segunda-feira, 2 de maio de 2016

MISSIVAS AO MEU PAÍS

primeira carta:


Meu querido país,

Há ocasiões como esta que me sinto perto das frases para te compreender mas respondes-me a fingir que me escutas que quase me apetece deixar de conversar.
Vou fazer de conta que continuamos, fica sempre tanto para dizer, tanto silêncio no meio de tudo.
Estava a dizer- te que ao fim de tanto tempo se substituem os artistas como se muda de vento.
Sei que apesar de tudo me escutas, embora faças de conta e aches uma conversa sem nexo.
Resistem-me certas doçuras de memória.
Não quero cair  na asneira de  mágoas secretas, mas que me tens decepcionado muito, tens.
Antes tínhamos dúvidas no que viríamos a ser, hoje essas dúvidas vão-se dissipando e sobre ti começo a ter algumas certezas.
Dizias-me há muito tempo, enquanto caminhavas com passos inseguros, quero ser grande, quero que concordem comigo, quero ter direitos ao mesmo tempo que terei deveres.
Cresceste e tens uma mala cheia de articulações disfuncionais, tens dívidas e os credores pedem-te a alma.
Que é feito de ti meu querido país?
Por onde andas?
Encontro-te tão pouco. Dá-me notícias.

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