domingo, 17 de outubro de 2021

AS MINHAS FALHAS

O Mundo não me deve nada. Rio-me. Nem eu própria acredito nisto e lá continuo naquela tentativa vã de entender o mundo para me compreender a mim e o meu pequeno papel no Globo. Claro que todos nos queremos entender e acalentamos essa esperança que não está ao nosso alcance, feliz ou infelizmente. Como é possível conhecermo-nos ou conhecer alguém se somos tão contraditórios? A contradição é a primeira característica dos humanos e lembro-me de Jorge Luís Borges, para só dar um exemplo desta contradição. JLB dizia-se conservador entre muitas outras coisas, tendo até visitado no Chile José Augusto Pinochet em 1976, elogiando-o. No entanto, escreveu algo tão anti conservador como isto: "crer num Deus único parece-me uma miséria. Havendo tantos deuses, crer num só é um excesso de economia". Quando Borges imaginava o Paraíso dizia que seria algo parecido com uma biblioteca, onde se dialogava, mas sabia que o Paraíso para uns era o Inferno para outros. O que para uns é maravilhoso, para outros é o perfeito tédio. Escrevemos porque algo nos dói e se não escrevermos fica a doer-nos mais. Pensar é absolutamente doloroso e nem sempre se pensa bem, por ou talvez por isso, cada vez mais aspessoas pensem pela cabeça dos outros, não querem arriscar a ter ideias próprias para não serem criticadas. Alguns encostam-se a partidos ou a pensadores para dizerem que é assim como eles pensam. É como dizerem: eles são autoridades na matéria e eu penso igual. Nem ousam mudar uma vírgula.Outros há,que acham que o melhor é nem pensar, o não pensar está sempre certo, não se erra. Quando um dia pensam, é na sua cama, no seu quarto solitário e logo amarfanham a travesseira por cima da cabeça, para que ninguém escute os seus pensamentos. Qual o valor de estarmos na realidade? A realidade dói. Muitos saem da realidade por necessidade outros, por vício. É interessante acharmos que os monstros são os outros por oposição aos anjos que somos nós. Uma falácia do tamanho do Universo. Quando não se viaja não se compreende o mundo. Falo de viagem mesmo, não de turismo de massas para tirar fotografias e colocar nas redes sociais. Se só viajamos à volta do nosso quarto podemos ser bons neuróticos, mas não passamos disso. Viver é muito difícil mas viver numa fase de charneira, como estou convencida que vivemos, mais difícil se torna. Estudamos na História as Idades, a Idade Média, a Idade Moderna e antes muitas outras. Convencida estou, que a História vais sinalizar esta época em que nos coube viver, como uma Idade diferente que poderia bem chamar-se a Idade dos Loucos no Poder, mas se o mundo os deixa continuar e até os elege, é porque de são nada tem. Então, esta Idade pode ser considerada a IDADE DOS LOUCOS ou simplesmente da Loucura. Não me posso considerar um ser optimista, aliás nem sei como surge o optimismo e o pessimismo. Como as pessoas aderem a uma ou a outra corrente. Também não sei se um pessimista não seria um optimista se não fosse um ocidental e fosse um africano ou nascesse e vivesse numa qualquer outra parte do mundo. Nós, os ocidentais, temos um ponto de vista muito enviesado, possuímos falhas graves de análise, temos pouco mundo. O Mundo não é o Ocidente nem se regula pelas regras ocidentais, às vezes é até fatal pensar-se assim. Depois de toda esta reflexão, dou comigo a pensar: que bom é vivermos momentos maravilhosos que ecoam entre nós toda a vida e que exactamente por isso, não se transformam em passado.

2 comentários:

GL disse...

Eis o mundo visto com um pragmatismo que dói. Afinal que papel é o nosso, pequeninos que somos, pouco mais que átomos? Não será dessa pequenês que nasce a resposta(?): não seremos todos juntos, numa amálgama, com todas as nossas idiossincrasias que o fazemos, criamos, alimentamos? A contradição dos humanos não resultará de uma imensa dose de ignorância "temperada" com uns salpicos de autoconvencimento de que tudo sabem? Como a minha Amiga diz, e subscrevo, a realidade dói, então urge que a deixemos para trás, que a imaginemos de forma a que seja suportável, que nos defendamos o melhor que podemos, e sabemos.
Coloca a sugestão que a Idade que vivemos seja apelidade como sendo a Idade dos Loucos. Não tinha pensado nisso, mas concordo em absoluto! Os eleitos que nos (des)governam muito contribuem para essa designação.
Ser optimista ou pessimista não resultará, também, de um problema educacional? Quem não conhece mais mundo que dados tem que lhe sirvam de padrão, de exemplo?
Saliento ainda algo escrito por JLB, que, ainda que conservador, escreveu esta delicia: "crer num Deus único parece-me uma miséria..." Será isto uma heresia? Pensando bem estou em crer que não! Afinal qual será o VERDADEIRO Deus? O dos católitos, o dos árabes, Aquele que é venerado por inúmeros e diferentes credos e ideologias? Fica a questão em aberto.

Se me permite, e em jeito de síntese, tomo a liberdade de parafrasear as últimas palavras da Amiga que tanto gosto de ler:
"Depois de toda esta reflexão dou comigo a pensar: que bom é vivermos momentos maravilhosos que ecoam entre nós toda a vida e que exactamente por isso, não se transformam em passado."

Um prazer imenso lêr, não apenas o que escreve, mas o que deixa adivinhar.

Mais uma vez muito, muito obrigada pela partilha, não só da escrita, mas das ideias que lhe dão o mote.

Que bom seria partilhar mais ideias, modos de vêr o mundo e a vida pela mão de quem tem este dom, não só de bem escrever, como de vêr o universo por outro prisma o que só nos enriquece.

Muito, muito obrigada, hoje e sempre, pela amabilidade da partilha.

Irei sempre passando por cá na esperança de encontrar novos temas, novas análises, novas formas de a vida.

Abraço amigo e muito grato.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Muito agradecida GL pelos seus amáveis contributos sempre.
Abraço