terça-feira, 25 de abril de 2023

25 de ABRIL OU O NAVIO À DERIVA

O 25 de Abril passou a efeméride. Hoje, opera-se a inveja, o fanatismo, a ira dos tiranos. Há gente que sente que a sua alma não precisa de purificação nenhuma.Gente envenenada de cólera, em que a única coragem que tem é para começar a correr em debandada. A comemoração de Abril devia ter poucos e curtos discursos, o povo está cheio de discursos. Nesses discursos seriam apenas feitas observações práticas sobre a vida. O que falta ao 25 de Abril são valores e princípios. Falta educação democrática, social e colectiva. O que falta a Abril, é cultura, muita cultura. O que falta a Abril é uma juventude combativa e esclarecida. Partidos há muitos e desinformação cada vez mais. A sociedade está eivada de fascismos. Há ausência de impulsos novos, de compreensão social e colectiva. Há muita toxidade nos média pagos pelo capital. O povo não lê nem se informa a não ser pelos canais televisivos e acredita no que eles dizem. Depois ainda há os comentadores que são a cereja em cima do bolo, para ensinar os ouvintes a pensar, a explicar o que os políticos dizem, como se as pessoas fossem completamente analfabetas. Tudo isto é veneno em gotas como se de xarope se tratasse. A dignidade foi/é renunciada. É preciso ser generoso, mas férreo, determinado, justo. É urgente mudar de hábitos e para isso é urgente que as políticas mudem. É urgente democratizar a imprensa, principalmente a falada, que é quem transmite as emoções ao povo. A sociedade está a tornar-se persecutória, excita-se e hostiliza cada vez mais o que menos têm. É preciso conferir segurança ao povo, reintroduzir os valores de solidariedade, não o tornar robots competitivos. Quando a política se torna vã perante o povo e o país, significa que os seus representantes já não são uma projecção do logos que serve de salvaguarda duma comunidade e apenas estão submetidos à fatalidade do bem e do mal.

domingo, 23 de abril de 2023

TARDE DE DOMINGO

Quando leio um livro tiro notas, mas não sobre o que lá está escrito, mas sobre mim, o que me vem à cabeça naquela altura. As minhas notas de hoje são, a propósito ou talvez não, do tema "exijo muito de mim e dos outros também". . Não fujo às armadilhas, tenho pouca habilidade para isso. Não sou manhosa. Olho mais do que entendo e aqui lembrei-me de leituras de Sá de Miranda, quando ele se dirige ao Princípe D. JOão. . Voltando a mim: queremos e cremos que os outros são feitos à nossa imagem e semelhança, mas é uma enorme falácia. . As almas andam cinzentas, vazias, mortas, mas continuamos a gritar a plenos pulmões que está tudo bem, que somos verdadeiramente amados, a única coisa que toda a gente quer verdadeiramente e em que concorda a 100%. . As pessoas, na sua grande maioria, têm conhecidos não têm amigos mas gostam de se enganarem, precisam de se enganar e chamam amigos aos conhecidos. . A vida é um imenso labirinto onde por vezes nos perdemos, como numa cidade em que não conhecemos o mapa. . Sofro duma certa rigidez mental e intolerância, dizem alguns. Se calhar sim, se calhar também bebi a gota de sangue do último dragão, não para me tornar imortal, mas apenas para me aborrecer ad aeternum. . O preço deste meu querer é muito elevado. Quando ambicionamos que os outros se pareçam connosco, esta cobiça da alma torna-nos infelizes porque torna-se uma ambição inatingível. . Anseio uma alma pura, mas a minha fé é quase nula. . Deixamos tudo para trás, a nossa juventude, os dias felizes, a pseudo liberdade, tudo, como um réptil deixa a pele. . Sim, sei recordar e esquecer ao mesmo tempo, a questão não passa por aí. Será porque sempre pretendi fazer amigos e nunca me contentei com conhecimentos apenas. A exigência terá a ver com isso? Se calhar não, quiçá. . A sabedoria está no conhecimento de si mesmo, a questão é essa mesmo e a grande maioria de nós não atinge este estadio. É fundamental amarmo-nos em consciência e é tão raro isso acontecer... . Seguir o rumo da águia e do falcão que significam o justo, como diria Stº António, seria muito bom, mas também não é para todos. . Há muitos bufarinheiros/as que são os mais hipócritas. . Os nossos conflitos interiores são o nosso segundo esqueleto e, por isso, por vezes, precisamos do tão necessário isolamento para não nos desintegramos. . Somos ineficazes como seres humanos, por isso muitas vezes autoritários/as. . A vida de cada um de nós é uma espécie de cruzada do desespero quotidiano.