segunda-feira, 14 de setembro de 2015

de Nuno Júdice

Nem o avanço intrépido nem a vitória

À conquista das planícies desabrigadas
do Norte e do Centro lançaram-se os exércitos.
Do lado inimigo faltou a ousadia e a convicção;
e finalmente os invasores atingiram
as colinas extremas,
e puderam sentir nas suas faces
os ventos frios dos mares interiores.
Voltaram com o desânimo no coração.
"Para que serve", diziam os chefes,
"para que serve o sacrifício de tantas vidas
a uma paisagem estéril,
a uma terra deserta e varrida pelos temporais?"
Mas a imagem daquele mar
não se lhes apagou da alma,
e enquanto dormiam
um barco sulcava os seus sonhos.
"Que haverá do outro lado da Terra?"
Era a pergunta que os soldados traziam,
junto aos despojos sangrentos das vítimas.
E durante o inverno
muita gente partiu, sem destino certo,
em frente
- com se houvesse algo a procurar".

in Crítica Doméstica de Paralelepípedos, Dom Quixote, 1973,

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