domingo, 18 de agosto de 2013

PASSANDO A FERRO

Duas horas de ferro quase chegam para passar a vida em revista.
As pessoas que por nós passaram, de quem gostamos, quem mais gostou de nós.
As compaixões, os diversos choros...
As grinaldas de emoções passearam-se à frente dos meus olhos.
Passo a camisa ao som do Paul Mauriat ao mesmo tempo que me perpassa no espaço a grande ronda de todas as constelações.
Despeço-me desses dias dobrando o lençol para melhor o engomar e bruno-o sem semear remorsos.
Não sei se finalmente estou a passar o lençol a ferro, se a vida a dobrar-me a mim. É um mistério.
As imagens vivas correm no meu espírito e brunem-no, que isto de memórias é como o sol a passear-se nas montanhas pela manhã ou ao fim do dia, vai incidindo ora numa ora noutra, permitindo que o nosso olhar páre ali ou aqui, consoante a preferência da estrela.
Desconheço se sou eu que dou a letra da senha e a memória me responde com outra letra e assim sucessivamente. De qualquer maneira encaixam-se essas letras e são horas extraordinárias da nossa vida.
Todos nós temos memórias selectivas e afectivas e conjugadas neste caso com a música instrumental de P.M com uma sessão de ferro em dia de calor,  têm tendência a sair, ao acaso, da caixinha onde estavam guardadas, misturadas com confidências e outros apontamentos.
A música acabou e o ferro também e eu volto ao presente com vontade de o trabalhar para que um dia seja uma (in)confidência.

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