domingo, 3 de fevereiro de 2013

VOO RASANTE

Tanta coisa para dizer e tanto bloqueio.
Talvez este costume de guardar para mim o que me vai na alma, venha da Idade Média, época em que se estabeleceu que Cristo nunca tinha sorrido, talvez venha de Aristóteles, que achava a tragédia e a  Épica superiores à Comédia.
Porque sou assim? Este traço foi-me transmitido familiarmente eu sei, mas cultivei-o, sem sombra de dúvida.
Desta forma, não devia causar-me espanto, mas causa.
A vida humana é demasiado complexa para ser entendida.
O passado, por exemplo, é verdadeiramente imprevisível, como diz um provérbio chinês.
Vem tudo isto a propósito ou se calhar não, duma mini-entrevista  que li ontem do Kalu, baterista dos Xutos & Pontapés, quando diz que há muita coisa que acontece por acaso e que podia ser o patrão Carlos da fábrica do pai  ou quiçá viver na Suíça e dedicar-se à Hotelaria se em vez disso não tivesse respondido ao anúncio dos Xutos.
Percorro todas as variáveis do meu passado e até do meu presente e não consigo trazê-lo da forma como foi.
Falar do passado é um assunto sério, requer rigor histórico, é como falar dos Jesuítas sei lá, mas comigo não raras vezes, acontece comicidade quando nele me pouso.
Sorrio. Seriamente? Não sei, sim talvez à Gioconda, um tique dos portugueses suponho.
Agora quase rio à gargalhada. Lembro-me do Einstein e da teoria da relatividade.
Provavelmente é isso que sucede na minha mente, soa-me a Verdade mentiras construídas meticulosamente em consequência dos fragmentos dos meus próprios sentimentos.
A memória tem destas coisas, vem-me não raramente, como fogo de artifício, cujo brilho e alegria escondem o eclipse do próprio tempo.
E em voo rasante vem-me à memória o presente e o saber dos alquimistas que desde há muito sabiam que não são as mesmas ciscunstâncias que criam os mesmos fenómenos, ou seja: com as mesmas condições poder-se-ão dar fenómenos diferentes e com condições diferentes poder-se-ão dar fenómenos iguais. Eis a verdadeira relatividade.
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2 comentários:

lua vagabunda disse...

perdi-me nas minhas próprias deambulações ao ler esta tua magnífica crónica.

Escreves bué de bem...

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

tem dias que sai benzito, outros nem por isso, porque escrevo de rajada