sexta-feira, 31 de agosto de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA



LUAR DE AGOSTO -LUA AZUL

CHIYO ON-JI

Esta palavra japonesa traduz-se pelo "verdadeiro templo da eternidade" que para nós se poderia chamar cemitério.
Lembro-me sempre ou quase sempre dela quando me fazem maldades, quando as sinto mais, costumo pronunciá-la.
Só no cemitério, quando lá chegarmos, deixaremos de ser vítimas dos pequenos punhais e a paz será eterna. Enquanto cá andarmos, estamos sujeitos às diversas facas, umas mais mansas que quase nem se sentem a espetar e, que quem as espeta fá-lo como se estivesse a orar sem lhes adivinharmos as intenções, não lhes podemos furtar, e outras mais declaradamenete, satisfazendo-se de pronto.
Nalguns casos, somos nós que nos pomos a jeito e nos metemos por ruas estreitas, escuras e mal frequentadas.
Poderia ter utilizado uma outra imagem para traduzir a mesma ideia, talvez a daquela pedra que se deixou colocada ali sobre terreno liso e que quando a retiramos abrigou uma colónia numerosa de vária bicharia, alguns que aparecem a hora certa.
Há pessoas subliminarmente sofisticadas, que chegam a dar um ar de abandono de si mesmas e dos outros, pessoas que quase se confundem com os antigos missionários cristãos que invocam não ser e pedem quase licença para existir, enfim... pessoas curiosas, que nos induzem em erro, mas que ao contrário dos canzarrões de má catadura que dormitam pelos cantos, enovelados, se ocultam em si para mais tarde  fazerem tiro ao alvo, às vezes  acompanhado de palavras doces para manterem a patine do dócil feitio.
E porque não nos encontramos no Chiyo on-ji e abrimos a alma aos esplendores, apanhamos com estas florescências paradoxais, tão características de gente esverdeada/acastanhada.
Incrédulos(as) ficamos sempre, já que nem um ruído as precede na maioria das vezes.
Parecem carpas a acordarem-nos no silêncio da noite, mas têm as suas vantagens e a principal é essa mesma, acordarem-nos, lembrarem-nos que continuamos cá em cima e que não sabemos de cor o nome das ruas por onde caminhar. Fazem-nos desabrochar de novo e crescer como uma criptoméria.
Criptoméria rima com artéria dou-me conta e o pensamento flui e diz-me que nos tornamos mais fortes para melhor podermos conduzir o sangue do coração para os pulmões e para todo o organismo.
Estas pessoas ao fim e ao resto actuam como os convólvulos, mas renovam-nos os bons-dias.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

DEAMBULANDO

...ENQUANTO A CONSCIÊNCIA ME EMOCIONA


Descubro que sei pouco da Vida e pergunto-me porquê.
Não encontro uma resposta.
Toda a gente guardou segredo até agora.
Parece que até aqui só armazenei pedacinhos do vivido, do experienciado, do intelectivo. Armar o puzzle não é fácil.
Tivemos o sonho de um dia ver o Dia, atirando as sementes à terra, geramos esperanças de lucidez.
Essa esperança está suspensa. Deixa-nos sós.
Preciso de reunir todos os sonhos. Quero ser surpreendida com essa realidade.
Havia um quadro do meu pai que significava o Outono da Vida.
Não sei se estou no Outono da Vida, se no Inverno, desconheço quando vou tomar o cálice, essa sim será a grande surpresa.
Sei que entre acasos e esquinas a Vida se vai fazendo e que há acordares lindos, os mais lindos são aqueles em que sonhamos que estamos tão próximos uns dos outros que nos encontramos por fim e acordamos quando essa aproximação se torna Encontro.
Estar na Vida requer iniciação, mas viver é um estado constante de iniciação e é este o ponto essencial.
Não sei exactamente o que é sabedoria, em contrapartida sei bem o que é imbecilidade.
Não sei se a sabedoria é uma integração de tudo que armazenamos e a sua actualização ou chegamos à conclusão que viver o dia a dia é o Voo Maior.
Os Outros são mistérios indecifráveis para nós, embora os queiramos sempre descodificar. Na superfície são máscaras, mesclados de historietas, vulgaridades, animalidades, confusões de imagens.
Às vezes nós próprios somos paradoxais, chovemos e fazemos sol ao mesmo tempo. Também nós somos indefinivéis e misturamo-nos na atmosfera como o fogo e a água.
Haverá um dia em que nos vamos contemplar e é um mistério mudo. É a nossa existência que é tocada em toda a sua potência, em toda a sua essência.
Olhamo-nos e talvez seja essa a nossa primeira morte, mas como estamos vivos é como se regressássemos em vida à Vida, pelo real olhar.
Chegamos àquele momento de nos olharmos e escutarmos, mas um olhar sobre todas as camadas que somos, todos os pensamentos, todos os sentimentos.
Não sei se esse olhar que desagua como um rio no Oceano que somos, não sei se nesse preciso momento, a sabedoria toma conta de nós.
Será essa verdadeira união, esse regresso ao Uno, esse acordar a verdadeira sabedoria?
É tudo tão silencioso: a Vida, a Morte, a Sabedoria não se fazem  anunciar.
Claro que sei que a natureza do aroma depende do modo como viveu a árvore, dos cuidados que teve...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA



VER O VERÃO A PASSAR

FASES

Ando numa fase em que me parece que já foi tudo dito e que nada mais resta dizer.
Falar, escutar parecem-me uma vertigem.
As palavras parecem ter deixado de possuir valor. Há intenções muito diferentes para palavras iguais. Sempre houve, dizem. Mas não com com esta intensidade. Por exemplo, a palavra DEMOCRACIA, todos nós sabemos que para alguns o seu significado é usurpação de poder.
Hoje já pouca gente pode invocar argumentos morais para falar.
Tenho a sensação que se varrermos todas as frases, palavras, letras, tudo ficará na mesma.
Não é por ser Verão que esta tépida indolência grassa.
Nunca se leu tanto, suponho. Nunca se teve acesso a tamanha informação, nunca houve tantos mestres, tantos discursos.
E não são as classes governantes as culpadas de tudo isto, de se escrever tanto e de se falar tanto e de tanto se NÃO ouvir.
Se lermos o que se disse, o que se pensou e analisou nos séculos anteriores, verificamos que tudo já foi dito, que se fizeram verdadeiras sangrias das palavras, que estas serviram para tudo, para festejar inclusivamente a alma nacional, como fez Camões ou Jaime Cortesão, este a outro nível embora.
Já ninguém impressiona o seu semelhante por falar ou pensar bem.
As congeminações tornaram-se muito fáceis.
Ninguém já estilhaça vidros ou cristais com a sua voz.
Estamos num mundo sórdido e absurdo e lembro-me de Gunther Grass no "Tambor de Lata".
Tal como ele, também não me apetece tirar conclusões e se calhar apenas servir-me dum tambor de lata como o Oskar, a personagem do seu livro, para traduzir as minhas ideias e sentimentos.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

BOA NOITE

FOTAGRAFIA DO DIA



MAIS UM DIA

AS MINHAS PÉROLAS

A angústia começa a ser companheira de muitos portugueses e portuguesas.
A esperança definha.
Todos os dias somos massacrados, por muito simples que se seja, acaba-se sem entusiasmo e triste e este sentimento explica muita coisa.
Os gostos, as paixões, as predilecções começam a ser grosseiros. Há fragilidade moral.
Assiste-se cada vez mais as pessoas refugiarem-se em pequenas coisas.
Duma maneira geral, não são capazes de ir ao fundo das questões, de penetrar os acontecimentos, não vão para além das imagens que são fornecidas pelos média.
Sente-se um certo atordoamento no ar e de vez em quando trazem uma rajada do passado, afinal recente, a ilusão duma nova realidade.
Assistimos e fazemos parte duma espécie de loucura mansa. As amarguras e frustrações exprimem-se por certas poses ou cantorias descompassadas e desafinadas. Os meios quase todos, a não ser os mesmos clubes de políticos e seus acólitos, tornaram-se hostis e estranhos.
As pessoas tiveram a ilusão de pertencer algures, de ter eco. Os tempos da social-democracia à portuguesa, do Cavaquismo, do Guterrismo, forneceram essa ilusão, sentiam-se na companhia dos mais endinheirados, ausentaram-se das suas classes de pertença, foram seduzidos por quimeras duma forma mecânica identificaram-se, ficaram privados dos laços de amor-ódio do ambiente original.
Agora estão a retornar a si próprios, são restituídos.
Não se reconhecem, os laços romperam-se, não reconhecem esses lugares como seus.
Continuam com uma imprectível réstia de esperança, como se fora a compensação da crise que atravessam.
Tentar entender tudo isto é fundamental, perceber que duma maneira geral, se tentou esquecer a anterior condição, através de créditos bancários que os Bancos ofereciam a quem não tinha como pagar.
Perceber que muitos dos políticos e banqueiros que nos desgovernaram, com Cavaco Silva à cabeça, porque verdadeiro fundador desta quimera assente no neo-liberalismo, gente saída do povo e que a ele não queria voltar, fazendo tudo para esquecer as suas anteriores posições, caso contrário não passariam de quadros superiores e não se alcandorariam a ricos e muito ricos. Gente que se apoderou do 25 de Abril.
Criou-se um país abstracto, dentro duma Europa abstracta, com povos e problemas reais.
O objectivo da maioria hoje é manter a esperança, mesmo que assistam à sua morte e funeral.
Tudo isto é assim ou não é assim, mas eu sinto-me despaisada, enojada e preciso de levar este país a sério porque é o meu, PRECISAMOS.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA




EN PASSANT

É TUDO POR BEM

O que tens que fazer é...
O que precisas é de...
Se fosse comigo reagiria assim...
Sê positiva, senão...
Porque sabes... o que se deve fazer é...:

Não proferem desejos, produzem sentenças.
E lembro-me da Ilíada naquele verso que dizia "Terríveis são os deuses quando nos aparecem às claras".
Tentam pessoas comuns amaciar-nos a existência. Sem temores são incansáveis a cinzelar-nos atitudes, talhando-nos as almas, burilam-nos as palavras e tentam fazer-nos nascer de luz.
Pessoas comuns que se substituem a psicólogos e fazem reaparecer um espírito adversário à liberdade de sentir.
Mais do que dizer aos outros, dizem a si próprios que são capazes de renovar a esperança e de fazer crepitar a fogueira.
Esta mentalidade racionalista em que apenas se valoriza a eficiência e a transcendência não tem lugar, em que se confunde dar sentido à vida, com gozar a vida, estas palavras que nos dizem para nos tornarem personagens  e não pessoas.
O que é preciso é apresentar-se bem, somar vitórias, andar muito a pé, fazer ginástica, dietas várias, ter uma grande actividade sexual, ser reduzido a um corpo, a carne. Lembro-me de em 2008 ou por aí, a televisão estatal apresentar reportagens sobre trocas de casais. Que sentido tem isto?
Anda tudo baralhado, parecem traças à volta da luz. Identidades e pensamentos baralhados. Falam inglês e não sabem português e pensam europês. Sonham com carros topo de gama, mas nem de burro sabem andar. Emerge uma geração espontânea que se espalha e é enxertada nas gerações mais antigas.
As classes políticas dominantes feitas desta gente que nem conjugar um verbo sabe, mas que se pretendem luminosos, dão conselhos a toda a gente.
São muitos e cercam tudo, os mais velhos ascendem a um lugar nas universidades seniores, se possível, recorrem às plásticas, endividando-se e o inglês é a porta aberta para a Felicidade e não só através do mercado de trabalho.
Pensar, ler, ter direito a estar triste, quase não é permitido. Estas traças que se julgam borboletas lindas, são uma espécie de "copy/paste" e replicam-se  e copiam comportamentos, a maioria das vezes sem saberem o que copiam.


terça-feira, 7 de agosto de 2012

POR CORTESIA MINTAM

Houve tempos em que nos mentiam e nós não gostávamos.
Hoje chamam transparência a qualquer coisa muito opaca mas sem vergonha, que não anda muito longe das práticas fascistas com cenários cinematograficamente democratizados.
Vivemos numa espécie de Inferno Dantesco onde os diabos se apresentam como virgens. Parecem alegres mas são sinistros e fazem-nos reviver a Idade Média e os seus pesadelos. Não habitamos a I.M, mas conhecêmo-la também através  destes capitalistas desenfreados e seus acólitos  que fabricam novas Idades Médias e não apenas com cenários de cartão como nos filmes.
Não gosto de psicologizar a sociedade ou psiquiatrizá-la, senão diria que estes capitalistas sem adjectivo, porque todos os que conheço esbarram nesta espécie, se encontram demasiado depressivos, que caíram numa tristeza profunda e lançam as suas lanças contra os seus vassalos como novos Césares que não são.
Continuo a pensar que a vida é muito curta e a deixar marca para a posteridade, não deverá ser pela via do crime.
Estes capitalistas de agora, nem sei se é assim que se deve chamar a esta gente, não destroem empresas nem famílias que delas dependem, mas países inteiros.
Sabemos que foi a vaidade que levou Oliveira e Costa a fazer e desfazer um Banco e a ajudar o país a afundar ainda mais, este é apenas um pequeno exemplo, mas e os outros?, o que leva esta gente a querer divinizar-se desta maneira? Será para escapar das suas responsabilidades enquanto pessoas? Será por se sentirem demasiado frágeis e vulneráveis que necessitam de apunhalar tudo e todos que encontram pela frente? Será que são tocados de alguma demência genética e que necessitem de se rodear de todos os "senadores empenhados" que encontrarem? Será que se querem libertar de alguma cólera escondida, de impotências várias e insuflam os seus caracteres desvairados, tão cheios de pánico, de milhões e milhões de euros, dólares, ou outra moeda qualquer?
Estou a lembrar-me não do tio Patinhas que esse era um bocadito mais  simpático na sua banheira cheia de moedas, lembro-me  de Horta Osório no meio da sua depressão, dos seus olhos arregalados e principalmente da sua afirmação "houve precipitação  e pouca transparência no BPN".
Embora não perceba perfeitamente o que os move num período tão curto que é a vida, a quererem  tamanha riqueza  e os considere nervosos, vulneráveis, vulgares, continuo  essencialmente a achá-los gloriosos. TÊM A GLÓRIA DOS POBRES DE ESPÍRITO.
Por cortesia mintam, tornar-se-ão menos impertinentes a meus olhos, já que tenho que os considerar ainda pessoas. 

sábado, 4 de agosto de 2012

DOIS REGISTOS

Tenho dado dois registos de mim, um mais ligeiro, no facebook e um mais sério, mais confidente; quer uma observação quer outra, a mais estruturada ou a mais momentânea, são testemunhas do que sou como ser pensante, receptor e emissor, como vivo com a realidade que me rodeia, fruto da minha experiência, necessariamente limitada e imperfeita.
Fica ainda uma parte sempre indefinível, ainda que inventá-la seja a minha preocupação mais funda.
A parte confidente é a testemunha da nossa realidade.
No blog considero errado dirigir uma petição a quem despreza a sua reputação.
As pessoas poderosas têm alguns elementos a seu favor, como as boas relações que os ligam a outros igualmente poderosos e as suas influências misturam-se.
Nesta parte, a confidente, a do blog, há um saber maior da força que me comove a ponto de desejar saber a génese das coisas, é uma força mais espiritual, há um entusiasmo maior, gerado talvez pelo próprio momento da escrita mais aquilo que a precede que digo eu pertencer ao espírito, porque se quer compreendido.
Na outra parte, no perfil do facebook há um outro Eu, entro no mundo em que cada um actua, excluindo o confidente, o interlocutor.
O confidente é a testemunha da nossa realidade, sem ela a vida seria insuportável e limitada a uma experiência sem consequência do ser. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

BOA NOITE

FOTOGRAFIA DO DIA


O TAMBOR DA MARIA

PAÍS POLÍTICO EM FÉRIAS

O país está a desaparecer.
Desaparecem as grandes Companhias Nacionais, como a TAP , que o Conselho de Ministros deixou resolvido antes de ir a banhos e, os sectores estratégicos estão a ser vendidos, em saldos últimos aos amigos dos favores e das comissões.
Portugal é actualmente um escritório de representações nacionais e estrangeiras, com o manager Borges a tratar dos contactos e das comissões a distribuir.
Desaparece com o país, a vergonha de cometer crimes.
Desaparece a sensação de ridículo, aquele ridículo que caía da cabeça aos pés quando alguém sabia que estava a fazer mal.
Desaparece a vergonha por mentir. Mentir é feio, dizia-se.
O país político foi a banhos, decrépito, rafeiro sem imaginação, medíocre mas violento no roubo, sombrio.
Para falar deste tipo de miseráveis é preciso ter engenho extremo, o que no meu caso é apenas tentativa, caso contrário passaremos a dar sentenças, tal como eles nos fazem a nós.
Esta gente fútil, cansada de ganhar dinheiro sem trabalhar, governantes que apesar de tudo chefiam um povo que não merecem, sentem-se cansados, imagine-se.
Os portugueses são um tratado de paciência para quem nos quiser estudar.
Somos feitos de paciência contida, de reserva e silêncio.
Claro que este domínio interior se transbordar, dará lugar à tragédia.
Estes últimos governos impõem-nos austeridade que traduzem pelo medo que têm dos ricos deixarem de ser ricos. Numa visão estreita a que chamarão pragmática, açambarcam tudo que podem, com medo do dia de amanhã, em que já não haverá mais nada para roubar, "atrás de mim os que vierem que fechem a porta", tem sido sempre esta a regra.
Dá calafrios até, assistir à paciência que o povo tem tido, mas esta paciência é feita de sacrifícios profundos e marca esta terrível linha de combate que é a autoridade.
O povo português está em posição de olhar firmemente e sem arrebatamento algum, sem o peso da culpa, embora sendo pecador, mas com muita fadiga dela.
Temos que  enfrentar os inimigos, deixando as nossas perplexidades e penas e deixando, essencialmente de sermos figuras num quadro de Greco, à espera dum milagre.
Estala-nos a alma, é preciso abrir o peito não às recordações, mas a quem nos aniquila e fazê-los regressar  de onde vieram.
É urgente voltar à alegria, a viver e esta é uma boa altura para começar.