domingo, 12 de outubro de 2014

TEMOS OU NÃO TEMOS CULPA

Não temos culpa de ter nascido neste país
Não temos culpa dos corpos devastados em pouco tempo
Não temos culpa dos governantes serem maus artistas de variedades
Não temos culpa da maioria das pessoas serem manhosas
Não temos culpa da falta de faro dos outros
Não temos culpa de vermos a maioria a piar, esperando o envelhecimento

Temos culpa de não elogiar ninguém
Temos culpa do diabo estar sempre a tecê-las
Temos culpa de gostar de tudo que é o mesmo que não gostar de nada


Tenho culpa de não ter paciência
Tenho culpa de responder à justa e sem contumélias
Tenho culpa de não ser ambiciosa
Tenho culpa de viver neste país a saque, onde poucos querem saber e muito poucos querem que se puna

Não temos culpa ou temos, de viver num país cheio de cagança?

terça-feira, 7 de outubro de 2014

NOITE DE TEMPORAL

Não consigo dormir.
Antes tinha poucas insónias e muito produtivas. Hoje produzo insónias e claro descasco algumas camadas de preocupações e verifico que não são urgentes porque nada é urgente.
Calam-se as insónias perante mim constrangidas e procuro a primeira em ordem de grandeza, aquela em que me tenho que deter, mas como num bailado escondem-se umas atrás das outras, jogando o jogo das escondidas.
Param e põem-se à conversa comigo nesta noite singular. Dizem-me que não vieram fazer turismo, que são residentes.
Lá fora a chuva cai espalhafatosamente.
A cabeça dói, os olhos ardem.
Engenhoco temas de que poderia falar, mas todos me parecem pouco importantes de tanta importância que realmente têm passaram a ser muito semelhantes em ordem de grandeza.
Quando os passo ao papel diluem-se nas letras, submergem.
Um dos temas que me tem falado, últimanente,é a coragem da raiva.A coragem da raiva traz a derrota penosa.
Atendo e desatendo, em simultâneo, a vários que me visitam.
Assisto-me a grandes, enormes mudanças, sabendo bem que são fantasiadas. As mudanças fazem-se levemente, gradualmente, num processo mas só as vislumbramos tardiamente, dum momento para o outro.
Rajadas de vento impõem-se neste silêncio do escritório e é difícil definir o meu espírito. Não escolho a via.
Os dias vão-se sucedendo e o caudal do meu desalento por viver num país que seguiu este caminho vai aumentando.
O país tornou-se pimba e as pessoas pimbas se descobriram, fazendo disso alguma gala, confundindo consciência social com este caldo pseudo qualquer coisa, é o que 'vende' para a esquerda e para a direita.
Já vivi ambientes outros com maneiras de afirmação pessoal diferentes. Havia interessas vários, teatro, cinema, debate de ideias e ideologia. Saudades tenho da ideologia e do debate de ideias.
Hoje não acredito mesmo em todas as coisas a que me habituei.
Tenho saudades dos tempos em que as pessoas se esmeravam por escrever e falar bem.
Hoje proliferam os áulicos de todo o género até na língua se nota.
A bacoquice campeia e a moda é a produção de efeitos fortes, expressões de piedade que condizem com focinhos de corruptos.
A chuva parou, já não a ouço, os meus olhos começam a fechar e o tema nº 1 impõe-se - ESTE OCEANO NEGRO deste silêncio em que o país se encontra com um ou outro fogacho de pequena luta.
Muito obscurantismo, muito diletantismo e muito pensamento curto.