domingo, 4 de julho de 2021

48 ANOS

Estamos em vésperas de eleições autárquicas, o crescendo dos boatos continua, apelidados agora de 'fake news' já que a subalternidade aos ingleses tem vindo a recrudescer. A oposição que deveria ser uma máquina propulsora dos acontecimentos, é apenas um local deplorável de conquista interna de mais lugares ao sol para famílias e amigos, à semelhança de quem governa. As oposições em Portugal são pseudo-oposições. Hoje, as pessoas podem falar, dizer o que lhes vai na alma, mas a tirania mantém-se e está ao virar da esquina e se as pessoas empregadas ou à procura de emprego disserem o que pensam, sofrem na pele essa liberdade de expressão. A liberdade de expressão não está disponível para todos. No tempo do fascismo não havia liberdade, hoje há a liberdade do arbitrário e esta fere, fere muito os princípios do Abril democrático. TEMOS TIDO ADMINISTRAÇÕES E NÃO GOVERNOS, PARADOXALMENTE HÁ 48 ANOS, O TEMPO QUE O FASCISMO DUROU ENQUANTO REGIME. Os governos têm sido franjas rotas de antigos poderes. A compreensão dos interesses económicos deste país para quem o tem comissariado é sempre a mesma coisa, pedir à CEE, ser-lhe submisso e empenhado, empurrar com a barriga os problemas e meter nas funções aqueles que as herdam. Desde Mário Soares, o social-democrata mais conhecido no estrangeiro, que iniciou com os contratos a prazo, submetendo-o ao capital nacional e estrangeiro, que é assim. Não se trata de atirar setas, à vez, aos dois partidos que têm governado durante estes 48 anos (PSD/CDS e PS), porque ambos têm a mesma matriz. O conceito de democracia que existe não tem nada a ver com as desigualdades sociais. A economia nacional é vista como o dinheiro que cada um tem, a sua energia física e moral, por isso a corrupção aumenta todos os dias, tornando-se um dos maiores inimigos desta sociedade. A revolução do 25 de Abril não era e não foi, aliás começou por ser um golpe de estado a quem o PCP deu a mão para o povo agarrar, mas imediatamente foi capturada pela alta burguesia do PS com Mário Soares/Frank Carlucci & Kissinger. As pessoas inicialmente interessadas na revolução foram-se deixando capturar por estes interesses opressores e domésticos, a casa e o emprego. Hoje, desinteressam-se por tudo o resto e estão com a tendência para olharem à sua volta, na esperança de encontratrem alguém que personifique aquilo que seria a sua própria vingança e descrédito na justiça cada vez mais inacessível e desfavorável. O POVO PARECE QUE GOSTA DE OBEDECER, QUER SER INDEPENDENTE E SUBMISSO AO MESMO TEMPO. O povo achou inicialmente que o seu voto era a sua liberdade e enfrentou todas as adversidades e continuaria a enfrentar a realidade se o seu destino fosse justo. No tempo do Império Romano de que nós fazíamos parte, houve as invasões dos bárbaros, esses desconhecidos povos do Norte, hoje a invasão é feita pelas elites políticas nacionais e internacionais. Quiseram destruir o sentimento de classe mas não conseguiram. Hoje, temos uma sociedade mais estratificada do que nunca, embora só as classes mais altas façam uso da consciência que têm disso. A paixão colectiva dum povo já não existe, logo nada se vai transformar para melhor. FALTAM CIDADÃOS. Ninguém se empenha nas lutas, mesmo os profissionais que auferem ordenados para cumprirem essa função. Portugal entrou numa época deveras perigosa pela saturação do povo. Os rostos das pessoas tornaram-se impassíveis, todos iguais, agora ainda mais pela força da máscara. O país morre lentamente com o niilismo dos seus valores. O ódio e a ambição aumentaram. As classes do poder, as novas burguesias saídas da revolução inexistente, aliadas às velhas burguesias, distribuem-se em relação de subordinação e ordenação e vemos isso até nas presentes autárquicas... e como diria uma personagem dum livro da Agustina "Em Portugal não há partidos, há clubes empenhados em não decepcionar a massa associativa".