quarta-feira, 30 de setembro de 2015

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

ESTAMOS VIVAS



DIAS HÁ...

Passei dum livro do universo de Kafka para um livro de viagens, no caso a Espanha. Porquê?
Poderia dizer que foi o tamanho, o anterior tinha 589 páginas, este é bem mais pequeno.
Costumo dizer que são os livros que me escolhem e não eu a eles e é verdade, senão eu não retirava um da mesa em vez do outro. Que selecção é feita? Foram eles que me seleccionaram o momento, começo a ter a certeza. Os livros são os meus maiores amigos, aqueles com quem passo melhores momentos, a seguir ou em paralelo, as minhas queridas árvores, nunca me lançam um olhar impessoal, olham para mim de frente e dizem o que têm a dizer, sempre foi assim entre nós.
Elas sabem que eu não gosto das pessoas sem imaginação, embora não as leve muito a sério, senão o cortejo não acabaria, elas sabem da forma como eu sinto as dores, as minhas e as dos outros.
As minhas amigas árvores sabem tudo de mim, são como os meus cães, sabem tudo de mim, os livros amigos são mais para conversar, beber um copo, horas de conversa, com as amigas árvores, escutamos o silêncio, sabemos tudo umas das outras  ficamos assim quietinhas, muito quietinhas, cúmplices mesmo.
Elas sabem que há dias em que estamos tão tristes, mas tão tristes que tudo nos dói. Mesmo ouvindo o zumbido dos insectos  à nossa volta e a olhar para as formigas no chão, continuamos ali, aninhadas num silêncio, num silêncio de amor.

sábado, 19 de setembro de 2015

NUANCES

UM DIA ESQUECIDO PELO TEMPO

Daqui a 40 anos não estou cá.
Daqui a 20 anos se estiver sou velha e gagá.
É mais fácil imaginar o que existe além do universo.
Temos que aceitar os factos consumados e os factos são: estou viva e não faço o que quero. Vou sobrevivendo, apenas isso.
Ouço música e penso, se calhar em demasia e como Tolstoi disse: a felicidade é uma alegoria, a infelicidade uma saga.
Um dia de descanso transforma-se num mundo esquecido pelo tempo.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

SORTE PRECISA-SE


POSTO DE OBSERVAÇÃO

Observo os pássaros mais uma vez aqui sentada na varanda, as andorinhas, os patos, as rolas turcas, os falcões, neste momento dois, os gaios e outros.
Passo muito do meu tempo a observar e a escutar o silêncio.
Como é bom não dependermos de ninguém para nos aplaudir nem nada do género.
Ontem fui ver o último filme do Woody Allen e é o sentido da vida que é lá abordado.
É bom ter um lugar onde se possa regressar. É preciso ter um lugar nosso e...
lembro-me daquela imagem quando na praia pego numa mão-cheia de areia e deixo-a escorrer por entre os dedos. Cai e, tal como acontece com o tempo perdido, torna-se parte do que já existe.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

as pedras que eu guardei na minha caixinha





VOU-ME DEDICAR AO VENTO

Hoje está muito vento e chuva que batem nas minhas janelas. Vou-me dedicar ao vento, escutá-lo bem. O ar em movimento não tem forma, vou escutá-lo com atenção, a ver se entendo a metáfora.
Ele hoje está forte e bate nas janelas, mas sopre como soprar  vai acabar por perder força e morrer.
E lembrei-me do corvo que vi em Coimbra no jardim junto ao Hotel, parecia perdido, e lembro-me de todos quantos vi na Suécia e nos países vizinhos, onde soube que Kafka, em checo, quer dizer  corvo.
Quero arranjar força para enfrentar tudo e mais alguma coisa - injustiças, erros, equívocos, tristezas.
Vou perguntar ao vento.

Trio Arquiduque OP. 97 (Beethoven) - Trio Brasileiro


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

de Nuno Júdice

Nem o avanço intrépido nem a vitória

À conquista das planícies desabrigadas
do Norte e do Centro lançaram-se os exércitos.
Do lado inimigo faltou a ousadia e a convicção;
e finalmente os invasores atingiram
as colinas extremas,
e puderam sentir nas suas faces
os ventos frios dos mares interiores.
Voltaram com o desânimo no coração.
"Para que serve", diziam os chefes,
"para que serve o sacrifício de tantas vidas
a uma paisagem estéril,
a uma terra deserta e varrida pelos temporais?"
Mas a imagem daquele mar
não se lhes apagou da alma,
e enquanto dormiam
um barco sulcava os seus sonhos.
"Que haverá do outro lado da Terra?"
Era a pergunta que os soldados traziam,
junto aos despojos sangrentos das vítimas.
E durante o inverno
muita gente partiu, sem destino certo,
em frente
- com se houvesse algo a procurar".

in Crítica Doméstica de Paralelepípedos, Dom Quixote, 1973,

terça-feira, 8 de setembro de 2015

DEBATES

Não aos debates malévolos dos canais de televisão perdidos, afugentados pelos diabos e fosforescando os espíritos mais tenros e amedrontados.
Como gostava de me impregnar dum desprendimento monástico, dum não sofrimento, de me sentir fofa neste vivido não sofrido.
Não seria credulidade, apenas aninhar-me numa sinceridade imaculada.
Mas não é assim, parece que estou sempre a desenvolver o novelo da enorme tragédia em que este mundo se tornou, tombo umas vezes outras, luto até à última gota de sangue, pela simples razão que a doença do foro ortopédico que me ataca não me deixa concretizar a minha ideia-mater, síntese de todas as outras, tem que se lutar sempre, até para conquistarmos uma caixa de fósforos, dizia-me o meu pai, é preciso ir à luta.
Sempre que vejo uma vítima, uma injustiça, não tenho tão pouco, tempo para apalpar os pulsos, apetece-me ir à luta.
Não, não fugi ao meu juramento, não porque goste da frase francesa "tenir son serment" como dizia o meu avô, hoje estão todos presentes, mas porque gosto de cumprir a minha palavra e essa foi dada de mim para mim.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

SAÍU DA PRISÃO O EX-PM JOSÉ SÓCRATES

e agora o psdêzinho já pode dizer que o banqueiro e o ex-PM estão em igualdade de circunstâncias mas NUNCA, NUNQUINHA A JUSTIÇA FOI SEMELHANTE PARA UM E PARA OUTRO.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

CURTOS RACIOCÍNIOS

Assiste-se dia a dia ao retrocesso esmagador do Homem no seu valor real. É uma besta livre à solta.
queria achar alguma coisa de querido e perdido nos outros e em mim mesma