segunda-feira, 9 de março de 2015

NO MEIO DA NOITE

Não tenho unhas para enterrar na terra.
As sombras mudam-se consoante o candeeiro.
Precisava retirar-me de dentro de mim.
Transpôr fielmente aquilo que sinto como Raul Brandão fazia, é um objectivo.
As ideias não arrancam, colam-se cada vez mais.
Encolho-me sem me desembrulhar.
O tempo não nos civiliza.
Dizem que não se chama insónia quando não se readormece. Se calhar não, se calhar é apenas beijar o patamar dos sentimentos neste átrio da vida.
Estas sombras da noite ajudam-me a perceber o meu pensamento. Por muito que olhe nunca vejo o que quero ver, começa a depender do foco a minha visão.
Nem já os pensamentos transpiram de transparência.
Vejo gente caiada e outra azul e o Inverno lá em baixo.
Preciso compreensão de compreender.
Este Portugal esmaga-me.
A doença de memória da minha mãe coloca-me junto à Boca do Inferno. Os pescadores na Boca do Inferno andam à sardinha durante a noite e dormem durante o dia, eu nem isso.
Tudo me impressiona, estou demasiada aberta às sensibilidades.
Cada vez sei menos falar em português para portugueses. Nunca se chega ao âmago das coisas.
Mais uma vez só entre escolhas e escolhos.
Investi em mim própria como se de uma obra de fomento se tratasse, se calhar investi mal.
A certa altura não temos com quem falar, as pessoas apenas querem respirar para sobreviver, ficam felizes por nada saber, saber incomoda, faz insónias.

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