quarta-feira, 18 de setembro de 2013

DESLIZAMENTOS (reposição)

Silenciamos todos em tardes e noites lisas, uns em distracções sérias outros não se desnudando.
E vim aqui para dizer isto? Para dizer que a sensação é a de queda quando se dorme.
É tudo tão rápido, a vida é rápida e há movimentos que parecem precipitar-se e cair no mesmo plano.
As pessoas parecem sérias, mas são sérias e falsas.
Há dias em que ultrapasso a compreensão, vezes há que me aproximo de um pensamento mas jamais o alcanço, no entanto parece que vai sempre começar... e não raro se junta a uma procissão de pequenos pensamentos.
Todos nós sabemos fingir, mas há quem consiga fingir quase toda a vida com rostos concentrados e ausentando-se como se por um instante fosse.
É tão raro que os pensamentos se cruzem como ligeiras fagulhas de perspicácia entre as pessoas.
E lá está o texto a levar-me, a tomar-me e torna-se difícil reproduzir o que penso e o que sinto que me ocorre evanescente, leve, imaterial e fugaz.
As ideias como que emurchecem e fica um cansaço esquisito e eu reluto em conceder-me a ele e sacolejo o sono. Penso na palavra evanescente.
A esta hora é costume estar a dormir, mas hoje estranhamente penso em lembranças de coisas que não existiram. Deve ter sido  chocolate a mais.
Quero agarrar o pensamento mas não sei, tudo desliza e os olhos começam a ficar turvos e aflitos.
Vim escrever para me exaurir, mas surpreendo-me com certa sinceridade inconsciente.
A realidade parece rir de mim e de todos nós e volto à superfície, de memórias que se reproduzem e espalham e mudo os planos da existência.
Cerro os olhos e mudo de memórias.
Algumas surgem confusas outras, eloquentes.
Eu sei que não devo fazer perguntas à memória, mas acabo de as fazer, ela parece-me ouvir com atenção, mas não me responde ou sou eu que as faço com atenção para não ouvir as respostas?
Já que me projectei para dentro da noite e um pensamento qualquer se interrompeu para sempre, para sempre, espero que surja outro.
De repente me lembro que sempre fui ocupada e nunca tive tempo para sentir tédio, no entanto nestas ocasiões de alma franzida, a minha honestidade necessita de fazer balanços e subitamente como uma veia que começa a latejar passa-me a vida à frente.
Entrefecho os olhos, não, ainda não chegou o sono, aquele que faz dormir sem pensar.
Outro pensamento que chega: nunca fui prática, vivo improvisando muitas vezes e perco-me e falo muito e evito clarezas e digo de mim para mim: "não quero pensar nisso, mas penso".
Penso que se calhar foi reler o poema "Adiamento" do F. Pessoa que me induziu a estes pensamentos.
Até à próxima Diário, sabes que nem sempre escorro o meu sangue para as tuas linhas

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