domingo, 21 de dezembro de 2025

PARTIR SEM PARTIR

Porque parti? Parti sem saber que partia. Gostara eu de habitar eternamente o cais? Não sei. Só sabemos depois, depois de partir. Queremos sempre o conforto, o apego narcísico. Preferimos a estagnação ao risco duma realidade nova. Enamoramo-nos pelo horizonte mas continuamos fieis ao chão. Não partimos para fora e aos poucos deixamos também de partir para dentro. Os espíritos sensíveis adoecem com a superficialidade agressiva. Higienizemos a nossa alma. Há momentos em que a única lucidez é o afastamento, a retirada estratégica, não para abandonar o mundo mas apenas apenas recusar-se a não ser contaminado pelo mundo no pior do que ele tem. Pensar é a única forma honesta de existir.

NOVOS TEMPOS

Aproxima-se o Natal. Faltam três dias. Estão 3 graus e chove. Hoje começou o Inverno, oficialmente. A maioria das pessoas gosta de ruído para não pensar (estou a lembrar-me duma pessoa que ontem,ao telefone, me dizia: sai, vens até ao café,vês as montras, etc.). Não gostam de estar em casa, a maioria também nem uma casa em condições tem, é um facto, nem conseguem ouvir a sua música interior, precisam de sair para não pensar, o ruído das ruas dissolve-lhes a consciência outras, por não poderem sair ficam em casa no sofá a olhar para a televisão. Dizem que é para se entreterem, mas apenas serve como modelagem de consciência. As televisões ditam-lhes o que deve ser temido, admirado ou rejeitado. As televisões com os seus quilómetros de imagens e opiniões prontas e muito repetidas, visam saturar as mentes e as mentes saturadas já não questionam, apenas reagem. Os média hoje servem de anestesia. Actualmente os milhões de comentadores e especialistas que proibem as pessoas de pensar, oferecendo opiniões prontas fazem com que os indivíduos acreditem que estão a escolher livremente quando apenas transitam entre opções previamente delimitadas. Os sujeitos opinam sobre tudo mas não aprofundam nada. Gente informada mas não esclarecida. As televisões e os media em geral, estão a doutrinar as pessoas e estas passam a ser apenas espectadores de uma realidade editada. Cada um de nós só suporta até certo ponto, às vezes estamos a transbordar. É preciso estar vivo e estar vivo não é estar cheio, é estar disponível. O limite é a forma superior da liberdade que só a consciência dá.