sábado, 15 de janeiro de 2022

TEMPOS QUE CORREM

Tempos onde nos perdemos, onde nos confundimos, onde nos abismamos. Anda tudo um pouco perdido, uns por uns motivos outros, por outros. Os mais velhos porque veem a juventude sem futuro e se preocupam, os mais novos porque não veem futuros. Se comparássemos com um quadro os tempos que nos foram dados para viver, diria que a paleta de cores desse quadro é muito limitada, denominada por uma variedade de cinzentos. Muitos de nós imitamos, quase obsessivamente, uma grande paz e calma como nos quadros de Hammershoi. Andamos todos à espera em busca de momentos, níveis importantes de entusiasmo, para não morrermos de mágoas. Tenho para mim, que nos maravilhamos mais quanto menos exigimos da vida, porque qualquer pequeno incidente tem carácter de maravilha quando não projectamos mundos e fundos no horizonte. O que produz em mim mais emoção, é a vontade de compreender quer os outros quer o mundo. Esta capacidade que cada um de nós tem e alguns exercitam, de emoção inteligente, quase literária, esta possibilidade de nos aproximarmos de uma linguagem distinta das nossas tiranias quotidianas, além de sempre me surpreender, maravilha-me e tira-me da rotina, das atmosferas negras em que estamos mergulhados ultimamente. Gosto dos momentos em que nunca estivemos, emocionam-me. São os tais momentos pletóricos da vida para contrapor aos tempos que correm.