quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

FAVORES

Esta vida em democracia é feita de favores e negaças.
Hoje mais de 40 anos volvidos sobre a chamada Revolução dos Cravos, nem a celeuma é lembrada. Assiste-se ao trágico desastre da corrupção com impressionante claridade, a céu aberto diria desta lixeira nacional que nos infecta todos os dias.
Esta corrupção, que é de crime que se trata, tem origem nos favores, ora agora me fazes tu a mim ora agora eu te pago assim, o que é imperioso é que a carteira dos favores esteja sempre preenchida e em bom andamento.
O nosso sistema social e económico estava fundado na cunha, no conhecimento privilegiado desde que me conheço e suponho porque a história do país assim me faz supor, que aconteceu desde sempre cá na terrinha, mas agora a coisa fia mais fino com os Partidos, todos altamente democráticos, não se pretende o emprego, mas a região, o país e, se possível, as 'antenas= posições estratégicas' noutros locais da Terra.
Ainda há aqui e ali restos de dignidade e quem não esteja completamente com este status quo, mas cada vez mais são residuais. A sociedade está impregnada deste caldo "cultural".
Poucos são já os que estranham os comportamentos sociais, leia-se antissociais, que lesam todo um País. Os mais novos viram as costas, os mais velhos estão cansados.
As pessoas não fazem o que lhes dá na real gana, pura e simplesmente porque estão cobertas de dependências, o autarca do empresário local que o subsidia nas eleições, o empresário local do autarca que lhe entrega as obras, o banqueiro do político que legisla a favor, o político do banqueiro que o elege, a CEE das Regiões e dos países, caso contrário não existia e por aí fora.
Chama-se a tudo isto democracia.
O povo, que paga tudo, costuma a ir a jogo de 4 em 4 anos, duma forma naif e sincera, meter um papelzinho dobrado em quatro, numa caixinha, agora de plástico na sua maioria,  de latão seriam bem mais apetecíveis já que fariam lembrar os bolos na praia, dizer que prefere este político em detrimento daquele, porque o acha mais simpático e quiçá até mais amigo da mulher e dos filhos que aparecem sempre nestas circunstâncias nem que trate duns estafermos durante o ano, porque até a televisão disse e se a televisão disse é porque é verdade. A televisão é muito boazinha, costuma apresentar estes quadros rosa à hora de jantar porque sabe que as pessoas jantam com a televisão, coitadinhas.
O Estado Novo era feito de obediência, obediências inimagináveis, medos sem fim.
A censura existia nas almas muito antes do lápis lazúli, uma cor bonita por sinal. Ela fazia parte das pessoa como do fígado ou dos rins se tratasse.
Poucos ousavam sequer pensar que podiam viver bem sem ela.
Hoje, em Democracia, são poucos os que creem que se possa viver só do mérito.
Antes as cidades eram negras, escurecidas da fome e do luto, hoje os brilhos são de pechisbeques chineses e os fleumáticos, os indiferentes, são-no apenas porque se vestem de  favores e isso gera-lhes tranquilidade.
Há alguns, poucos, sempre os houve, que são diferentes, que precisam de pensar com o coração e por isso mesmo são olhados com curiosidade e suspeição e então a diferença entre a democracia e os outros regimes faz-se notar em toda a sua  plenitude porque os desiguais neste regime, mantêm-se em liberdade.

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