sexta-feira, 6 de junho de 2014

ENVELHECIMENTO

Fala-se do envelhecimento suave, lento.
Considero o envelhecimento rebarbativo e violento.
Que ninguém ao envelhecer se julgue desacompanhado, a velhice acompanha e muito.
Tudo que é humano tem carácter transitório, portanto a velhice também tem, nada de desânimos.
Há uma espécie de metamorfose em nós e quando nos iluminamos, em especial por dentro, como fazia o Rembrandt nas suas pinturas, mais difícil se torna termos a noção exacta de quando se dá o clique.
Às vezes o real desafia o fantástico e eis que olhamos para o espelho e vemos coisas que no dia anterior não tínhamos visto.
O que vale é que a memória não mede o tempo com rigor matemático por isso passam-se sempre mais anos do que aqueles que imaginamos.
As cicatrizes que nos cobrem, muito feitas de incompreensões várias cobrem-nos a alma, mesmo que por vezes poupem o corpo.
Não vale a pena esconder-nos ou esconder a nossa velhice, o nosso triunfo somos nós próprios e se calhar a nossa velhice também é o genius loci, como se falasse por nós.

Sem comentários: