domingo, 23 de fevereiro de 2020

OS SINOS QUE TOCAM

Fervem névoas em mim.
Lamentos habitam-me.
Cheguei a um lugar que não é o meu. Do meu não tenho notícias.
Atravessam-me inexistências. A vida tem mantido uma relação pouco colaboradora comigo.
O olhar que vai ao fundo das coisas provoca mal estar. Sair da superfície, ir para além da camada mais visível é doloroso e por isso muitos o evitam.
A desgraça dos outros entra em mim e esta dimensão do absurdo em que se vive rasga-me a alma.
Ouço RAP hoje como ouvia Blues na minha adolescência. O sentimento de tristeza é o mesmo. Nos Blues as palavras repetiam-se com um objectivo musical e aumentava a tristeza, no Rap as palavras do texto são fortes e cantam uma vida, uma causa por que se luta e são igualmente incitadoras à tristeza.
A decadência social, a desagregação dos valores e princípios, este labirinto Kafkiano onde não se veem soluções à vista afecta-me.
Não é fácil manter o devido distanciamento desta irracionalidade que nos rodeia e difícil se torna e, impossível, criar uma bolha defensiva.
Gostava de possuir pensamento geométrico,  ter pensamentos frios.



Primeiro descobrimos a vida, de forma dolorosa muitas vezes, depois à medida que avançamos na idade, todas as críticas que (NOS)fazemos são sempre redutoras, nem sempre facilitamos a substituição das diversas fichas de leitura.

helena soares

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