segunda-feira, 1 de março de 2021

VIRADO AO CONTRÁRIO

 O  GRANDE TUMOR do mundo é a falta de compreensão entre as pessoas.

A maioria das pessoas não compreendem o que lhes é comunicado, quer por via oral quer por via escrita e nada tem a ver com o nível de escolarização ou de alfabetização. Já tenho visto gente licenciada e até doutorada a não conseguir descodificar as mensagens.

Empiricamente, e só falo a este nível, já que o tema está por demais estudado em bases científicas desde há mais de 100 anos, há imensa gente, começa até a ser a maioria, excepção é quando  se não verifica, que logo no início duma frase proferida pelo interlocutor, dá uma resposta à mesma frase completando-a ao seu belo arbítrio.

Convicta estou que se trata da pressa em que hoje se vive por um lado e por outro, a superficialidade das relações, as pessoas não param para escutar os outros, não têm tempo nem interesse.

Há imensa insegurança nas relações, o não querer ir mais além, o não comprometimento com os outros e com aquilo que é dito, o não quererem manifestar as suas posições por a maioria das vezes não terem argumentos para as defender.

Convicta estou que de tanto desatenderem o que lhes é comunicado deixam, com este treino intensivo, de conseguir entender mesmo que um dia queiram.

Há também outra variante para esta descomunicação se efectuar que é  a interpretação e a inteligência, quer uma quer outra são importantes para o acto da compreensão.

Poderíamos falar ainda do respeito que é necessário para ouvirmos posições diferentes e aí já não está em causa o entendimento, a descodificação da informação, porque não é o significado que está em causa, mas antes a democraticidade das relações.

Para se compreender o que nos é dito, é preciso descodificar a mensagem e para isso a cultura da superficialidade e da ausência de tempo, o stress em que as pessoas vivem actualmente, para fornecerem a si mesmas e aos outros, uma agenda cheia, as mil e uma coisas que têm  ou julgam ter de fazer num dia para seguirem e comporem um perfil dinâmico social, não ajuda ao processo da comunicação. Assim, cada vez se comunica mais através da subjectividade, daquilo que é percepcionado como comunicado e não pela sua essência. 

Quando se ouve metade, completa-se o que é dito com metade da compreensão daquilo que na verdade foi emitido. Todas estas variáveis que estão presentes na comunicação têm vindo a aumentar e a tornar-se cada vez mais incontroláveis.

Ler devagar, ouvir devagar, até ao fim, leva a uma maior compreensão da vida, do mundo que habitamos. Nunca o poderemos entender nem que seja na ínfima parte que nos é reservada se não deglutirmos devagar o pensamento, o aprofundarmos e alargarmos o nosso poder de escuta.

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