domingo, 4 de maio de 2014

OS NORMAIS

Os normais são diferentes dos diferentes.
São muitos os normais e chamam aos outros, anormais.
Vivem uma vida inteira cumprindo regras.
Os normais têm acessos de loucura lúcidos.
São virtuosos porque medíocres e, cheiinhos de bom senso.
Não gostam de ser banidos das diversas selecções a que são submetidos ao longo da vida para não terem que cair no caldeirão dos infelizes.
Os normais vivem em constante dissimulação, têm mais medo de perder o emprego do que perder a alma.
São fiéis aos mandantes que nos acorrentam, sejam com os ferros ou com a fortuna e os seus desejos não passam por arrostar mares e combates.
Os normais até podem ver o que um génio vê, mas não retiram nada daí.
Os normais ignoram o que se dá nas coxias do poder, mas preferem viver na toca do tempo, confinando-se ao limbo.
Os normais não gostam de ser carne ou peixe e que se lhes distinga o paladar.
Os anormais são aqueles que costumam despedir-se dos espaços siderais com frases banais, que gostam de solidão mesmo quando estão sós.
Os anormais são aqueles que obedecem a si próprios, que não se integram neste mundo feliz, que se colam a voos, aqueles que exploram novos caminhos e que recusam pescar à linha.
A diferença entre normais e anormais é tão ténue às vezes como se de um fio de cabelo se tratasse, se bem que a segunda espécie fale mais no Futuro que a primeira.

1 comentário:

Helena disse...

Pois é, homónima: a diferença entre uns e outros é muito ténue e sujeita, como tudo na vida, à subjetividade dos critérios de quem classifica.

Bjs