sexta-feira, 7 de maio de 2021

Madame la baronne e Monsieur marquis

A senhora baronesa, Ministra da Agricultura, diz com uma displicência inacreditável em democracia, regime em que dizem que nos encontramos, que os 'empresários agrícolas' que sabiam da situação de habitação dos migrantes de Odemira, deviam denunciar. Às vezes, dou comigo incapaz de pensar, como se tivesse levado uma martelada na cabeça, provocado por aquilo que ouço das pessoas com cargos de responsabilidade, como é o caso da Madame la baronne. Não preciso de ouvir esta senhora a proclamar aberrações fascistas deste tamanho, bem como ter conhecimento dos (des)mandos de Monsieur marquis, Ministro da Administração Interna de Portugal. Monsier marquis, Eduardo Arménio do Nascimento Cabrita de sua graça, quando tem de solucionar problemas, inventa novos problemas, é seu apanágio. Para dar solução aos problemas dos migrantes infectados com covid em Odemira, ordena às suas tropas que os desalojem dos habitáculos onde se encontravam e os enfiem no Parque de Campismo, em casas de madeira que agora se usa muito para negócio dos 'pobres empresários' alentejanos que não podem só negociar em frutos vermelhos, já que o capital, do Banco leia-se, deve-se distribuir por vários cestos (daqui a uns tempos virá alguém anunciar que são créditos malparados). Agora, os migrantes escravos das herdades em Portugal, com famílias e filhos pequenos nalguns casos, foram colocados a uma distância do local de trabalho tal, que não lhes permite deslocarem-se a pé para os locais da exploração e, assim, ficaram 'desempregados', já que não têm qualquer tipo de direitos. O que é preciso e urgente, "é apanhar a frutinha senão estraga-se", berram os patrões esclavagistas e que pouco se interessam onde moram, se estão doentes, se têm filhos pequenos (isso, segundo eles, não é da sua conta, corre por conta da agência que os contratou). Nada disso lhes interessa, estes não estão capazes para ser explorados, comunica-se com a agência, com sede em Lisboa, os intermediários que arranjem outros. O que é preciso é que não se consumam com impostos para as Finanças e outros problemazitas de menor importância, como será o caso da saúde, a "agência" trata disso. Tudo nos conformes, tudo legal. Ninguém, nem Governo, nem Partidos, nem televisão, nem Imprensa, seja ela qual for, pegam no touro pelos cornos. QUEM SÃO OS EMPRESÁRIOS DONOS DESSAS EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS? PORQUE É QUE A LEI PERMITE ESTAS SITUAÇÕES? Para isso teriam que ir às políticas e aquela que vigora no país, chamada política do capital. Chegariam facilmente à conclusão que afinal o Estado também contrata médicos e enfermeiros e outros profissionais através de agências e tanto faz ser do PS, como do PSD como de outro qualquer que esteve no poder ou vá governar(se). Nada disto é escalpelizado, esclarecido, desvendado. NÃO CONVÉM e o não covém tem muita força. As ordens categóricas que estes senhores 'Oberkellner' dão às suas polícias para serem cumpridas, de madrugada, com aparato e ruído, são ordens de incapazes. Fazem-me lembrar aquelas pessoas que abrem caminho aos empurrões até arranjarem um lugar. Tudo mudou muito depressa à nossa volta, quase nem temos tempo para nos 'adaptarmos' ou reagir ao que fazem do nosso espaço público. Fizeram a barragem do Alqueva para estes capitalistas "agricultores" portugueses e espanhóis, para as culturas intensivas que destroem o Alentejo e a Madame la baronne vem falar das denúncias dos vizinhos?!!! A Madame não sabia, não sabe? Gostava que tudo isto não passasse daquela imagem que nos é oferecida quando viajamos numa estrada de costa rochosa e a estrada trepa ao longo da viagem, que fosse apenas esse o efeito, mas não é. A globalização e os suas consequências perniciosas que destroem o emprego capazmente remunerado, o novo capitalismo muito mais agressivo daquele que conhecíamos anteriormente. A nova escravatura em função destas novas leis da oferta e da procura sem quaisquer regras de humanização, sem regulação como agora se diz, a não ser as do mercado, dito liberal, esta desumanidade que grassa pelo mundo e também entre nós... gostara eu de apagar com uma borracha, como quando estava a aprender a escrever e nos davam cadernos e lápis e nós, ingenuamente, até molhávamos na língua a ponta do lápis para tudo sair mais perfeito. Se voltar a ter um lápis desses, vou escrever: NÃO QUERO QUE NINGUÉM ESTEJA À VENDA NEM NINGUÉM QUE QUEIRA COMPRAR ALGUÉM.

1 comentário:

GL disse...

Subscrevo cada palavra, cada "pedrada no charco", cada visão pragmática do que são os nossos (des)governantes.
O desinteresse, a desumanidade, o desrespeito por todas estas pessoas que a tudo se sujeitam por um naco de pão, é obsceno.
Não, não foi isto que se sonhou com o 25 de Abril.
Não, não foi para isto que tantos dos nossos se sacrificaram.
Não, não foi para isto que se fez a revolução dos cravos.
Não, não foi para isto que temos um "bando" de deputados, da esquerda à direita, que nada valem, que só nos envergonham, que nos levam à náusea.
A desumanidade vs desonestidade é a palavra de ordem, e não, não foi com isto que muitos de nós sonhamos, um sonho que deu lugar ao pesadelo.

Abraço, sempre grato, por essa visão tão lúcida, tão certeira, tão justa.