segunda-feira, 18 de julho de 2022

PARADOXAIS ESPÍRITOS

Duma maneira geral, as pessoas não se transcendem ao que seja individual e local. Não se esforçam por seguir ideais que as conduzam. Por mim, vejo-me neste paradoxo como paradoxal espírito que sou, sendo uma portuguesa comum que é: por um lado, ter piedade pela ignorância e erros, acrescentado de ilusões e por outro, indignar-me e impacientar-me com a forma de ver a sociedade como um organismo, sujeita como outros organismos animais a leis que superam a vontade dos indivíduos por que é constituída, esta ideia romântica que ainda permanece em mim e em muitos/as como eu, como se fizéssemos parte do Séc.XIX. Por vezes sinto-me a casar impossíveis, a ligar os Pólos. Gostara eu do meu Portugal ser um país onde não faltasse comida, habitação, educação. Onde se praticasse Justiça. Gostara eu de perceber se este povo sem as condições adversas em que vive, em que a maioria de nós apenas luta pela sobrevivência, sem qualquer hipótese de pensar e elevar-se a mais nada, gostara eu de saber se seríamos diferentes. Não estarei certa que a causa da nossa decadência ao longo de séculos se radique na nossa personalidade enquanto povo. Gostara eu de saber se não fossemos tão pobres atingiríamos a virtude da altivez interior, a dignidade de pensar por nós próprios, deixando de ser submissos de carácter a todos que nos acenam com o vil metal. Gostara eu de saber se seríamos aquele povo que alienaria a generosidade lusa ao orgulho de não nos mostrarmos sempre acocorados, sempre nesta encruzilhada, neste(s) eterno(s) paradoxo(s).

segunda-feira, 2 de maio de 2022

PACIÊNCIA

Neste mundo triste cada vez mais temos que usar da fantasia e da imaginação. As pessoas, mesmo as mais próximas resolveram tomar partido pela telenovela da guerra que os canais televisos lhes oferecem a seu belo prazer. A guerra na Ucrânia é o que está a dar. Assim, vão ondulando como as vagas do mar. Amigos, companheiros, conhecidos, vão pouco a pouco falando uma linguagem nova, estranha, inaudita. Acabaram-se as meigas alegrias, as irrequietas ilusões. Falta-me paciência, a minha doença maior é a ausência de paciência. Paciência até para fazer de conta que acredito nas mentiras que nos são impostas. Encanzino-me facilmente. Preciso de queimar mais Judas. Vejo os Judas a ser galardoados a todos os minutos. A verdade contaminada de mentira galopante, abastarda-se e dissolve-se e vai-se cavando o abismo profundo das opiniões divergentes ou a amabilidade da indiferença. Dividem-se pelas dores que foram causa ou apenas objecto e algumas amizades vão sendo sepultadas ou pelo menos, abaladas, por terem acabado de contemplar pela enésima vez o grande espectáculo da guerra pela televisão, ficando com o coraçao entumecido. Se deparam com alguma coisa que lhes perturba o pensamento, a sua ilusão de que o que veem seja a única e exclusiva verdade, a verdade imparcial... Se lhes dizemos: dá-me licença para lhe dizer que aquilo que tem observado com tanta atenção, é parcial, não é bem assim, ficam muito zangados/as, preferindo acreditar na mentira e fazendo parte do logro comum e maioritário. O tempo mais dilatado que estas pessoas dão a quem queira argumentar e introduzir novos dados para reflexão desta guerra neste lado do mundo, são 5m de incredulidade, para depois passarem ao ataque e afirmando com veemência: SE A TELEVISÃO DIZ É PORQUE É VERDADE ou algo similar- voltando a fechar-se à argumentação, aos factos, à História e retomando a audição fi-lo-só-fi-ca da televisão.

domingo, 1 de maio de 2022

PRIMEIRO DOMINGO DE MAIO

Não tenho histórias cor-de-rosa para contar. Gostava falar das danças, o dia da dança foi há pouco tempo, da valsa da Alemanha com o seu beijo sempre no ar, da tarantela da Itália, do bolero da Espanha, da mazurca da Polónia ou do nosso vira, mas todos estes países têm dançado muito mal. Têm estado às ordens do cardeal Richelieu, sim desse que foi ministro de Luís XIII e dizia "quando tenho um projecto na mente, derribo quanto me estorva o caminho e cubro tudo com a minha sotaina vermelha". Toda a Europa tem dançado a dança dos fachos como na Idade Média. A Europa dedica-se a adorar ídolos oxidados e venenosos como o sebento Biden, bezerro do dinheiro. Tenho a sensação de que estamos a viver vida demasiada nestes anos que nos são dados viver. Anos amargos. Quem era ainda inocente, rapidamente teve que se converter em valente pelo turbilhão de confusas e tumultuosas notícias que lhe chega. Há desânimo no ar e muita desconsolação. Há gente sepultada em si mesma. Os ingleses chamam-lhe spleen a todas estas amarguras. Bem sei que as pessoas se habituam a viver assim nas lágrimas da esperança por um mundo melhor. Temos que nos resignar e até condescender dada os elevados níveis de impotência a que estamos sujeitos. Ultimamente tenho verificado que há demasiada gente a fazer juras de amor a Zelensky e a tresdobram os insultos ao russo Putin,não querendo saber da contabilidade do artista ucraniano bem embrulhado com envólucros de veludo e cetim. Enquanto isso,as nossas ilusões acumulam-se no epitáfio. Quer um quer outro, refiro-me aos vizinhos em guerra, comandados pelo pássaro bisnau Biden, que se propôe salvar a sua economia à custa da venda das armas, empurando a grande Rússia para oriente ficando ele com a parte ocidental, falam em salvar a pátria, a pátria para aceder ao capital, às armas aos bancos, à oratória dos diversos senados que por eles velam como se de S. Bento se tratasse. Neste primeiro domingo de Maio festejava-se a Nossa Senhora da Lapa e nessa altura, há um século atrás, havia alguém de ser eleito definidor pela Irmandade do mesmo nome, para asseverar que pagaria a próxima festa, que no caso seria a de S. João. Claro que o definidor emprestaria algumdinheiro à Irmandade mas mediante o simples juro da lei. Vem isto a propósito da minha pergunta sobre o princípio desta guerra. QUEM VAI PAGAR A GUERRA? Somos todos nós que não fomos ouvidos nem achados pelos EUA, pela senhora Úrsula, pelo sr Costa se gostaríamos de cometer tais actos de abnegação. Quem vai à festa quando ela chegar? À festa irá só o Sr. Biden, o general máximo e o artista de variedades, tal como um mestre de cerimónias de qualquer igreja em festa.

sábado, 15 de janeiro de 2022

TEMPOS QUE CORREM

Tempos onde nos perdemos, onde nos confundimos, onde nos abismamos. Anda tudo um pouco perdido, uns por uns motivos outros, por outros. Os mais velhos porque veem a juventude sem futuro e se preocupam, os mais novos porque não veem futuros. Se comparássemos com um quadro os tempos que nos foram dados para viver, diria que a paleta de cores desse quadro é muito limitada, denominada por uma variedade de cinzentos. Muitos de nós imitamos, quase obsessivamente, uma grande paz e calma como nos quadros de Hammershoi. Andamos todos à espera em busca de momentos, níveis importantes de entusiasmo, para não morrermos de mágoas. Tenho para mim, que nos maravilhamos mais quanto menos exigimos da vida, porque qualquer pequeno incidente tem carácter de maravilha quando não projectamos mundos e fundos no horizonte. O que produz em mim mais emoção, é a vontade de compreender quer os outros quer o mundo. Esta capacidade que cada um de nós tem e alguns exercitam, de emoção inteligente, quase literária, esta possibilidade de nos aproximarmos de uma linguagem distinta das nossas tiranias quotidianas, além de sempre me surpreender, maravilha-me e tira-me da rotina, das atmosferas negras em que estamos mergulhados ultimamente. Gosto dos momentos em que nunca estivemos, emocionam-me. São os tais momentos pletóricos da vida para contrapor aos tempos que correm.