A rua é uma excelente escola de exercícios filosóficos.
Nenhum de nós, passageiros que a habitamos a explodir de ilusões, sabe a verdade de quem connosco se cruza.
Os percursos de cada um misturam-se. Arrastados uns, infelizes outros, seres que sobrevivem aos anos e aos tormentos, alegres e felizes tantos.
Não nos fazemos perguntas, divagamos por e para dentro de nós.
Tenho a certeza que nos séculos distantes assim seria, mesmo em séculos anteriores a Cristo e até ao último homem/mulher assim será.
Hoje já nem olhamos uns para os outros como disfarçadamente fazíamos a imaginar se são felizes, donde vêm, para onde vão, em que pensam. Olha-se para as montras, apontam-se as máquinas fotográficas a reter algum pormenor e caminha-se por entre rostos e corpos de trabalhadores, de mendigos, de turistas que estão de passagem como todos nós, emoldurados pelo sistema disciplinador que nos enforma dentro de etiquetas várias, embora pertençamos a uma categoria apenas - as dos sobreviventes, gente indefesa à sua sorte, embora haja quem se considere livre.
Tantas histórias tão diferentes e tão substancialmente parecidas, pelo que há os espíritos activos e os espíritos passivos, quem se ocupe da quadratura do círculo e quem ache isso impossível, quem desdobre a sua personalidade em duas e ainda aqueles que têm ódio ao mundo todo.
As ruas que nos libertam e as que nos encerram são as mesmas que nos dão vida, memórias e alegrias.
Os inconscientes, os conscientes, os que adormecem as consciências, os que gritam como chacais para dentro e os que rugem como leões para fora. Todos coexistem nas ruas das cidades, do cosmos.
As cidades do meu país são cada vez mais cosmopolitas e de mais difícil leitura, repletas que estão e sem ângulo de observação por escassez de espaço.
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