terça-feira, 7 de outubro de 2014

NOITE DE TEMPORAL

Não consigo dormir.
Antes tinha poucas insónias e muito produtivas. Hoje produzo insónias e claro descasco algumas camadas de preocupações e verifico que não são urgentes porque nada é urgente.
Calam-se as insónias perante mim constrangidas e procuro a primeira em ordem de grandeza, aquela em que me tenho que deter, mas como num bailado escondem-se umas atrás das outras, jogando o jogo das escondidas.
Param e põem-se à conversa comigo nesta noite singular. Dizem-me que não vieram fazer turismo, que são residentes.
Lá fora a chuva cai espalhafatosamente.
A cabeça dói, os olhos ardem.
Engenhoco temas de que poderia falar, mas todos me parecem pouco importantes de tanta importância que realmente têm passaram a ser muito semelhantes em ordem de grandeza.
Quando os passo ao papel diluem-se nas letras, submergem.
Um dos temas que me tem falado, últimanente,é a coragem da raiva.A coragem da raiva traz a derrota penosa.
Atendo e desatendo, em simultâneo, a vários que me visitam.
Assisto-me a grandes, enormes mudanças, sabendo bem que são fantasiadas. As mudanças fazem-se levemente, gradualmente, num processo mas só as vislumbramos tardiamente, dum momento para o outro.
Rajadas de vento impõem-se neste silêncio do escritório e é difícil definir o meu espírito. Não escolho a via.
Os dias vão-se sucedendo e o caudal do meu desalento por viver num país que seguiu este caminho vai aumentando.
O país tornou-se pimba e as pessoas pimbas se descobriram, fazendo disso alguma gala, confundindo consciência social com este caldo pseudo qualquer coisa, é o que 'vende' para a esquerda e para a direita.
Já vivi ambientes outros com maneiras de afirmação pessoal diferentes. Havia interessas vários, teatro, cinema, debate de ideias e ideologia. Saudades tenho da ideologia e do debate de ideias.
Hoje não acredito mesmo em todas as coisas a que me habituei.
Tenho saudades dos tempos em que as pessoas se esmeravam por escrever e falar bem.
Hoje proliferam os áulicos de todo o género até na língua se nota.
A bacoquice campeia e a moda é a produção de efeitos fortes, expressões de piedade que condizem com focinhos de corruptos.
A chuva parou, já não a ouço, os meus olhos começam a fechar e o tema nº 1 impõe-se - ESTE OCEANO NEGRO deste silêncio em que o país se encontra com um ou outro fogacho de pequena luta.
Muito obscurantismo, muito diletantismo e muito pensamento curto.

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