sábado, 13 de maio de 2017

INQUIETAÇÃO

Sinto-me como aquele viajante que adormeceu durante a viagem de comboio e quando é obrigado a sair e abre os olhos no meio da Praça, clama:
- E foi assim que vim cá parar, justificando-se.
Tinha sonhado que tinha matado alguém. No sonho não lhe foi dito se foi um americano ou um português a morrer.
Acordada penso: Será que matei mesmo?
Como vim parar a este país de loucos? A um país  em que não se respeitam as minorias, que se faz de tudo quanto é acessório principal e se trata o principal como se acessório fosse.
Como posso sair deste sonho mau?
Não podes, respondeu-me uma voz com tom cínico. E continuou a fazer-se ouvir, dizendo:
-O que acontece é que compramos os sonhos de todos que vivem no rectângulo por três gerações e enquanto isso, só restará aos que ainda sonham, deixarem de o fazer para não se sentirem vigiados, acorrentados.
Fizemo-lo para que ninguém ao acordar dum sonho se volte a perguntar: O que estou aqui a fazer, eu não matei ninguém.
Mataste ou não, pergunto eu?
Olhei para trás. Não vi Ninguém.

Sem comentários: