sábado, 27 de maio de 2023

ANDAM RESFOLEGANDO

Comprometidos, seguem-se as peripécias. 

Enleiam-se como  serpentes, parecem-se todos. Bichos repugnantes.

Pelo lado dos que assistem: uns encolhem os ombros desdenhosos e nauseados, outros querem mais, reclamam mais luta e deixam-se ir, deixam continuar. Ainda há os que reclamam que estas 'lutas' ficcionais têm de parar, é urgente voltar à realidade.

A maioria dos que se ouve falar torna-se insuportável, porque falam muito para além da sua experiência.


TODOS OS VALORES CAEM DIA A DIA.

Metemo-nos por vielas e becos, embora haja, felizmente, ainda muita gente com a cabeça no sítio, gente que privilegia o belo e a justiça. 

Alguns, falo da escumalha de alguns/muitos políticos, imprensa e comentadores ligados ao capital, até parecem existencialistas sérios mas são apenas imbecis.

Falam alto e entregam-se ao ritmo da intriga e de joguinhos reaccionários. Não são inteligentes mas cobardes e réplicas uns dos outros, incapazes de julgar o que quer que seja.

O único motivo que os move é compor a agenda pública para o poder que necessitam para as suas negociatas e o dinheiro chorudo que ganham por vomitarem baboseiras, copiando-se mutuamente para ficarem dentro do círculo.

Estão sempre a chegar novos a este terreiro, mas fazem parte da mesma fornada ressequida e bolorenta. São os que saltam dos comboios em andamento, ora estão em empresas ora andam por aí de circo televisivo em circo televisivo. Comandam o país nos seus diversos tentáculos de corrupção, estão espalhados por todo o lado, desde as faculdades ao campo com sede nas sociedades de advogados.


A comunicação social não faz uma limpeza geral, não se despeja, continua a descarregar mentiras e falácias umas a seguir às outras.

quinta-feira, 25 de maio de 2023

COERÊNCIA INTRÍNSECA

 Por vezes completamente ininteligível e para tal basta um contexto diferente.


A impureza das reacções estão, algumas vezes, na correlação directa com aquilo que se sabe e pensa sobre o mundo. Parecem quase inevitáveis as atitudes que se tomam sem contarmos. São, até diria, duma subjectividade que se nos impõe e um dos problemas, no que a mim me diz respeito, é mesmo a minha falta de benevolência intelectual para as tolerar.

Ser português é uma aventura incrível, torna-se mesmo um fracasso colectivo  e individual como consequência.

A falta de compreensão dum povo pelo mundo que o rodeia, acrescida  da necessidade de trabalhar o dobro ou o triplo para obter um rendimento para que consiga sobreviver.

A ausência de coerência em muitas atitudes que tomamos faz parte do ser humano.


Por muita dialéctica que tenha não consigo assimilar a dicotomia de certas reacções. Incarnamos em avatares. Há uma dificuldade notória, na maioria de nós de reagirmos em conformidade com os nossos princípios e ideais que defendemos e assim, chegamos à perplexidade do entendimento pelas ambiguidades que se sucedem.

A questão para mim, continua na forma do enigma grego. Por muito que repense estas e outras questões, as divergências entre mim e eu mesma, assemelham-se muito ao país e às suas práticas que divergem quase sempre das suas teorias.


quarta-feira, 24 de maio de 2023

ENCRUZILHADA REFLEXIVA ou A PESSOA E AS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS

Há dias em que nos sentimos sem saber o que fazer. Parecemos que nem merecemos o nome nem a vitória da existência.

Assemelhamo-nos ao País, que farto duma ditadura de meio século, inventou uma democracia à portuguesa, da qual está farto também.

Merecemos a Vitória duma democracia de Abril?

Confundimo-nos com o país e tal como ele já nos sentimos confortáveis no nosso próprio corpo e alma, até que um dia tudo vai mudando por motivos vários, uns intrínsecos outros extrínsecos.

Concitamos esperanças ao longo dos anos para um dia termos uma velhice dourada ou pelo menos banhada em prata, mas tudo se  vai comprometendo.

Nós somos os mesmos ao longo do tempo, mas também já somos outros, mesmo em relação a nós próprios. Claro que nascemos muitas vezes e morremos outras tantas.

Sabemo-nos no entanto, portadores dum atestado de existência mas cujas consequências são sempre imprevisíveis.

Tal como o país nem sempre temos a consistência que a nossa existência implica com paciência e calma, deveríamos começar vezes amiúde um exame aprofundado de certos defeitos, de certas fragilidades que sabemos que temos e sobretudo assumir esta maioridade com coragem e sem desfalecimentos. 


Temos que ser audazes para viver a velhice. É uma idade em que já pouco nos norteamos por alguém, por isso não devemos sentir complexos de qualquer espécie.

Há quem nos conteste, sempre houve, mas é altura de internalizarmos  a imagem sem intimidações exteriores, e mesmo interiores. Esse tempo já passou.

Se nos quisermos mudas/os, será sempre por opção. A nossa vitória é estarmos vivas/os, de termos  chegado até aqui.

Exprimamos pois a nossa vontade geral de normalização da vida porque enquanto estivermos neste mundo seremos sempre escrutinadas/os, analisadas/os de alto a baixo e de trás paras a frente.


A vida é um imperativo vital. Dediquemos-lhe todo o nosso tempo.

domingo, 21 de maio de 2023

OS CIMOS

Chegamos ao cimo duma serra e duma cordilheira ao mesmo tempo e, não vimos a capela que estava no cimo do monte, porque o monte estava num cimo mais baixo.

É muito interessante chegar ao cimo, seja ele qual for. Chegar ao cimo é perceber como dizia Santo António "não és sábio se sabes mais do que importa".

Não nos confinemos,  mesmo perdidos à faixa estreita que nos é oferecida para nunca nos perdermos.


Chegarmos ao cimo é um contentamento contente.

É bom não sermos o Velho do Restelo, não sermos passivos, é bom sentirmos a necessidade da descoberta. A audácia da descoberta é uma enorme virtude.

Para chegar ao cimo, querer ver os cimos não é preciso correr muito. Não é necessário dizer muitas vezes que se corre muito, mesmo correndo.

Chegar aos cimos não é propriamente promover fontanários a catedrais, antes pelo contrário.

Os cimos são o silêncio, são o culto da justiça.

Santo António dizia que quem se reveste do mundo cai facilmente na guerra e assim veio-me à memória, o Santo, o Silêncio e o Contemplativo


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segunda-feira, 15 de maio de 2023

PALAVRAS DITAS E NÃO DITAS

A comunicação deveria ser sempre feita por obras e acções mais do que por palavras, a palavra a existir não seria nem anterior nem a principal no contexto da comunicação. As palavras servem para construir ou destruir fronteiras, como é sabido. Por vezes o seu uso, bem como a sua ausência, através do silêncio, correspondem a muros altos. As palavras são o maior desafio ao entendimento/desentendimento. Muitos conflitos abrem-se/fecham-se tendo por uso a palavra. O que a caracteriza é a consciência superaguda da sua essência. A palavra pode ser cínica ou moeda de troca no grande jogo da comunicação. Para ser bem utilizada tem de se tomar consciência na hora em que utiliza. Se a palavra se distancia muito da prática colectiva, é desacreditada e torna-se nula. Há palavras decisivas quando bem escolhidas e reflectidas Em suma, a palavra pode ser salvífica ou mortífera.
Tenho para mim, que a comunicação é um dos maiores problemas do mundo, senão o maior.

terça-feira, 9 de maio de 2023

ERROS MEUS, MÁ FORTUNA...

EXIJO DEMAIS DOS OUTROS Não sei fugir às armadilhas, precisava de comprar habilidades. Olhamos mais do que entendemos, já dizia Sá de Miranda. Queremos e cremos que os outros são feitos à nossa imagem e semelhança As almas andam cinzentas, mas continuamos a gritar a plenos pulmões, que está tudo bem - a única coisa que toda a gente parece estar de acordo - que somos verdadeiramente amados, que temos muitos amigos em vez de conhecidos. A vida é um imenso labirinto onde por vezes nos perdemos como numa cidade em que não conhecemos o mapa. Sofro duma certa rigidez mental e intolerância. Estou em crer que sim, se calhar também bebi a gota de sangue do último dragão, não para me tornar imortal, mas apenas para me aborrecer ad eternum. O preço deste meu querer é muito elevado. É uma espécie de cobiça da alma, ambicionarmos que os outros se pareçam connosco. A sabedoria está no conhecimento de si mesmo, mas a maioria de nós não atinge este estadio. É fundamental amarmo-nos em consciência e é tão raro isso acontecer seria muito bom seguir o rumo da águia e do falcão que significam o justo. Os nossos conflitos interiores são o nosso esqueleto e por vezes precisamos do tão necessário isolamento para não nos desintegrarmos. A vida de cada um de nós é uma espécie de cruzada do desespero do quotidiano. Somos ineficazes como seres humanos, a maioria de nós obviamente e, por isso, muitas vezes autoritários.

segunda-feira, 8 de maio de 2023

QUANDO A VIDA POLÍTICA NOS DEPRIME

Esta hipocrisia e cinismo constantes, este atirar contínuo de armas e armadilhas, Estes sacristães políticos e sociais em simultâneo com os tortuosos juristas e economistas que nos aparecem como fantasmas a todas as horas nos meios de comunicação social, deprimem-nos. Para se juntarem à orquestra chegam todos os maquiaveis provincianos, tipos salazarentos e agoirentos numa versão pop-chula de má qualidade e aos gritos. O povo português apostou todas as fichas no PS, deu-lhes maioria absoluta, desconhecendo que os ministros escolhidos pelo chefe e PM Costa não estavam à altura de governar. Este povo exaltado, emotivo, caucionado pela incultura e falta de educação cívica e não só, vive para dentro numa completa irrealidade, em vez de viver uma vida colectiva efectiva. Gostam mais do Fado e de Fátima, do sentimento épico e glorioso do que resolver os verdadeiros problemas. É sempre para amanhã o que pode ser resolvido hoje. Parece um povo cego, passivo. Prefere adequar-se do que exprimir-se com coerência. Parece um povo infantil, olhamos com naturalidade as imaturidades políticas. Tivemos o 25 de Abril porque não o aproveitamos? Se calhar pela mesma razão que não aproveitamos a 2ª República. Voltamos a tudo de novo. Apenas uma minoria privilegiada merece existir. A Democracia não é isso. A Democracia fez-se para determinar os limites entre os muito ricos e os pobres e o que têm feito os governantes? Apoiar os ricos, tornando-os muito ricos. Aumentar impostos para a classe trabalhadora, tornando a classe média mais pobre e aumentando o nº de pobres que está quase em 3 milhões. Não se cumpriram os princípios mínimos da Democracia. Continuamos com a democracia no abstracto, não a concretizamos e assim as pessoas cada vez mais vivem pior. Fomos uns colonizadores que acabamos colonizados. Entramos numa depressão colectiva qualquer dia, mesmo aqueles que têm comida na mesa. Esta forma de estarmos na vida impassíveis, apenas cultivando a maledicência e as conversas de café, esta incapacidade para agirmos e reagirmos faz de nós um povo doente, uns intoxicam-se com neurolépticos, outros continuam aí a caminhar como zombies cometendo actos de loucura ali e acolá.

domingo, 7 de maio de 2023

HOMENAGEM ÀS MINHAS MÃES

NUNCA PENSEI CHEGAR AQUI MINHA MÃE A tua ausência incarna em mim todos os dias. Sim, minha mãe nunca fui neutra, achei que as ovelhas deviam ser defendidas do lobo. Eu sei mãe que não sou pastora. Mãe tive duas, é para essas duas que falo. A minha mãe e a minha avó. A minha avó, republicana, nascida no ano da implantação da República, dizia-me sempre que a democracia era politicamente partidária e por isso defendia a sua Leninha de tomar sempre partido. Ela dizia que eu não confundia os géneros, apenas confundia a mão direita com a esquerda quando era muito, muito pequena, mas ensinou-me a não confundir. As duas liam e gostavam de Camilo Castelo Branco e transmitiram-me essa verdadeira paixão. Sim, minha mãe, não caminharei nunca pelo indiferentismo, não faz parte dos meus genes. Lembro-me quando disseram que tinham feito uma promessa à Santa Clara ou à Nª Senhora de Fátima para eu falar. Ainda hoje acho que foi a Nª Srª de Fátima, de quem muito gosto, que me diz, baixinho, que tenho de reaprender a falar, quando falo mais do que devo, mas por outro lado tem medo que o monólogo me ensurdeça. Ouço a minha mãe, que era mais crítica, dizer ainda recentemente antes de morrer: olha que não devemos ser oposição, estamos em democracia. Já a minha avó gostava mais dos slogans se não fossem sem conteúdo. Na realidade minha mãe eras mais forte do que eu, para ti era inútil proporem-te miríades sem conteúdo imediato. Avó minha e, tu que conhecias todas as máscaras dos interesses concretíssimos, eras uma burguesa ainda por cima brasonada, secretamente muitas vezes vinhas a terreiro, aterrorizada pelas injustiças que não conseguias remediar. Nenhuma de vós se achou o centro do mundo e isso foi muito bom para me ensinarem a não me intoxicar. Nunca se falava de Salazar lá em casa comigo, claro, porque meu pai tinha sido preso por ser contra a política dele, mas ouvia-Vos. Minha mãe dizia, lembras-te mãezinha, que ele era desprovido de imaginação, era apenas uma boa dona de casa dizia a minha mãe para a minha avó, que detestava gente sem imaginação, ela fazia capas para livros, bordava quadros e uma série de coisas mais. Portanto,sempre achei que a política dele (Salazar) era muito caseira desde os 6 anos. O meu avô, espanhol, argumentava que ter-se orgulho por ser contra o Estado Novo, não era grande coisa, porque o EN era simplesmente lamentável e continuava a ouvir ópera até adormecer de pé, nos serões lá de casa. Minha mãe está a chegar o S.João e tu gostavas muito de ver os 'arrolados' como lhe chamavas, os que nem encontravam a casa, por isso íamos às Fontainhas no dia seguinte. Fica a saber minha mãe que a partir de amanhã vou tratar dos fetos que estão a invadir oa Agapantos. Quero os Agapantos lindos e limpinhos no S.João. A erva-cidreira está por todo o lado. Ontem bebi um chá com as folhas que fui cortar. Não te quero preocupar, mas o meu estômago anda um pouco abalado, até me parece que quer copiar a delicada democracia. Fica bem, querida mãe que também vou fazer por isso. Avó, tu estás bem, nunca te ouvi dizer o contrário, quem me dera ter aprendido mais contigo, mas fui fraca aluna.