sexta-feira, 20 de março de 2015

A poeira levantou-se do chão e fico encolhida.
Que pena não haver humor à venda.
Apetecia-me tanta coisa, tenho uma lista a crescer e a levedar há tanto tempo.
Na minha cabeça há pedidos ensurdecedores.
Sempre me encarei de frente, mas agora com a doença da minha mãe,  não posso fugir nem salvar do estragamento da vida.
Passei a falar de árvores num lugar cor-de-rosa.
Quando me ponho a mão no ombro, tenho medo, medo de me deglutir.
São muitas as contradições e às vezes apetece-me gritar para não sufocar, mas acabo por fazer o mesmo que todos os pecadores e pareço-me com aqueles que vão à missa atrasados porque não querem ir.
Muitas vezes era estouvada a falar, agora sinto-me estouvada a pensar.
Sermos todos os dias seres exemplares é muito difícil e cansativo e as estratégias de raciocínio da minha mãe abalam-me afectivamente.
Há também a considerar aquelas pessoas que se esbarraram comigo durante a vida que têm uma incapacidade natural de entendimento.
O coração é pequeno dentro do peito.
Fecho os olhos para suportar algum sofrimento, embora esta técnica cada vez se revele mais difícil.
E apetece-me dizer a mim própria: sossegue a sua cabeça, não procure entender, parece uma criança a descobrir o mundo".
Pronto e lá vou eu continuar o dia a sonhar com o futuro, a entrar por aqui e por acolá como em criança o imaginava.
Olha, vem ali no vento.
Aproxima-se e apoia-se no parapeito da janela.
Tropeçou e agora espreita apoiando o cotovelo.

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