segunda-feira, 29 de maio de 2017

METÁFORAS E ARDIS

Gosto de metáforas.
Gosto da natureza.
Esta relação mágica entre mim e a natureza tem que se realizar todos os dias.
Sentir a Natureza e a sua seiva é sentir-mo-nos vivos.
E de repente, vá-se lá saber porquê ou até talvez saiba, veio-me à memória a tragédia do Ricardo III que nos deixou Shakespeare e que tanto me abanou no teatro quando a vi pela primeira vez representada que tive que ler o livro, o que já fiz vezes sem conta e de todas as vezes vejo coisas que nunca tinha visto antes, como sempre me acontece quando releio, melhor dito, leio, porque leio de novo e leio diferente,  os clássicos.
Devo aqui fazer um parênteses para esclarecer quem porventura me lê, que quando me encontro numa encruzilhada do entendimento dos fenómenos que me rodeiam, refugio-me nos clássicos e como sou dada a coisas do teatro, normalmente é aí que vou parar, por isso mais uma vez fui à biblioteca que fica na cave e, veio ter comigo, o Ricardo III e lembrei-me mais uma vez da sua tirania e do fascínio que nos provoca e a reflexão a que nos leva sobre a natureza dessa tirania, as suas consequências, as vítimas que são produzidas e de como nunca há inocentes.
O fascínio que esta figuras da História provocam conjuntamente com o desprezo que geram é um paradoxo, um ardil que nos mina todos os dias.
A metáfora, se calhar uma metáfora vegetal, é aquela que os reis e, também Ricardo III, tinham que o seu sangue equivalia à seiva da natureza e portanto obedecer ao Rei era obedecer à Natureza, mas isto já nos levaria a outro texto e a outra reflexão, essa mais ligada aos ritos agrários e muito antes do séc. XVI (1592/1593), ano em que a peça foi escrita.

O PODER DA IGNORÂNCIA

Toda a gente dá opiniões (dóxa).
Ignorante, alguém definiu, como a pessoa que tem pouco conhecimento e que se recusa a ter mais conhecimento, mas que tenta fazer valer o seu pouco conhecimento por meio da violência na discussão e nas acções.
Já os filósofos no tempo de Sócrates, achavam que a democracia era um problema porque dava poder aos ignorantes.
Os ignorantes desde sempre se recusaram saber, mas usam da  violência para conseguirem tudo o que querem contra todos aqueles que procuram saber mais um pouco.
Já Sócrates e Platão eram contra a democracia porque o poder era dado aos ignorantes.
Como se pode saber que se está errado se não se tiver conhecimento para se saber que se está errado e isto tanto vale para o Sr. que actualmente manda no mundo, como para o vizinho aldeão/urbanita que opina sempre, mesmo que não saiba do que está a falar.

Guimarães Rosa - Entrevista RARA em Berlim (1962)

Brasil Século XXI - Cultura, Produção, Representação simbólica da Socie...

sexta-feira, 19 de maio de 2017

UMA OUTRA EPISTEME

Eu não sou o que o outro me vê, como os jovens de hoje  e não só, nos fazem crer.
Quem crê que como o outro nos vê, é como é, não costuma falar com a sua intimidade.
O que todos tentam é obrigar-nos a entrar dentro das suas categorias, tal como nós.
A falta de cultura, a ausência de referenciais, leva-nos a encaixar tudo em categorias, mas obviamente não é isso que resolve. A maioria de nós são casos atípicos.
Há pessoas vazias que dão aos outros os melhores conselhos, como o Polónio do Hamlet dava a seu filho Laertes.
Todos nós precisamos por demais de ilusões para vivermos, senão piramos de vez, mas ainda bem que uma grande parte dos que vivem acham que não devem mostrar em todas as ocasiões a maior felicidade do mundo.

Celebrate Love with Google Arts & Culture

quarta-feira, 17 de maio de 2017

SÉC. XVI

A CONSCIÊNCIA NOS TORNA COBARDES

HAMLET

sábado, 13 de maio de 2017

After you've gone cover DE FACTO, GOSTO BASTANTE

"Lo que puede el dinero" El Arcipreste de Hita-Paco Ibañez

Jenni Vartiainen - Missä muruseni on [Official Music Video]

INQUIETAÇÃO

Sinto-me como aquele viajante que adormeceu durante a viagem de comboio e quando é obrigado a sair e abre os olhos no meio da Praça, clama:
- E foi assim que vim cá parar, justificando-se.
Tinha sonhado que tinha matado alguém. No sonho não lhe foi dito se foi um americano ou um português a morrer.
Acordada penso: Será que matei mesmo?
Como vim parar a este país de loucos? A um país  em que não se respeitam as minorias, que se faz de tudo quanto é acessório principal e se trata o principal como se acessório fosse.
Como posso sair deste sonho mau?
Não podes, respondeu-me uma voz com tom cínico. E continuou a fazer-se ouvir, dizendo:
-O que acontece é que compramos os sonhos de todos que vivem no rectângulo por três gerações e enquanto isso, só restará aos que ainda sonham, deixarem de o fazer para não se sentirem vigiados, acorrentados.
Fizemo-lo para que ninguém ao acordar dum sonho se volte a perguntar: O que estou aqui a fazer, eu não matei ninguém.
Mataste ou não, pergunto eu?
Olhei para trás. Não vi Ninguém.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

ESTE NÃO É MILAGRE DE FÁTIMA

https://www.rtp.pt/play/p3485/e287474/salvador-sobral-ao-vivo-no-forum-cultural-do-seixal

TER INIMIGOS

“nada agrada mais ao homem do que ter inimigos, e depois verificar que correspondem exactamente à ideia que deles fazia”.

Italo Calvino

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Joan Manuel Serrat & Silvia Pérez Cruz - "Paraules d´amor" (2013) (Tv3) HD

Edgar Morin - A complexidade do eu

HÁ QUE PREVENIR

Fomos e estamos enganados. Rousseau não tinha razão.
Não se afastem para tentar compreender, hoje o movimento do geofísico, possivelmente,  já não resulta.
Ninguém vá embora, senão esses lugares serão ocupados. Eles odeiam o vazio, ocupam tudo.
A 'informação' desinforma quase sempre.
Alerta a reter: as vidas às vezes partem antes das pessoas.
Muitos já preferem afogar-se a pedir socorro.
Evadem-se das suas próprias responsabilidades.
Há que prevenir: toda a gente é capaz de tudo, de tudo mesmo, assim as circunstâncias o propiciem.
Matar, por exemplo, não se trata de privilégio de alguns.
A maioria de nós não compreende tudo à primeira.
As pessoas instalam-se, umas nos seus prolongados silêncios, outras na sua imensa  cobardia.
As certezas apoderam-se de nós. O difícil é prevenir. Explicar que o não fazer nada é uma enorme e cansativa tarefa.
Como prevenir que as desconfianças não devem aparecer antes da confiança?!
A segurança não chega de comboio em noites de Verão, mas o melhor talvez não seja aguardar a partida, indefinidamente, na estação.
O medo paralisa tudo.
O medo e a espera, estamos sempre à procura de qualquer coisa que surja.
São poucos os que fazem acontecer, no entanto só eles podem mudar o mundo, estejamos prevenidos.


terça-feira, 2 de maio de 2017

IRONIA

É cómico tomar consciência que as pessoas  não gostam de falar com ninguém, já que quando falam apenas se ouvem a si próprias ou  dizem banalidades, no entanto clamam a toda a hora que se encontram sozinhas.
Duma forma geral, são elegantes, mas não concisas.
As pessoas julgam os outros como a si mesmas e as reservas mentais que têm em relação aos demais saltam-lhe da cabeça como piolhos e lêndeas.
Somos bons ouvintes quando lemos, deixamos o outro falar.
E escuto um amigo já falecido:
Serei eu de outro mundo?