terça-feira, 28 de abril de 2015

UM DIA TRISTE E HÚMIDO SE APRESENTA

Os dias da "liberdade" andam em desacordo comigo.
Não tenho tempo para discutir com eles, contemplo-os apenas com o sorriso irónico de quem não está disposta a melindrar-se.
Dias de direita é o que são, coligam-se sempre para me lixar, prometem-me sol, mas quando chega o momento de o usufruir, negam-no.
Estou para aqui entre o sai e não sai no meu dia da liberdade, esta humidade e fealdade matinais desagregam-me, fazem-me sombra.
Estes dias estão a ter domínio absolutista sobre mim.
Ajustar-me a estes dias não me tem sido fácil. Sinto-me uma espécie de estrangeirada nesta "liberdade" a conta-gotas.
Não consegui ainda a máscara. Não criei aquela superfície que reveste as pessoas a partir duma dada idade, aquela segunda pele que protege a sensibilidade.
Tantos encontrões a vida me deu mas mesmo assim não adquiri a máscara.
Sou diferente, não há dúvida.
Temos que suportar a existência e só o conseguimos com as ilusões que criamos, as mentiras que a amparam.
É imperioso embeber a realidade em sonho para dela nos afastarmos.
É assim desde sempre.
Quando pego no papel e na caneta sei que é uma meia medida que me ajuda sempre ao êxito de tomar a outra meia.
VOU SAIR.

domingo, 26 de abril de 2015

Compay segundo concierto L´Olimpia


VISTAS SURPREENDIDAS

Duma maneira geral, levamos tempo a compreender. Satirizamos, muitos de nós o fazem, mas a questão da compreensão propriamente dita, continua lenta.
Há em muitos uma negação que não passa dum simples desdobramento daquilo em que acreditam sem saberem.
Muitos de nós têm ocasos  de alma, outros nem isso, nem param para que tal aconteça.
A uns governa a vontade indomável de ser do contra sempre a outros, são os intuitos do combate e de demolição que os regem. Outros ainda, são fogos de artifício e às vezes atingem o alvo.
Convicta estou que mesmo que não sejamos uns génios na análise, uns prodígios da palavra, temos por obrigação desarticular as personagens da comédia nacional transformando-os em seres grotescos que é o que são, de facto.
Os que vêem melhor, os mais lúcidos, os que ainda têm energia devem acusar com ímpeto o que está mal. Continuo a entender que acusando o que está mal se cumpre um dever.
Por vezes temos que nos defender de nós próprios porque as decepções são muitas e podem levar-nos a dizer e, mesmo, a pensar coisas que não devíamos.
Cada um de nós é muitos. Ocupamos vários papéis na vida e nem sempre é fácil não os baralharmos.
Temos, no entanto, um que nos é favorito.
O meu já o descobri há muito, é fazer de advogada do diabo, ver o reflexo, saber que a minha razão não é absoluta.
Não, não sou o médico de Ibsen.




segunda-feira, 20 de abril de 2015

estamos no tempo das chorinas


ENVELHECER, ENVELHECENDO

Um dia olhamos para o espelho e vê-mo-las caídas e dizemos: não pode ser, não tinha reparado nisto, não aconteceu numa noite apenas.
Uma manhã damos conta que não nos apetece dormir mais, que chega o que dormimos, que o cérebro dispensou voluntariamente uma parte do nosso repouso.
Verificamos que as distâncias começam a ser maiores e os hábitos se começam a consolidar mais e mais e damo-nos conta da fragilidade da nossa existência.
Este amolecer diário não é por si só o mais importante, o mais importante mesmo é quando a alma envelhece.
A alma tem que desdenhar de anos e séculos porque não se rege pelo calendário comum, quando a alma se mete no calendário, então é mesmo um caso perdido.
O espírito quer-se insatisfeito, com fome de absoluto.
Envelhecemos quando começamos a ter cavernas no espírito sem sabermos, como aquelas cavernas que algumas montanhas têm mas não se vêem de longe.
Há pessoas que ao envelhecerem pretendem ainda  viver em pouco tempo todo o tempo que lhes parecia ter sido perdido anteriormente e essas correm o risco de diluírem os escrúpulos.
Começamos a sondar cada teoria em que acreditávamos e a colocar vários anexos, diversos apêndices, longas ramificações.
Confesso que não sou de moer o já moído, talvez porque  sempre me recusei a ser eco, gosto muito de ser voz.
Quando não se aceita o novo, quando se considera que a vida vivida é a coisa mais importante, aí então está tudo perdido.
Não, a essa fase ainda não cheguei, sempre gostei de dar a vez e acatar as novas teorias.
É preciso estar atento e vigilante, os perigos são muitos e os maiores vêm de dentro de nós.
A inteligência sempre me pareceu um pau de dois bicos: há uma parte dela que se usa como os felinos se servem da sua agilidade para saltar, outros há que a usam para ocultar as suas expressões primárias e fingem superar a natureza.
A inteligência para mim, tem que saber que não é nas consequências e sim nas causas que a purificação se deve dar.
Continuo, por ora, a pensar que a minha estrada é recta e espero sempre estar sentada sobre o sol no momento do sol nascer ao fim da estrada.
Às vezes não faço bem as curvas, mas ainda me preocupo com isso.
Continuo a dirimir conflitos com os outros e comigo própria. Continuo a não achar bem vinda a lassidão de espírito.
Continuo a ser surpreendida e o meu arsenal de defesa a ser diminuto.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

sábado, 11 de abril de 2015

TEM HORAS

Gostara eu de estar cheia dum sentido de leviandade que atingisse de morte todas as coisas sérias, profundas e um tanto dolorosas.

quinta-feira, 9 de abril de 2015