quarta-feira, 25 de julho de 2012

ABISMOS DE DÚVIDAS

Porque as pessoas nadam e sobrenadam em confusões?
Pessoas que estudaram, que deviam pensar, não deixa de ser extraordinário, que exactamente estas pessoas aflorem problemas cuja análise já foi proposta em termos irrecusáveis.
Li uma frase há muito tempo que permanece comigo, que era: "Não temos de facto liberdade, a liberdade criámo-la". Tenho dúvidas sobre ela, é um assunto demasiado subtil.
Que mania eu tenho de analisar, melhor tentar repensar, os lugares comuns. Sempre que isso acontece as dúvidas assaltam-me e lá tenho que recorrer à filosofia pois só ela nos pode valer.
Não gosto de consciências chauvinistas, mas tenho dúvidas de não possuir também uma.
E não são só as palavras que são como as cerejas, os pensamentos também e por isso me ocorre, de imediato, o que se passa hoje com os povos da Europa que se reúnem em Bruxelas mas continuam solitários observadores. Ocorre-me perguntar a cada um deles se sabe o que o seu vizinho representa - que povo, que geografia, que história, que aspiração transporta nas suas veias e pelos quais pode responder.
Mas é inútil. Ninguém ou quase ninguém parece disposto a pensar para além dos seus quadros. Ninguém tem dúvidas, todos têm certezas. Ninguém usa a perplexidade, caso contrário julgam negar o próprio ser.
Tenho dúvidas quando as pessoas que governam, que emitem opiniões, que têm poder falam sério, com aquela seriedade que parece sempre estreada no momento, assim como se estivessem a dar uma aula. Parecem-me apenas fazer parte do absurdo.
Tenho dúvidas sobre o tremendo bom senso das classes médias, a respeito da sociedade e da política e agora da crise com que enchem a boca.
Tenho dúvidas quando fazem um sorriso radioso e dizem que...
Tenho dúvidas que tudo isto vá melhorar.
Nós somos um povo sujeito à decadência e nunca fomos prósperos, os anos 80, os últimos para não falar na época de D. Manuel e não só, a prosperidade não se conjugou com uma experiência adequada às circunstâncias.
Quando nos surgem circunstâncias não somos suficientemente activos, não costumamos resistir eticamente perante a influência perniciosa do estrangeiro, no que respeita às suas condições. Assim sendo,  tenho dúvidas que uma nação assim não se afunde cada vez mais.
Tenho muitas dúvidas sobre nós todos como povo.
Os criminosos verdadeiros, os que descapitalizam um país e o matam continuam impunes, porque há uma fé simulada pelas opiniões em que "todo" o mundo comunga sem esforço.
Não é fácil abordar alguém que pense pela sua própria cabeça, quase todos "pensam" as ideias mais divulgadas e consideradas fazendo parte do senso comum.
É tudo enfático.
Tenho dúvidas dos tons empolados com que falam.
Tudo começa a ser patético, começa a ser demasiado penoso continuarmos sempre, mas sempre com aquelas dúvidas que nestas manifestações "oratórias" quando se apresentam não nos estejam a esconder o principal.

2 comentários:

lua vagabunda disse...

pois é, e lá estou eu a ser uma das que não têm dúvidas que nada disto vai mudar facilmente.
Os "povos" querem é ter paz e comida na mesa. E, se para isso, for preciso "esquecer" o vizinho do lado... foi uma pena! A História de um povo nem pelos seus próprios é compreendida quanto mais pelos outros países... E tb o que é a História? Qual? Contada por quem?
A perplexidade é mesmo a única coisa que as pessoas usam (na m/ opinião)e continuam a ler muito pouco, a informarem-se muito pouco e a debater nada! Chavões e frases feitas. E, sobretudo, criticar o outro... nunca a nós mesmos.

Está calor em Rotterdam, finalmente! Gosto do calor. E estou sempre a perguntar a mim própria se isto é que é o estrangeiro. Deve ser. Aqui não passo fome nem chego ao início do mês sem saber como vou pagar a renda. Devia ter de pensar se devia escrever isto ou não... Mas não me apetece pensar. Estou cansada. Falta-me erudição e dom da escrita.

Ah, esqueci-me de falar nas classes médias e no bom senso. O que é o bom senso? Porque é que as ditas classes deviam tê-lo? E as outras? Tadinhos. Têm mais é que comer a ração e calarem-se!

Vou comer a minha: jantarinho!

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Obrigada Manela por deixares aqui a tua opinião, a minha já a dei. Um beijo