quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

MUITO CERTO MESMO



Uma das coisas boas da vida é termos a certeza que depois da tempestade vem a bonança.
Todas as estórias que conhecemos estão cheias de sombra e luz, se olharmos para elas serenamente, verificamos isso.
O ano vai-se findar, outro se vai estrear, mas foi sempre assim desde que conhecemos o mundo.
O mundo anda sem rumo, pensamos, mas sabemos bem que outros antes de nós, muito antes, pensavam exactamente o mesmo, e isso alivia-nos, corrige-nos os modos e os dizeres.
Arejemos as palavras!
É preciso desamarrar as verdades.
A vida é composta por momentos e lugares fundidos uns nos outros.
Sabemos porque conhecemos e temos experiência, que muitos de nós aspiram, desde cedo, a controlar as suas vidas e mesmo a daqueles que se encontram à sua volta e sabemos que há gente que nega isso, mas também temos a certeza por constatação que a vida é indomável, não se deixa conter num corpo.
Sabemos que a nossa memória é curta, que o tempo germina na sala e no corredor e que se tomamos posse de mundo, no momento em que desentorpecemos um pé ao mesmo tempo que reclinamos a cabeça na música a seguir, temos que encarar os sons ao cair das teclas.
O futuro nunca deixa de existir.
Todas as nossa inquietações e frustrações se transformam e um dia se desvanecem, todo o estendal das nossas privações internas o vento leva-as.
Tudo se transforma, tudo passa, respiramos e descobrimos que sabemos rir e sabemos chorar e que mesmo as chuvas compridas dão lugar ao sol, o sol à lua e a lua de novo ao sol.
Como é bom contarmos com esta certeza!
Enveredemos pois por estas amenidades.
Saudemos o ano que chega!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

SOMOS "TODOS" ARTISTAS



Nem tudo é negativo!
A fotografia veio abrir caminho a um novo olhar sobre a realidade.
Os japoneses já o sabiam, a fotografia é disciplina de escola para educar o olhar.
Antigamente, só os artistas julgavam o carácter das coisas, agora, a qualquer virar da esquina, vemos gente a clicar na digital (no outro dia, vi um operário da construção civil, à hora de almoço no Porto, a fotografar pombos).
Há muito tempo eram apenas os pintores, os únicos que, através da sua arte, tornavam os seres imortais, hoje qualquer um de nós, tem esse "dom" através duma máquina fotográfica.
Há 3/4/5 anos a esta parte, no nosso país, assistimos a um boom de fotógrafos amadores.
Todos querem deixar obra. Muitos dão-se a conhecer no site Olhares, que existe para o efeito.
Buscamos um significado para as nossas fotografias e as dos outros. Inventamos ideias.
Somos imortais através delas.
Às vezes a fotografia serve de espada, fere, desfaz a alma. Outras vezes, leva-nos ao nada, de tanto se tentar superar, não existe exactamente.

Há uma espécie de "second life", vive-se uma vida através da fotografia que é a de um olhar sem temor, um olhar para dizer aos outros, talhando o que na alma mora.
Temos ao nossso alcance muitas maravilhas que apenas aguardam para serem reveladas.
Cada um de nós pode recordar histórias e visões de infância ou não, com fotografias envoltas em neblina; podemos olhar através de portões de marfim, uma floresta densa e encantada apenas com o clic a uma árvore.

Deixamos de ser sábios e passamos a ser felizes nesses momentos.
Algo mudou e o que mudou aqui vai ao encontro da nossa felicidade.
A utilização da fotografia tornou-se universal ou quase.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

PASSEIO ATÉ AOS NATAIS DA MINHA VIDA



Natais da minha infância, Natais de avós, Natais de magia, com um triciclo a escorregar pela chaminé e eu e o meu irmão, a vermos as pernas ao Pai Natal, mais eu do que ele.
Apanhávamos musgo onde o houvesse, para acrescentar ao presépio e fazíamos uns montinhos de papel e cartucho que depois a nossa mãe ajudava a pintar e a colocar.
A mãe e nós fazíamos árvore de Natal cheia de velinhas e neve e todos colaborávamos no arranjo da mesa, pinhas e hastes de pinheiro que se apanhavam previamente e pintavam com purpurina.
O pinheiro era arrancado quase sempre, porque os chineses ainda não eram grandes comerciantes no nosso país e a nós não nos assolava a consciência ecológica e ambiental. O mundo não precisava de mais.
Neste momento um cheiro de cedro , abre-me os pulmões.

No dia de Natal íamos ao circo ou ao cinema com roupa e sapatos novos a olhar para as peças novas que as outras crianças carregavam também.

Colocávamos o sapatinho na chaminé e só ao outro dia levantávamos as prendas. Não era um mar de prendas, mas estavam carregadas de alegria e doçuras, além de serem tantas quantas as necessárias para as apreciarmos.
Eram sítios de sonho!
As ruas estavam cheias de pessoas, faziam lembrar que estávamos no S. João.
A mãe e avó faziam os doces, o avô trazia o queijo da serra e o pai o bolo rei com brinde e fava e, dizíamos sempre que a quem saísse a fava no ano seguinte pagava o bolo, mas parece-me que foi sempre o meu pai a trazê-lo.
Escrevíamos a cartinha ao Menino Jesus com letra muito bem feitinha, senão tínhamos que repetir e, púnhamos no correio, mesmo sem selo, mas sabíamos que era época de balanço, se não nos tívessemos portado bem, não teríamos direito a prendas, porque o Menino Jesus só gostava de meninos bem comportados dizia a mãe. Então, uns dias antes do Natal chegar, esmerávamo-nos em fazer tudo o que os adultos queriam, caso contrário o Menino poderia olfactar-nos.
Eram dias de grande alegria mas, ao mesmo tempo, de grande ansiedade. Era uma espécie de felicidade dramática.
"Tens de abdicar de alguns brinquedos para dares aos meninos pobres, diziam-me, pois nessa altura não se conhecia a palavra desfavorecidos.
Era num chã na escola que entegavamos os saquinhos aos outros meninos.
Nunca soube se gostava disso ou não, mas lembro-me de mexer com a colher na chávena como quem no açúcar encontra motivo para se distrair.
Era a época em que a nossa memória servia de máquina fotográfica.
Não pretendo ser Brechtiana, embora muito dele goste, mas também poderia apresentar um desfile de quadros de Natal como ele fez na peça sobre a vida de Galileu em quinze quadros.
Era a época em que só havia uma espécie de pressa, justamente nestas alturas, de contrário, havia sempre tempo para tudo durante os outros dias do ano.

Por estes dias chegava a compreensão de compreender. Todos nós éramos mais humildes e pensávamos em enriquecer os outros nesta altura, então o meu pai, fazia-o literalmente. Abria as portas do guarda-vestidos e dava roupa dele a mendigos que trazia para casa nesta altura.

Depois vieram os Natais da minha filha e sobrinhos.
A minha mãe deixou de fazer Natais e nós tratávamos de reproduzir os ensinamentos e a tradição com os mais novos.
Que sensação boa ao vê-los felizes, a magia tinha voltado e nós passamos a pensar com os olhos.
Tínhamos sempre pinhões e jogávamos ao rapa, tira e põe e a outros joguinhos enquanto esparávamos pelo grande momento, praticávamos família.
Voltavam os comboios, agora eléctricos, os matraquilhos, as tábuas de passar a ferro, os telefones e xilofones, guitarras e bonecas, carrinhos e ambulâncias, patins e bicicletas.
E todos nós embárcávamos em jumentos e éramos o próprio presépio.

Agora, preciso de beijos, muitos beijos, dados no patamar dos sentimentos.

No meu reino continuo a ser uma criança que procura a magia, que procura os anjinhos no Natal,mas às vezes, muitas vezes e cada vez mais perto, quanto mais procuro os anjos mais vejo o diabo.
Hoje, prefiro a mentira. Quero continuar a sentir um formigueiro no meu corpo que me leve à eternidade, mil vezes esse àquele que me vem doutras paragens mais terrestres.

Quero que seja necessário voltar a cheirar as fantasias de Natal, de galgar florestas de espaço e tempo, quero que o vento mude de direcção e os pássaros acordem.

Gostava que o sol nascesse de noite, que os passados reincidissem, mas também quero que aconteça aquilo que ainda não aconteceu. Quero construir novos Natais, Natais mais seguros, sem conchas, sem reflexão, apenas de acção.

Sinto-me para além dos porquês, não quero que a minha arte seja a arte da memória.
Não quero que a tristeza me entupa porque sei que a melancolia apenas enche os intervalos entre um prazer e outro.

Não quero pôr chapéus nos sentimentos, quero isso sim, concentrar-me em outras melodias.

Amanhã é dia 26.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A Srª Dª Isabel dos Santos ou a vingança de angolanos


Esta senhora que por acaso é filha do Sr. Eduardo dos Santos, que por acaso é presidente de Angola anda às compras no nosso país e não é só na época natalícia que vem fazer umas compritas, gosta de vir cá aos shoppings. Acha que se compra muito bem aqui, que está tudo em saldo, a bom preço e que não há guerras a não ser a dos bastidores.Quanto à lingua também não tem problemas. Já vai em 800 milhões de compritas, coisa pouca, claro está!
O facto do país ter sido antiga potência colonial não é relevante, a não ser para se conhecer melhor o pessoal.
Só a mim me faz espécie, a senhora ser filha dum senhor que se agarrou ao poder de tal ordem que nunca mais sai da cadeira de braços, que se dizia comunista (agora não sei) e que até manda tanto que não tem tempo para fazer as tais compritas, manda a filha.
O povo esse, coitado, está na penúria a receber ajudas do exterior, mas o Senhor Presidente, homem inteligente com uma filha também muito inteligente, está bem na vida. Está rico, muito rico!
Claro que é um chefe de Estado africano. Não nos podemos esquecer disso e no que eles se tornam quando chegam ao poder (alguns deles, muitos), uns ditadores, os exploradores número UM do povo.

Vem tudo às compras a Portugal. Vêm os brasileiros (também antiga colónia de Portugal). Só não vêm ainda os timorenses porque ainda não conseguiram manter-se no poder tempo suficiente para sacar dinheiro ao povo e poderem investir em Portugal, além de que lhes fica um bocadito longe, a bem dizer...
O que mais me encanita o juízo é o facto dos nossos governantes ficarem muito contentes com estes investimentos do estrangeiro e aplaudirem de pé, mais, até de joelhos, que para eles é de pé, dado o problema grande que têm na espinha.
Ah não sabiam?! Os governantes estes, os anteriores e os que estão para vir, têm um grande problema na coluna. Herdaram dos avoengos. Não se conseguem pôr de pé. É um problema tão grave que por não ser assumido tem vindo a piorar, agora até de joelhos andam. Têm recusado sistematicamente tratamento e por isso estão neste estado, mas se falarmos com eles, acham que não estão doentes que é apenas o seu jeito.

O meu país está em saldo. Venham, venham todos às compras, não se vão arrepender! O povo o que precisa é de vender.
Obrigadinho desde já e um Bom Natal.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

FUI EDUCADA PARA SER BOAZINHA





A acreditar. A dar a outra face. "Se te baterem não batas também", dizia a minha mãe. "Sê boa menina". "Se te insultarem, não respondas", dizia o meu pai. Na nossa terra o padre Américo que considerava que não havia rapazes maus, foi a grande refência educativa, à distância, dos lares do país-norte. Toda a gente acreditava que as pessoas, eram boas, a sociedade é que as corrompia. Jean-Jacques Rousseau já tinha dito o mesmo. Mas afinal quem faz a sociedade? Perguntei eu, nos bancos da Faculdade. Descobri que quem faz a sociedade são os homens e as mulheres e fui verificando que também há homens maus e mulheres más. Reparei que havia pessoas que se assemelhavam a tojais, cheias de espinhos e repulsivas ao toque, mas que enfeitavam a sociedade e de longe até eram bonitas. Claro que não botei os ensinamentos dos meus pais e avós todos a perder. Ficou sempre aquela delícia de às vezes poder pensar assim, como forma arejada, limpa, de sair mil e uma vezes dos destroços das minhas esperanças perdidas. Mais vale enganarmo-nos de vez em quando do que ter sempre razão. Não, não é possuir tanta candura que dê para vestir completamente o mundo, mas apenas emprestar-lhe uma roupinhas de quando em vez, para assim podermos sair juntos de braço dado. Hoje sei que não quero ter o pensamento sempre esclarecido. Desejo muitas vezes acreditar no Pai Natal. É bom acreditar no Pai Natal e declaro aqui, já que é época de Natal, QUE NÃO TENHO NADA CONTRA QUEM NELE ACREDITA.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

KITSCH OU O PAIS DO DÓ (nota mais baixa da escala musical)


2ª VERSÃO DA MESMA CANTIGA




Desembrulhemo-nos!
Quando olhamos muito bem, vemos mesmo o que queremos ver.

Vamos ver Portugal e os portugueses? Viemos de longe para ver e ouvir, perceber.

Estamos a ver por trás das auto-estradas, avenidas e alamedas, qualquer coisa de concreto.
Vemos guerras de nervos.
Vemos pancrácios aboletados.
Vemos gente com medo, com um medo terrível de se cansar.
Vemos pulhas, muitos pulhas!
Vemos jumentos disfarçados.
Vemos e ouvimos, gente a dizer vi,vi,vi e ouvi,ouvi,ouvi, sempre na subcave da sensibilidade irritada sem ir ao âmago dos problemas.
Vemos gente que não lê e por isso tem muito tempo para maldades porque enquanto se lê não há tempo para isso.
Vemos os salários tão baixos que não pode haver especialistas.
Vemos gente que não sente nada, que está alheia, que nasce alheia, que passa alheia pela vida.
Vemos muito gente a rinchar assanhada.
Vemos gente que só enche o bandulho e de tacha arreganhada, construindo a fama com grandes e pequenos cambalachos.
Vemos gente com capacidades premonitoras fantásticas que lhes permite andar sempre a vaticinar os desastres, o que lhes permite manter-se sempre na margem.
Vemos gente que cultiva a arte de não saber.
Vemos janelas cada vez mais fechadas, ninguém olha ou se põe à janela, isso é coisa do passado. Agora olham para a televisão, não olham para o mundo que passa.
Vemos gente sempre em festas e romarias e aí sim, a reagir.
Vemos gente, muita, alardeando a sua singularidade como fugindo de si própria para o infinito, como as crianças.
Vemos que as pessoas consideram que o tempo está morto, senão nunca achariam que o presente era absoluto.
Vemos um país a andar muito devagar, às vezes até parece que anda para trás, que se dedica a escutar as conversas dos outros.

E lá continua a música da realidade pimba como fundo. Os sons caem como que riscando a cor cinzenta escura dos dias de Portugal e das suas gentes.

E cada vez mais vemos nas baixas das cidades, homens sanduiches com cartazes no peito e nas costas "COMPRA-SE OURO USADO".

"Portugal doentinho sabes que a doença pode ser também uma das muitas portas para se passar para o outro lado. Sabes bem que se pode ficar absolutamente separado da vida dos outros, não sabes?"

Quem vê tudo isto?
Nós outros, pois então!
São sempre os mesmos a ver, claro está! E quem vê lá tem tempo para fazer outra coisa, não é ó Portugal?

Ai Portugal, Portugal que abrigas tanta gente Kitsch!
Tão amoroso que tu és! Tem cuidado que até podes ser levado a copiar tais exemplos.
Cuida de ti, meu querido!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A PALAVRA DE ORDEM É RESISTIR



Como as ervas do campo temos que aprender a resistir.
Hoje é 2ª feira, dia de "PRÓS E CONTRAS" no canal 1, em que toda a gente que lá vai falar, sob a batuta duma jornalista autoritária e provinciana, deixa no ar desperdícios de palavras, muitas letras sem qualquer préstimo.
Lá vêm mais homens a grunhir. É gente que não está habituada a escutar o silêncio.
Chamar-lhe-ia línguas pro-activas, como agora se costuma chamar às atitudes.
Vivemos épocas de profunda algazarra, por isso é preciso resistir. É urgente e imperioso!
Há multidões que desejam mostrar a sua própria competência e confundir a ignorância dos outros, mas se acertam no alvo é sempre por acaso.
Ando aqui no mundo há mais de meio século, mas tudo me escapa, não se compreende nada.
Torna-se muito difícil encontrar o ângulo justo para ver as coisas, mas mesmo assim todos nós ou quase todos, vemos que os banqueiros estão nus, os políticos vão nus. Os gestores públicos vão nus, os capitalistas vão NUS e os "opinion makers" nus estão.
Têm todos sempre argumentos para criticar.

Só podemos avançar se pararmos, se reflectirmos para verdadeiramente mudar. A palavra de ordem é RESISTIR. Resistir ao que se vê, ao que se ouve e meditar sobre a finalidade das coisas.
Não nos desviemos dos sentidos.

SURDEMO-NOS.
Resistamos às batalhas dos BORRA-BOTAS.


sábado, 12 de dezembro de 2009

PORQUE AINDA ME ESPANTO?





Quero aperfeiçoar-me na fantasia. Flutuar nos meus sonhos.

Vejo desgraçados que vivem aos gritos, agora também na A.R., com o Primeiro Ministro a dar o mote e as(os) domésticas/domésticos vários, a segui-lo. E logo eu não paro de resmungar, admiradíssima, como é que naquele local se comportam assim?
Não quero tomar conhecimento de desgraças contínuas deste meu país queixoso, atascado pelo "destino" onde parece que tudo se está a passar às avessas.
Não quero atender os achaques.
Não quero que troveje no meu cérebro.
Não quero ser influenciada pelo meu mau humor.

Não vejo a tremular uma luz ao longe a não ser as do Natal.
Sempre que penso que na matéria de infortúnios tocaram no fundo, aparece mais 1/2/3 notícias de nova escalada do mesmo ou pior.

Quero ficar na lua. Não acordar por completo.

Às vezes, faz-se silêncio. É evidente que já é memória o tempo em que eu voava para os assuntos naquelas intermináveis reuniões de "serviço".
Claro que não posso sorrir com todos os dentes neste meu silêncio, porque os não tenho.

Nunca tenho a certeza.
Aprecio quem consegue manter a calma, o bom humor.

Nunca fiz projectos para nesta altura não ter uma longa série deles por cumprir.
Não sou de executar projectos, gosto mais de vogar no mar ou nas nuvens do sonho.

Envelheço muito, espanto-me também por isso.

Sinto-me razoavelmente honesta, até poder-se-ia dizer mesmo honesta.
Há dias em que estou de cérebro estufado, outros há em que faço o que me dá na real gana.
Nunca fui de me submeter humildemente às regras, mas estou na segunda metade da vida ou talvez terça parte (quem sabe?) e esta faz os seus estragos.
Às vezes como até ficar corada e ouço lá fora o canto maldisposto dum pássaro,outras vezes espreito as minhas contradições.

Consideram-me de gostos impermanentes e tenho dificuldade em datar os acontecimentos da minha vida, parece que se passaram há séculos umas vezes, ontem outras tantas.
...Mas há dias que correm magoados e algumas palavras fáceis e pensamentos dasatados impõem-se.

Já não me encontro para filistrias efectivamente, mas continuo a espantar-me, no que respeita à degeneração da sociedade.
É difícil distinguir hoje o paladar do peixe e da carne, mas pelos vistos, todos ou quase todos ainda acreditam em milagres, isso espanta-me.

Continuamos o povo que éramos há 8/9 séculos, os mesmos pedintes, os mesmos a dar-nos ares, os mesmos a não pensar, OS MESMOS. Quase nada mudou na substância. E isso espanta-me.
E como dizia Sá de Miranda "m'espanto às vezes, outras m´avergonho"...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

SEI TÃO POUCO DE TI


Sei tão pouco de ti que mais parece que o teu enigma sou eu.
Se não li isto em algum lado é como se tivesse lido e daí ter decidido naquele dia conhecer-te melhor.
Abandonar-me de mim e partir em passeio para ti.
Dava passinhos pequeninos, tentando perceber o caminho que calcorreava à medida que prosseguia. O Eu ía ficando lá atrás, acabando por parecer um conjunto de pontos pequeninos rosados.
A primeira diferença que senti à medida que me distanciava de mim, foi a ausência de ruído. Não havia memórias, buzinas, músicas de fundo.
Havia falta de hábito, isso sim. Ouvia outro canto, outra melodia.
Lembrei-me que já tinha ouvido essa melodia em outros dias mas não a escutava.Estava temporariamente surda.

Continuava na caminhada e reflectia nos sons que ouvira e pensava que as palavras, por vezes, se podem assemelhar a cantos de aves ou ao sopro da brisa nas árvores.
Há um efeito diferente nas palavras se as conseguimos escutar.
Lembrei-me de outras palavras, de outros sons e de outros lugares e sentia que era como se as escutasse pela 1ª vez.
A sensação era de leveza. Verifiquei que os aromas à minha volta eram conhecidos e inspiradores.
Olhei em volta e deparei com uma pedra vestida de tons amarelos e concluí que neste passeio havia sentidos nos sentidos como estes se tivessem mantido ocultos até aí.

O imprevisto, o imprevisível pode chegar. Há sempre um esperança, que embora não seja científica faz com que a certeza vacile.

Mas o primado está na certeza e essa revela-nos que nunca vemos os outros tal e qual eles são, mas no que parecem ser e eles vêem-nos no que julgam que somos mas não somos, porque aquilo que somos é o que julgamos que somos mas não somos.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER




SUSTENTABILIDADE- a palavra muitas vezes dita por políticos, economistas, comentadores e outras espécies que pululam por aí.
O que é sustentável/insustentável para nós, OS OUTROS?
Que interrogações colocamos quando a ouvimos?
Falo por mim e por aquilo que ouço aqui e ali.

É sustentável haver tanta gente a precisar de receber das diversas ONG, alimentos e outros artigos, para poder sobreviver?

É sustentável haver milhares de jovens desempregados, grande parte licenciados?

É sustentável haver cada vez mais horas, crianças e adolescentes, armazenados uns e à sua sorte outros, por cada vez mais pais e mães trabalharem mais horas, mesmo sem maior remuneração?

É sustentável deputados e políticos que deveriam estar ao nosso serviço, ao serviço do país, servirem-se a eles próprios e aos amigos, esquecendo-se completamente da função que desempenham e para a qual foram eleitos?

É sustentável magistrados e médicos serem desviados, embora de formas diferentes, para exercerem outros cargos e funções que não para os quais foram formados e todos nós pagamos, para além de serem mais necessários nos lugares que deixaram suspensos?
É insustentável clínicas privadas, que mais parecem fábricas de doença, empregarem médicos formados pelo sistema público. As empresas privadas, chamadas clínicas, não gastam um euro a formar os seus médicos, é só lucro!
É insustentável os tribunais terem falta de magistrados e estes serem convidados para lugares políticos e para outras carreiras.

É sustentável a hipocrisia reinante?

É sustentável o 4º poder, assim chamado, a comunicação social, por vezes e cada vez mais, passar a 1º poder?

É sustentável esta democracia ter características de fascismo?
É insustentável ter ministros mentirosos, oposições arruaceiras sem sentido de responsabilidade, presidentes medíocres, administradores corruptos, bancos e empresas públicas com lucros obscenos?


ETC. ETC. ETC.

NÃO FALEM DE SUSTENTABILIDADE P.F.

A ÚNICA COISA EM QUE PODEM FALAR ÀCERCA DO TEMA É DA "A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER" DO MILAN KUNDERA, de 1984.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

NÃO É FÁCIL





Ser-se artista é fácil. Ter o "dom" mais fácil ainda.
É estar acima, vogar nos espaços siderais. É receber os eflúvios da lua.
Não se ser artista é muito mais difícil.
Os artistas suspiram nas pausas da arte. Os outros, os não artistas suspiram na realidade envolvente.
Digamos que um não artista não toca os raios de sol da intimidade. Aquela intimidade secreta e invisível onde universos inteiros se renovam sempre.
Nós, os Não Artistas, os outros, os que ficam à porta, sofrem as explosões, tocam-nas, mas não as conseguem transformar em formas; em cores azuis, verdes, laranjas ou vermelhos; em frases/pensamento, poesia.
É muito difícil ser-se um Não Artista, embora ainda haja a música.
A música ampara-nos, faz-nos sonhar acordados enquanto assistimos, quase manietados, à passagem dos esqueletos vários da democracia, de desejos humildes que tínhamos nas grandes avenidas de esperanças e lutas várias.

Como conseguimos sobreviver a tanta desilusão, a tanta miséria, a tanto crime? Como?
Como? Não sendo artista?
Os artistas, no meio das tempestades, construem momentos de paz, percorrem a luz, criam armistícios com a violência e a angústia. Voam mais alto, pairam nas nuvens da ternura da arte.
E nós, os outros?
Sobrevivemos com o intolerável. Choramos lágrimas nossas e dos restantes pelas mesquinhezas humanas.
Estou em crer, que quase é preciso ser ARTISTA para se o não ser.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

PENSANDO EM VINICIUS





A minha pátria é inquietação,
Desolação.
Minha pátria senhoreca
Que passou de sem sapatos
a ter carros e a ingerir Ben-U-Rons.

Tens albergado gente má
Expulsado gente boa.
Sinto-me no exílio pátria minha.
Porque a minha pátria é como se não fosse.

Foi assaltada, vilipendiada, violada
Apareceu em coma ao outro dia.

Dá vontade de chorar só de olhar
Vontade de a mudar toda.
Está tão mal vestida e calçada
A minha pátria que dá dó.

Perguntaram-me no outro dia
Quem é a minha pátria?
Respondi: Não sei!
Às vezes sinto grande tristeza
Por ver a minha pátria tão doente.

Minha pátria povoada de simples
Mas de insaciáveis apetites
Cheia de ilusões.
É ela
É a minha pátria!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ZARZUELA






Este país transformou-se numa zarzuela. Há figuras que se destacam nesta ópera cómica, pontificam até. Têm vozes insinuantes, veja-se a do Presidente da República. Mas há outras figuras, igualmente com amplos créditos firmados na opereta e na comédia, como é o caso do Primeiro-Ministro que poderia ser considerado como um manual de suficiência de modos, qual CONDE DANILO na opereta de Franz Léhar da Viúva Alegre, de que tanto Adolf Hitler gostava. Há ainda a considerar os pífios. Há uma máxima grega que diz: "Gnôthi séauton nosce te ipsum" que quer dizer: Conhece-te a ti mesmo. É bom que o país, todos nós, saibamos o que somos, onde estamos, para onde vamos. Eu penso que estamos entre o FADO E A ZARZUELA. Somos um país de opereta, com partes faladas e outras cantadas. Não há dúvida que pertencemos e somos Ibéria e neste preciso momento, estamos mais do lado da ZARZUELA.

domingo, 29 de novembro de 2009

O PENSAMENTO POSITIVO




O pensamento positivo está na moda.
Circulam camiões e camiões nas nossas estradas deste produto.
Descarregam-no nas livrarias (Dan Brown, José Rodrigues dos Santos, Miguel Sousa Tavares, Margarida Toda Cor-de-Rosa, etc.)
As farmácias também comercializam pensamento positivo.
As caixas de correio electrónicas estão a abarrotar destes panfletos.
A tristeza merece castigo. Quem está triste devia ir para a cadeia, não merece viver.
Não é um ser normal.
Toda a gente prescreve mezinhas para o pensamento positivo e, não são só os brasileiros, campeões desta fórmula para a indústria.
Mas não se pense que o pensamento positivo só oferece desvantagens, como tudo na vida,há também o outro lado. Assim, quem tenha comprado pensamento positivo em livros, pode dizer aos amigos que lê muito, que não é nenhum (iliterato) que possui uma biblioteca carregada de Paulos Coelhos de todos os países, que regrediu à adolescência eterna, que são iguais a toda a gente, que pertencem a um grupo (ao grupo que fornece as estatísticas para a iliteracia, que já não lêem só UM livro por ano que lêem todos os Códigos Da Vinci que forem editados).
Mas tudo é bom quando acaba bem. A escola portuguesa através dos seus actores principais, os professores, considera que o importante é ler, ler nem que seja mau.
Os oftalmologistas devem ter comissão nesta recomendação porque ao fim duns anos de hábitos de má leitura, os olhos estão cansados, logo mais óculos se vendem para ver se ainda se chega a tempo de ler bons livros.

sábado, 28 de novembro de 2009

A DESENHAR



Se fosse possível ver as nossas vidas de longe como vemos a das biografias, tudo era contínuo, em linha recta.
Mas a vida que nos pertence, é por nós vista como um traço descontínuo.
Vamos desenhando a nossa vida, apondo mais pinceladas, mas como não é duma tela que se trata, não nos podemos distanciar para poder desenhar e pintar com maior precisão e beleza, traço a traço, as impressões que queremos que figurem na tela.
Estamos dentro da vida, por isso não vemos bem o quadro. Estamos demasiado perto, não distinguimos as imagens, apenas um conjunto de traços.
Vivemos em trânsito.
É do fundo de nós que construímos ou desconstruímos conforme as necessidades.
Não podemos recriar a vida como se recria um texto, apagando episódios, retirando parágrafos, colocando vírgulas, como se faz quando se escreve ao computador, mas podemos reordenar o texto, trabalhar na síntese.

No meu caso, vou dedicar-me, na tela da vida, ao cantinho da memória.
Agora queixo-me da falta de memória, mas se recuar nos tempos, ela nunca laborou com afinco, mas se a comparar com a de alguns dos meus contemporâneos jovens que a têm em tão mau estado que chegam ao ponto de pensar que o mundo é da mesma idade deles, então posso considerar-me uma privilegiada.
Como a nossa vida está sempre em recurso, podemos e devemos acrescentar-lhe mais alguns pontinhos . Estou a lembrar-me do desenho impressionista de A. Durer.

Hoje, sugiro que o façamos através da memória, que nos agarremos à memória viva.
A memória mantém-nos vivos e tem entre muitas outras virtudes, a de suscitar questões e respostas que suscitam outras questões e fazer com que as palavras dos homens nunca consigam esgotar os infinitos sentidos da outras palavras, das dos tempos, das que vivemos, vimos e observamos.
A nossa vida é uma obra inacabada e a memória também.
Precisamos da memória para prosseguir no diálogo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

YouTube - Relaxing Musica Relax Sonidos del Bosque Monasterio de Piedra

YouTube - Relaxing Musica Relax Sonidos del Bosque Monasterio de Piedra

O PARADOXO

Quando saímos é difícil encontrarmo-nos com os grandes.
Estamos quase sempre entre pequenos.
Tal verifica-se nos restaurantes, nos cafés, nos transportes públicos, nos cinemas, centros comerciais, enfim...por todo o lado.
O barulho está sempre presente. Um barulho desagradável, de lavagem e arremesso de pratos e chávenas,de televisões permanentemente ligadas,de motores de aparelhos em ronco constante,de pessoas que falam altíssimo, de telemóveis com ruídos esquisitos. Tudo isto e mais, nos entulha de banalidades estridentes.
No centro e lado destes encontros, há pessoas que dizem estar sempre bem, em nome da sua prodigiosa capacidade de adaptação, de abstracção.
Para este batalhão de adaptados, de normais, de abstraídos que banalizam o barulho, o ruído, a qualidade de vida eclipsou-se, a exigência com ambientes de qualidade desfez-se, a reivindicação da qualidade não os visita.
Neste mundo de vulgaridade crescente, os acomodados, agora auto-intitulados de adaptados, tudo é para aceitar, não há direito a lamentações. Só o fazem os passadistas, os nostálgicos de outros tempos.
Sucumbem ao ordinário, mergulham diariamente em declínios vários.Eles sim mumificaram, mas insistem em apelidar os outros, de dasadaptados, de buscadores de lembranças perdidas.
Estamos condenados ao mau gosto, ao trivial, à superficialidade. Em todos os domínios impera a mediocridade, a baixa qualidade.
Toda a gente quer ser "politicamente correcta", mesmo que seja na rua, na cidade, nos estabelecimentos comerciais. Toda a gente quer ser "normal", sendo que ser NORMAL É HOJE ACEITAR A ANORMALIDADE. Eis o paradoxo!
Alguém que aprecie o silêncio e que goste do enlevamento intelectual ou espiritual é considerado(a) pessoa desadaptada, a caminho da depressão. Os médicos e outros "especialistas",em todas as esquinas eles existem, até ao telefone, diagnosticam de imediato: rua, encontros com a MEDIOCRIDADE.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

DINHEIRO A MAIS




O meu país tem dinheiro a rodos.Bruxelas continua a emprestar. É péssimo!
Se não viesse dinheiro em pacotes, estou convencida que era diferente. Talvez os dirigentes, fossem eles quais fossem (todos têm duas caras a do governo e da oposição), pensassem uma vez que fosse, no que mais o país precisa e por onde começar.
Não há dinheiro para a Educação, para a Cultura, para o Saneamento Básico, não há estradas secundárias aceitáveis, mas vêm pacotes e pacotes para aquilo que convencionaram chamar de INVESTIMENTO (auto-estradas; aeroportos; TGV, etc.)

Há dias tive conhecimento dum homem que já não tinha orçamento para fazer face à prestação do carro e o que fez?
Vendeu o que tinha e comprou um melhor, mais caro, mas que tinha uma menor prestação mensal.
Conheço igualmente casos de casais que se dirigem ao banco para contrair um crédito bancário para aquisição de habitação e saem de lá com casa e carro e quando não com férias marcadas em qualquer país exótico.

Os bancos portugueses (os que me interessam neste momento) têm feito o mesmo que os Fundos Sociais Europeus e o que lhes acontece? Cada vez obtêm maiores lucros. E o que acontece a quem contraíu créditos? Cada vez fica mais pobre, vive uma vida faz de conta, parece rico mas é pobre porque deve quase tudo.
Quem vai ficar mais rico? Quem empresta. Com os juros altos que cobra, porque se não os conseguir cobrar, penhora os bens para pagamento da dívida.

Estamos a penhorar o país.
E mais do que isso, estamos a dar um péssimo exemplo aos vindouros. A cultura do gasta agora e paga depois, a cultura do endividamento, a cultura do faz de conta.

Centenas, senão milhares de professores, vivem metade do mês com cartão de crédito.
Poucos gastam em função das suas possibilidades e das suas necessidades.

As crianças têm brinquedos a mais, os adultos casas a mais, carros a mais, roupa a mais, telemóveis a mais, créditos a mais, preocupações a mais, mas felicidade a menos, paz a menos, fruição do que têm a menos.
E o mais preocupante ainda é que como toda a gente ou quase, vive de faz de conta, também passam a ser pessoas faz de conta.
Assim, se vê como o capitalismo com o seu filho mais dilecto o consumismo, perverte a mente das pessoas, lhes atinge a personalidade e até o carácter.

Toda a gente sabe disto, toda a gente ou quase, teoriza sobre o tema, mas quase toda a gente ou muita, muita gente, continua a incorrer e a correr para esta loucura.

Quem começou primeiro? Os bancos? Claro! Para conseguirem obter no final do ano esses lucros obscenos, mas o povo, o povo, é verdadeiramente culpado. Ninguém pára para pensar, ninguém reflecte ou só o fazem em hora de aperto grande e, mesmo assim, não voltam atrás, pelo contrário, fazem fugas para a frente, endividam-se mais e mais e mais. É a loucura total!
O país continua numa roda de loucos, rodam, rodam.
Já se sentem todos tontos mas não param.
Alguns, poucos que estão de fora gritam: "Parem, parem. Vão cair! É preciso parar para descansar".
Mas as "crianças" continuam num rodopio sem fim, riem-se, riem-se e exclamam: "Isto é bom, é boa esta sensação, não queremos parar".
Esta história chama-se SISTEMA CAPITALISTA.
A roda tem como apelido DESENFREADA.

P.S. Quero fazer aqui uma declaração de princípios: não sou contra o crédito,antes pelo contrário, acho que quem pode contrair dívidas, oferece capital de confiança e oferece segurança a quem empresta. Portanto, trabalhemos, amealhemos para termos sempre capital de confiança e não o contrário.

A MINHA SOMBRA E EU




A minha sombra persegue-me
Para onde eu vá, ela vai atrás.
Para quê fazer de conta?
Se ela vai sempre comigo.

Nunca se desfaz
Aquilo que nós somos e fizemos
Nunca se desfaz
Nem que seja só aos nossos olhos.

Não posso confundir
Aquilo que me dizem que sou
Com o que sou.
Porque confundo a minha sombra comigo?
Mas ela não se desfaz.

A minha sombra não é uma "second life".
Mas a minha sósia
O meu frisson metafísico.

Às vezes dá-me um calafrio
Da identidade dúplice, a minha sombra.
A vertigem do labirinto dos espelhos.

Estará a minha sombra apostada
Em causar-me alguns percalços?

É que há pessoas que se colocam
No ponto de vista do sol e da lua
Ou de outro foco de luz

E vêem a sombra
como o reflexo do ser
E me dão uma vida segunda.

Tudo começa quando me encontram
E dizem: "És uma radical", "És mesmo...
Fico a saber que não sou eu
Que sou a outra.

Palpita-me que a minha sombra
Me prega partidas
Que tem uma vida
Aventurosa e divertida umas vezes,
E outras não me deixa em paz.

Se algum dia encontrar a minha sombra
Ainda troco de lugar com ela
Para saber se é um reflexo de mim
Ou eu sou um reflexo dela.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

TODO O MUNDO É COMPOSTO DE MUDANÇA

Como dizia Camões,"todo o mundo é composto de mudança". As pessoas hoje estão bem, amanhã estão mal, seja a nível da saúde ou mesmo financeiramente.
Todos nós nos julgamos imortais. Fazemos casas que vão perdurar por muitos mais anos do que aqueles que as construiram, guerreamos e odiamos como se não houvesse amanhã, fazemos juras eternas e alguns de nós combatem, ferozmente, os seus concidadãos, os seus irmãos, pagando-lhes mal, explorando-os em todas as vertentes e até torturando e matando. Há até civilizações que desapareceram, por força dos seus vícios e actos corruptivos.
O que hoje está vivo, amanhã está morto e este amanhã é bem cedo, é mesmo amanhã.
Mas que todo o mundo é composto de mudança, lá isso é: -descobriram-se, em 10 anos de investigação nas profundezas do mar,17.000 novas espécies de seres vivos. É fabuloso!

sábado, 21 de novembro de 2009

SÃO RATOS SENHOR, SÃO RATOS!




Como ratos têm medo dos gatos.
Como ratos não falam.
Como ratos procuram o queijo.
Como ratos não militam na cidadania.
Como ratos acham que não devem aborrecer-se
Que não vale a pena
Que é melhor fugir.
Como ratos olham e ficam estarrecidos ao ver o gato,
Mas como ratos se esgueiram e fazem fintas.
Como ratos acham que são os mais finos.
Como ratos vivem e como ratos morrem.
Estes ratos têm nome,
São portugueses e são muitos.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

GESTOS

Sento-me ao computador.
Ligo para o Cabide.
Quero falar de simplicidades.
Então começam a aparecer, de imediato, as primeiras letras no quadrado branco.
Primeiro o título, a seguir os porquês, os comos nas curvas das letras.
Nunca há novidade no que lá vou colocando, porque nos meus escritos há uma batota de base. Há sempre uma pergunta respondida, logo não há novidade.
No final, sinto: cumpriu-se.
Agora que visualizo o que escrevi, verifico que estava previsto o que agora vejo, apenas actualizei um gesto antigo desde há muito.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

VER O MAR





Éramos uma multidão, embora não fôssemos juntos, íamos.

Queríamos ver o mar e para lá nos dirigíamos.

Houve um que disse: " Só temos o mar. O mar é lindo!"

E logo a essa expressão se foi juntando gente para o seguir, para se dirigir em direcção ao mar.

Pelo caminho mais gente se lhe juntava. Perguntavam: "Onde vão? Porque vão?"

A resposta era sempre a mesma:"Não temos outro sítio, sentimo-nos encurralados".

E continuava a marcha. Alguns ainda pegavam nas coisas mais queridas, algumas fotografias de família, outros achavam que não valia a pena, não sabiam se ficariam por ali ou se um dia regressariam.

Enquanto caminhavam, íam-se ouvindo alguns comentários: - "o meu país abandonou-me; os monstros perseguem-me; são muitos eles; têm muitas armas; eles estão por todo o lado; já não há sítios altos para onde possamos ir; usam uma grande rede e muito apertada; estão a tomar conta de tudo".

Alguém gritou, desesperado: "SÃO VAMPIROS, ELES COMEM TUDO E NÃO DEIXAM NADA".

Nessa altura a multidão começou primeiro a acelerar o passo para depois correr mesmo.

QUEREMOS RESPIRAR, QUEREMOS RESPIRAR, diziam.

Somos pessoas honestas, trabalhadoras, pagamos os nossos impostos, tivemos os nossos filhos, somos cumpridoras, porquê viver assim, sem ar, com medo, não queremos os vampiros!

Ouve-se uma voz lancinante no meio da turba: "Corre! Alguns de nós estão a transformar-se em vampiros".

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

HÁ ATRASO NAS CIDADES



No mundo rural(?), convencionou-se chamar assim, em oposição ao mundo urbanita, há menos "rodriguinhos" no que diz respeito à atribuição do famigerado dr. antecedendo o nome da pessoa.

As pessoas destas bandas não atribuem esses títulos, chamam mesmo pelo nome quando não, o você, que lhes é mais familiar e sai muito melhor.

Os jovens e até os menos jovens tratam-se por tu, mesmo não se conhecendo e é assim que as relações e o tratamento entre as pessoas se desenvove.

Nas cidades, pelo contrário, o dr.vem à frente, o tratamento não é por tu a não ser para interlocutores com mais confiança ou relações de escola e/ou trabalho.

Verifica-se pois, menos abertura no relacionamento e um maior atraso no tratamento verbal entre uns e outros.

Talvez estes aspectos de trato sejam apenas uma forma compensatória de tantos outros atrasos entre o mundo rural e citadino, em que este fica com a maior fatia em relação àquele.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

SER RESPEITADO/RESPEITAR

Esta questão tem muito que se lhe diga.
E porquê?
Todas as pessoas que respeitam são respeitadas?
O que é preciso para ser respeitado?
Só sabemos ou sabemos melhor, o que é necessário para respeitar, mas será que saberemos qual a fórmula para sermos respeitados?
Convicta estou que para ser respeitado, necessário se torna escolher, seleccionar, pessoas que tenham a capacidade de respeitar.
E o que é respeitar?
Diz o dicionário, entre outras coisas, que é tratar com urbanidade; ter em consideração e também dar-se ao respeito, etc., etc.
Mas basta querermos definir o que é tratar com urbanidade, para logo percebermos que estamos perante algo de muito difícil de ser cumprido.
O que é ter urbanidade? E onde se encontra urbanidade?
Volta assim tudo ao princípio, podemos ser respeitadores e não terem respeito por nós.
E o que é terem consideração por nós. Reside em nós essa capacidade do outro? Diz o dicionário da Porto Editora que sim, porque temos que nos dar ao respeito.
Claro que nos temos que dar ao respeito, mas será que com isso somos respeitados?
Tudo se torna mais fácil quando estamos atentos às diversas formas como podemos ser respeitados, e a mais eficaz actualmente, é a que nos informa que ser respeitado é quem tem dinheiro, estatuto social. É respeitado quem é "chico-esperto", quem consegue ter muitas casas, carros de milhares e for capaz de se fazer subtrair aos impostos. Esse(a) sim, são admiráveis! Conseguiram chegar LÁ, ao que é desejado pelos outros e passam a ser respeitados.
Em Esmoriz querem erigir uma estátua ao Sr. Manuel José Godinho,o homem que foi preso por ser corrupto,no âmbito da operação "Face Oculta". É um homem admirável- dizem conterrâneos seus: "Ele apenas faz bem feito aquilo que todos os portugueses fazem". E pronto! Prontos como dizem os deputados.
A nova definição de respeito no dicionário da Porto Editora deve incluir esta vertente, caso contrário, tratar-se-á dum dicionário não actualizado.
Para se ser respeitado e respeitar é preciso ter a capacidade de ser corrupto/ser corrompido.
É também verdade que os banqueiros corruptos que estiveram na A.R foram tratados com urbanidade e respeito, essa parte da definição pode continuar a fazer parte da definição do dicionário.

domingo, 15 de novembro de 2009

NOVO MUNDO



Revisitei hoje nos meus livros de pintura Pieter Brueghel e a sua tela "O Combate Entre o Carnaval e a Quaresma", de 1569.


Quando tomei contacto com este quadro pela primeira vez, exposto, permaneci não sei quanto tempo a decifrá-lo e sabia que nunca mais o iria esquecer.

Será preciso recordar que sou uma amante de sátira e da pintura flamenga.

Hoje, ao olhar de novo a fotografia, veio-me à ideia o mundo em que vivo e o meu mundo português, que é semelhante ao francês, ao espanhol, ao italiano e a tantos outros.

Pieter Brueghel era satírico, expunha as fraquezas e loucuras humanas, fazia realçar o absurdo na vulgaridade. Neste quadro há uma liberdade geral de costumes.

No passado o Carnaval ocorria após o ano novo, marcando o fim do ano velho, dos velhos tempos e este quadro fez-me lembrar que os velhos tempos, da honra, da honestidade, da palavra dada, da integridade, já se foram e o futuro é debochado.

O novo mundo hoje parece-se com um mundo carnavalesco.

A natureza é paradoxal. A nossa natureza faz com que nós sejamos simultâneamente "isto e "aquilo" e, no entanto, não sejamos nem"isto" nem "aquilo".

Sampaio Bruno que acabei de ler há pouco, numa edição reeditada, dizia que as verdades estão acima da razão e eu estou de acordo.

A nossa verdade, a verdade de ser português hoje é: Oeiras votar um autarca que a justiça já tinha condenado, ter um PM sempre referenciado em tudo que é menos claro, em matérias de tráfico de influências, ter banqueiros, administradores públicos, desonestos e corruptos, parecermos um Itália à nossa escala, mas é, fundamentalmente, o povo permanecer em pleno Carnaval, ser ALEIJADO ( são vários os deficientes que por ali andam na festança ) como se vê no quadro de Pieter Brueghel.

O novo mundo chegou embora não seja um MUNDO NOVO.

sábado, 14 de novembro de 2009

O TEMPO






Este Senhor de barbas tão glosado.

O tempo e eu sempre tivemos uma relação muito íntima, mas ao mesmo tempo muito cerimoniosa.

Se, por vezes, dou comigo a pensar que as coisas passadas aconteceram mesmo ontem, há bocadinho, também me acontece que me vêm à memória lembranças que se fossem datadas eram demasiado antigas, doutras épocas, quase sem direito a tempo porque tempo são.
Ambos gostamos de jogar o jogo da sedução e acabamos , na maior parte das vezes, seduzidos.

O tempo é cronológico, claro!
Mas é fundamentalmente psicológico. Cada pessoa tem o seu tempo e o tempo seu.
Há tempos que não nos pertencem e outros que são só nossos e que não dão nem para partilhar.

O tempo mede-se de maneiras várias, todos o sabemos.
Os médicos medem-no em sintomas que vão aparecendo nos seus pacientes.
Os psicólogos privilegiam a análise da memória nas suas diversas fases.
As esteticistas nos produtos que vão ter de utilizar com os seus clientes.
O mercado nos nichos de ofertas apelativas (hotéis, viagens seniores, seguros, produtos bancários, soluções medicamentosas, etc.,etc.).

Hoje falei do tempo talvez porque ontem passei uma parte da tarde a observar mulheres com mais de 65 anos a passear no Centro Comercial e concluí que há mulheres nesta faixa etária que não tratam o tempo por tu, mas por você, lhe mentem e brincam com ele ao jogo do esconde-esconde. Vi mulheres que vestem e se apresentam como se na flor da juventude se encontrassem com calças justas, blusas desabotoadas até ao 4º botão, posturas rijas de ginásticas moldadas, mulheres que fazem do corpo o seu cartão de visita, da sua aparência um jogo de adivinhação. Tudo isto eu vi e pensei: Como as coisas mudaram!
Claro, que desconheço se para melhor se para pior, mas o certo é que estas mulheres se sentem de bem consigo próprias, estão despertas para a vida, militam em estéticas várias e despertam muito mais os olhos e os neurónios que para si olham. Consideram que o futuro é já ali e que o passado só lhes trouxe vantagens.

Nós também somos aquilo que parecemos ser.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

HOMENAGEM A ARNALDO GAMA







PROVA DE VIDA


Quando eu morrer,
ficará tudo como está.

Nem mulheres e homens se suicidarão,
Nem a lua nascerá em vez do sol,
Nem haverá novos planetas a anunciar.

Quando eu morrer,
Tudo ficará como dantes,
Senão eu que já cá não estarei.

Os animais não se espantarão,
Nem enlouquecerá ninguém...

Será um dia diferente,
Sim
Mas só para quem me quer bem.


Helena Soares

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

QUANDO A MINHA FILHA FOI PROCURAR UM BANCO PARA LÁ METER O SEU DINHEIRITO





Esta cena passou-se talvez há 23/24 anos.
A minha filha e eu fomos procurar um banco para ela guardar o dinheiro que lhe davam.
Podia-se começar esta história de outra maneira, então comecemos.
Ía a Mariana na sua infância e um dia eu disse-lhe : "queres escolher um banco para guardares o teu dinheiro?"
Ficou muito contente e fomos para a Av. dos Aliados, palco onde se encontravam os edifícios dos bancos à época, escolher o cofre com casa.
A Mariana, com cerca de 8/9 anos observou os edifícios e depois de muito matutar nas vantagens/desvantagens das diversas hipóteses que se lhe colocavam à vista desarmada e estando eu inclinada para o Montepio, banco com referências na família, devido às suas características mutualistas, a minha filha afirmou: "Mãe quero pôr o dinheiro aqui".
Este AQUI era no Banco de Portugal.
Perguntei-lhe porque tinha escolhido aquele e a resposta foi: "Porque este é todo de pedra, é forte e vai guardar melhor o meu dinheiro".

Tenho-me lembrado deste episódio quando na televisão se ouve e vê adultos que colocam o seu dinheiro em qualquer "edifício", sem nenhum critério de escolha e que depois se queixam muito, muito.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

QUANDO A MINHA FILHA TOMOU CONTACTO COM A MORTE

Tinha cerca de seis anos.
Íamos a passear pela Av. dos Aliados e ela viu uma pomba morta.
Ficou muito impressionada. Fez muitas perguntas sobre a pomba morta. Como tinha morrido, porque a tinham matado, porque estava ali morta?
Seguiram-se os lamentos: que a pomba não devia ter morrido; que tinha muita pena dela; que era muito bonita e por aí fora.
Foi dramático! Uma cena irremediável.
Não se pôde evitar. Tinha-se passado por ali naquele momento e não por qualquer outro sítio.
A morte assim ali. E nós tivemos que a enfrentar.
Soubemos uma e outra que a partir daí nada era igual.

domingo, 8 de novembro de 2009

ÓRFÃ DO MEU PAÍS



Estou orfã de país. Há muitos anos que o meu país estava gravemente doente, com doença prolongada. Agora morreu, defuntou-se.
Ele é: a corrupção com níveis italianos. Ele é: a iletracia dos deputados ( apenas são letrados para desdobrarem bilhetes de avião e usar em proveito próprio as milhas percorridas em missão oficial).Ele é: a promiscuidade entre serviços públicos e privados.Ele é: o endividamento ciclópico dum pequeno país que não sabe poupar. Ele é: a surdez crónica dos diversos governantes quando o povo ou os seus representantes dizem da sua justiça. Ele é: uma justiça que quando funciona só atende os ricos, uma justiça parcial que leva os ricos e corruptos a afirmarem à cabeça que acreditam na justiça.
Ele é: um PM oriundo duma família com nome feito em negócios, ditos de família. Ele é: os políticos, a começar por deputados e governantes a servir-se do Estado e não a servir o Estado. Eles só vão para os partidos para arranjarem uma carteira de clientes e de contactos para melhor manobrarem na empresas privadas. Privadas também começa a ser apelido, já que elas vivem quase todas, em especial, as grandes, à custa do estado e é preciso não esquecer que o ESTADO SOMOS TODOS NÓS.
Mas o facto pelo qual me sinto órfã é, essencialmente, por haver pessoas que dão supremacia ao resultado final em detrimento dos princípios e dos valores (como no caso das elevadas percentagens com que ganharam autarcas corruptos), e altos gestores e governantes deste país virem afirmar com cara de sérios que as atitudes de alguns dos seus pares visados em não quererem largar os tachos e resistirem o mais que podem, para só depois de obrigados pelas pressões, largarem o osso, são atitudes muito dignas (temos o exemplo do presidente da Caixa Geral de Depósitos em relação a Armando Vara, mas poder-se-ía falar de muitos outros casos que infelizmente vão caíndo no esquecimento popular com tanto adormecimento ministrado pelos anestésicos vários, em especial, telenovelas e futebol).

Estou ÓRFÃ DO MEU PAÍS e se calhar nem dinheiro consigo para lhe fazer, pelo menos, um funeral digno.

sábado, 7 de novembro de 2009

TELEJORNAIS





Em primeiro lugar fazem intervalo todos ao mesmo tempo. Em primeiro lugar ainda, dão todos as mesmas notícias e em primeiríssimo lugar, que é um bocadinho mais que em primeiro lugar, todos os canais contratam repórteres mal pagos (só pode!), que além de não saberem falar, também não sabem noticiar, nem tão pouco estar.
Quanto às notícias a que se referem, são só desgraças e mais DESGRAÇAS.
Iniciam telejornais com notícias de futebol o que indicia bem o que consideram notícias relevantes.
Os comentadores das notícias são os próprios jornalistas da estação televisiva, por exemplo, na SIC, temos o Ricardo Costa, o patrãozinho, a emitir sempre opiniões e mais opiniões, que eles apelidam e promovem a análises.
Fazem do telejornal uma página de "casos do dia", que antigamente havia numa secção dum jornal. Quem é que matou, como matou aquele e aqueloutro e etc. Notícias de "faca e alguidar" que consideram ser as que mais puxam pelo cliente, neste caso o telespectador.
Quando querem aligeirar, então falam da QUICA que namora com o QUICO que já engravidou do LICO mas que tem muita esperança e projecta um grande futuro com a TEQUINHA.
E mais grave que isto tudo é que se chama a isto Informação.
Por isso proponho, sem querer plagiar a Manuela Ferreira Leite, qual animal feroz da nossa Praça, suspenda-se a audição e visão dos telejornais, por estas razões e também porque passam a horas impróprias para adultos, normalmente, às horas das refeições, não se conseguindo distinguir, por vezes, se se mete à boca um bocado de bife ou a perna de algum morto, nos cenários de guerra (chamam-lhe cenários talvez porque achem que isto é um espectáculo a que devemos assistir), com a chancela da América ou de Israel ou de algum outro imitador destes realizadores laureados.
Vamos manter as televisões fechadas durante os telejornais e verão que a tristeza nacional cairá uns pontos.
MÃOS À OBRA!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O MOVIMENTO DO GEOFÍSICO

Quando desemboco na minha terra, vejo o que está a mais e o que está a menos. As lojas que abriram e as que fecharam. As ruas que se rasgaram de novo e os jardins/parques que se fizeram ou não fizeram.
A minha terra tem sítios em que apetece dizer: Como isto era lindo e como está agora?
Em alguns casos foi a destruição total. Noutros, apenas a mudança, através do cimento e na maioria o esquecimento, o desleixo alterou-os irremediavelmente.
Dizia-me uma amiga no outro dia, aquando das eleições autárquicas: "O que eu queria mesmo é que eles (= autarcas) não fizessem nada durante uns anos, porque quando mexem é mesmo para estragar".
Achei-lhe piada ao desabafo, mas estou em crer que é só quase isso que devemos desejar, chegado ao ponto em que algumas cidades e não só, chegaram, como é o caso do Porto, cidade que me viu nascer.
A minha cidade hoje reflecte a decadência, quer de costumes quer de riqueza.
Andamos pela sua "Baixa" e o que vemos é confrangedor. Todo o ambiente é de "bas-fond". Parece que a Rua Escura toda desaguou na cidade. A freguesia de Stº Ildefonso, a maior da Baixa, está irreconhecível. Tornou-se um retrato da cidade.
Cheira a miséria por todos os lados, casas de chineses pululam. Até o Hotel Infante Sagres, um esteio dos bons velhos tempos, de alguma aristrocracia, se alterou, "adaptou-se" à nova cidade.
Encontramos a rua de Sta. Catarina, num dos seus quarteirões, o do Café Magestic com vida, tudo o resto está morto, descaracterizado, feio, doente, atingido de doença terminal.
Os portuenses tomaram a atitude de sair, aqueles que amam a cidade sofrem com ela, assinam abaixo-assinados, mas quase nada resolvem.
A ganância, o primado da economia sobre a ecologia a estética e o social, tem-lhe infligido duros golpes, feriu-a de morte.
O que se passa no Porto é uma tragédia.
E o pior de tudo, o pior mesmo é que as pessoas também mudaram e se mudaram.
Mas como em todas as tragédias, há sempre alguma coisa, mesmo que seja pequenina que reluz, que ficou que faz com reconheçamos onde estamos e porque estamos. No caso do Porto, no Outono, são as castanhas, o fumo das castanhas e os vendores de castanhas a darem aquela ambiência. Só isso salvou a minha ida última ao Porto e me fez estar em família.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

MEMÓRIAS DUM PASSADO DISTANTE




Ontem fui à minha infância e adolescência.

Segui, inconscientemente, o caminho que me levou à casa da Murra na freguesia de Bitarães de que a minha avó tanto me falava.
A casa da Murra ainda continua de pé, encerrando em si todas as memórias de um passado distante.
Homenageio a minha avó em dia de defuntos e lá vou eu, como detective, entrar pelo passado adentro.
Encontro um velho, bonito e fazendo versos, a sussurrar-me as suas "malandrices" com a mulher que o levou a ter 11 filhos e penso que esta casa teve um passado feliz. Este velho era o caseiro que me fala dum passado cheio de riqueza, delapidada por um filho da casa que vendeu a quinta a retalho para investir em jogo.

Como não possuo lentes anti qualquer coisa que me preparem de antemão para recusar o que quer que seja, vem-me à cabeça, a história antiga desta família, que é sempre a mesma. Era rica e tornou-se pobre, à custa de muito gastar em vícios. Foi uma família que conseguiu colocar quase todos os seus antigos criados com os bens que antes possuíam, que conseguiu tornar realidade os seus antigos sonhos, ficarem com tudo quanto era dos donos. Nesse aspecto a nossa família contribuiu grandemente para a felicidade do povo.

Ontem, cumpri o meu dever cívico e, como o meu corpo raramente entra em automatismo, infelizmente, cumpri uma função.
Fui à casa da família da minha avó,(tios direitos, por parte de seu pai, dos Soares), ao bosque como lhe chamam actualmente.
Senti que acendi uma vela à minha avó e que pertinho se encontrava o meu pai, bem pertinho, com uma lamparina na mão que também se acendeu e ele sorriu.

Senti que eu era também aquilo que fazia naquele momento.

domingo, 1 de novembro de 2009

SEMPRE A MESMA CONVERSA

Dizia-me uma amiga: "tu és uma radical!"
Vinha tal asserção a propósito de eu não ter votado nas últimas eleições.
E continuava: "Tens que viver em depressão. Afinal quem é que tu querias ver lá? (lá ,quer dizer, no poder)". "Se eu estivesse aí ( leia-se contigo, perto de ti), havias de ver" ( isto quer dizer que me havia de mudar, influenciar no bom sentido, segundo ela).
Em primeiro lugar, acho sempre comovente haver pessoas que consideram que com a sua acção, faz com que terceiros mudem de opinião e em segundo lugar, não é a primeira vez que me chamam radical nem vai ser a última.
Há pessoas que continuam a pensar aos 65 anos como eu pensava aos 20 anos, isto é, a ter a veleidade que vão mudar alguém. Chamo a isto um fenómeno de fé.
Ser radical é não estar de acordo com o que os políticos fazem e como fazem. Das estratégias e tácticas que utilizam. Ser radical é estar desencantada e não escolher do mal o menos. Ser radical é ter conhecimento do que nos rodeia e fazer a previsão possível do futuro próximo.
A outra questão igualmente interessante, é o facto das pessoas ( muitas pessoas) continuarem a pensar que vêem melhor que todos os outros e a manterem a tendência da intolerância com as minorias. São estas pessoas que se dizem muito tolerantes , os outros são OS RADICAIS.
São as mesmas que dizem cobras e lagartos do José Saramago, que por acaso é escritor, mas que não o sendo poderia e tinha o direito de proclamar aquilo que entende da sua leitura sobre a Bíblia. Vê-se LOGO , TODA A GENTE SABE que a Bíblia...(dizem eles porque são católicos e a igreja que frequentam lhes diz isso) é uma enorme METÁFORA.

É sempre a mesma conversa! Os TOLERANTES de todos os matizes, consideram os que não são iguais a si,( tolerantes pois então!) são uns RADICAIS abomináveis.
E viva a tolerância! VIVA!
Faz sempre falta e fica sempre bem!

TRAGÉDIAS

Ficar desempregado.

É HORRÍVEL!

Só mesmo quem passa por tal situação pode compreender.
Será mais desesperante ainda ficarem ambos os membros do casal desempregados.
Ficar desempregado um casal que tenha filhos será um autêntico desespero.
Um casal que não tenha dinheiro para dar comida aos filhos como se sente?
Inimaginável, não é?
Se para uma pessoa só, é verdadeiramente deprimente e trágico que será para uma família inteira? Pois é neste mundo sem esperança e de desespero que vivem muitos dos nossos conterrâneos. É este o momento português e não só!

É ainda mais trágico do que um homem presidente ou vice-presidente duma instituição bancária ser ambicioso duma forma desmedida. Sim. Porque esta realidade também é uma tragédia humana e igualmente grande, embora duma outra espécie.

sábado, 31 de outubro de 2009

COMO É DIFÍCIL ou A LEI DE LAVOISIER VISTA DE OUTRO ÂNGULO




Para andarmos por cá temos que fazer muitos esforços, estar com muita atenção, não prevaricar, cumprir as regras.
É muito difícil viver!
Temos que comer laranjas, pimentos e ingerir muito Ómega 3 que se encontra, por exemplo, nas sardinhas.
Para quem não gosta de sardinhas, peixes gordos ou pimentos tem algumas dificuldades. Os dedos das mãos podem adormecer e é um aborrecimento.
Temos que dormir as horas todas, não podemos engordar, é absolutamente necessário falar com pessoas e trabalharmos até morrer.
Não há tempo para seguirmos a nossa vontade, o nosso desejo. Os que o fazem são mal vistos, são pessoas desleixadas com a sua saúde, passam a ser pesados para o Estado, para as famílias, como se diz, para a sociedade.
A população renova-se a ritmo muito lento e não provém às necessidades. Os velhos duram mais tempo. O Estado não os pode sustentar e, em especial, às suas doenças.
É preciso educar para a velhice. Já não é querer estar doente é também não se dever estar doente, a sociedade passa a ver as pessoas que adoecem com maus olhos - são encargos.
O bom mesmo era morrer antes de chegar a velho, ali após a reforma, pois já se tinha contribuído para a SOCIEDADE.
Claro que nessa altura já não era preciso abrir tantas clínicas. Em cada virar de esquina há uma clínica: clínica do osso, clínica do dente, clínica da cabeça, clínica do pé e por aí em diante. É difícil saber se estas novas "fábricas" produzem saúde.
Não lhe posso chamar lojas porque não se vai comprar lá nada, nem centros de entretenimento e lazer. Fica complicado dar-lhes um nome adequado e sugestivo. Chamei-lhe"novas fábricas", apenas porque são elas que empregam as pessoas indiferenciadas e não só, a par com os shoppings. Os Bancos, essas instituições de produção de pornografia, são os patrões e os médicos os novos funcionários bancários.

Ou será que as clínicas querem tratar dos velhos como as agências de viagem, com os seus novos produtos dourados e séniores? Nesse caso, deveria apelidá-las de instituições de caridade, no sentido em que querem colaborar com esta gente que já não produz, mas ainda recebe as suas reformas e precisa de as gastar alegremente, para tudo voltar à cadeia do sistema "capitalista, oportunista"? Não. Tão só, benemérito!

Faz lembrar, em certa medida a cadeia alimentar. Come-se, defeca-se e o que aí é pruduzido pode servir de adubo para os novos alimentos crescerem mais bonitos e saudáveis.

Bem vistas as coisas, os milhares de clinícas que por aí existem apenas cumprem a lei de Lavoisier ou serão assim uma espécie de enormes recipientes de compostagem?

Não sejamos ingratos nem injustos, elas apenas colaboram no processo de cura de salsichas, chouriços (é uma questão de gosto) em que nós, pessoas, nos transformamos nesta sociedade do cifrão, quero dizer, BENEMÉRITA.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

ENCONTROS AO VIRAR DUM CLIQUE




Hoje e porque aderi ao messenger, enconcontrei-me com um querido amigo, ali mesmo ao virar do clique.

Foi muito saboroso podermos falar sem gastar dinheiro e em tempo útil, mas ao mesmo tempo, deu-nos saudades de quando nos encontrávamos no autocarro e punhamos a conversa em dia, há muitos anos atrás.

Tudo mudou e ai de quem se não adaptar a estes novos tempos porque ficará mais só ainda.

Como será daqui a 10 anos?

Antigamente gostava de fazer este exercício de prever o futuro, de me projectar no tempo, agora não consigo fazer isso, parece que sou sempre surpreendida pelos acontecimentos.

Defeito meu? Sinais dos tempos?

Não há dúvida que está muito mais difícil fazer previsões do que há uns anos atrás. É tudo muito rápido na mudança por um lado, e por outro é tudo tremendamente parecido, quase nada muda, na verdade.

Ainda assim, o que tem sofrido maior alteração são mesmo os valores e os princípios e torna-se cada vez mais difícil e quase inútil correr atrás deles.

ESTIVE CÁ

terça-feira, 27 de outubro de 2009

LIMPAR ACONTECERES




É preciso arrumá-los
Estão todos espalhados
Colocá-los no sítio.

Ao fim do dia
Da semana
Do ano
Verifico que andam por aí soltos
Que é preciso agrupá-los
Limpá-los.

Não é tarefa fácil.
Às vezes possuem arestas.
São difíceis de dobrar.

E volto atrás
Ficou um esquecido
Caído
Porquê?
Porque não consigo metê-lo dentro da caixa?

Verifico então
Que alguns pertencem
A outros níveis existenciais
Habitam outras esferas
As esferas não comunicantes.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

AS MISSAS




Há missas e missas, mas a da Sé de Aveiro nunca mais acaba mesmo.
Normalmente só assisto a uma missa quando sou convidada para um casamento ou baptizado e foi o caso.
Ontem três crianças se baptizavam na Igreja da Sé e também se apresentavam (?)os meninos e meninas da catequese. Então o padre, que é um sujeito que gosta de" inventar", fez uma missa com um écran onde projectava desenhos animados sobre o salmo do domingo, para em seguida, perguntar ao micro às crianças da catequese que se encontravam sentadas à frente junto dele, se tinham ouvido o que se tinha lido no salmo (também lido por uma criança) e como se chamava a pessoa que se tinha encontrado com Jesus, o que lhe tinha pedido, etc., etc, etc..
Òbviamente, que também se encontravam presentes os pais das criancinhas, o que constitui uma boa forma de chamar à Igreja gente e de cativar as crianças, adultos de amanhã. Tudo isto até estaria bem, se não fosse os bébés estarem à espera aquele tempo todo para serem baptizados. Impertinentes, cheios de calor, ao colo dos pais.
Assisti, assistimos a uma missa para criancinhas em que o Sr. padre aproveitou para embelezar mais um pouco, colocando mais este ramalhete no cenário - os baptizados.
Todos estes rituais mais a encenação fizeram desta missa uma autêntica baralhação.

Há uns tempos fui a um casamento na Igreja Matriz de Vila do Conde e também assisti à mesma confusão. Havia a missa normal, havia o casamento e havia baptizados,tudo no mesmo espaço, à mesma hora e celebrado pelo mesmo padre. A confusão era geral. E o padre não se esqueceu de ainda anunciar as missas de 7º dia e ler os recados e lembretes que tinha para uma semana.

Desconheço se os padres frequentam cursos de formação com metodologias de celebração ou outras. Desconheço se estas estratégias são estudadas para atrair "crentes" às missas. Provavelmente, deve-se à falta de sacerdotes e como tal, o mesmo padre executa várias funções ao mesmo tempo, mas que tudo isto é confuso e feio, lá isso é.

Será que estes padres tentam copiar aqueles outros seus "colegas" brasileiros?
Ou será apenas que gostam de estar em palco e esta é a melhor maneira de o fazerem? Ou ganharão mais que os outros?

Não sei o que se passa, mas para quem só vai a estes "eventos" de quando em vez, fica muito baralhada.
Escusado será dizer que não aprecio o género. Perdeu-se a intimidade com Deus e a cumplicidade. São missas mais mundanas, mais viradas para o espectáculo e menos para o espiritual, o religioso.
Mas, como tudo se mudou porque não haveria a missa de sofrer a sua transformaçãozita?
Estes padres devem ser abençoados pelos seus bispos e aumentarem o seu poder junto deles, já que trabalho tão diferente apresentam.

E vende-se pães à porte da Igreja e vêm as freiras e vendem doces para fazer dinheiro para o convento.
Há uns tempos estive em Chaves num domingo, à hora da missa e observei as bancas das freiras com os produtos manufacturados por elas, expostos para venda. Um autêntico mercado "religioso".

Enfim, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades!...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

HÁ TELEVISÕES A MAIS?




Há comentadores a mais nas televisões portuguesas.
Há televisões a mais para um país tão pequeno, dizem alguns.
Todos os canais falam do mesmo às mesmas horas. Fazem intervalos em simultâneo. Têm o mesmo modelo de apresentação/ões.
Abre um novo canal e logo o preenchem de velhas rubricas. Veja-se o caso do canal do Porto- logo lhe enfiaram um painel de "comentadores políticos", outro de "comentadores desportivos", outro de futilidades generalizadas, o jet 13, 14 0u 21 do Porto e arredores. Pirosices sem conta e medida e sem um pingo de criatividade. Não há uma novidade num novo jornal, aliás num velho, velhíssimo jornal. É tudo copiado e mal copiado, por vezes.
Os canais públicos confundem-se com os privados. Se um canal faz um concurso de música, vem logo outro fazer a mesma coisa. Se aquele outro faz um programa de entertenimento bacoco, lá vem o outro copiá-lo para pior.
Programas culturais contam-se pelos dedos das mãos, programas de interesse público, quer científicos, quer outros (como é o caso da Tv rural do Eng. Sousa Veloso), são raros ou pior que isso, passam de madrugada. Há, de facto, um Provedor do Telespectador mas que é que isso interessa? O espectador manifesta-se, o provedor até lhe dá razão, todos falam, para depois ficar tudo exactamente igual.
Há canais de televisão a menos para tantos comentadores, até porque este "ramo de actividade" é caracterizada pela polivalência. Apenas um exemplo entre muitos outros, o caso do Sr. comentador Miguel de Sousa Tavares. O Sr. Comentador comenta tudo, desde uma nomeação política, a uma bola mal mandada por um pé dum jogador de futebol, passando pela análise psicológica, social, laboratorial, financeira ou outra, duma pessoa, grupo ou quiçá, mesmo sociedade ou país.
Este"escrito" poderia intitular-se "Enchimento de chouriços", porque ao fim e ao resto é o que as nossas televisões fazem.

AFASTAMENTO E GRANDEZA




Há muitos e muitos anos atrás, quando eu era pequena e depois adolescente/jovem os chefes da Nação, fosse o Presidente da República ou o 1º Ministro como hoje se diz, eram pessoas muito distantes, quase dum outro planeta, pelo menos, de outro mundo eram.


Quando eu era pequena não gostava deles porque eram chatos e faziam-me dormir. A partir dos 14/15 anos quando comecei a adquirir consciência social e política e a ouvir o que eles diziam, não gostava do que diziam.


Mas, o que hoje queria referir era sobretudo a distância a que eles se encontravam de mim, de nós e, não se pense que isso se verificava em função da minha juventude ou por ter uma avó republicana e um pai pró-comunista. Não, achava mesmo que aquelas criaturas sorumbáticas, com cara de pau ou a falar fininho, sempre vestidas de cinzento ou aproximado, eram figuras sinistras, mesmo até que não lhes conhecesse o discurso e talvez por isso, sabe-se lá, considerava-as a anos luz do povo, das pessoas, de que eu fazia parte. Eram distantes e para mim, embora não tivessem qualquer tipo de grandeza, também não os conhecia, não lhes sabia os defeitos e as virtudes, era como se não conhecesse aquela espécie, mas para algumas pessoas, em especial, para as minhas professoras, eram pessoas de altíssima grandeza.

Sempre supus que a grandeza que lhes era atribuída se devia, em grande parte, ao afastamento que essas personagens tinham do comum dos mortais.


Vem isto a propósito, da comparação com o que se passa hoje, em relação aos nossos governantes, sejam eles de que partido forem. Não os consigo achar grandes e talvez porque os sinto muito perto de mim, de nós, povo. Fazem parte de nós. Qualquer um pode ser ministro, secretário de estado ou director-geral. O povo está no poder. Todos nós conhecemos alguém ligado ao poder e mesmo aqueles que não conhecem, advinham no dos poder, características similares às suas.

Andei anos a lutar para que este simples facto se tornasse realidade. Tornou-se realidade e sinto-me decepcionada.


Será que a minha decepção não é válida? Será que o desejo não se pode constituir realidade?


Ou será, como disse ontem na "Grande Entrevista" da RTP1, o escritor Lobo Antunes que mais vale não conhecer as pessoas, referia-se a outros escritores e não só, para não haver a possibilidade dum grande desencanto advir desse melhor e mais profundo conhecimento?


A democracia é um sistema complicado, toda a gente sabe e já W. Churchill, dizia que a democracia não era um bom sistema, mas era o melhor dos menos bons.


É difícil admirar pessoas que m os defeitos e as virtudes que todos nós temos. Gostamos de

alguém que seja superior a nós, mas em democracia, como se encontram tão perto e são eleitos de dentro dos nosssos grupos de referência, conhecemo-los bem, mesmo que não pessoalmente.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

COMO SE NASCE HOJE EM PORTUGAL




Os jovens têm relações, andam como agora se diz, e um dia ele diz para ela ou ela diz para ele: "e se fossemos pais?"
Assim, entre ter um filho e não ter porque as condições ainda não estão reunidas, porque é uma responsabilidade, porque, porque, porque... um dia descuidam-se, quase de propósito e, sabem que vão ser pais.
Agora é a vez de anunciar aos pais da feliz novidade.
Chegam a casa e numa euforia, anunciam aos seus pais que vão ser avós e aos irmãos se os houver que vão ser tios.
Os avós ficam muito contentes. Toda a gente tem netos, porque é que nós não devíamos de ter?
Já podemos dizer aos amigos que vamos ser avós, etc. etc.

E depois, muito depois, pensam se podem sustentar a criança e oferecer-lhe tudo a que ela tem direito. Ora, os pais também vão ajudar, por certo.
E assim vem ao mundo mais uma criança.
Já ouviram falar de programação?
Pois quem programa muito, tarde ou nunca tem filhos e sabem porquê? Porque as condições nunca são as melhores para assumir essa responsabilidade.
Sempre foi e há-de ser assim -os jovens, um dia, dá-lhes o desejo de ser pais .