dizia um querido amigo.
Dizia para não me debruçar tanto do parapeito da janela com a tentação de ver Bach.
Continuo a lutar entre o interior e o exterior, com a consciência do vidro.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA



Auto-estradas do Douro sem ninguém, NINGUÉM

VISÕES EGOCÊNTRICAS

Há artistas verdadeiros na Arte de NÃO SABER. São pessoas que decidem não relacionar nada.
Ainda agora no noticiário ouvi  Fernando Leal da Costa, Secretário de Estado do Ministério da Saúde a responder à Antena Um que não consegue perceber como há pessoas a fazerem uma relação entre o aumento das taxas moderadores e o aumento de 15% nas urgências dos Hospitais Privados, em especial, dos beneficiários da ADSE e outros. Só lhe faltou dizer que usava de má fé quem fazia essas correlações. No caso era António Arnaut, antigo M.S. que se referia  a esta questão  nestes termos.
Esta gente que não faz relações de espécie alguma são pessoas demasiado ególatras.
Com este NÃO SABER vale tudo.
Toda a gente que diz que não sabe, não sabem que há pessoas que não têm dinheiro para alimentar os filhos, não sabem que estão aumentar os suicídios e as depressões, não sabem que... e que... e   consideram que fazer relações entre os factos é idiota, estas pessoas não são apenas vassalos, são cobardes, não querem ter chatices de espécie alguma, a não ser numa fila de qualquer porcaria que acham ser a coisa mais importante, como foi duas noites passadas ao relento e, acompanhadas dum discurso sobre a injustiça,  com vista a obterem uma senha para um tolde na praia de Armação de Pêra, entregue pela Junta de Freguesia. Esta gente "acéfala", está por todo o lado.
Está nas programações televisivas e são o reflexo dos grupos económicos e que representam os pontos de vista ideológicos que esses grupos representam, está nas governações, está em todos os postos chave das sociedades. São duma docilidade diligente perante o poder com toda a cumplicidade.
Mentem descaradamente. São subtis quase como os anónimos seus correligionários.
Só lhes interessam as pessoas com importância e aquelas que não deviam ter qualquer tipo de importância,  alcandoram-nas e arrastam-nas para a multidão dos artistas do NÃO SABER. Começam a adquirir esse hábito e não o perdem nunca mais.
Fazem com que tudo prescreva mais depressa.
Às vezes, nós, os Outros,  parece que entramos numa nave dos loucos.
Esses, os artistas do NÃO SABER, têm aspecto de gente normal, atenda-se aos que ficaram duas noites à espera da senha para o tolde (não foi de comida para dar aos filhos esfomeados nem tão pouco jovens que querem namorar e vão compar bilhete para o grupo rock da moda).
Esta democracia está bem definida no entanto por aqueles que nela mandam, que é usar o dinheiro dos outros em benefício próprio ou dos seus e preparar o caminho para as suas gentes os substituírem no poder.
Há pessoas que até parecem pessoas mas não se distinguem de bichos, embora nem sequer saibam que são um bicho entre bichos, sendo bichos diferentes, de verem e saberem o que vêem, de pensarem e saberem que pensam, de estarem vivas ao fim e ao resto.
Há pessoas que são geometrizadas, que se querem em caixinhas, com vidas escrituradas num cemitério, mesmo aquelas que trabalharam no duro e na infelicidade em lugares distantes, mesmo muitas dessas permanecem na sua arte de NÃO SABER, não por vocação  mas simplesmente por Egoísmo e preferem esborrachar os narizes contra os vidros para não atravessarem territórios proibidos, que é do pensar com as suas próprias cabeças e darem uma mão aos outros e não apenas o que não lhes faz falta, mas o que lhes faz falta principalmente.
Acham que desaparecem se um dia isso lhes acontecesse.

domingo, 13 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA



CHORINAS BRANCAS

MANIFESTAÇÕES

Vivências, códigos de conduta, desenvolvimento da acção. Para quem delas faz parte tem a sensação de se encontrar dentro, embora cada um seja uma testemunha de esperança e se submetam em conjunto à radiografia social.
As manifestações são o exercício duma vontade colectiva, em que as pessoas dizem claramente que estão vigilantes.
A questão que se coloca hoje é que uma grande parte da nossa sociedade apodreceu e tal como o peixe quando está podre é da cabeça que emana o mau cheiro, assim acontece com a maior parte das sociedades actuais.
Hoje sabemos também que o silêncio nem sempre é cúmplice, antes pelo contrário.
Como bem sabemos, as manifestações servem também como máquinas de criar interpretações. Há como que uma urgência em desabafar publicamente. Servem sem dúvida, para as pessoas não se ouvirem a si próprias, mas a todos os outros.
A Europa e os seus acólitos têm-nos mudado a vida duma forma imperdoável.
A Europa negoceia com o dinheiro alheio, especula, faz agiotagem.
Antigamente esbanjava-se o dinheiro da Índia e do Brasil, agora em"obras de fundo/cimento" por essas cidades afora, sem qualquer necessidade e quase sempre para ficar tudo um pouco pior. Quem paga? Nós, pois claro. Não há dinheiro, mas continuam a fazer-se.
A Europa uniu-se por necessidade económica, para não ser exprimida entre o Japão e a América, agora limita-se a ser o que a América quer que ela seja.
Pertencer à Europa económica, apenas dá felicidade aos que são felizes economicamente, não aos outros, a todos nós que nada beneficiamos com isso.
Será um reforço de cooperação entre os povos continuar a defender uma Europa Económica? Será ser internacionalista continuar neste caminho?
Não me parece. As manifestações que ontem se realizaram por essa Europa fora, não foram mais, que o reforço da posições já manifestadas noutras ocasiões e cada uma em cada país teve os slogans que ao território e preocupações nacionais dizem respeito.
Gostava de ver uma manifestação global, todos por um e um por todos, por essa Europa fora.
Andam a destruir-nos a felicidade aos pedacinhos.
Os governantes e seus ecos baptizam com louvaminhas e incontinência de adjectivos tudo o que dizem, da direita à pseudo esquerda.
A manifestação de ontem, por exemplo, para que foi convocada, como e porquê?
Houve o suficiente tempo de organização e convocação das pessoas?
Claro, que os partidos e movimentos nacionais e estrangeiros "aproveitam" sempre que há uma convocatória, para se apresentarem  e como está na calha o pacto europeu entre o PS, PSD e CDS e FMI, UE e BCE , ontem gritou-se nas ruas do Porto palavras de ordem contra este pacto, que de facto, é de agressão às pessoas, mas foram estas mesmas pessoas que votaram nestes partidos que por sua vez, votaram o pacto.
Claro que os indignados encheram as Portas do Sol em Madrid para combater o sistema e a autoridade e muitos outros indignados se manifestaram mas muitos outros calaram para não consentir.
A mim, começa a parecer-me que há quase profissionais das manifestações e que começam a banalizar-se (duas/três por mês), retirando as "manifestações" aos que morrem, mesmo aqueles que preferem o silêncio.
O triunfo da democracia e da economia baseada mo mercado generalizou-se. Os capitalistas desumanos mandam não só na Europa, como no Mundo.
A minha esperança, aliás quase certeza, é que este sistema acabará por se matar a si próprio, embora devamos dar-lhe um empurrão bem dado, organizado e certeiro e que as manifestações podem ser um meio para atingir esse fim. No entanto, gostava eu de ver manifestações pujantes, não como aproveitamento de ocasiões para gritarmos bem alto o que nos aflige, mas antes fazer um rasgão de alto abaixo no sistema instalado, abaná-lo, feri-lo de morte, a nível europeu sim, para haver mais força e não cada um por si, para marcar presença.  Dizer NÃO a uma Europa que consegue fazer mais piruetas e saltos sobre a própria cabeça que o sistema comunista/capitalista chinês.

sábado, 12 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA

DESLEITURA

Apetece-me falar das desinências. Das reixas por um lado e das inanidades por outro
A nossa língua está cada vez mais beócia, mais tartamuda, a deperecer.
Tem que haver quem forceje um pouco para não a matar de vez, elevá-la a um fastígio linguístico de vez em quando. Pode ser funambulesco, mas existe.
Não está na moda escrever com adjectivos, mas também não devia estar na moda falar com erros e fala-se.
Fala-se hoje com vários adminículos, o que também devia ser negragado, mas não o é, em especial, para certa elite, em especial da capital, recordo aqui o caso mais exemplificativo que foi esse exautor da língua portuguesa, Sr. Zeinal Bava, mas podíamos ir buscar outros exemplos igualmente chamorros do português, alguns muito escarolados até dizem: bem...como se diz em português.. nhheem.
Deve-se repesar mais e não é dos telemóveis ou das redes sociais que ela se esborcina, se torna hórrida.
A minha/nossa amada língua tornou-se, uma espécie de caules de gisandra, embora continue com grande pulcritude em alguns casos, bom exemplo disso é o Aquilino Ribeiro Machado, recente amigo facebokiano, só para dar um exemplo, mas muitos mais há, centenas. Nestes casos é grande a sua pulcritude, mas é necessário fazer alguma pavana de todas estas facécias.
Parece que colocaram o português em almoeda e as primícias estão bem à vista, os molossos até resolveram entregar o texto Dos Números do Desemprego no Parlamento Português, em inglês, o último foi o Sr. Vítor Gaspar, que sofre de incompetência aguda. Além de filanciosos são descoroáveis.
Presidisse eu a algum grupo parlamentar e havia de me armar em mequetrefe, falando apenas num português nardo, durázico, embora aqui e ali com suficientes asperges e queria ver com essa gíria demiúrgica e com alguns choutos se os alvinitentes ministros se não se esbarronavam todos.
Às vezes é necessário dar-lhes assim a beber algumas triagas e chamorrá-los duma vez, vincilhá-los, esbagachá-los para ver se deixam de ser tão açodados, impontuais e beócios.
Esta gente veste de estamenha mesmo que seja no Verão.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA


A GATA NAMORADEIRA

QUANDO OS INDIOS NOS VÊM BUSCAR

Neste texto ora é usada a primeira pessoa do singular, ora a primeira do plural, quase indistintamente. Tal acontece por me considerar uma entre muitas e tal como digo na apresentação do facebook, sou igual a todos os outros na mesma proporção em que sou diferente dos mesmos outros.


Quisera eu ser uma pessoa concentrada - feliz de mim - que não me abrisse com ninguém, com coração selado por um mandato judiciário, como alguém disse.
Quisera nada compreender a não ser que não se compreende nada e compreender o que não compreender e o que é compreender. Mais vale nada compreender à partida.
Neste mundo as palavras de ordem são a juventude e a prosperidade e, as artes, não são compatíveis com a felicidade.
A mudança, como revolução, é subversiva, por isso evitada.
A sede do conhecimento e a busca da verdade são perigosos e ilusórios.
A mentira é mais cómoda que a dúvida e mais perdurável que a verdade.
Já passou a fase talvez da busca de mim mesma, pelo menos naquelas sombrias auto-análises plenas de complexidades.
O tempo oferece-nos um certo distanciamento, não havendo sequer qualquer tentativa de recuperar o passado nem a pretensão duma vida lamentativa e anódina.
Não sou daquelas que dizem: se começasse hoje fazia tudo igual; nem tão pouco das que afirmam que faria tudo diferente.
Julgo que as pessoas não crêem nas verdades que mentem, nem nas mentiras que dizem a verdade. A vida é uma canção desafinada, li ou ouvi em qualquer lado.
Houve uma época em que só agia após a razão me ditar o modo de acção, as minhas reacções tornaram-se racionalizadas. Exigi isso de mim e é relativamente fácil consegui-lo, mas não me tornei mais feliz, antes pelo contrário. Nessa altura deixei que os "índios" me viessem buscar para me asselvajarem. Quero-os na sua imensa floresta com as suas imensas liberdades.
Há quem tivesse consentido nisso, mas primeiro há que endoidecer para não morrer logo.
Nessa altura era serena, dominava-me e era um ser muito mais triste.
Para confessar os erros é preciso muita força e para chegar a tal estado é necessário passar pelo sofrimento.
A experiência alheia não nos torna experientes.
Há alturas de meditação em que tento perceber o que é melhor, se respeitar os outros com as suas taras e manias, de os aceitar como eles são ou se ser autoritária e intolerante é menos pernicioso e é difícil chegar a conclusões com os exemplos conhecidos e seus resultados.
Ocasiões há em que ficamos embrutecidos, vazios, sem ideias, inermes, perdidos e com essa imensa aflição.
Só temos uma vida, um só caminho pela frente, e não podemos experimentar outros caminhos e possibilidades diversas.
Muitos de nós possuem naturezas pobres, bravias.
Não sendo  a prudência uma das minhas maiores virtudes e não tendo olhos capazes de ver aquilo que nos obrigam a ver, se calhar por não estarem suficientemente amadurecidos e porque não sabemos quanto tempo ficamos, delineamos estratégias e montamos tácticas para a frente, de perda em perda e para os lados, para tudo o que são os outros e o reflexo que de nós nos devolvem.
É nestas alturas que a vontade de ler é ainda maior, como que para nos adormecermos gradualmente, sobretudo para se fincar a atenção fora de nós ou a escrever uma palavra que fique para a eternidade.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA



NAMORO À MODA ANTIGA

ACHADOS

Hoje encontrei no meio duns papéis este "tesouro".
Não tem data, mas eu costumava apontar num papel, qualquer que ele fosse, quando lia um livro e não conhecia o significado duma palavra,  para logo que pudesse consultar o dicionário.

Vou transcrever as palavras:

psitacista

mnezins

casbá

penisco

joeira

Zurbarán

beócia

mazombos

letes

demiúrgica

chouto

suspicácia

dilucidado

alvinitente

esbarrondo

trantagano

reixelo

pavanca

exautora

empecida

vincilho

açodados

esbagachadas

bonzo

sachets

triaga

chamorro      e muitas muitas mais

Felizmente hoje sei o significado destas palavras. Estou contente por isso

terça-feira, 8 de maio de 2012

PERDOAI-LHES SENHOR PORQUE ELES SABEM O QUE FAZEM

Eles sabem que há muita gente triste como se fosse uma doença. Eles sabem que às vezes te vais sentir culpada por estares triste e tu não tens culpa de estares triste.
Eles sabem que deixam muitas crianças com fome, não é sem sobremesa porque se portam mal, mas com fome porque os pais não têm dinheiro nem para comer e não sabem roubar.
Eles sabem que há muita gente a sofrer e mais, a sofrer há muito tempo, por não ter emprego, não ter dinheiro, ter que entregar a casa ao maldito banco.
Eles sabem que há muita gente com vidas adiadas, que já não percebe o brilho de mil cores nem os sons mais variados, porque a única sensação que têm é que precisam de dinheiro para se alimentar e alimentar seus filhos.
Eles sabem que encarceraram os sonhos de milhares de jovens.
Eles sabem que são amigos de capitalistas, encobrem agiotas e nos roubam, sendo nossos inimigos.
Eles sabem que nos informam mal, que nos dizem só aquilo que julgam que "devemos saber".
Eles sabem que são sarcásticos quando nos falam e que mentem a maior parte das vezes, embora deliberadamente nos façam crer o contrário.
Eles sabem que lhes sobra encenação. E depois ainda se dizem surpreender com o desemprego, com o "sermos piegas", com... com... com...
Parece-me impossível que algum dia venham realmente a surpreender-se com algo. Esta sabedoria farisaica que os nossos governantes têm, à semelhança da Idade Média, que diziam "Paciência, o remédio está no céu", em resposta às reclamações do sofrimento, é insuportável.
Eles sabem que a Europa chafurda e que nunca houve Europa, no sentido que esta palavra devia ter em diplomacia.
Eles sabem que não existem futuro para a maioria porque eles não querem.
Eles sabem que fitamos os sapatos incapazes de escolhermos uma atitude, mas mesmo assim têm medo, porque também sabem que a alma vai acumulando e quando tirar para fora tudo aquilo que lá tem, nessa altura que não sabem qual é, bem podem olhar para o vazio que construiram e encontrarem o fim da circunferência.

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA


JÁ ME APETECIA

O CÃO E O GATO

Era uma vez um cão e um gato que não se conheciam.
O cão era velho e quase surdo e o gato novo e brincalhão, um e outro, animais únicos de seus donos e extremamente mimalhos.
Os donos de um e do outro julgavam que eles não se entenderiam, interpretando os sinais que emitiam. Fizeram-lhe uma série de imposições, considerando  tratar dos seus instintos de conservação.
Colocaram o visitante fora, no jardim e garagem e  no residente não tocaram.
Um dia o gato tentou reagir à situação, fugindo, saiu sem dizer água-vai.
Os donos foram-no buscar a tempo.
A partir desse dia mudou tudo. O gato civilizado e o cão desconfiado, de inconvenientes, incapazes de qualquer harmonia social, um bufava e o outro ladrava, começaram os dois no mesmo espaço um diálogo tímido, mas um diálogo.
Abandonaram o monólogo de pragas e vociferações.
Neste momento em que vos escrevo, cada qual cumpre os seus deveres. Um dorme no sofá da sala e o outro na cadeira do escritório.
Estou em crer, pelo que vejo, que todos aqueles terríveis encontros de intolerância canina e felina, eram electricidades do mesmo nome que se repeliam, o medo.
Não falam a mesma língua é verdade, mas são ambos muito bisbilhoteiros. Apetece-lhes descobrirem-se umas vezes, outras afrontarem-se e outras ainda manterem as tréguas da preguiça e da representação, sem descurarem a protecção de seus donos, implorando ajuda e meiguices personalizadas.
Moral da história que nesta história há uma moral: os civilizados aqui foram os animais, os analfabetos. Os míopes, os donos.

domingo, 6 de maio de 2012

SONS DE DOMINGO

Os domingos são esdruxúlos. Quando não dá segundite aguda, dá ganas abortivas.
É o dia das epopeias familiares.
Parece que se anda à procura do que se vai fazer para se iludir o tempo, à maneira de Xerezade.
Este domingo havia eleições por essa Europa fora e íamos de eleição  em eleição, conhecendo os resultados, sabendo dos impactos sociais e políticos que se geram a partir das ondas de  choque emocional que se instauraram quer em França, quer na Grécia e que podem ou não ser seguidas de réplicas noutros países sujeitos a eleições dentro em breve, como no caso da Alemanha.
Passado que foi o domingo, as vidas voltam a ser concêntricas ou tangenciais, os tons dos dias passam a ser de novo, de azul-escuro invisível à superfície da pele.
A vida é uma "ideologia superior" alguém o disse, assim sendo desperta em nós a obrigação de viver, mesmo que para isso saibamos que todas as semanas há um domingo.
São raros os domingos com história, mas este não, este  deixou as suas marcas de água, indeléveis pelo exercício democrático de dois povos, de duas culturas, França e Grécia.
Somos todos ou quase todos desapossados das nossas rotinas, no entanto, os domingos são uma enorme possibilidade para os homens se revoltarem, para criarem porque abandonam as rotinas. Na maior parte das vezes isso não acontece, as pessoas gostam de puxar o carro da rotina.
O domingo é uma espécie de traição a todos os dias da semana ou era, já que agora o comércio continua aberto, como se de dias úteis se tratasse e as pessoas, principalmente as das cidades, dirigem-se para os locais de consumo, na vã ilusão de que continuam com poder de compra intacto.
Há gente que vai à missa, mas não me parecem na maior parte dos casos, momentos íntimos e sagrados.
Os políticos governantes e não só, escolhem os fins-de-semana e em especial, o domingo, para serem vistos (com ajudas de custo é sempre bem mais confortável, não saírem da sua zona de conforto, como se diz agora).
Claro que há pessoas que não sabem o que são domingos, mas esses têm uma cultura incompleta.
Os domingos são vistos pelos olhos domingueiros de cada um.
Se é um elemento duma família num restaurante ao domingo, há que comportar-se como tal. Se se pretende que o domingo passe o mais depressa possível, então aí começam os problemas, porque é nessa altura que ele nunca mais se consome, ficando cada vez mais comprido, terrivelmente comprido, perigosamente comprido como me contam.
O domingo é o dia ideal para os familiares se encontrarem frente a frente.
Ontem foi um dia diferente. "Todos" fomos um pouco gregos e um pouco franceses, todos nos encontramos nas suas personalidades.
Apesar de tudo e Com Tudo este domingo foi diferente. Viajamos para outros lugares e conseguimos abstrairmos um pouco de nós.
Quebramos a rotina dos domingos e deixamos de ser reaccionários, i.é etimolologicamente falando, de reagir contra os domingos, pelo menos uma vez.

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA

DIA DA MÃE

Veio-me à memória o que fiz em 2008 no "Lenço de Papel" e aqui está:

 

Domingo, 4 de Maio de 2008


dia da mãe





AVÓ -MÃE DUAS VEZES

A razão e o instinto, a força e a graça, a ordem e a liberdade enconcontravam harmonia na minha avó.
Mulher tímida mas que diante da vida teve sempre a coragem de não se resignar.
Nunca gostou de precisar dos outros, sentia-se perdida, por isso trabalhou e foi útil durante toda a sua vida. O sentido de utilidade esteve sempre presente, foi como um deus menor que habitou o seu espírito. Foi sempre uma mulher que em todos os momentos se sentiu irmã do próximo e que em todas as circunstâncias reagia sem covardia e, mais importante do que tudo isso é que nem sequer tinha consciência disso.
Por onde passou, em especial, pela família que amava acima de todas as coisas, deixou pedaços de si, tal como os nossos antepassados descobridores deixaram padrões pelos locais por onde passavam.
Pensava que tinha que implorar ajuda a alguém em certos momentos mais difíceis e, como era filha duma terra em que o culto a Maria estava arreigado, sucumbiu à sua ancestralidade.
A minha avó não gostava de abrir mealheiros do passado. Sabia que lágrimas e sorrisos eram filhos dos mesmos sentimentos, mas de vez em quando lá ía buscar alguma coisa pela ranhura do dito.
Havia nela toda a raíz republicana dos seus avoengos, aliás, ela própria nascida no ano da implantação da República, que não lhe deixava tolerar poderes únicos e absolutos. Sempre pugnou pela liberdade e justiça.
Sabia ver que a quem mais amava, os seus (como chamava), eram labirintos de contradições. Por isso, os seus defeitos não estavam mascarados nem as virtudes ocultas.
A minha avó sabia saltar alçapões e conhecia os tempos em que vivia, que eram de má fé. Ela sabia que se tratava afinal dum desconhecimento do verdadeiro carácter das pessoas, quando toda a gente julgava ainda que era um mal entendido.
Achava que era uma tragédia se aos vinte anos já soubessemos o que era ter vergonha.
A vida deu-lhe água pela barba, mas ela, magrinha e a comer tanto como um passarinho, achava que nem Deus descansou, a não ser ao sétimo dia.
Não sa curvava ao pessimismo. Decepcionou-se várias vezes, mas continuava a ter esperança , a colher os dias e a saboreá-los à sua ma maneira, a amar o filho e os netos, a nora e todos os que a rodeavam. Perdoava tudo porque compreendia.
Sempre apreciou um bocado apetitoso desta vida - um bom passeio, uma vitela assada ou a paz e alegria familiares.
Viveu sempre de acordo consigo.Não perdoou ao pai não ter sido melhor marido e melhor pai. Guardava essa mágoa.
Por vezes, em especial,quando vinha rememorizar a sua infância e juventude à casa onde nasceu em Louredo/Paredes, não conseguia aderir à realidade. E os sentimentos eram superiores, relegando-a para as memórias. Parecia que não estava a ver a casa, onde ficava o seu quarto, a sala, a cozinha, etc, mas a lembrar...
Senhora duma vontade e espírito de independência, trabalhou toda a vida e a sua imaginação esteve sempre ao seu serviço no que a tal dizia respeito.
Fez camisolas, vestidos, costurou, cozinhou, crochetou.
Não passou a vida a plantar boas intenções. Abençoou todas as revoluções justas da História.
Não suportava a má língua, nem a clássica das lojas onde ía fornecer-se.
É certo que se sentia eficiente, mas porque lia os jornais todos os dias e conhecia o mundo. Gostava também de espreitar o mundo através das vidraças.
Odiava os cobardes. Considerava-os uma lepra social (nessa altura ainda não se falava da SIDA).E quando veio o 25 de Abril, a auto-proclamada revolução dos cravos, que contente que a minha avó ficou! Logo que pôde (1º de Maio), veio para a rua, de cravo na mão e misturou-se com a multidão.
Como disse já, às vezes folheava a vida e mostrava-nos algum parágrafo.
Não gostava de padres, achava-os, de certa maneira o mal da Igreja.
Tinha hábitos de liberdade e não gostava de cangas opressoras - as únicas que carregou foram alguns desgostos familiares.
Pensava na morte e como se ía acomodar lá em baixo...ela que sempre teve medo do escuro, preferia um jazigo de capela para repousar em paz.
Amava-me e dizia de mim e a mim que eu era desastrada na maneira de ser e que até algumas das boas qualidades que possuía as revelava ao invés, e assim dava lugar a que as pessoas confundissem no meu temperamento modéstia com orgulho, franqueza com agressividade, desinteresse com estratégia e por aí fora.
E quando foi votar pela 1ª vez? Renasceu. Finalmente exercia o direito público de opinião.
Perguntei-lhe:"Vó, em quem votaste?" Respondeu: "Filha, o voto é secreto, omessa".
Havia nela como que uma espécie de nervosimo da alma.
Foi sempre ávida da família. A família para si suplantava tudo. Estava acima da poesia e da música de que tanto gostava. Gostava da "Banda do Casaco" e da "Internacional".
De voz baixa, terna, sedutora, conseguia com sussurros aquilo que os outros com grandiloquos discursos não conseguiam.
Não conseguia sentar-se no sofã sem nada fazer e então, quando já estava tudo feito, fazia roupa para as bonecas da bisneta Mariana.
Considerava que não valia a pena contrariar certas pessoas, ser junto delas uma presença de constante inquietação. Claro, que também sabia que com uma interjeição se quisesse, poria fim à comédia ou tragédia representadas.
Finalmente, tentou corajosamente enfrentar a solidão, negando-a.
A minha avó era a minha Nossa Srª dos impossíveis.
Hoje é dia da MÂE, quero-lhe prestar homenagem.
Tu sabes,vóvó, lá ondes estás, que no fundo, no fundo me deixaste marcas indeléveis e muitos dos pontos bons que possuo a ti se devem. MIL VEZES OBRIGADO AVOZINHA QUERIDA.

sábado, 5 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA


PARA QUEM GOSTA DE CHOCOLATE -JURMALA
(estava-me a apetecer e lembrei-me)

MEDIOCRIDADE (S)

Os medíocres nunca estão sós, porque a mediocridade é um sistema, arrastam-se uns aos outros, são cúmplices.
Normalmente dão justificações engroladas, embora haja muitas espécies de medíocres.
Há os que se deixam amodorrar numa cadeira ou numa cama, sem doença aparente.
Há os que se consomem em intenções e entusiasmos e querem ser competentes artistas, empresários ou políticos. Alguns lembram rãs ou ralos com a sua serrazina.
Os que têm normais e tranquilas vidas infelizes, com recordações, não amargadas que nem as viveram, mas com idade para acumular sofrimentos.
Pessoas que não se dão ao direito de entrar em contradição porque são a própria contradição.
Há os tombados do casulo das aparências, das trapalhadas amorosas, das sombras, lastrados de fuligens.
Os insinceros, aquele que são assim mesmo, como o muco que os caracóis deixam por onde passam.
Há-os com olhos estúpidos, gargantas presas e consciências boquiabertas.
Os que descalçam as botas por tudo, muito antes do tempo e as lambem aos outros.
Há os que se assemelham aos bêbados, que dizem as coisas aos solavancos.
Há os chefes políticos da paróquia.
Há os que querem fazer boas acções e as anunciam publicamente, mas para os 6 anos a seguir.
Há aqueles em que as virtudes são como o orçamento, com grandes déficites e maus saldos.
Há os robustos, os de finíssimos lábios; os que pedem constantemente prorrogações por não terem forças para escolher.
Há os que se assemelham a estorninhos, em bandos, cantam em coro e fazem um estranho orfeão de sons e de asas.
Há aqueles mais parecidos com as crianças, miudinhos, capazes de passar um dia inteiro no mesmo ramo, parvinhos de todo.
Há os que vivem no mundo rodopiando como folhas no vendaval.
E se calhar é preferível ser medíocre nos tempos que correm, porque quem não se contenta com essa condição triste e sombria, magoa-se, sofre a realidade que é lancinante, só lhe resta partir, ou enlouquecer, ou suicidar-se.
Os medíocres duma maneira geral, são dissimulados, resguardando-se.
Os medíocres gostam de colocar jovens no poder, para os ter do seu lado, subjugados, pervertidos, roubando-lhes a juventude à oposição, à crítica, esvaziá-los de futuro.
O produto dos medíocres no nosso Portugal foram o ludibrio das riquezas que nos deixaram, a ausência do império que descobriram, as intolerâncias várias como peste para os espíritos.
Trataram de nos colocar no inferno estes invasores da mediocridade, incapazes que são de suportar o paraíso e dizem-nos que o paraíso agora se deslocou para o outro lado dos mares, como na década de 50/60 e princípios de 70, algures, em África e se calhar de novo, no Brasil.
E estas reflexões, das mais profundas, desde a invenção das flores, a consolarem-me de tantos malefícios.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA


DA MINHA JANELA

CRISES

"Quem tiver alguma coisa a dizer avance e fique calado", já ouviram esta célebre frase de 1914.

"Que tempos são estes/em que uma conversa/é quase um crime/porque contém/tanta coisa dita?", dizia Paul Celan, esse judeu inconformado com o destino da humanidade.
Dizia ainda que quem fala, não fala para ninguém, fala porque ninguém o ouve, ninguém e Ninguém.
Mais tarde, ao virar do século Karl Kraus dizia que a linguagem, estava prostituída ao serviço de objectivos mercantis, agressores e degradantes da condição do homem.
Hoje é igual, assiste-se a que muitos que nada têm para dizer continuam a falar.
Todos aqueles que abusam das palavras criam condições para abusar do Homem, não sei se alguém o disse ou eu própria noutras ocasiões, mas é minha a frase de qualquer dos modos.
Quando se fala em crise, referem-se à economia e finanças,  eu lembro-me de outras, várias, como a de Viver, a grande responsabilidade de viver que é tão difícil para tanta gente e cada vez mais; a da Imaginação; a da Cultura, da verdadeira cultura, a que produz intelectuais que são aquelas pessoas que pensam por si, que usam o intelecto; a do Jornalismo, do bom, não a do culto do vazio de ideias.
Não se aprende nada com a História, ninguém tira lições de decadências passadas. Hegel tinha razão, parece-me que Antero também o disse.
Ainda continuamos a sofrer daquela epidemia originária da Alemanha que consistia pegar-se numa palavra vulgar, escrever-se com letra maiúscula e fazer-se disso um conceito transcendente. Estava muito em moda esta doença nos anos 70/80, agora voltou.
A crise da Honra e da Honestidade.
Ninguém, quase ninguém semeia para colher, apenas aproveitam as ocasiões. Receio que se torne uma moral colectiva.
A crise da Consciência. Desconhece-se as ignorâncias e a crise número UM, a maior de todas, a POLÍTICA.
Hoje os partidos são clubes e os deputados na AR, as claques. Alguns são neófitos, tão amadores que dá dó.
Não é com esta gente que se faz História. Pessoas que ainda estão em processo de crescimento, que nem sequer acabam a sua evolução, estabilizam ali. Parecem evadidos de casas de correcção, com afectos irracionais, fiéis q.b a um dono, até se alcandorarem ao pretendido que aprenderam na escolinha do partido.
Ignoro os sentimentos destes meninos e meninas por acabar, que chegam já depois de madurarem em estufa, a PM(s), chefes de partido e até de empresas. Não há diferenças entre eles, apenas se conhecem as que existem nos clubes, uns gostam de verde, outros de azul e outros ainda de vermelho.
Gente que não é capaz de passar uma hora sozinha, de reflectir, de ler um livro e  meditar nele.
Cada vez dou mais valor ao silêncio e às pessoas que sabem conviver consigo mesmas, sem ruído, sem excitantes de partidos, sem companhias ruidosas e que não são amigos de ninguém mas espectadores de toda a gente. Essa gente só tem sentenças, não tem amor. A parte afectiva está toda reservada ao dinheiro, DINHEIRO, ter muito e cada vez mais para mostrar que conseguiram, não interessa como.






Paul Celan nasceu em 1920 na cidade de Czernowitz, região da Bucovina, «uma terra onde viviam homens e livros», na altura romena e hoje território da Ucrânia, que até à 2ª Guerra era um dos centros mais importantes da cultura judaica do Leste europeu.
























quinta-feira, 3 de maio de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA

ARTE NOVA

COMO SERIA FÁCIL..

Acho tudo tão fácil às vezes.
Um homem, um gestor, pôs um país inteiro a falar da sua empresa durante um dia, com a publicidade mais barata que se conhece (boca a boca) e ainda ganhando "rios de dinheiro", sem para isso ter colocado vacas no Parque Eduardo VII ou vereadores de "esquerda" ao lado das vacas.
Se assim é, porque é tão difícil governar Portugal?
Se num dia as pessoas se mobilizam mesmo sem dinheiro a comprarem tudo que vêem à frente como se em guerra estivessem e a ficarem sem tostão para o resto do mês, também não seria muito difícil mobilizá-los para outro tipo de causas.
Pelos vistos, apenas é preciso não ignorar o tráfico vital da angústia.
As pessoas querem fazer parte do grupo, se possível com sacrifício, muito, para depois dizerem durante muito tempo que sofreram muito e que podia ter sido assim e foi assado.
Esperam em filas para o médico da Caixa, para o concerto do "ano", para os "saldos" da época, para o IPAD, IPOD ou IPID. O princípio é sempre o mesmo, pertencer e sofrer, sofrer para depois recordar e lamentarem-se.
Gostam de peripécias, de simularem repentinos interesses por matérias escuras e estão muito contaminados pela pobreza de espírito.
Estão demasiado escuras, pensam demasiado escuro, desconheço se é pela esperança se estar a esvair, se é devido a toda a infelicidade ou mesmo só porque somos portugueses e gostamos de fado e saudade e destino.
O vale tudo está instalado. Parece  que nem a esperança de se desesperarem existe. Por um lado, parece-me que estamos num intrincado labirinto com governantes que encenaram há muito uma viagem com a ilusão por outro, acho que se se inventasse novas direcções, transformando-as e orientando-as, era tudo muito fácil.
Estas almas subsidiadas, lamentando-se de tudo, quase no fundo do poço, a quase desimportarem-se da vida, cansados desta vida e que ainda por cima lhes têm inculcado a culpa, a culpa de terem gasto mais que as possibilidades.
Ontem vi os telejornais e pareceu-me um país de gente perdida. Um PM perdido, a falar da habitação e dos bancos  que ganham ilegalmente com as avaliações que fazem por baixo preço, na altura de ficarem com as casas, como se os governos não tivessem dados estas condições aos bancos e não sejam o seu aval. Um Parlamento perdido, a falar de assuntos importantes mas sem tratar de assuntos importantes.
Gentes a corrrer sem sentido, a barafustarem ou a "rezarem" que vale quase o mesmo e até o clima a completar este cenário, com mais um tornado em Sesimbra, muito vento e chuva.
Gente triste a abandonada, sem consciência definida, a correr para trás e para diante numa complicação de sentimentos e eu a ver esse mundo a partir dum sofá, com buracos no peito.
Muitas pessoas já desincomodadas com as maneiras.
Quando deixamos de ser necessários e muitas, demasiadas, deixaram de o ser com o desemprego, quando ninguém precisa delas, deixam-se desorientar, perder, parecendo quase canas ao vento que viram de direcção vezes sem conta.
Todos com ressentimentos uns pelos outros, todos aqueles que estavam abafados vêm à superfície e quando se vêem os mais calados, aqueles que nunca falam porque até medo de si têm, porque têm muita coisa lá dentro que pode extravasar em qualquer altura a falarem, então está tudo perdido.
As pessoas têm direito a que a sua história tenha princípio, meio e fim.
Era tudo tão fácil caso quisessem e houvesse gente honesta, inteligente e competente aoleme.
O povo é fácil de levar, vai para o levarem.