domingo, 22 de setembro de 2013

OS DOMINGOS SÃO DIAS QUE TÊM HORAS

Dias em que podemos voltar as costas aos minutos.
Dias em que aprendemos a desabituar.
Dias em que podemos caminhar até à fantasia.
Dias em que podemos ficar molemente num sítio ou noutro.
Dias em que podemos saltitar em busca de novos campos de visão.
Dias em que as pessoas se podem dissolver nas suas ondas de melancolia.
Dias para voar mais facilmente.
Claro que há pessoas que se encerram em si mesmas, como bichos-de-conta.
Já lá vai o tempo em que o domingo era dia de descanso, da família, da roupa melhor, do cinema e dos passeios.
Tudo passa e os domingos já estão violados e há muita gente que trabalha.
Os domingos deviam ser os tais dias onde se encontra a paz.
Mas é bom não esquecer que ainda há gente que aproveite as tardes de domingo para dançar.
Por aqui, apenas as borboletas dançam, já que as florzinhas estão exaustas sob este grande calor do segundo dia de Outono.

sábado, 21 de setembro de 2013

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

E A MELGA VENCEU

Não consigo dormir. Entre o 1º voo duma melga e o 2º, lembranças e mais lembranças:

Naturalmente fazia redacções e colocava palavras "caras", aquelas que escrevia previamente num caderninho. Procurava as frases em que poderiam encaixar essas palavras e assim mostrar que lia, que sabia palavras difíceis e que outras não sabiam. Tinha 12/13 anos.

Ruborizava, ruborizava muito, porque estava calor, porque tinha vergonha e era aquela sensação inexplicável que me levava sempre a procurar água para lavar a cara.

Apetecia-me escrever nas paredes, gosto de fulano, detesto beltrano mas não podia e, em substituição, escrevia papeizinhos por todo o lado com aquilo que pensava.
E tudo caminhava incompreensível, quase nunca havia alguma coisa a apagar e a esquecer.

E chegam-me estas esfarrapadas lembranças da infância como um tesouro cheio de mofo. Também havia melgas na rua onde morava porque havia árvores e quintal na casa e o meu pai "caçava-as" com almofadas e eu ria-me quando via, achava que era um bicho tão pequeno que não devia causar tanta inquietação e mesmo indignação. Apetece-me rir e rio.

Escorrem-me memórias dessa época e de outras, algumas pegam-se a mim como uma segunda pele.
Lembro-me de me sentir excluída dos mistérios da família e não só.

Matei uma melga, mas afinal são duas, o zumbido continua, desisto e continuam a deslizar outras memórias e atrapalham-se umas às outras, mas há uma que é assim: "era meia-noite em ponto, quando eu me fui deitar e o diacho da pulga não me deixa sossegar. Tome lá Sr. Polícia, leve a pulga para a prisão que o  diacho da pulga só me faz comichão", dizia a minha mãe para me adormecer fazendo-me cócegas quando eu não queria pegar no sono.


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

MANHÃS DE NEVOEIRO


DESLIZAMENTOS (reposição)

Silenciamos todos em tardes e noites lisas, uns em distracções sérias outros não se desnudando.
E vim aqui para dizer isto? Para dizer que a sensação é a de queda quando se dorme.
É tudo tão rápido, a vida é rápida e há movimentos que parecem precipitar-se e cair no mesmo plano.
As pessoas parecem sérias, mas são sérias e falsas.
Há dias em que ultrapasso a compreensão, vezes há que me aproximo de um pensamento mas jamais o alcanço, no entanto parece que vai sempre começar... e não raro se junta a uma procissão de pequenos pensamentos.
Todos nós sabemos fingir, mas há quem consiga fingir quase toda a vida com rostos concentrados e ausentando-se como se por um instante fosse.
É tão raro que os pensamentos se cruzem como ligeiras fagulhas de perspicácia entre as pessoas.
E lá está o texto a levar-me, a tomar-me e torna-se difícil reproduzir o que penso e o que sinto que me ocorre evanescente, leve, imaterial e fugaz.
As ideias como que emurchecem e fica um cansaço esquisito e eu reluto em conceder-me a ele e sacolejo o sono. Penso na palavra evanescente.
A esta hora é costume estar a dormir, mas hoje estranhamente penso em lembranças de coisas que não existiram. Deve ter sido  chocolate a mais.
Quero agarrar o pensamento mas não sei, tudo desliza e os olhos começam a ficar turvos e aflitos.
Vim escrever para me exaurir, mas surpreendo-me com certa sinceridade inconsciente.
A realidade parece rir de mim e de todos nós e volto à superfície, de memórias que se reproduzem e espalham e mudo os planos da existência.
Cerro os olhos e mudo de memórias.
Algumas surgem confusas outras, eloquentes.
Eu sei que não devo fazer perguntas à memória, mas acabo de as fazer, ela parece-me ouvir com atenção, mas não me responde ou sou eu que as faço com atenção para não ouvir as respostas?
Já que me projectei para dentro da noite e um pensamento qualquer se interrompeu para sempre, para sempre, espero que surja outro.
De repente me lembro que sempre fui ocupada e nunca tive tempo para sentir tédio, no entanto nestas ocasiões de alma franzida, a minha honestidade necessita de fazer balanços e subitamente como uma veia que começa a latejar passa-me a vida à frente.
Entrefecho os olhos, não, ainda não chegou o sono, aquele que faz dormir sem pensar.
Outro pensamento que chega: nunca fui prática, vivo improvisando muitas vezes e perco-me e falo muito e evito clarezas e digo de mim para mim: "não quero pensar nisso, mas penso".
Penso que se calhar foi reler o poema "Adiamento" do F. Pessoa que me induziu a estes pensamentos.
Até à próxima Diário, sabes que nem sempre escorro o meu sangue para as tuas linhas

domingo, 15 de setembro de 2013

NÃO, NÃO!

Não é um sentimento flutuante, iridescente, é duro e cada vez mais fixa esta sensação.
Vivo cansada. Cansada desta grande pausa branca.
Estamos todos ou quase todos, sem espaço.
Vermos o 25 de Abril dissolver-se e não é fácil, em especial para todos aqueles que o ajudaram a construir, que o viveram.
Esta sensação é de enorme impotência.
É preciso recomeçar tudo, mas há zumbidos no pensamento não obstante, não podemos desfalecer de desejos, esquecer tudo.
Há demasiada gente a dizer: não quero pensar nisso.
Precisamos de consciências iluminadas e não ligeiramente iluminadas.
As políticas a que estamos sujeitos, devoram-nos e tornam-nos impacientes.
Continuamos a aguardar os acontecimentos enquanto submergimos.
Submergimos até nas lembranças. As lembranças esfarrapam-se.
Vivemos dias grossos e sem luz.

Como gostava de ter laços na cabeça.

TIREM-ME DAQUI!