sábado, 26 de março de 2016

GUARDAREI MEMÓRIAS EM LATAS DE GRÃO-DE-BICO

Estendem a sua cultura geral pelas hostes analfabetas ou quase.
Quando me saem os óculos tortos do bolso e se me desbota a memória, fica-me pouco, muito pouco do que soube porque nem saber que soube às vezes sei.
Ao longo das nossas existências, eliminamos muita gente e degolamos memórias também.
Os saberes diminuem à medida que os centímetros encurtam.
No meu caso, a memória selectiva recorda-me uma infância querida e alguns anos de vida adulta com vespas incomodativas que tento sacudir.
Vasculho a memória e em certas alturas nada encontro, momentos há que salto muitas, desorganizadamente e das  arrumações faço queimadas irreparáveis.
Conheço gente que continua a colocar enchumaços naquilo que diz para as curvas serem mais perfeitas.
E vou calando dentro de mim  com juízos baixinhos e gasta-se a vida a andar ao acaso.
Começo com remoinhos no pensamento e acabo com remoinhos, como de areia se tratasse, mas o que se torna curioso é como episódios internos que julgamos perdidos vêm à tona.
Incomodam-me exibicionistas no côncavo do silêncio, memória que me regressa, bufo-lhes mas não lhes faço frente enquanto piam.
Vou começar a guardar memórias em caixas de grão-de-bico já que a minha idade continua a oscilar.


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