domingo, 7 de novembro de 2021

O LUGAR ONDE SE ESTÁ VIVO

Cada um de nós tem de saber qual ou quais o(s) lugar(es) onde se sente verdadeiramente vivo. Em primeiro lugar cada um desses lugares deve estar eivado da nossa autoestima. Se isso não acontecer, pelo menos não devemos baixar a guarda. O lugar onde se está vivo é sempre algum sítio onde se faz o que se gosta, onde se ama e somos amados, o Lugar onde nos entendem e nos escutam e nos deixam acabar a frase. O Lugar onde se está Vivo, é aquele em que conseguimos escolher a nossa estrela e termos a certeza do nosso ponto cardeal. A infância, parece-me ser o lugar mais parecido com esse sítio, mesmo nas nossas brincadeiras de faz de conta sabemos muito bem qual é o caminho, não obstante a família nem sempre ser um lugar clamoroso, só mais tarde o perceberemos. Não podemos estar num lugar entre duas coisas incompatíveis, em mundos que reciprocamente se excluem. As pessoas, duma maneira geral, são aldrabões de feira, possuem uma enorme capacidade camaleónica e falseiam esses lugares. Os escritores vão resolvendo alguns destes problemas a si próprios, no sentido de se tentarem entender através da construção das personagens que criam e dão vida nos seus livros, expurgando, em parte, os seus males. Criam lugares e arrumam as personagens.

domingo, 17 de outubro de 2021

AS MINHAS FALHAS

O Mundo não me deve nada. Rio-me. Nem eu própria acredito nisto e lá continuo naquela tentativa vã de entender o mundo para me compreender a mim e o meu pequeno papel no Globo. Claro que todos nos queremos entender e acalentamos essa esperança que não está ao nosso alcance, feliz ou infelizmente. Como é possível conhecermo-nos ou conhecer alguém se somos tão contraditórios? A contradição é a primeira característica dos humanos e lembro-me de Jorge Luís Borges, para só dar um exemplo desta contradição. JLB dizia-se conservador entre muitas outras coisas, tendo até visitado no Chile José Augusto Pinochet em 1976, elogiando-o. No entanto, escreveu algo tão anti conservador como isto: "crer num Deus único parece-me uma miséria. Havendo tantos deuses, crer num só é um excesso de economia". Quando Borges imaginava o Paraíso dizia que seria algo parecido com uma biblioteca, onde se dialogava, mas sabia que o Paraíso para uns era o Inferno para outros. O que para uns é maravilhoso, para outros é o perfeito tédio. Escrevemos porque algo nos dói e se não escrevermos fica a doer-nos mais. Pensar é absolutamente doloroso e nem sempre se pensa bem, por ou talvez por isso, cada vez mais aspessoas pensem pela cabeça dos outros, não querem arriscar a ter ideias próprias para não serem criticadas. Alguns encostam-se a partidos ou a pensadores para dizerem que é assim como eles pensam. É como dizerem: eles são autoridades na matéria e eu penso igual. Nem ousam mudar uma vírgula.Outros há,que acham que o melhor é nem pensar, o não pensar está sempre certo, não se erra. Quando um dia pensam, é na sua cama, no seu quarto solitário e logo amarfanham a travesseira por cima da cabeça, para que ninguém escute os seus pensamentos. Qual o valor de estarmos na realidade? A realidade dói. Muitos saem da realidade por necessidade outros, por vício. É interessante acharmos que os monstros são os outros por oposição aos anjos que somos nós. Uma falácia do tamanho do Universo. Quando não se viaja não se compreende o mundo. Falo de viagem mesmo, não de turismo de massas para tirar fotografias e colocar nas redes sociais. Se só viajamos à volta do nosso quarto podemos ser bons neuróticos, mas não passamos disso. Viver é muito difícil mas viver numa fase de charneira, como estou convencida que vivemos, mais difícil se torna. Estudamos na História as Idades, a Idade Média, a Idade Moderna e antes muitas outras. Convencida estou, que a História vais sinalizar esta época em que nos coube viver, como uma Idade diferente que poderia bem chamar-se a Idade dos Loucos no Poder, mas se o mundo os deixa continuar e até os elege, é porque de são nada tem. Então, esta Idade pode ser considerada a IDADE DOS LOUCOS ou simplesmente da Loucura. Não me posso considerar um ser optimista, aliás nem sei como surge o optimismo e o pessimismo. Como as pessoas aderem a uma ou a outra corrente. Também não sei se um pessimista não seria um optimista se não fosse um ocidental e fosse um africano ou nascesse e vivesse numa qualquer outra parte do mundo. Nós, os ocidentais, temos um ponto de vista muito enviesado, possuímos falhas graves de análise, temos pouco mundo. O Mundo não é o Ocidente nem se regula pelas regras ocidentais, às vezes é até fatal pensar-se assim. Depois de toda esta reflexão, dou comigo a pensar: que bom é vivermos momentos maravilhosos que ecoam entre nós toda a vida e que exactamente por isso, não se transformam em passado.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

A VIDA APRENDE-SE TARDE

Vivemos a vida zebrada de riscas de conhecimento e ausência dele durante décadas. Primeiro estamos certos das certezas. Devoramos décadas nisto. Só perto da morte aprendemos alguma coisa, embora digamos sempre que aprendemos até morrer. Se por um lado o adágio é verdadeiro por outro, aprendemos muito pouco e instalamo-nos no 'sataus in statu'. Empeçamos muitas vezes, somos os nossos próprios empecilhos vezes sem conta. Com a minha fatal sinceridade desaponto muita gente e a mim própria. É tudo reduzido a cifras, a considerações de compra e venda e o que lucramos com tudo isto? Circula por aí uma teoria que as pessoas são, na sua essência, boas, porque em tempos críticos, como o da pandemia,se dispuseram à ajuda mútua. Não compro estas teorias de bem aventurança. As pessoas, os tais animais que possuem inteligência superior, gastam a tal inteligência a fazer mal ao outro, ou atravès de guerras, ou de corrupção ou praticando injustiças várias, salariais, sociais, políticas e tantas outras, todas as restantes acções são praticadas nos intervalos. Não vivemos num mundo civilizado, se assim fosse os países não desconfiavam uns dos outros e cooperavam entre si. Dizia Almeida Garrett que era preciso acreditar em Deus para acreditar na igualdade. Em certa medida, somos uns selvagens e de civilidade ou do que se entenda por isso e não confundir com civismo, pouco ou nada temos. Há uma patine civilizacional mas se for riscada com uma unha, sai toda. Não falo de regimes políticos, embora haja sempre uns menos duros do que outros, mas da soberba, da ignorância, da corrupção que estão sempre presentes em menor ou maior escala. Trata-se das natureza humana - tu mordes-me a mim, eu mordo-te a ti mas antes de teres possibilidade de me morder, moder-te-ei eu por conta. Estou em crer que os regimnes políticos são como as pessoas, ficam velhos em dois tempos. Ricos, pobres, remediados têm almas diferentes? Por certo, mas apenas nas cabeças de pessoas crentes. O melhor dos homens é Homem. A melhor das mulheres é Mulher. Dizem que se o homem social não fosse falso, hipócrita, as guerras seriam em maior número. Creio que sim e mais uma vez o que se prova que é a natureza humana a estar em causa. Nesta espécie, não se veem só rotundas panças mas também rotundas cabeças e bolsas. Se os ginásios modelam as panças, o mesmo não acontece com as cabeças e com as bolsas, que, modernamente, se chamam de offshores. Claro que não é proibido sonhar acordado, imaginar nobres sentimentos nas pessoas. O que vale é que vamos mudando ao longo das décadas da existência e alturas há, em que acreditamos que o Homem é defensor do Homem e que um dia a Humanidade triunfará. Não vale de muito ralhar muito com as políticas portuguesas e exaltarmos algumas estrangeiras, porque a conclusão nunca será a adequada. A sociedade corrompe os Homens, dizia-se nos meus tempos de estudante universitária, afinal quem corrompe quem? Eis a eterna questão.

domingo, 4 de julho de 2021

48 ANOS

Estamos em vésperas de eleições autárquicas, o crescendo dos boatos continua, apelidados agora de 'fake news' já que a subalternidade aos ingleses tem vindo a recrudescer. A oposição que deveria ser uma máquina propulsora dos acontecimentos, é apenas um local deplorável de conquista interna de mais lugares ao sol para famílias e amigos, à semelhança de quem governa. As oposições em Portugal são pseudo-oposições. Hoje, as pessoas podem falar, dizer o que lhes vai na alma, mas a tirania mantém-se e está ao virar da esquina e se as pessoas empregadas ou à procura de emprego disserem o que pensam, sofrem na pele essa liberdade de expressão. A liberdade de expressão não está disponível para todos. No tempo do fascismo não havia liberdade, hoje há a liberdade do arbitrário e esta fere, fere muito os princípios do Abril democrático. TEMOS TIDO ADMINISTRAÇÕES E NÃO GOVERNOS, PARADOXALMENTE HÁ 48 ANOS, O TEMPO QUE O FASCISMO DUROU ENQUANTO REGIME. Os governos têm sido franjas rotas de antigos poderes. A compreensão dos interesses económicos deste país para quem o tem comissariado é sempre a mesma coisa, pedir à CEE, ser-lhe submisso e empenhado, empurrar com a barriga os problemas e meter nas funções aqueles que as herdam. Desde Mário Soares, o social-democrata mais conhecido no estrangeiro, que iniciou com os contratos a prazo, submetendo-o ao capital nacional e estrangeiro, que é assim. Não se trata de atirar setas, à vez, aos dois partidos que têm governado durante estes 48 anos (PSD/CDS e PS), porque ambos têm a mesma matriz. O conceito de democracia que existe não tem nada a ver com as desigualdades sociais. A economia nacional é vista como o dinheiro que cada um tem, a sua energia física e moral, por isso a corrupção aumenta todos os dias, tornando-se um dos maiores inimigos desta sociedade. A revolução do 25 de Abril não era e não foi, aliás começou por ser um golpe de estado a quem o PCP deu a mão para o povo agarrar, mas imediatamente foi capturada pela alta burguesia do PS com Mário Soares/Frank Carlucci & Kissinger. As pessoas inicialmente interessadas na revolução foram-se deixando capturar por estes interesses opressores e domésticos, a casa e o emprego. Hoje, desinteressam-se por tudo o resto e estão com a tendência para olharem à sua volta, na esperança de encontratrem alguém que personifique aquilo que seria a sua própria vingança e descrédito na justiça cada vez mais inacessível e desfavorável. O POVO PARECE QUE GOSTA DE OBEDECER, QUER SER INDEPENDENTE E SUBMISSO AO MESMO TEMPO. O povo achou inicialmente que o seu voto era a sua liberdade e enfrentou todas as adversidades e continuaria a enfrentar a realidade se o seu destino fosse justo. No tempo do Império Romano de que nós fazíamos parte, houve as invasões dos bárbaros, esses desconhecidos povos do Norte, hoje a invasão é feita pelas elites políticas nacionais e internacionais. Quiseram destruir o sentimento de classe mas não conseguiram. Hoje, temos uma sociedade mais estratificada do que nunca, embora só as classes mais altas façam uso da consciência que têm disso. A paixão colectiva dum povo já não existe, logo nada se vai transformar para melhor. FALTAM CIDADÃOS. Ninguém se empenha nas lutas, mesmo os profissionais que auferem ordenados para cumprirem essa função. Portugal entrou numa época deveras perigosa pela saturação do povo. Os rostos das pessoas tornaram-se impassíveis, todos iguais, agora ainda mais pela força da máscara. O país morre lentamente com o niilismo dos seus valores. O ódio e a ambição aumentaram. As classes do poder, as novas burguesias saídas da revolução inexistente, aliadas às velhas burguesias, distribuem-se em relação de subordinação e ordenação e vemos isso até nas presentes autárquicas... e como diria uma personagem dum livro da Agustina "Em Portugal não há partidos, há clubes empenhados em não decepcionar a massa associativa".

quarta-feira, 30 de junho de 2021

A BORBOLETA QUE SE ATIRA AO AR

Era uma vez um dia de Verão. Era uma vez a seguir a uns dias felizes noutros Verões que num minuto, num dia, num mês, num ano, começou a verdadeira conspiração e o bravo general caíu do escadote. Morremos qualquer dia todos e nada sabemos da vida. Estamos no Verão e devíamos estar a atirar-nos ao ar como as borboletas, no entanto o Verão faz-se Inverno todos os dias com as más notícias que nos chegam pela (des)informação.
Sentimo-nos vulneráveis e deixamos de ter certezas. Vivemos vidas estranhas e já não sabemos a quantas andamos. Esperamos por outras vidas. De resto, TUDO, pouco importa. Ainda sentimos sob os pés a terra? Navegamos, mas só verbalmente em redes pouco seguras. Solidariedade? Só em algumas palavras primordiais deitadas de joelhos, que em caso de necessidade nunca se levantam. As palavras que nos isolam, que se acocoram em prateleiras, arrumadinhas por 24h. De novo ingressamos nos nevoeiros e neblinas e é Verão.

domingo, 20 de junho de 2021

SER RICO

Um dos maiores prazeres é estar em silêncio sem pensar em nada. Hoje, fica muito caro organizar o silêncio. Se conseguirmos imergir num silêncio meditativo tanto melhor. Conseguirmos a simplicidade é o supremo grau de refinamento. Precisamos de estar muito amadurecidos para atingir um grau elevado de simplicidade. Ambientes perfeitos ajudam-nos a serenar o espírito, por isso os japoneses cuidam dos seus jardins com esse sentido.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

VIDA EM COMUNIDADE

Sabemos tão pouco daqueles que nos rodeiam, sejam conhecidos, amigos ou mesmo família. Sabemos, por outro lado, muita coisa. Sabemos que quem é mentiroso, mais paciente e transparente parece. Sabemos e conhecemos rostos parecidos com os daqueles generais que perderam uma batalha e que recapitulam, recapitulam. Sabemos que há gente que olha em frente para onde a estrada faz uma curva e desaparece em sombras cruzadas. Conhecemos progressos infinitesimais. Conhecemos vozes gentis e rostos inomináveis. Observamos gente com uma fortaleza de espírito obstinada e até desesperada. Observamos vozes plenas de significados. Vemos gente que queria e quer gritar, dizer que tem de escapar, de sair de baixo daquela sombra, mas que evita saber que para se levantar tem de levar a sombra consigo, gente que não consegue desfazer-se do esqueleto espiritual. Depois de todos estes não e pseudo conhecimentos sobre os outros, achamos que nos conhecemos e instalamo-nos, placidamente, aguardanto alguns fragmentos de afectos, dos que nos são absolutamente necessários para a vida. São estas as vidas normais dos pecadores saudáveis, parecendo-se muito com as marés com os seus fluxos e refluxos, alguns depois de passarem por algumas torrentes.

sábado, 29 de maio de 2021

COISAS

Quantas pessoas se encontram livres de interesses e preocupação de conveniências? Duma maneira geral, vive-se com a cabeça decepada, embora ninguêm dê conta. Chegam a indignar-se antes da decepação? Talvez. Quem traça a verdade ou as verdades? Sempre a mesma espécie de indivíduos, aquela espécie mais ordinária que sabe caminhar sempre à frente. Os cabeças decepadas arvoram as correspondentes maneiras. Que bom que era mudarmos o dia do calendário e defrontarmo-nos com outra situação e vermos que afinal as pessoas mantinham as suas cabeças em cima do pescoço. Aguardamos e esperamos, muitos de nós, sem sair do sítio, esperas sem fim porque as coisas mudem, mas na verdade há coisas que se mantêm suspensas outras,
até apodrecem e vão para o caixote do lixo. As coisas de que falo são as políticas contra o povo trabalhador e honesto que paga impostos ordeiramente e sustenta toda esta cáfila de marmanjos e marmanjas, desde as autarquias até ao poder central, passando pela a AR. A aproximação de eleições chega para o exército dos sem cabeça, com seus espíritos entorpecidos e acidentalmente calmos, em sua apoarência, tomem a mesma direcção e de punhos cerrados, nos batam de novo nos neurónios, em todos aqueles que ainda não os perderam para nos porem Knock-out. As obras nas estradas recomeçaram depois da paragem de quatro anos, mais propriamente desde a última eleição, os cartazes conspurcativos são muros na paisagem. Claro que podemos sempre, com muito custo pessoal, muralhar-nos de forma discreta e intransponível. Poderemos ainda viver neste regime chamado democrático, armando-nos de paz sem nostalgias dum 25 de Abril, que queríamos justo, com habitação para todos e não para os ratos nem para os bancos, com pão não com o das campanhas da jonet, com educação não com os rankings dos colégios privados e o facilitismo fascista que grassa nas escolas, com trabalho para todos, não de trabalho de escravo, com saúde, não a das clínicas, pagas a peso de ouro...olhando o céu azul com o anunciado chilreio dos pássaros de Abril?

quinta-feira, 20 de maio de 2021

É DEMASIADO IMPORTANTE PARA NÃO COLOCAR AQUI

O MEU QUERIDO LUIS MIGUEL CINTRA E JORGE SILVA MELO. O DISCURSO DE LUÍS MIGUEL CINTRA É FABULOSO, OUÇAM-NO

segunda-feira, 17 de maio de 2021

PORQUÊ?

EM 2007 o Tribunal Internacional de Justiça, no caso do genocídio bósnio acolheu a decisão do ICTY (Tribunal Penal Internacional da antiga Jugoslávia) foi um órgão das Nações Unidas de que o massacre de Srebrenica e Žepa constituíram genocídio. PORQUE É QUE DESDE 2006, PARA NÃO DIZER DESDE SEMPRE, QUE ISRAEL PRATICA PROGRESSIVAMENTE GENOCÍDIO CONTRA O POVO PALESTINIANO NA FAIXA DE GAZA E O MUNDO NADA FAZ? O Secretário de Estado dos E.U., John Kerry, solicitou às organizações internacionais para que interviessem e pusessem fim à ocupação, esse ainda colocou no mapa mundial a razão dos palestinianos.
Desde 1967, Israel procura um meio para implantar suas políticas unilaterais de colonização. A estratégia é cercar a Faixa de Gaza com cerca de 2 milhões de habitantes e constituir ali num gueto, matando-os a todos até que um dia o crime caia no no esquecimento eterno. Os diversos governos israelitas sempre arranjaram álibis para matar os palestinianos da Faixa de Gaza, agora este assassino eleito pelo povo israelita, Benjamin Netanyahu, nem álibis invoca, apenas diz que quer dizimar este povo, que o não quer ali. Os E.U. são frouxos ao reprovar este genocídio, este crime contra a humanidade, mas a U.E. de que nós fazemos parte e actualmente exercemos a presidência, nem tampouco emite uma nota sobre esta fase do recorrente genocídio aos palestinianos por parte dos judeus sionoistas de Israel. O mundo nunca toma posição sem o governo dos E.U. dizer o que pretende fazer. Por é que os E.U. sempre ajudaram Israel neste genocídio por etapas? Para mim, só tem uma explicação - quem manda nos E.U. é Israel. Os Estados Unidos sempre foram comandados por judeus e sempre foram sionistas, se bem que de quando em vez, apresentem algumas manobras de disfarce. No entanto, o que sempre fizeram na prática é apoiar mais ou menos disfarçadamente o que os diversos governos de Israel têm feito. Sempre deram cobertura aos criminosos de Israel e, assim, o mundo assiste, impávido e sereno, a estes crimes de dizimação dum povo.

sábado, 15 de maio de 2021

UM PAÍS DEPRIMIDO

Morre uma actriz que o povo conhece da televisão. Não tem idade para morrer nem sofre de doença prolongada, mas morre como todos nós. O povo faz-se representar num funeral colectivo, desta vez quer marcar presença, sentir-se ali irmanado na mesma dor, fazer a catarse. Antes que a casa arda, dirigem-se para o cemitério, para um funeral duma pessoa que lhes entra em casa e julgam conhecer. É difícil escapar a este clima da pátria, sair de baixo desta sombra deprimida. Parece que uma pessoa para se levantar precisa de levar consigo a sombra. Não se consegue escapar às televisões a convovar o povo para a tristeza com motivo, para estas manifestações deprimentes ou,em alternativa, às correrias atrás dos autocarros clubistas, como se o país sofresse de grave transtorno bipolar. Parece maldição termos que estar sempre distraídos do que é importante, da educação, da cultura, da política. Há portugueses que parecem móveis antigos, estão ali quietinhos a apanhar pó, imóveis, sem se mexer, também pregados a atavismos vários. Vão-se pregando à cruz, agora com o PR caminhando à frente deles, guiando-os em procissão, parece que caminham numa safra do diabo, distraindo-se de tudo o mais. Às vezes a famosa pátria parece um circo em digressão. Quando é que sairemos pela porta da frente? Vivo num país muito cansativo. Se fosse jovem, emigrava. Nunca pensei assim, nem no tempo do fascismo, mas agora com o teste do algodão que é esta democracia à portuguesa, agora que estamos cada vez mais iguais a nós próprios, que não evoluímos a não ser na corrupção e no laxismo, penso. Páro e minha voz esmorece, parece-me ver movimentos de lábios nas pessoas como se essas vozes não lhes pertencessem, mas sim a um qualquer ventríloquo e elas não passassem de fantoches. Gosto deste país quando vou de comboio e vejo as suas belas paisagens fugir, o seu aspecto ser difrente e tudo o que se vê, ser construído por boa gente, sabemos que não é assim e ainda agora vimos como é que a mulher alentejana com unhas pintadas uma de cada cor falou na televisão, no proprietário do pequeno talho que o transformou em 'residência' para escravos, gente igualzinha aos proprietários das grandes explorações assassinas do solo alentejano e assassinas de gente que precisa de se legalizar entrando em Portugal e que têm de se alimentar e dar de comer à família enquanto isso, de gente explorada no seu país, explorada, por crápulas conterrâneos seus, até ao tutano porque as leis do nosso país assim permitem, explorados pelos patrões que só falam de ervilhas ou morangos que apodrecem e exportações, 'esquecendo-se' de tudo o resto. Sim, eu sei como actuo quando algum estrangeiro no meu ou no seu país diz mal da minha terra e, como de um momento para o outro passo logo à irracionalidade, digo logo que somos os melhores nisto e naquilo e naqueloutro. Sou portuguesa e doi-me, doi-me todo este imobilismo, este faz-de-conta das gentes que se opôem ao progresso, ao desenvolvimento seja ele qual for, nesta falta de arrojo para distribuirmos Educação, Cultura, Finanças por todos os que cá vivem. No fundo, parece que ninguém acredita na verdadeira mudança e apenas trabalha para o seu próprio bem estar, mesmo que esse se faça a galope do outro.

AMIGAS PARA SEMPRE


 

UM RAIO DE SOL



quinta-feira, 13 de maio de 2021

O TEMPO É CURTO

A fortaleza de espírito obstinada de herança ainda remoinhante, qual lâmpada chinesa, apenas se evoca longinquamente. Parece que se suspende, infinitesimal, não progredindo. A velhice cresce com pressa. Os amigos, muitos não estão acordados, mas também não estão a dormir. Não os consegue deter. Para onde vais? Pergunta-se. Estava a andar mais um bocado mas é muito cansativo. Olhar em frente é um exercício de atenção, sem desvios de qualquer espécie, mas cada vez há mais curvas na estrada e mais frequentemente esta desaparece, cruzada com sombras oblíquas. Todas(os) nos comportamos como andarilhos e palmilhamos caminhos, mas vezes há que nos apetece sentar na margem da estrada olhando os outros dobrar a curva.

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Madame la baronne e Monsieur marquis

A senhora baronesa, Ministra da Agricultura, diz com uma displicência inacreditável em democracia, regime em que dizem que nos encontramos, que os 'empresários agrícolas' que sabiam da situação de habitação dos migrantes de Odemira, deviam denunciar. Às vezes, dou comigo incapaz de pensar, como se tivesse levado uma martelada na cabeça, provocado por aquilo que ouço das pessoas com cargos de responsabilidade, como é o caso da Madame la baronne. Não preciso de ouvir esta senhora a proclamar aberrações fascistas deste tamanho, bem como ter conhecimento dos (des)mandos de Monsieur marquis, Ministro da Administração Interna de Portugal. Monsier marquis, Eduardo Arménio do Nascimento Cabrita de sua graça, quando tem de solucionar problemas, inventa novos problemas, é seu apanágio. Para dar solução aos problemas dos migrantes infectados com covid em Odemira, ordena às suas tropas que os desalojem dos habitáculos onde se encontravam e os enfiem no Parque de Campismo, em casas de madeira que agora se usa muito para negócio dos 'pobres empresários' alentejanos que não podem só negociar em frutos vermelhos, já que o capital, do Banco leia-se, deve-se distribuir por vários cestos (daqui a uns tempos virá alguém anunciar que são créditos malparados). Agora, os migrantes escravos das herdades em Portugal, com famílias e filhos pequenos nalguns casos, foram colocados a uma distância do local de trabalho tal, que não lhes permite deslocarem-se a pé para os locais da exploração e, assim, ficaram 'desempregados', já que não têm qualquer tipo de direitos. O que é preciso e urgente, "é apanhar a frutinha senão estraga-se", berram os patrões esclavagistas e que pouco se interessam onde moram, se estão doentes, se têm filhos pequenos (isso, segundo eles, não é da sua conta, corre por conta da agência que os contratou). Nada disso lhes interessa, estes não estão capazes para ser explorados, comunica-se com a agência, com sede em Lisboa, os intermediários que arranjem outros. O que é preciso é que não se consumam com impostos para as Finanças e outros problemazitas de menor importância, como será o caso da saúde, a "agência" trata disso. Tudo nos conformes, tudo legal. Ninguém, nem Governo, nem Partidos, nem televisão, nem Imprensa, seja ela qual for, pegam no touro pelos cornos. QUEM SÃO OS EMPRESÁRIOS DONOS DESSAS EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS? PORQUE É QUE A LEI PERMITE ESTAS SITUAÇÕES? Para isso teriam que ir às políticas e aquela que vigora no país, chamada política do capital. Chegariam facilmente à conclusão que afinal o Estado também contrata médicos e enfermeiros e outros profissionais através de agências e tanto faz ser do PS, como do PSD como de outro qualquer que esteve no poder ou vá governar(se). Nada disto é escalpelizado, esclarecido, desvendado. NÃO CONVÉM e o não covém tem muita força. As ordens categóricas que estes senhores 'Oberkellner' dão às suas polícias para serem cumpridas, de madrugada, com aparato e ruído, são ordens de incapazes. Fazem-me lembrar aquelas pessoas que abrem caminho aos empurrões até arranjarem um lugar. Tudo mudou muito depressa à nossa volta, quase nem temos tempo para nos 'adaptarmos' ou reagir ao que fazem do nosso espaço público. Fizeram a barragem do Alqueva para estes capitalistas "agricultores" portugueses e espanhóis, para as culturas intensivas que destroem o Alentejo e a Madame la baronne vem falar das denúncias dos vizinhos?!!! A Madame não sabia, não sabe? Gostava que tudo isto não passasse daquela imagem que nos é oferecida quando viajamos numa estrada de costa rochosa e a estrada trepa ao longo da viagem, que fosse apenas esse o efeito, mas não é. A globalização e os suas consequências perniciosas que destroem o emprego capazmente remunerado, o novo capitalismo muito mais agressivo daquele que conhecíamos anteriormente. A nova escravatura em função destas novas leis da oferta e da procura sem quaisquer regras de humanização, sem regulação como agora se diz, a não ser as do mercado, dito liberal, esta desumanidade que grassa pelo mundo e também entre nós... gostara eu de apagar com uma borracha, como quando estava a aprender a escrever e nos davam cadernos e lápis e nós, ingenuamente, até molhávamos na língua a ponta do lápis para tudo sair mais perfeito. Se voltar a ter um lápis desses, vou escrever: NÃO QUERO QUE NINGUÉM ESTEJA À VENDA NEM NINGUÉM QUE QUEIRA COMPRAR ALGUÉM.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

A MALDITA TELEVISÃO

Os temas da televisão não me interessam, vejo-os como fonte de mexericos. Os canais televisivos vestem-se todos de igual, de futebol, de baixa política, de desgraças humanas. Disputam nomes. Não usam a imaginação, mas antes linguagem estéril capaz de desencorajar qualquer pessoa. Não denunciam lúcida e eficazmente. As pessoas têm problemas e não sabem como resolvê-los, então decidem colocar-se em frente a um aparelho de televisão, ouvindo a vida dos outros para se esquecerem das suas. Uma fuga sem sair do sofá. Acordem contemporâneos meus, salvem a democracia, salvemo-nos. Vivemos num país em a imprensa escrita e oral fala a uma só voz. Os jornalistas, com medo de serem dispensados, dizem sempre o que o capitalista que lhes paga quer que digam e, assim, a televião chefia o Ministério da Educação, Justiça, Economia, Cultura e Finanças. Claro que em tudo na vida há excepções e aqui também, uma delas são os santos, alguns santos, que são a protecção de muitas pessoas com fé. Parece que estamos no séc. XIX em que a máxima da época era quem tivesse respeito por si próprio teria forçosamente de suportar insultos e impertinências várias e, preferem este jogo "mauvais genre", entregando-se terrivelmente a ajustar a sua ética e ideias às agendas televisivas. A televisão comanda a vida de uma grande parte dos portugueses.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

SEGUNDA-FEIRA

Sinto-me madeira com caruncho, trabalho em ponto de cruz emoldurado e pendurado numa parede, boneca antiga arrumada num armário de bonecas, lençol remendado, açúcar húmido a pesar mais. Não preciso de me deslocar para saber o que acontece. O mundo vem ter comigo pelos póros das várias paredes. A alegria não está à venda, é um sentimento que vem e vai como as borboletas. A Áustria declarou guerra à Sérvia em 28 de Julho e eu faço anos a 28 de Julho. Lembrei-me da I Guerra Mundial ou só que todos os dias nasce e morre gente porque a VIDA é isso mesmo. Todos os dias se cria, todos os dias se flirta a vida, todos os dias fazemos opções que nos vão condicionar no futuro, a nós e aos outros, já que tudo está interligado. ...então decidi: TENHO DE IR BRINCAR

quinta-feira, 18 de março de 2021

A MORTE


 Esta senhora toda poderosa no seu grandioso silêncio veio buscar-me mais um amigo.

A morte é uma metáfora que atrasa, que transporta as nossas vidas.

Preparo-me para ir ao velório do meu amigo Aníbal (parece-me inacreditável) e como não sei orar muito bem, concentradamente, resolvi escrever a minha prece para ti.

Sinto-me como se fizesse parte dum coro que lamenta a sorte humana na tragédia. 

A  morte pesa muito.

Tu fizeste homeostasia toda a vida, cuidavas de regular bem a tua vida, e de repente veio ela e ceifou-te, NÃO LHE PERDOO.

Não sei amigo se na morte temos a possibilidade de continuar a olhar para os tectos pintados a fresco com figuras de anjos roliços de mãos dadas, tu mo dirás.

Hoje mais uma vez, são 10,13h neste momento, vais abrir a porta da Igreja com uma grande chave como fizeste da outra vez, só que hoje não precisas de limpar os pés no tapete,  retiraram-no ecolocaram uma passadeira vermelha em tua honra. Estou a ouvir-te rir e a dizer que dispensavas mas também era o mínimo que a grande ceifeira poderia ter encomendado, não achas?

As coisas nunca são como nós gostaríamos que fossem e a vida parece quase uma roda, um círculo perfeito que acaba no sítio onde começou.

A vida juntou estes amigos, a vida separou-nos de ti. 

Quem nos vai marcar e escolher restaurante, informar os melhores sítios, contar anedotas, falar dos netos e dos seus desenhos, sorrir-nos quando aparecemos?

Tu eras o maior no nosso grupo e não estou a falar só do mais alto, que também o eras, mas aquele de que cada um de nós não prescindia- pergunta ao Aníbal, o que é que o Aníbal acha, o que é que o Aníbal diz sobre isso?

Só mais um bocadinho, dizias. 'Mais que duas Igrejas é muito, só mais um bocadinho' e rias com esse teu sorriso primaveril que te caracterizava, o tal que vai ficar connosco. 

Quem nos vai ler poesia com aquela voz sincera e clara como a tua?

Não sei, não sabemos desde quando é que te começaste a dar com a grande ceifeira, em segredo. Os tempos não estão para compromissos mas ela teve contigo um encontro rápido mas eficaz, logo tu um ser cintilante e colorido. Tu que amavas a vida, o brilho e a cor, que não gostavas de solilóquios, que tinhas tanto para alegar em tua defesa, mas ela envolta na poeira dos tempos e sem o menor grau de certeza veio falar-te ao ouvido. Confundiu-te amigo, é impossível que não te tenha confundido, anda transtornada e enganou-se.

Tu, nós, que  gastamos breves instantes a passar pela infância, pela adolescência, pela juventude e pela vida adulta... a senhora morte congeminou mal, deve ser acusada de assassinato, praticou um crime. veio buscar uma pessoa apaixonada pela Vida. Confundiu-te amigo, só pode ter-te confundido. Veio irada, gelada, desvairada, quem ela se julga para se apresentar cheia de substância na tua frente e mais mortífera do que nunca.

Se te encontrares com ela por aí, fotografa-a, diz-lhe que é uma cobarde, uma assassina e grava-lhe os urros lancinantes da loucura, esses grunhos, havemos de fazer um álbum jocoso dessa rainha Gertrudes.

Diz a essa besta cobarde que te apanhou de costas que não gostamos de criaturas heteróclitas e que a consideras a mais feia de todas as damas, que tem uns chifres de tamanho do mundo e uma cabeça de peru e os cascos são enviesados, que se escusa de tapar e esconder toda que agora a conheces bem e que se ela te matou tu também a vais matar, mas de frente, porque até lhe conheceste as canelas peludas quando ela se afastava de ti ontem à tarde, que ainda lhe tiraste uma fotografia e vais mostrá-la a todo o mundo como repugnante ela é.

Só ontem à tarde percebeste o ictiocentauro que estava à tua frente, que se tinha escarranchado ao teu pescoço conforme me disseste no último dia que falamos, 21/2/2021.

Todos nós pensamos em Hamlet e pensávamos que a velhice era um sol poente, mas a tua tragédia foi exponencialmente geométrica.

Tu que anotavas tudo, que organizavas tudo como um arcano maior, como um mago que fala, actua, estuda e escreve, um diplomata com vontade e energia, a ceifeira mascarada de preto e com utensílios para a ceifa enganou-te muito. Agarrou-te e envolveu-te em silêncio primeiro, apanhou-te distraído

Amigo Aníbal, resta-nos o prazer de termos conhecido uma pessoa de bem, uma pessoa  que deu conta do recado na vida e que deixa uma família bem formada e de sensibilidade alabastrina.

Não são todos que se podem gabar de conhecer gente que constrói famílias  bonitas e que tem um séquito de amigos, nem todos nos podemos dar a esse luxo.

Tinhas tanta vontade de viver para os teus netos e filhas e mulher a quem tanto amavas e admiravas e cai sobre ti, de repente este violento acto da assassina cobarde.

Puff Aníbal, ainda mal nos caíram os dentes de leite e já estamos a ter de encarar esta infeliz que odeia os genuínos, os autênticos.

O Rogério chora, o David chora, o Teodoro como sabes gostava muito de ti e continua a ouvir-te como eu, como o Cristóvão, que partida que essa senhora lhe pregou também. 

ATÉ SEMPRE AMIGO  e olha que ouvi os teus conselhos, já estou a tomar os comprimidos todos e agora vou cumprir tudo à risca, só me falta ser menos chata e não levar a vida tão a sério como tu me dizias.

BEIJO QUERIDO AMIGO, FICARÁS SEMPRE CONNOSCO E DISSO NÃO TERÁS DÚVIDAS E VAIS CONTINUAR A RIR CONNOSCO, PROMETEMOS!


sexta-feira, 5 de março de 2021

SOMOS SOZINHOS E MORREMOS SOZINHOS




 A MINHA DOR É A MINHA DOR

Posso  tentar compreender a dor do outro, mas é sempre do outro, a minha não me é muda, não me é estrangeira, conhece-me, falamos a mesma língua. 

Este contacto com a morte e a doença diariamente através da imprensa escrita e falada amolece-nos a vida, faz-nos pensar como Sartre e dizer que a vida não tem sentido.

Não intuímos o futuro, nem o presente tudo nos é proibido, com alguma sorte conseguimos intuir algo sobre o passado.

Os outros são diferentes e temos que fazer concessões e isso cria-nos dor.

Shopenhaur fala do dilema do porco-espinho. Quando o porco-espinho tem frio aproxima-se de outros porcos-espinhos, mas juntos picam-se e provoca dor  e afastam-se de novo.

Eu não sei se gostar de estar sozinha é um mal ou um bem, só sei que já me habituei a ele.

Não vivo sozinha, mas gosto de estar sozinha.

terça-feira, 2 de março de 2021

SER OU NÃO SER MORALISTA

 "O moralista é como um sinal de trânsito que indica para onde se pode ir para uma cidade, mas não vai"

Charles Dickens



Segundo o dicionário: moralista é aquela pessoa que avalia os outros de acordo com os seus próprios padrões morais.

Está na moda nada se impôr, fazer de conta que tudo se aceita mas a verdade é nunca se aceitou tão pouco como hoje.

Ética e moral são conceitos diferentes como é diferente moral para a religião e para a filosofia, já o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos no seu capítulo I, dizia que era indesculpável um homem julgar quem quer que seja "porque quando julgas a outro a ti te condenas pois praticas as próprias coisas que condenas".

Há uma crise de ética no mundo, temos dificuldade em educar alguém. Educar pressupõe responsabilidade permanente e pressupõe regras, limites e é isso que se torna difícil. O pai prefere ser o amigo do filho em vez de ser o educador.

Confunde-se ética com moral no dia-a-dia e cada vez mais, mas os princípios, o acharmos que só podemos aquilo que devemos não é a mesma coisa quando impomos os nossos valores aos outros. Os moralistas invadem o espaço alheio, enquanto a ética se baseia no espaço do outro.

A maioria de nós acha-se superior,  considera que os seus valores e princípios são melhores do que o dos outros.

Claro que há que haver princípios de conduta, regras, princípios e valores em que nos movemos, há que ser responsável, caso contrário caímos no relativismo e cada um pode fazer o que lhe aprouver.

Penso  que a Declaração dos Direitos Humanos mesmo assim é a Lei mais abrangente sobre esta matéria.

Este tema, esta reflexão é-me bastante cara.  Temos que reflectir se nos estamos a reger por regras mais moralistas ou mais éticas na nossa vida. 

Cabe a cada um de nós esta reflexão que deverá ser o mais profunda possível.

segunda-feira, 1 de março de 2021

VIRADO AO CONTRÁRIO

 O  GRANDE TUMOR do mundo é a falta de compreensão entre as pessoas.

A maioria das pessoas não compreendem o que lhes é comunicado, quer por via oral quer por via escrita e nada tem a ver com o nível de escolarização ou de alfabetização. Já tenho visto gente licenciada e até doutorada a não conseguir descodificar as mensagens.

Empiricamente, e só falo a este nível, já que o tema está por demais estudado em bases científicas desde há mais de 100 anos, há imensa gente, começa até a ser a maioria, excepção é quando  se não verifica, que logo no início duma frase proferida pelo interlocutor, dá uma resposta à mesma frase completando-a ao seu belo arbítrio.

Convicta estou que se trata da pressa em que hoje se vive por um lado e por outro, a superficialidade das relações, as pessoas não param para escutar os outros, não têm tempo nem interesse.

Há imensa insegurança nas relações, o não querer ir mais além, o não comprometimento com os outros e com aquilo que é dito, o não quererem manifestar as suas posições por a maioria das vezes não terem argumentos para as defender.

Convicta estou que de tanto desatenderem o que lhes é comunicado deixam, com este treino intensivo, de conseguir entender mesmo que um dia queiram.

Há também outra variante para esta descomunicação se efectuar que é  a interpretação e a inteligência, quer uma quer outra são importantes para o acto da compreensão.

Poderíamos falar ainda do respeito que é necessário para ouvirmos posições diferentes e aí já não está em causa o entendimento, a descodificação da informação, porque não é o significado que está em causa, mas antes a democraticidade das relações.

Para se compreender o que nos é dito, é preciso descodificar a mensagem e para isso a cultura da superficialidade e da ausência de tempo, o stress em que as pessoas vivem actualmente, para fornecerem a si mesmas e aos outros, uma agenda cheia, as mil e uma coisas que têm  ou julgam ter de fazer num dia para seguirem e comporem um perfil dinâmico social, não ajuda ao processo da comunicação. Assim, cada vez se comunica mais através da subjectividade, daquilo que é percepcionado como comunicado e não pela sua essência. 

Quando se ouve metade, completa-se o que é dito com metade da compreensão daquilo que na verdade foi emitido. Todas estas variáveis que estão presentes na comunicação têm vindo a aumentar e a tornar-se cada vez mais incontroláveis.

Ler devagar, ouvir devagar, até ao fim, leva a uma maior compreensão da vida, do mundo que habitamos. Nunca o poderemos entender nem que seja na ínfima parte que nos é reservada se não deglutirmos devagar o pensamento, o aprofundarmos e alargarmos o nosso poder de escuta.

domingo, 28 de fevereiro de 2021

DORES ROCHA (personagem ficcional)


 Um dia Dores Rocha encontrou-se com um busto, um busto num sítio escondido, de um senhor cego, ali em frente  a ela.

Interroga-se quem será e de onde terá vindo e porque está de costas para o mar.

Tantas perguntas e nenhuma resposta. Então virou-se para trás, logo ali, e perguntou se sabiam de quem era aquela estátua. Ninguém sabia e alguns nem a tinham visto nunca.

Decidiu que havia de saber, a sério, quem era aquele homem cego dum olho, saber tudo sobre ele já que quem o colocou ali nem nome lhe deu quase com vergonha de colocar aquela cabeça tão pequenina e tão escondidinha.

Dores Rocha continuou o seu passeio junto ao mar  Atlântico, revolto, com ondas ora verdes ora azuladas ou mesmo quase amarelas.

Ela tinha medo do mar desde pequena quando a meteram nas ondas da praia sem seu consentimento, apenas porque diziam que banhos do mar faziam bem à saúde. D.R. procurava uma palavra dita sobre a sua questão, mas já obtivera a sua palavra calada. Então, de novo junto àquela escultura que a tinha posto a pensar. De repente, lembra-se: é o Luiz Vaz, só pode ser o Luiz Vaz aquele que quis conhecer outro mundo.

O Luiz Vaz que sonhou  com outro mundo e que conheceu outro mundo  e que nos deu a conhecer outro mundo, O MUNDO DOS AFECTOS, com sua lírica fabulosa, na  enorme batalha de descobrir o encoberto.

D.R. sentia e vivia neste mundo que separa as pessoas, neste mundo injusto e desigual, então  olhou o Camões no rosto e olhar o rosto obriga à responsabilidade.

Vivo neste mundo de  refugiados, de emigrantes, de glaciares que caem, neste mundo dos excessos. Diz-me Luiz Vaz se estes dois mundos em que vivemos, o teu e o meu e, em especial o mundo dos nossos sonhos. Diz-me porque a ti eu digo, que os nossos mundos se relacionam, nós sonhamos com outros mundos, os mundos sonhados.

D.R. ficou com os 5 sentidos alerta, forçando por entende-los. 








quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O MUNDO É REPRESENTAÇÃO

Quando o dia está fechado como hoje é mais fácil defrontarmo-nos connosco e tornar uma tristeza em algo criativo.

Quando não vemos muitas estrelas a lucilar, todos os zinidos ficam mais fracos e o silêncio se alonga.

Tenho mais um amigo na rampa final. A minha tristeza formalizou-se.

Os nossos amigos são-nos roubados.

Nós próprios estamos no comboio descendente e cada dia que passa mais lerdos nos tornamos.

A pandemia tem-me(nos) parecido uma espécie de chicote de nove pontas usado nos navios ingleses para vergastar os marinheiros e a morte dos amigos também.

As oportunidades de fazer um amigo são raríssimas e miraculosas e muito limitadas no nosso universo.

O Mundo é uma representação.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

DEIXANDO PASSAR O DESCONHECIDO

 Estamos sempre do lado de fora.

Fecham-nos as pesadas portas de democracia, quando não somos nós a fechá-las também. Por vezes,  até as empurramos a saber se estão bem fechadas.

Estamos, por norma, distraídos do que se passa ao nosso redor, muitas vezes somos nós que nos banimos.

Quando assim acontece, há sempre muita gente a aproveitar aquilo que não queremos.

Abandonamos a política porque não gostamos, assistimos à queda e ruínas dum sistema e pouco ou nada fazemos.  Suspiramos e dizemos 'isto vai mal' e o que fazemos de seguida?

Deixamos passar, afastamo-nos, criticamos, vamos embora.

O que pode ser mais importante do que a política?

A política que nos comanda a vida, todos os passos que damos, desde os bancos da escola até ao dia em que morremos.

Somos todos grandes luminárias a criticar, mas só alguns de nós passam à prática.

Há muita coisa que mudou no nosso país com o 25 de Abril, só quem não viveu o 24 pode negar esta evidência. A maioria mudou para melhor: A Saúde, o SNS era inexistente, a Educação, quem entrava na Universidade? Uma elite. Para já não falar no mais importante, a prisão política, a censura, o medo e tudo com isso relacionado.

Continuamos com níveis elevados de pobreza, demasiado elevados, ausência de empregos, vencimentos de miséria, etc.

As pessoas continuam a emigrar às centenas para conseguirem melhores condições de vida. Os jovens não conseguem nem segurança nem estabilidade para conseguir formar família.

A violência da pobreza e do desemprego violenta-nos e não é consequência da pandemia em que estamos mergulhados, a pandemia veio agravar tão só.

Deixamos adoecer a Demo cracia, apenas lhe fazemos uma visita retardada de vez em quando.

Era-nos desconhecido e ainda continua a ser para a grande maioria que a democracia adoece e que precisa de ser tratada e acarinhada.

Deixamos passar o desconhecido.

 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

VER DE PERTO

 Com o é bom vermos de longe manhãs e tardes ensolaradas.

Interrogo o silêncio que me rodeia e vejo de perto uma lagartixa que rabeia parede acima e volta-se na minha direcção. Parece que me olha na sua cabeça chata e me pergunta porquê.

Não sei, respondo-lhe. 

Está tudo vazio mas eu procuro-me.

Vejo-me sozinha a ir para a escola da Trindade, assustadiça no meio da cidade. Tinha medo da professora. Tinha entrado mais tarde quase dois meses devido ao sarampo e estava atrasada nas contas.

Era no tempo do fascismo. Nessa altura quando não sabíamos punham-nos umas orelhas de burro, mandavam-nos ajoelhar no estrado e estar assim toda a manhã a olhar para a parede, depois de termos dado as duas mãos para as esquentarmos com cinco reguadas em cada mão. Uma humilhação tremenda que ainda hoje me lembro, uma dor que se carrega toda a vida. O fascismo pesava muito no nosso franzino corpo.

De novo a lagartixa me interpela e ao meu passado. Volto ao silêncio e ouço o gemer das rolas no silêncio do confinamento, palavra que se passou a usar muito desde o ano passado, significando prisão domiciliária sem crime perpetrado. Informaram-nos que devido ao Serviço Nacional de Saúde estar muito doente por não terem cuidado dele há décadas, não o poderíamos sobrecarregar nem matar a economia, por isso convinha não nos infectarmos com o vírus Sars-Cov-2 que apareceu vindo não se sabe de onde, para dizer que a Vida na Terra não podia continuar assim, a que os governos mundiais não deram nem dão qualquer importância na sua verdadeira essência de mensagem.

Ouço uma voz conhecida: Mudaste muito de aparência, nem te conhecia.

Mais à frente outra voz: Estás igual, pensas o mesmo que pensavas há 40 anos. Não sabia se tinha sido proferido um piropo ou um insulto, mas aos meus ouvidos soou-me como piropo.


Olho para o outro lado e vejo uma gaivota, tinha a certeza - estava no Porto. Era antes da pandemia, ouvia falar várias línguas e  pensava: um dia quando este turismo desenfreado acabar ou abrandar, a terra que me viu nascer, esta bela cidade do Porto, vai ficar mais pobre ainda.

Olho para o Rio e de seguida regresso ao presente e ao futuro.

Emocionei-me quando ouvi a voz do rio, do meu amado e querido rio, que me sussurrou ao ouvido: se soubesse que vinhas aqui hoje, tinha mandado engalanar as minhas margens com bandeirinhas de papel de seda de todas as cores e convidava uma orquestra ´para tocar a música de Bach ou Chopin, os Nocturnos de que tanto gostas, porque quando se gosta de alguém deve-se dizer que se gosta e eu dir-te-ia assim.

Estremeci de comoção porque dentro de mim havia uma espécie de ressurreição com este regresso, o encontro de dois velhos amantes, o Douro e a Helena naquele sítio de sempre, só nosso.