sexta-feira, 20 de setembro de 2013

E A MELGA VENCEU

Não consigo dormir. Entre o 1º voo duma melga e o 2º, lembranças e mais lembranças:

Naturalmente fazia redacções e colocava palavras "caras", aquelas que escrevia previamente num caderninho. Procurava as frases em que poderiam encaixar essas palavras e assim mostrar que lia, que sabia palavras difíceis e que outras não sabiam. Tinha 12/13 anos.

Ruborizava, ruborizava muito, porque estava calor, porque tinha vergonha e era aquela sensação inexplicável que me levava sempre a procurar água para lavar a cara.

Apetecia-me escrever nas paredes, gosto de fulano, detesto beltrano mas não podia e, em substituição, escrevia papeizinhos por todo o lado com aquilo que pensava.
E tudo caminhava incompreensível, quase nunca havia alguma coisa a apagar e a esquecer.

E chegam-me estas esfarrapadas lembranças da infância como um tesouro cheio de mofo. Também havia melgas na rua onde morava porque havia árvores e quintal na casa e o meu pai "caçava-as" com almofadas e eu ria-me quando via, achava que era um bicho tão pequeno que não devia causar tanta inquietação e mesmo indignação. Apetece-me rir e rio.

Escorrem-me memórias dessa época e de outras, algumas pegam-se a mim como uma segunda pele.
Lembro-me de me sentir excluída dos mistérios da família e não só.

Matei uma melga, mas afinal são duas, o zumbido continua, desisto e continuam a deslizar outras memórias e atrapalham-se umas às outras, mas há uma que é assim: "era meia-noite em ponto, quando eu me fui deitar e o diacho da pulga não me deixa sossegar. Tome lá Sr. Polícia, leve a pulga para a prisão que o  diacho da pulga só me faz comichão", dizia a minha mãe para me adormecer fazendo-me cócegas quando eu não queria pegar no sono.


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