domingo, 20 de agosto de 2017

ERA UMA VEZ UM DOMINGO


Vêm-me à memória outros domingos. Retalhos de tantos tempos.
Domingos cádmios.
Domingos  a ler,  encerrada no quarto de adolescente.
Domingos a  estudar e a trabalhar.
Domingos dentro do meu próprio casulo.
Domingos em que se pensa por toda a semana, por todo o mês, por toda a vida.
Domingos em que se pensa, por exemplo, que coragem deve ser precisa para envelhecer.
 Domingos  em que já se envelheceu.
Domingos em que a maior parte do tempo, temos que contar com a nossa própria companhia.
Domingos que rangem.
Domingos em que era uma vez.

Lola Flores - Requiem por Federico García Lorca

terça-feira, 1 de agosto de 2017

ESTÁGIO

A vida é uma espécie de estágio.
Estamos todos metidos pela idade adentro.
A certa altura temos saudades de nós próprios, são alturas recolhidas, aquelas alturas egoístas, sempre a olhar para trás para termos a certeza que ninguém nos está a espreitar  como quando estamos a comer chocolates sozinhas.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

HÁ PESSOAS QUE FALAM SEMPRE DUAS LÍNGUAS

Tantos sons guardados na garganta.
A clareza das coisas tenta escurecer.
Não sabemos nada do futuro, nunca sabemos nada do futuro mesmo que nos preparemos para ele com alma.
Cansa-me cada vez mais esta forma de não me deixar padronizar, de não baixar a guarda.
Hoje temos um mundo transfronteiriço e criativo mas querem-nos à procura de nada, a não ser a sucessão de pequenas coisas.
Ou nos rimos iguais ao diabo ou sorrimos levemente como anjos papudos.
Vivo num país de alcoviteiros, com gente que adora futilidades. A receita de Salazar foi o cultivo da ignorância com vista à felicidade.
Hoje podemos ver, no entanto quem Vê?
As pessoas calam-se para comer, revisita-se o fascismo em quase todos os actos da vida.
Há apenas duas fábricas de envergadura em Portugal: a do futebol e a da corrupção, embora só uma obtenha resultados compatíveis.
A maioria das pessoas fala duas línguas mas não consegue pensar em nenhuma.
 O regime está luzidio.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

ARMANDO SILVA CARVALHO

Varanda de Pilatos

Não há tempo. Há o espaço. O sol e as nossas voltas.
Os bocejos da lua, o clã dos astros.
Os buracos negros.
Ó mãe! Para onde foram os seres vivos de ainda
Há pouco em todo o seu esplendor?
Mortos como tu, a natureza recebe-os.
A Terra, essa criança atroz, destrói os seus brinquedos
Numa rotina mecânica.
Quantas noites me faltam? Quantos beijos no escuro?
Quanta luz me cabe ainda nas pupilas?
Os anos não me matam, não me ferem os meses,
As horas não me guilhotinam.
As células vão ardendo nos seus mapas
De nervos, o sangue demora sempre mais um pouco
A chegar ao seu destino orgânico.
Devagar, devagar, a cabeça amolece.
Devagar no colo do sono.
Ó mãe. Um ninho. Uma cama macia no teu ventre.
Uma exposição de sinais. Uma geometria
Que me liga ao saber acumulado.

Armando Silva Carvalho, in 'Sol a Sol'



Alguém lendo versos de Jorge de Sena
Era um poema feito.
Mas tu tecias
novas linhas
com a palavra
aranha sedutora
visando paciente
a mosca
do ouvido.
Era um poema célere.
Molhado pela água
turva
das lembranças.
Mas com ele regavas
as raízes vivas
que te cresciam
na boca.
Figura frágil
onde o poema subia
para os ombros
a medo
como uma criança.
A tua língua
clara
de pedreiro cansado
unia
lentamente
os versos que todos habitamos.

Poeta vencera recentemente importantes prémios literários nacionais com o último livro, "A Sombra do Mar"
O poeta e tradutor Armando Silva Carvalho morreu ontem de manhã, nas instalações da Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha, vítima de doença prolongada, anunciou, em comunicado, a Porto Editora.
Armando Silva Carvalho nasceu em 1938, em Olho Marinho, Óbidos, e era um dos mais importantes poetas portugueses da atualidade, tendo ainda recentemente vencido os mais importantes prémios literários nacionais, com o seu último livro "A Sombra do Mar", publicado pela Assírio & Alvim, acrescenta o grupo editorial.
Com esta obra, venceu em fevereiro o prémio literário Casino da Póvoa, do Correntes de Escrita, bem como o Prémio PEN de Poesia e o Grande Prémio de Poesia António Feijó, da Associação Portuguesa de Escritores, em 2016.

La Carpinese - L'Arpeggiata porque gosto muito

Joan Manuel Serrat - Aquellas pequeñas cosas

segunda-feira, 29 de maio de 2017

METÁFORAS E ARDIS

Gosto de metáforas.
Gosto da natureza.
Esta relação mágica entre mim e a natureza tem que se realizar todos os dias.
Sentir a Natureza e a sua seiva é sentir-mo-nos vivos.
E de repente, vá-se lá saber porquê ou até talvez saiba, veio-me à memória a tragédia do Ricardo III que nos deixou Shakespeare e que tanto me abanou no teatro quando a vi pela primeira vez representada que tive que ler o livro, o que já fiz vezes sem conta e de todas as vezes vejo coisas que nunca tinha visto antes, como sempre me acontece quando releio, melhor dito, leio, porque leio de novo e leio diferente,  os clássicos.
Devo aqui fazer um parênteses para esclarecer quem porventura me lê, que quando me encontro numa encruzilhada do entendimento dos fenómenos que me rodeiam, refugio-me nos clássicos e como sou dada a coisas do teatro, normalmente é aí que vou parar, por isso mais uma vez fui à biblioteca que fica na cave e, veio ter comigo, o Ricardo III e lembrei-me mais uma vez da sua tirania e do fascínio que nos provoca e a reflexão a que nos leva sobre a natureza dessa tirania, as suas consequências, as vítimas que são produzidas e de como nunca há inocentes.
O fascínio que esta figuras da História provocam conjuntamente com o desprezo que geram é um paradoxo, um ardil que nos mina todos os dias.
A metáfora, se calhar uma metáfora vegetal, é aquela que os reis e, também Ricardo III, tinham que o seu sangue equivalia à seiva da natureza e portanto obedecer ao Rei era obedecer à Natureza, mas isto já nos levaria a outro texto e a outra reflexão, essa mais ligada aos ritos agrários e muito antes do séc. XVI (1592/1593), ano em que a peça foi escrita.

O PODER DA IGNORÂNCIA

Toda a gente dá opiniões (dóxa).
Ignorante, alguém definiu, como a pessoa que tem pouco conhecimento e que se recusa a ter mais conhecimento, mas que tenta fazer valer o seu pouco conhecimento por meio da violência na discussão e nas acções.
Já os filósofos no tempo de Sócrates, achavam que a democracia era um problema porque dava poder aos ignorantes.
Os ignorantes desde sempre se recusaram saber, mas usam da  violência para conseguirem tudo o que querem contra todos aqueles que procuram saber mais um pouco.
Já Sócrates e Platão eram contra a democracia porque o poder era dado aos ignorantes.
Como se pode saber que se está errado se não se tiver conhecimento para se saber que se está errado e isto tanto vale para o Sr. que actualmente manda no mundo, como para o vizinho aldeão/urbanita que opina sempre, mesmo que não saiba do que está a falar.

Guimarães Rosa - Entrevista RARA em Berlim (1962)

Brasil Século XXI - Cultura, Produção, Representação simbólica da Socie...

sexta-feira, 19 de maio de 2017

UMA OUTRA EPISTEME

Eu não sou o que o outro me vê, como os jovens de hoje  e não só, nos fazem crer.
Quem crê que como o outro nos vê, é como é, não costuma falar com a sua intimidade.
O que todos tentam é obrigar-nos a entrar dentro das suas categorias, tal como nós.
A falta de cultura, a ausência de referenciais, leva-nos a encaixar tudo em categorias, mas obviamente não é isso que resolve. A maioria de nós são casos atípicos.
Há pessoas vazias que dão aos outros os melhores conselhos, como o Polónio do Hamlet dava a seu filho Laertes.
Todos nós precisamos por demais de ilusões para vivermos, senão piramos de vez, mas ainda bem que uma grande parte dos que vivem acham que não devem mostrar em todas as ocasiões a maior felicidade do mundo.

Celebrate Love with Google Arts & Culture

quarta-feira, 17 de maio de 2017

SÉC. XVI

A CONSCIÊNCIA NOS TORNA COBARDES

HAMLET

sábado, 13 de maio de 2017

After you've gone cover DE FACTO, GOSTO BASTANTE

"Lo que puede el dinero" El Arcipreste de Hita-Paco Ibañez

Jenni Vartiainen - Missä muruseni on [Official Music Video]

INQUIETAÇÃO

Sinto-me como aquele viajante que adormeceu durante a viagem de comboio e quando é obrigado a sair e abre os olhos no meio da Praça, clama:
- E foi assim que vim cá parar, justificando-se.
Tinha sonhado que tinha matado alguém. No sonho não lhe foi dito se foi um americano ou um português a morrer.
Acordada penso: Será que matei mesmo?
Como vim parar a este país de loucos? A um país  em que não se respeitam as minorias, que se faz de tudo quanto é acessório principal e se trata o principal como se acessório fosse.
Como posso sair deste sonho mau?
Não podes, respondeu-me uma voz com tom cínico. E continuou a fazer-se ouvir, dizendo:
-O que acontece é que compramos os sonhos de todos que vivem no rectângulo por três gerações e enquanto isso, só restará aos que ainda sonham, deixarem de o fazer para não se sentirem vigiados, acorrentados.
Fizemo-lo para que ninguém ao acordar dum sonho se volte a perguntar: O que estou aqui a fazer, eu não matei ninguém.
Mataste ou não, pergunto eu?
Olhei para trás. Não vi Ninguém.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

ESTE NÃO É MILAGRE DE FÁTIMA

https://www.rtp.pt/play/p3485/e287474/salvador-sobral-ao-vivo-no-forum-cultural-do-seixal

TER INIMIGOS

“nada agrada mais ao homem do que ter inimigos, e depois verificar que correspondem exactamente à ideia que deles fazia”.

Italo Calvino

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Joan Manuel Serrat & Silvia Pérez Cruz - "Paraules d´amor" (2013) (Tv3) HD

Edgar Morin - A complexidade do eu

HÁ QUE PREVENIR

Fomos e estamos enganados. Rousseau não tinha razão.
Não se afastem para tentar compreender, hoje o movimento do geofísico, possivelmente,  já não resulta.
Ninguém vá embora, senão esses lugares serão ocupados. Eles odeiam o vazio, ocupam tudo.
A 'informação' desinforma quase sempre.
Alerta a reter: as vidas às vezes partem antes das pessoas.
Muitos já preferem afogar-se a pedir socorro.
Evadem-se das suas próprias responsabilidades.
Há que prevenir: toda a gente é capaz de tudo, de tudo mesmo, assim as circunstâncias o propiciem.
Matar, por exemplo, não se trata de privilégio de alguns.
A maioria de nós não compreende tudo à primeira.
As pessoas instalam-se, umas nos seus prolongados silêncios, outras na sua imensa  cobardia.
As certezas apoderam-se de nós. O difícil é prevenir. Explicar que o não fazer nada é uma enorme e cansativa tarefa.
Como prevenir que as desconfianças não devem aparecer antes da confiança?!
A segurança não chega de comboio em noites de Verão, mas o melhor talvez não seja aguardar a partida, indefinidamente, na estação.
O medo paralisa tudo.
O medo e a espera, estamos sempre à procura de qualquer coisa que surja.
São poucos os que fazem acontecer, no entanto só eles podem mudar o mundo, estejamos prevenidos.


terça-feira, 2 de maio de 2017

IRONIA

É cómico tomar consciência que as pessoas  não gostam de falar com ninguém, já que quando falam apenas se ouvem a si próprias ou  dizem banalidades, no entanto clamam a toda a hora que se encontram sozinhas.
Duma forma geral, são elegantes, mas não concisas.
As pessoas julgam os outros como a si mesmas e as reservas mentais que têm em relação aos demais saltam-lhe da cabeça como piolhos e lêndeas.
Somos bons ouvintes quando lemos, deixamos o outro falar.
E escuto um amigo já falecido:
Serei eu de outro mundo?

terça-feira, 25 de abril de 2017

TRAGÉDIA

É preciso conservar os ideais para continuar a revolução. É esta a grande dificuldade.
Todos nós queremos a chave na mão, queremos tudo pronto para nos encaixarmos onde nos der jeito, ninguém quer construir o edifício.
O erro maior é pensar-se que tal como as coisas estão, é a única forma que existe.
Quem assim pensa e age desiste dum mundo melhor.
Esta forma pusilânime de sermos, para não lhe chamar cobarde, é que nos torna submissos/as às coisas, é o acharmos que nada pode ser feito.
Gandhi dizia: "seja a mudança que você quer ver". Quem de nós cumpre este princípio?
Quem pensa fazer a revolução?
Quem pensa em alterar as condições mínimas na sua vida, quem pensa alterar as condições existentes?
Vivemos numa sociedade ágrafa, que não escreve, apenas lê imagens. Pensar tornou-se mais difícil.
As pessoas suicidam-se todos os dias, eticamente falando, viciam-se em trabalho, fazem várias coisas ao mesmo tempo, distraem-se do foco, do que é verdadeiramente importante, não atendem.
As pessoas preferem o confronto ao conflito, neste dialoga-se e há divergência e isso dá trabalho, por isso mais vale romper.
Vivemos uma tragédia!
Erguemo-nos acima dos outros, achamo-nos sempre mais altos, mas o problema da tragédia é não haver esperança porque não se tem ilusão em relação às coisas.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

SÉC. XXI EM PORTUGAL

Uma democracia forte precisa duma soberania popular forte.
O povo não tem ideias, porque ter ideias é uma coisa muito rara.
A nossa classe média é feita de gente de serviços que ganha desde o ordenado mínimo até mais um bocadinho, já que o operariado deixou praticamente de existir.
O sistema político faliu em detrimento do financeiro que engordou e está de boa saúde.
Instalou-se o medo da verdade. O povo tem medo e isso impede-o de pensar.
Quem pensa o erro?
Os nossos políticos não são ousados nem criativos, por isso são maus políticos, se é que são políticos.
Vivemos num sistema corrupto, estruturalmente corrupto.
O montante do crédito em risco de empresas e particulares junto da Banca diz o Programa de estabilidade para 2017, é de 33 mil milhões de euros, o que corresponde a 12,6% do valor bruto do crédito concedido.
O Sr. António Ramalho, ex-presidente da Infraestruturas de Portugal é agora presidente do Novo Banco e com a compra do banco pela Lone Star o Sr. continuará como presidente executivo (deve ter negociado bem com o Banco de Portugal e o Estado para ter acontecido o que aconteceu , mantendo o seu lugarzinho de luxo).
O Sr. Luís Laginha de Sousa da Bolsa portuguesa depois do BES e da PT esvaziarem o mercado de capitais português, agora trabalha como consultor da empresa STJ Advisors, uma empresa de consultadoria em mercados de capitais sediada em Londres.
Estão a perceber ou nem por isso?
A violação das normas de auditoria aos grandes grupos empresariais em Portugal é quase total, começa por ocultar informação ao regulador.
O irmão do PR, Pedro Rebelo de Sousa será presidente da mesa da assembleia-geral do BCP e claro, isto anda tudo ligado.
São tantas, mas tantas as "coincidências" que não há espaço nem tempo para as sinalizar a todas.
Vivemos ou não num estado corrupto em que a política está apenas a fazer feitio?

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Maria Stuart by F. Schiller


O mito de Sísifo


BANCA SUICIDA- GOVERNOS CRIMINOSOS

A grande arma do capitalismo é o controlo dos meios de comunicação social, como só alguns percebem.
A democracia é a igualdade entre as pessoas, a criação de direitos, por isso está sempre aberta às disputas e aos conflitos.
A Sociedade democrática tem que ser aberta ao tempo porque está virada para o novo, muitos de nós esquecemo-nos disto.
O capitalismo para existir precisa do Estado, por isso se une a ele. Se o Estado não for capitalista, não há capitalismo.
Os Estados descapitalizam-se para salvar bancos falidos.
O Poder é trazido pelo capital. Mais capital, mais poder, já Luís XVI sabia disto.
A Nação é um conceito simbólico enquanto povo é um conceito concreto. O povo  'esquece-se' do mais importante.
A democracia está a transformar-se numa plutocracia.

Que sistema político é este que não se levanta contra este estado de coisas?
A Islândia levantou-se. Claro que apenas tem 400 mil habitantes se tiver, mas o que fez é o que os países com maior número de habitantes deviam fazer, por maioria de razões. No nosso país ainda querem burocratizar mais, acrescentar mais chefes, fazer e inventar regiões para se diluir cada vez mais a responsabilidade num país tão pequeno, que o único mal que tem é ser governado pelo capital.

E mais não digo, porque hoje apetece-me ser sintética, mas que  gostava de entrar numa democracia directa para ter quem me representasse, lá isso gostava. Não há no Parlamento quem me represente, nem a mim, nem a ti que estás a ler isto.




























terça-feira, 11 de abril de 2017

A POLÍTICA

A política prostituiu-se.
O sistema político sucumbiu  perante o sistema financeiro.
O desencanto acerca da  política é demasiado alto.
A sociedade já está numa fase pós-política.
Os Estados descapitalizaram-se para salvar Bancos falidos.
Um sistema político que é incapaz de dizer Não a este estado de coisas, é um sistema podre, gasto.
Quem é que o Parlamento representa?
A maioria dos cidadãos eleitores abstém-se.
Os deputados são eleitos pelos partidos.
Esta democracia parlamentar não nos representa, enquanto não houver uma democracia directa.
Há uma baixíssima participação popular  para que  uma democracia directa consiga vingar.
A democracia está a transformar-se numa plutocracia.

domingo, 9 de abril de 2017

SE A TRISTEZA MATASSE

Estava morta, eu e mais milhões de criaturas.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

ALEGRIA

A alegria, às vezes, visita-me em raros momentos de distração.
Hoje, por exemplo, bateu-me à porta.
Fiquei sem máquina de cortar erva, quando a levei a arranjar, fiquei sem bateria no carro.
Deixei o carro e vim, ao sol inclemente, passear. Ria-me comigo e sentia uma perfeita calma, assim uma sensação de leveza, algo parecida quando  estou concentrada só na leitura, aquela sensação fabulosa que não existe o  medíocre mundo lá fora, só eu e o romance ou a poesia ou o ensaio, o que for.
Ao dar o meu passeio a pé, com aquele sol, sem chapéu, costumo usá-lo, houve um certo prazer, o prazer da descontração total, agora estou sem carro, deixa para lá, primeiro está o passeio ao sol há que o sentir.
Sim, pode ser uma liberdade frágil, mas é um liberdade e é um prazer, aquele prazer que temos quando tomamos banho e naquele momento é só isso que nos apetece.
E comecei a pensar quando cheguei do passeio ao sol sem chapéu na cabeça, vou ficar com as bochechas vermelhas, entrei no carro e disse-me, ora vamos lá resolver este problema.
O prazer demora tempo, eu  já sabia mas confirmei, não tinha necessidade de fazer aquele passeio prévio, naquelas condições de temperatura, mas estava alegre, satisfeita, controle completo duma situação que à partida, por nunca ter sucedido, me era estranha.
A alegria,  estou a pensar nisso agora, deveu-se ao facto de me ter abstraído de toda a mediocridade duma situação adversa e passar à que mais me agradava, passear nem que fosse ao sol e sem chapéu.

NOMES ROMANOS DAS NOSSAS CIDADES

como se chamava a sua cidade no tempo dos romanos
 
 
Emínio, Arábriga, Alavário... que cidades são estas? Conheça os antigos
nomes romanos das cidades portuguesas.
hispania (1)
Emínio (Coimbra)
Ammaia (São Salvador da Aramenha)
Acoutínio (Alcoutim)
Aquae Flaviae (Chaves)
Arábriga (Alenquer)
Aranis, talvez Arandis (Santa Bárbara de Padrões, Castro Verde)
Arécio (Alvega)
Aruci ou Civitas Arucitana Nova (Moura)
Alavário (Aveiro)
Avêntela (Arrentela, freguesia da cidade do Seixal)
Bésuris; Esuri (Castro Marim)
Balatucelo (Bobadela, Oliveira do Hospital)
Balsa (Perto de Luz de Tavira)
Balto (Albufeira)
Bevipo (Alcácer do Sal)
Bracara Augusta (Braga)
Cale (Vila Nova de Gaia)
Cetóbriga (Setúbal)
Calípolis (Vila Viçosa)
Castra Leuca (Castelo Branco)
Cilpes (Rocha Branca, Silves)
Cinético Jugo (Cabo de Sines)
Civitas Aravoro (Marialva)
Civitas Igeditanoro (Idanha-a-Velha)
Centum Cellae; Centum Celas (Colmeal da Torre, Belmonte)
Colipo (Leiria)
Conímbriga (Condeixa-a-Velha, Sul de Coimbra)
Conistorgis (localização desconhecida no Algarve ou Baixo-Alentejo)
Dúmio (Dume)
Ebora, Ebora Cerealis, Liberalitas Júlia (Évora)
Eburobrício (Óbidos)
Egitânia (Idanha-a-Velha)
Aquabona (Coina, Barreiro)
Ipses (Alvor)
Lacóbriga (provavelmente na zona de Lagos)
Lancóbriga (Fiães, Santa Maria da Feira)
Lameco (Lamego)
Lorica (Loriga, Seia)
Longóbriga (Longroiva, Mêda)
Malateca (Marateca, Palmela)
Métalo Vispascense (Mina de Aljustrel)
Miróbriga Celticoro, ou Miróbriga (próximo de Santiago do Cacém)
Mondóbriga (Alter do Chão)
Moron (próximo de Santarém. Também apontado como Chões de Alpompé)
Mírtilis (Mértola)
Olisipo Felicidade Julia, Olisipo, Ulissípolis, Felicidade Júlia
Olisipo, Ulisseia (Lisboa)
Opidana ou Lância Opidana (Guarda)
Ossónoba (Faro)
Pax Júlia, Pax Augusta, Colônia Pacense (Beja)
Porto Alacer (Portalegre)
Portus Cale (Porto)
Portus Hannibalis ou Porto de Aníbal (Portimão. Nome associado ao
general Aníbal Barca.)
Salácia (Alcácer do Sal)
Sáurio (Soure)
Escálabis (Santarém)
Segóbriga (Segóvia, Campo Maior)
Sélio (Tomar)
Sirpe (Serpa)
Talabara (Alpedrinha, Fundão)
Talábriga (Marnel, Águeda)
Tongóbriga (Marco de Canaveses)
Trício (Covilhã)
Tubucci Aurantes (Abrantes)
Valécula (Valhelhas)
Veniatia (Vinhais)
Vila Cardílio (Torres Novas)
Villa Euracini (Póvoa de Varzim)
Vispasca (Aljustrel)
Verúrio (Viseu)

terça-feira, 4 de abril de 2017

PENSAMENTOS ACTUAIS

. Toca a sirene dos Bombeiros. A época dos incêndios abriu.

. Desistir pode ser um acto de coragem, por exemplo quando se tenta parar com a alienação e ter   mais tempo para reflectir, fazendo com que a vida corra mais devagar.

. Fica-se atordoado com tanta violência, revoltado até. Entendo por violência aquela que tira a vida às pessoas de todas as formas, nela se inclui igualmente a dos que roubam o povo, como a dos banqueiros e políticos seus aliados. Sequestram as nossas vidas.

. As pessoas ficam tentadas a seguir quem lhes oferece uma solução fácil, é este o grande sucesso       das extremas-direitas.

. Quem detém o poder, actualmente, no Mundo?

IMBECIS.

Na Europa, os povos praticamente rejeitam quase tudo que o Parlamento Europeu aprova. E tupo que aprovam é para os governos locais aplicarem de imediato.
Os países do Sul e não só, foram sangrados pelo Eurogrupo, pelo BCE e pelo FMI.

. Somos especialistas na sobrevivência.
Ontem ouvi na rádio, uma notícia que diz isso mesmo. Louro prensado vendido como haxixe na baixa lisboeta, aos turistas. Não podem ser presos estes empreendedores dado que louro não é droga.
Por outro lado, somos o único animal que está contra o próprio instinto de sobrevivência.


. Só tenho uma forma de ficar neste mundo, é nas outras pessoas, é fazer falta quando me for.


                                  

Meu Tio Iauaretê - Guimarães Rosa por Lima Duarte x264


segunda-feira, 6 de março de 2017

DIÁLOGOS

Gosto de diálogos, diálogos com seres não dogmáticos porque com os dogmáticos não há diálogos, apenas catequese.
Gosto de diálogos com gente que não usa crenças dominantes no peito.
Gosto de diálogos com seres respeitáveis infractores e não infractores.
Gosto de diálogos com pessoas que discutem a democracia.
Gosto de diálogos com Platão à mesa.
Gosto de diálogos afectivos sobre a razão.
Gosto de diálogos para treinar os limites da aceitação em que saia deles aceitando mais as diferenças entre as pessoas.
Gosto de diálogos em que a globalização da linguagem não esteja presente.
Gosto de diálogos em que não sabemos qual o caminho a que nos vai levar.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

E AGORA JOSÉ? - Café Literário 2011


MOMENTOS DE INCONSCIÊNCIA/CONSCIÊNCIA

O inconsciente tem má fé.
As pessoas inconscientes têm muita dificuldade em aceitar a sua própria responsabilidade.
Todos nós fazemos várias escolhas na vida, mas muitos de nós não nos responsabilizamos por nossas escolhas e lembro-me de Sartre e do existencialismo e do livro "A Náusea" e o desespero que o autor, jovem nessa época,  refere porque as pessoas apenas não davam importância a nada, as pessoas apenas existem, não se implicam e Sartre remete para a construção da essência.
Nessa época Sartre considerava que os franceses capitulam, os que não capitulam estavam fora de França.
Todos estes pensamentos me remetem para o iluminismo alemão, em que cada um pensa pela sua própria cabeça e penso neste nascer da manhã, a responsabilidade que o tempo e a natureza sempre tem em contraste com os humanos, o que me levou ao princípio do séc. XX, ao existencialismo, a Malraux. ao livro "O Ser  e o  Nada" , livro de psicanálise existencialista, a todas estas escolhas do pensamento.
Eu sei que quando me envolvo com a Filosofia ou a Filosofia comigo, quando se dá este enfeitiçamento, é porque me sinto em momentos de procura, quando o meio ambiente, o mundo exterior me agride e assim, este meu estado inicialmente inconsciente se torna consciente, porque tal como os existencialistas, considero que os inconscientes, os que atribuem a responsabilidade  a todos os outros, são pessoas de má  fé.
E termino com um alívio por não estar um psicanalista  bem de perto e não me poderem analisar.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

ACABAMOS SEMPRE DE PÉ

Esta coisa de termos um compromisso com a verdade, pela simples razão de sermos considerados normais, é de facto, muito pesado.

Nasci numa época em que tínhamos prazer em ir para a Biblioteca. Foi bom, sinto-me enrolada com os livros, como tanta gente da minha geração.

Hoje temos a possibilidade de nos expressarmos duma maneira directa nas redes, no tempo de Beckett, o meu dramaturgo preferido, não havia essa possibilidade e as pessoas expressavam-se por escrito, indirectamente, acho que dava mais possibilidades, podia-se corrigir os erros.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

CONVULSÕES

Mais uma convulsão na minha atitude para com a Pátria.
Sinto-me de novo revoltada, se é que algum dia deixei de estar.
Já estive conformada como cidadã eleitora, mas vejo que só como dissidente me encontro bem.
Sinto-me enojada com a política e a corrupção e por outro lado, sempre que ouço  os deputados fico indignada.
Não sei se uma mente adulta é aquela que se conforma com o menos mau, ou seja com este tipo de democracia.
O que é que um cidadão estranho, um cidadão comum pode fazer pela democracia? Votar?!
Votar oferece poucas alternativas.
Tornamo-nos estranhos impotentes.
Possuo um cérebro despovoado de tendências para lugares-comuns e estereótipos.
Esta democracia débil ilumina-me pouco.
Todos os chefes locais que os partidos colocam nas autarquias, tomam o poder com as suas comitivas e inicia-se aí o processo corruptor e nós apenas assistimos a estes espectáculos pouco edificantes.
Muito mais poderia ser dito, mas o essencial ficou explícito.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Mozart - Clarinet Concerto [Sharon Kam]

MORTE DE MÁRIO SOARES

O Mário Soares morreu. Foram decretados três dias de luto nacional e a realização dum funeral de Estado.
O primeiro em Democracia. O último funeral de Estado pertencia ao Oliveira Salazar, homem que ele combateu desde jovem. A vida tem destas coisas e a morte também. Veio  Temer, o actual Presidente fascista não eleito, do Brasil.
Estava pouca gente nas ruas. Assim que o PS tomou conta dessa ocorrência, mandou que o Partido, a nível nacional, se mobilizasse e comparecesse no funeral, foram de camioneta  paga. Distribuíram rosas amarelas, a flor querida da mulher, Maria Barroso, falecida há um ano e seis meses.
Não compareceram muitos chefes de Estado estrangeiros, nem mesmo o Governo Espanhol se fez representar ao mais alto nível, o que não deixa de ser paradoxal, embora o Rei estivesse presente.
Convencida estou que se o Cristiano Ronaldo morresse, salvo seja, muito mais gente iria para as ruas.
Claro, que houve um conjunto de circunstâncias que se conjugaram para se ter realizado um funeral de Estado, a primeira e desde já, é o PS estar no Governo e Mário Soares ter sido um dos fundadores do PS em 1973, as outras não foram explicadas, bem como esta.
A História foi branqueada em todos os Canais televisivos, chegando-se ao ponto de se passar a mentira inacreditável que Mário Soares foi o pai da Democracia e os partidos, todos, que lá estavam representados, anuírem  nisso.
O PCP de hoje nada tem a ver com o PCP de antigamente, daqueles que prepararam  o regime democrático, este PCP, dirigido por Jerónimo de Sousa, é um partido servil e não se confunda simpatia com servilismo.
Muito teria a dizer do que se passou neste país com as cerimónias fúnebres de Mário Soares, filmada em directo pelos canais televisivos, mas não me apetece narrar mais, a não ser que o CINISMO E A HIPOCRISIA  foram as grandes bandeiras presentes.
Salvaram-se os discursos dos filhos, em especial o da filha, verdadeiros e emotivos.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

FOI POR CAUSA DA VIDA

...

. Há muito tempo?
- Há algum.
. E não pede socorro?
- Não estou num bote no meio do mar.
- Há muitas pessoas a pedir socorro, não há?
. Pedem auxílio.
- Há mais pedidos?
. Talvez.
. E o que pretende fazer?
- É preciso fazer sempre alguma coisa?
- Não podemos deixar de fazer?
. Já reparou, acabamos sempre por fazer algo de nós.
- Não me leve a sério, falei por falar.

Olharam-se e sorriram

extracto de conversa mais que provável



https://youtu.be/v-emXsgCfNE

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

PORTOS

Somos portos mas nem por isso nos sentimos muito melhor com o mar perto de nós.
Contactamos com todas as espécies de bagagens e documentos, mas nem sempre sabemos o que fazer de tudo isso.
Não partimos, apenas vemos os outros partir e chegar.
Os portos ficam, não viajam. Às vezes a visita dos turistas.
Nós, os portos, vemos algumas ruelas estreitas em nosso redor e vemos muitas sombras enganadoras.
Aproxima-se um iate e penso: só nos conhecem as enseadas...


https://youtu.be/z4PKzz81m5c