segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

QUE SE RENOVE A ESPERANÇA

Escrevo por impulsos. Nesses momentos apetece-me voar mais alto e mais longe.
Nunca vi o futuro, mas às vezes suspeito do que vá acontecer.
Parece-me tudo colado com pinças, quer na vida pessoal quer na colectiva, que dum momento para o outro se podem desprender.
Não tenho, não temos já momentos triunfantes.
Estamos em época de balanço e de reavaliações, mas cada vez se torna mais difícil proceder a estes registos.
O nosso mundo não se encontra almofadado, embora por vezes pareça. Por muito que nos resguardemos no passado, este pôs-se em fuga há muito.
Hoje, sonhei com instantâneos desbotados e gaseificados.
O ano de 2018 foi-me/nos muito mau.
Pessoalmente, morreram-me quatro pessoas de referência, para além de todos os lutos que continuo a fazer sem tréguas.
Ainda não consegui transformar toda a negatividade em algo menos duro, embora consiga escutar atentamente algum meio em meu redor - o cântico dos pássaros.
As emoções e sensações continuam vivas. A vida é luta constante.
Fui sempre da revolta activa, nunca me resignei à antecipada fatalidade, no entanto sinto-me uma espécie de resistente congelada umas vezes pela doença outras, pelo coração.
Fui obrigada a dizer adeus àqueles que não queria.
No ano de 2018 a morte disseminou-se entre os meus entes queridos, em 2019 só me resta cumprir aquela frase de Jesus curando o paralítico: levanta-te e caminha.
Que venha a esperança depois dos pecados expiados.


terça-feira, 15 de maio de 2018

VÉU DA VIDA

As nossas ideias, as ideias do povo simples, não se podem transportar para as esferas do poder.
As nossas ideias são independentes dos poços de petróleo, a única coisa que interessa aos poderosos. O espírito deles, se é que o têm, é constituído de buracos, buracos vazios.

Não vivemos fora do mundo, estamos na vida, no entanto somos burros na maior parte das vezes.
Há demasiada gente a esconder-se atrás das palavras dos outros, quase sempre acomodam-se nas suas pantufas.

Vivemos numa civilização de loucos. A maioria das pessoas nem o real conhecimento da sua existência possui.
Para alguns esta civilização é uma espécie de templo onde oram, sem reservas, onde guardam a sua verdadeira loucura.



domingo, 13 de maio de 2018

IDEIAS À SOLTA

Olha-se para o espelho de anos, meses, dias passados.
A vida dá-nos a volta.
O ferro quando submetido a uma grande força, amolece.
Fechamo-nos sobre a vida ou a vida fecha-se sobre nós?
Os nossos amigos morrem, uns a seguir aos outros, é doloroso ficarmos sem uma parte de nós.
Momentos há que a essência do nosso mundo se vira do avesso.
Num momento tudo se dissolve em nada.
Os domingos são dias que revelam, quase sempre, alguma coisa dos despojos da vida.
São dias de balanço, o pior é quando sentimos a cabeça oca.
Não sei se é bom ou mau não desejar muito. Nunca estive nesses lugares de muito desejar, daqueles que não se conseguem realizar. Os meus horizontes de aventura não me deixam de in/satisfazer pela sua curta dimensão.
Por vezes temos ligeiras divisões de consciência. Desconforto, desconforto ascético? Insatisfação, insatisfação intelectual?
Somos espíritos livres que vivemos segundo as regras dos seres aculturados, domesticados, acomodados, caindo naquela perigosa contradição de que outrem é verdadeiramente melhor e mais sério.
Quase todos nós temos pontos que nos desequilibram.


sábado, 28 de abril de 2018

HOJE APETECE-ME FICAR COMIGO

A mim ninguém me leva a sério, penso calmamente, quando toca o telefone e ouço do outro lado da linha: - tens cá uma força inigualável...
...mas não me levam a sério, replico.
Não te levam a sério como a outros, não queres dizer antes que têm medo de ti por falares a verdade?
Apeteceu-me desligar o telefone mas era uma pessoa muito amiga e que reivindica conhecer-me bem. Que mais poderia eu fazer senão ouvir?
Às vezes, muitas vezes, formulo pensamentos que me inquietam o espírito, há certos dias em que me acontece mais do que outros e o sábado é, seguramente, um deles.
Hoje apeteceu-me estar comigo para falarmos aquela linguagem das mariposas, a embrulhar pensamentos e ideias.
E penso - como seria bom esse estado beatífico de não pensar, de certa inacção, para logo pensar o contrário- como seria enfadonho.
Como gostaria de extirpar de mim todos os egoísmos, até este da acumulação de conhecimentos e de mim própria.
Sermos nós próprios, não abdicarmos de o ser em todas as ocasiões, não passará de mais um luxo egoísta?
Mas o contrário disso não será sobrevivermos confundidos com todo o mundo?
Fico-me com este pensamento.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

VENDO BEM AS COISAS

Vendo bem as coisas tudo se dissolve em nada.

Vendo bem as coisas podíamos estar todos no manicómio.

Vendo bem a democracia na sua expressão mais simples significa fazer aquilo que acontece.

Vendo bem quando vivemos em estado de sonhadora nostalgia, não se vive.

Vendo bem a maioria das ideias não chegam à alma. Todos querem ser racionais e a racionalidade é quase sempre a capitulação da alma.

Vendo bem nunca há liberdade quando nos escondemos nas palavras dos outros, não passando de cobardia.

Vendo bem o que me interessa mesmo é o momento em que conseguimos saltar a vedação.

Vendo bem a minha ruga de reflexão entre os olhos permanece e não há creme que a disfarce.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

SÃO TANTAS AS COISAS QUE SEI QUE NÃO DEVIA SABER

à amiga GL que me incentivou a voltar aqui


SEI que há muitos pedantes progressistas.

SEI que há gente que só cita gente que tenha conquistado certa fama.

SEI que os senhores/as da "fina flor", seja da política, das artes ou até do facebook são inexpressivos nem que para isso utilizem as expressões do barro mais grosseiro ou da fina porcelana.

SEI que há pessoas que voltam sempre à inteligência funcional, deixando de parte a importância dos acontecimentos em si mesmo.

SEI que, por vezes, sou atacada por uma estranha fadiga de vontade.

SEI que a vida palpável só deixa apreender metade das relações entre os seres.

SEI que só os homens e as mulheres geniais têm o dever de atacar, porque têm em si a verdadeira força para o fazer.

SEI que devia deitar a língua de fora a quase tudo o que sei.