segunda-feira, 18 de julho de 2022

PARADOXAIS ESPÍRITOS

Duma maneira geral, as pessoas não se transcendem ao que seja individual e local. Não se esforçam por seguir ideais que as conduzam. Por mim, vejo-me neste paradoxo como paradoxal espírito que sou, sendo uma portuguesa comum que é: por um lado, ter piedade pela ignorância e erros, acrescentado de ilusões e por outro, indignar-me e impacientar-me com a forma de ver a sociedade como um organismo, sujeita como outros organismos animais a leis que superam a vontade dos indivíduos por que é constituída, esta ideia romântica que ainda permanece em mim e em muitos/as como eu, como se fizéssemos parte do Séc.XIX. Por vezes sinto-me a casar impossíveis, a ligar os Pólos. Gostara eu do meu Portugal ser um país onde não faltasse comida, habitação, educação. Onde se praticasse Justiça. Gostara eu de perceber se este povo sem as condições adversas em que vive, em que a maioria de nós apenas luta pela sobrevivência, sem qualquer hipótese de pensar e elevar-se a mais nada, gostara eu de saber se seríamos diferentes. Não estarei certa que a causa da nossa decadência ao longo de séculos se radique na nossa personalidade enquanto povo. Gostara eu de saber se não fossemos tão pobres atingiríamos a virtude da altivez interior, a dignidade de pensar por nós próprios, deixando de ser submissos de carácter a todos que nos acenam com o vil metal. Gostara eu de saber se seríamos aquele povo que alienaria a generosidade lusa ao orgulho de não nos mostrarmos sempre acocorados, sempre nesta encruzilhada, neste(s) eterno(s) paradoxo(s).