Veneza é um lugar em que tudo pode acontecer, por desabridos
que possamos ser nesta viagem quase imaginária
em que procuramos a paz e só a desavença nos persegue.
A um poeta pouco cabe além de enaltecer a luz
para poder guardar-te em recônditos abismos, a bruma
que se estende pelos canais, os festões que enganalam as janelas,
a memória da noite em que nos perdemos entre Torcello
e San Michele, a ilha dos ciprestes de onde Ezra Pound nos acena
e Stravinsky compõe a última sagração da primavera, com os ossos
para sempre abandonados ao infinito alvoroço da eternidade.
Longe de casa, numa cidade corroída pela água,
o que fazemos, com as lágrimas nos olhos?
em Fragmentos de Veneza
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