terça-feira, 10 de maio de 2016

MISSIVAS AO MEU PAÍS

4ª MISSIVA

Querido País,

Onde é que a gente ia?
Tu finges que dormes.
A partir de que idade é que deixaste de ser meu cúmplice.
Ainda não me desapareceste da vida. O problema é que não te esqueço e transporto-te comigo.
Apetecia-me não pensar em ti, mas todos os dias me entras pelos sentidos adentro. Se um dia deixo de acreditar em ti vai ser o cabo dos trabalhos.
Seis anos despovoaram-te, mas nestes últimos nota-se muito.
Demoras séculos a remoer os assuntos, pareces doente mental, aliás há muita gente que te considera atrasadinho, sabias?
Antes tinha sonhos em que voava e nem precisava de abrir os braços, bastava um pulinho.
Andas mal da próstata?
Disseram-me que mijas muito e às pinguinhas.
O que se passa?
Momentos há em que a dimensão da ignorância em que me deixas me magoa muito.
Deixaste de ter cabeça?
Só te vejo os pingos nessa parte do corpo, já que não costumas usar guarda-chuva.
Sei, estás a tentar-me dizer alguma coisa antiga, meio esquecida, honorabilidade disseste?
Não sei se é porque a palavra anda esquecida há muito, estás com os molares a chinelar, mas porquê?
Não te modernizaste? Agora até tens rotundas nas aldeias e nas autoestradas aldeias.
Parece que te escuto, disseste "explicando-me compreender-me-ias ainda menos".
Foi isso que disseste?


foto de Isabel Maria Mendes Ferreira






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